sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Mahjong e minchi, O fim da linha para a KCR

Encontro das Comunidades Macaenses promove
hoje torneio de mahjong

Um jogo “imprescindível”

São exactamente 306 inscrições, mas a organização prevê que haja algumas desistências. O Centro de Convenções da Doca dos Pescadores vai acolher hoje centenas de macaenses que se vão sentar à mesa com um propósito muito especial. Mais uma vez, o Encontro das Comunidades Macaenses promove um torneio de mahjong, um jogo de mesa tradicionalmente chinês que, segundo o presidente da Associação dos Macaenses (ADM), Miguel Senna Fernandes, “está para o lazer como o minchi para a gastronomia”.
A competição vai contar com a participação de 11 jogadores locais, sendo que três representam a ADM e oito a Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC). Estas duas organizações são as entidades organizadoras deste evento que está marcado para as 14 horas.
Miguel Senna Fernandes prevê muita animação para o evento que junta quatro jogadores em cada mesa. “As Casas de Macau na diáspora trazem muita gente e cerca de 70 por cento dos participantes reside no estrangeiro. O grosso vem mesmo dos Estados Unidos e do Canadá”, explicou ao Tai Chung Pou.
Seja no território ou além fronteiras, a caixa das pedras de mahjong é um objecto obrigatório em qualquer casa e associação tipicamente maquista. “Os macaenses adoram este jogo. É uma actividade de lazer imprescindível no seio da comunidade. Um torneio deste género é o que se espera de um Encontro dos Macaenses”, frisou o presidente da ADM.
“O mahjong é um jogo tradicional da comunidade chinesa, mas como nascemos em Macau absorvemos esta prática”, observou o presidente da APOMAC, Francisco Manhão. O exercício que significa “jogo das pedras” é, de facto, uma das tradições orientais profundamente enraizadas na cultura macaense. “Todos os fins-de-semana as pessoas reúnem-se para jogar”, sublinhou Miguel Senna Fernandes.
A regra geral do mahjong remete para o número de jogadores, que só podem ser quatro. Apesar de também se poder jogar com dois ou três praticantes, a competição perde um pouco do interesse.
Uma das vantagens que contribuiu para a sua popularidade deste jogo dentro e fora da Ásia é o nível de dificuldade. Na verdade, o mahjong é uma actividade de fácil aprendizagem, em duas ou três partidas é possível aprender as regras básicas.
Além disso, privilegia a socialização entre os jogadores, que podem pôr a conversa em dia tranquilamente ao longo das partidas.
Outro ponto a favor do mahjong é a sua flexibilidade e a adaptabilidade. Isto é, as regras podem ser pré-estabelecidas conjuntamente entre os quatro jogadores, podendo tornar do jogo mais fácil ou difícil à medida do grau de experiência do grupo. Por último, um jogo completo de peças dura a vida toda, graças ao material de que é feito.
Tal como outro jogos semelhantes, como o dominó, cada praticante participa de uma maneira individual, não existindo regras para que o jogo se faça em duplas. Sempre que é finalizada a partida, o vencedor recebe pontos dos vencidos. No final, faz-se as contas para determinar a situação de cada um.
No final do torneio, às 19h30, também no Centro de Convenções da Doca dos Pescadores, terá lugar um jantar convívio, com a distribuição de prémios. Um evento que também terá uma récita de patuá, juntamente com música e canções interpretadas por conjuntos locais e da diáspora.
O dia de amanhã está reservado à festa de Nossa Senhora Padroeira das Comunidades Macaenses. Pela manhã, os macaenses vão colocar coroas de flores junto ao monumento das Comunidades Macaenses, seguindo-se uma missa na Sé Catedral. Durante a tarde, a residência do Cônsul-geral de Portugal na RAEM abrirá as portas para receber as delegações das Casas de Macau e das associações locais. O penúltimo dia do Encontro termina com um concerto da Orquestra Sinfónica Juvenil que terá como palco a Igreja de São Domingos.
Alexandra Lages

Fusão de operadores de transportes em Hong Kong

O fim da linha para a Kowloon-Canton Railway

Depois de 98 anos a garantir a ligação por comboio entre a China e Hong Kong, a empresa Kowloon-Canton Railway (KCR, na sigla em inglês) termina as suas operações no próximo domingo. A MTR passará a deter a histórica operadora, mas com a transferência das acções termina uma era. Nem sequer os trabalhadores da operadora vão ser totalmente integrados na empresa que gere o metro de Hong Kong.
Foi a 1 de Outubro de 1910 que o primeiro comboio da KCR fez a ligação entre Kowloon e Cantão, na altura ainda numa linha férrea provisória. Exactamente 98 anos e 62 dias depois, no próximo domingo, o último comboio operado pela KCR chega à plataforma subterrânea da estação de Tsim Sha Tsui East quando passarem doze minutos da uma da manhã. Segue-se uma operação relâmpago de substituição dos logótipos da KCR pela imagem corporativa da MTRC. O novo serviço providenciado pela empresa que explora o metro de Hong Kong vai também partir de Tsim Sha Tsui.
Do ponto de vista geográfico, a KCR começou e termina as suas operações em Tsim Sha Tsui. No entanto, o local de onde actualmente partem os comboios de Kowloon é uma extensão com apenas três anos da estação de Hung Hom, inaugurada em 1976. Por essa altura, foi demolido o extraordinário edifício de estilo colonial onde estava instalado o terminal que recebeu o primeiro comboio da Kowloon-Canton Railway.
Tal como sugere o nome, a KCR foi baptizada com a designação dos pontos que liga – Kowloon e Cantão. A empresa nasceu de uma parceria entre as autoridades chinesas, no final da Dinastia Qing, e o Governo da então colónia britânica. Nos seus 98 anos de operações, assistiu à queda do regime imperial, à invasão japonesa, à formação do Partido Comunista Chinês, à Revolução Cultural e às reformas económicas iniciadas no final dos anos 1970. São momentos que bastam para que se possa afirmar que a KCR desempenhou um papel importante na China pós-imperial.
A operadora quase centenária enfrentou a primeira grande ameaça em 2001, com o concurso para a construção da linha entre Shatin e Central. A 25 de Junho de 2002, o Governo de Hong Kong anunciou que a KCR tinha sido a melhor empresa candidata ao desenvolvimento do projecto, mas tornou pública a intenção de fusão dos sistemas da KCR e da MTR, a outra empresa que se apresentou a concurso.
As autoridades explicaram que as propostas apresentadas permitiram perceber que uma colaboração seria benéfica para ambas, mas o Apple Daily disse, na altura, que o então novo presidente da KCR, Micheal Tien, tinha sido o grande responsável pela proposta de união, uma vez que pretendia introduzir na operadora uma cultura de gestão de maior responsabilidade.
As boas intenções de Micheal Tien não foram aplaudidas pelos trabalhadores da KCR. Habituados a modelos que se arrastam há décadas, olharam com desconfiança para as tentativas de introdução de maior transparência e responsabilidade do novo presidente. Em Março de 2006, assistiu-se ao início de uma disputa interna ao nível da gestão. O então presidente em exercício, Samuel Lai, esteve na origem de uma petição em que se pedia a demissão de Micheal Tien. O conflito acabou com o apoio de 19 gestores a Tien e a demissão de Lai, tendo sido despedido um gestor e os restantes 18 a receberem uma advertência por escrito.
Os conflitos internos da KCR facilitaram a tarefa da fusão progressiva das operadoras de transportes. A 11 de Abril do ano passado, o Conselho Executivo aprovou oficialmente a estrutura e os termos da proposta de fusão, tendo celebrado um memorando de entendimento com a MTR. O acordo definia que a KCR iria garantir a concessão do serviço à operadora do metro, sendo que não foram determinadas medidas relativas à continuidade dos trabalhadores. A nova empresa, a MTRC, tem nos seus quadros todos os gestores da MTR, mas apenas 8 dos 17 da KCR garantiram já um posto no novo escritório.
A maior preocupação resultante destas movimentações prende-se, contudo, com a forma como o público sairá beneficiado da fusão das operadoras. Alguns deputados vieram já defender uma redução do preço dos bilhetes. A empresa anunciou entretanto descontos de dez por cento para os bilhetes que excedam os 12 dólares de Hong Kong, sendo que será feita uma redução de cinco por cento nas viagens que custam entre 8,5 e 12 dólares. Esta nova filosofia ao nível dos preços cobrados pelo serviço, argumenta a MTCR, é reveladora das sinergias criadas pela fusão, mas a proposta não convenceu os deputados dos partidos pró-democracia.
Nas vésperas da despedida da KCR, as actividades levadas a cabo para que a memória da empresa não desapareça passaram quase despercebidas. Foi lançado um livro sobre a história da linha férrea, inaugurada uma pequena exposição de fotografia e instalado um quiosque de lembranças na estação de Tsim Sha Tsui. Um leilão está a ser organizado por um associação de beneficência e mais de 70 objectos ligados à história da linha foram doados ao Museu Cultural e ao Museu Ferroviário de Hong Kong.
Na loja de lembranças da KCR, Chris Yeung, de apenas 11 anos, espera numa fila, acompanhado pelo pai, para pagar alguns objectos com o logótipo da operadora. Residente em Hung Hom, conta que, quando for grande, quer ser maquinista, sonho que tem há já três anos. “Na KCR não será”, constata o pai. “É uma pena que a operadora não viva o suficiente para celebrar o centenário.”
Kahon Chan com Isabel Castro

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