terça-feira, 22 de abril de 2008

Voltamos já

A partir de 1 de Maio, edição conjunta com o Hoje Macau

Suplemento Tai Chung Pou em novo formato

O suplemento em português do Tai Chung Pou suspende hoje a sua publicação, no actual formato, para retomar o contacto diário com os seus leitores, numa edição conjunta com o jornal Hoje Macau, a partir do dia 1 de Maio.
Recordamos que o “Tai Chung Pou em Português” surgiu nas bancas, integrado na edição diária do jornal em língua chinesa Tai Chung Pou, no dia 10 de Setembro de 2007. A nossa filosofia editorial tem apontado no sentido de oferecermos ao público de língua portuguesa uma leitura complementar dos jornais já existentes e não tentarmos competir com essas publicações. Como é conhecido, temos privilegiado nas nossas páginas o intercâmbio com a Cidade e as pessoas que a compõem, do ponto de vista humano, social e cultural, indo bem além da mera agenda política.
Surge pois como natural que tenha sido aproveitada a oportunidade entretanto surgida de o Suplemento passar a integrar um dos jornais previamente existentes, tornando assim o seu conteúdo mais acessível. Fica deste modo resolvida uma dificuldade com que nos debatíamos desde o primeiro número e que dizia respeito à distribuição.
Em termos editoriais, as administrações do Hoje Macau e do nosso Suplemento acordaram em continuar a oferecer aos leitores o mesmo tipo de conteúdos que cada uma das publicações tem disponibilizado, só que, a partir do próximo mês, os mesmos ficarão reunidos num mesmo jornal.
O Hoje Macau, que se publica desde Setembro de 2001 (na linha do jornal Macau Hoje, fundado em 1990, que o precedeu), é um dos pilares do jornalismo que se pratica na RAEM, sendo conhecida a forma como tem defendido, na prática, a liberdade de opinião e a objectividade da informação, apresentando aos leitores a realidade nas suas mais diversas facetas.
Cremos pois que a iniciativa será bem recebida pelos leitores de ambas as publicações e, desde já, marcamos encontro, a partir de 1 de Maio, sob o título Hoje Macau.

Luís Ortet

segunda-feira, 21 de abril de 2008

João Miguel Barros apresenta queixa-crime contra o CCAC, Proposta de lei sobre idade de imputabilidade penal deverá estar pronta em Maio

João Miguel Barros apresenta queixa-crime contra o CCAC

Os segredos que a justiça não guarda

É mais uma queixa-crime contra o Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) por violação do segredo de justiça, que tem novamente origem nas práticas do órgão criminal nos processos relacionados com o caso Ao Man Long. O advogado João Miguel Barros considera “censurável” a forma como o CCAC agiu no anúncio público dos novos processos com ligações ao do ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas.
Em nota enviada à imprensa, o causídico revelou ontem ter apresentado uma queixa-crime no Ministério Público (MP) por violação do segredo de justiça. “Enquanto advogado, obrigado estatutariamente a não abdicar da defesa de direitos fundamentais, sinto o dever inalienável de lutar contra essas práticas e de as denunciar publicamente. O silêncio seria uma forma de contribuir para o empobrecimento do sistema de justiça da RAEM”, justifica João Miguel Barros.
Na segunda-feira da passada semana, o Comissariado Contra a Corrupção anunciou publicamente a conclusão de três novos processos relacionados com o caso Ao Man Long, tendo tornado público o seu envio para o MP. Recordando que o fez através do site, onde publicou um comunicado sobre o assunto, o advogado aponta o dedo ao facto de o CCAC ter revelado “com detalhe os nomes das pessoas investigadas e elementos relevantes do processo em investigação que estão em segredo de justiça”.
Para João Miguel Barros, defensor do empresário Pedro Chiang, esta iniciativa do CCAC vem confirmar a estratégia que adoptou desde o início do processo do ex-governante: “Por um lado, autopromover-se junto da sociedade civil, evidenciando o seu trabalho; por outro, lançar a suspeição generalizada sobre as pessoas investigadas, promovendo o seu julgamento antecipado junto da opinião pública, através dos órgãos de comunicação social.” O advogado não hesita em acusar o CCAC de, com este comportamento, se estar a colocar, de novo, “à margem da lei, ao violar o segredo de justiça a que está vinculado, razão bastante para que esse comportamento seja de novo denunciado junto do Ministério Público e da sociedade civil”.
Na nota enviada à imprensa, o advogado vinca que “o CCAC, como órgão de polícia criminal, está sujeito ao rigoroso cumprimento do princípio da legalidade”, pelo que “deve agir no mais escrupuloso respeito dos direitos de todas as pessoas envolvidas, que devem ser consideradas inocentes até serem condenadas e sentenciadas judicialmente”. Acrescenta também que o órgão liderado por Cheong U não pode ignorar as razões para a imposição do segredo de justiça a que está vinculado e, entre elas, “está o intento da salvaguarda da dignidade da magistratura, que se quer objectiva e livre das pressões da opinião pública ou quaisquer outras, sejam de natureza cívica ou política”.
Recorde-se que, já no passado mês de Dezembro, João Miguel Barros solicitou à Assembleia Legislativa, ao abrigo do direito de petição, que se pronunciasse sobre a constitucionalidade da Lei 10/2000, que estabelece um regime de excepção a favor do CCAC, relativamente à regra geral que está consagrada no Código de Processo Penal, e que permite ao organismo não estar sujeito a nenhum prazo para concluir as investigações.
Para o advogado, esta excepção permitida por lei afronta princípios constantes da Lei Básica e do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, em vigor em Macau. Recordando que o CCAC é uma entidade de polícia criminal, não podendo ser equiparada a autoridade judiciária (como o MP) e que, no início ou no decurso dos inquéritos abertos pelo CCAC os investigados podem ser constituídos arguidos, João Miguel Barros sublinhou que “a constituição de arguido acarreta normalmente a aplicação de medidas restritivas da liberdade individual ou de medidas especialmente gravosas em termos patrimoniais”. Esta petição está a ser analisada pela Assembleia Legislativa, sendo que tudo leva a crer que se opte pelo fim do regime de excepção.

Queixa à espera

O Comissariado ter vindo, ao longo dos últimos tempos, a investigar “factos criminais com inegáveis contornos públicos”, que podem “colocar em causa o sistema político de Macau e afectar o normal funcionamento das instituições”, considera João Miguel Barros na nota enviada ontem à imprensa. “O CCAC deve, por isso, ter um especial dever de rigor e de cuidado na sua gestão, deve garantir o respeito dos direitos fundamentais dos suspeitos, tal como consagrado na Lei Básica e na Legislação Processual Penal, e considerar as responsabilidades efectivas de todas as pessoas e partes envolvidas”, reitera.
Nesse aspecto concreto, ressalva João Miguel Barros, a actuação do Comissariado “tem sido totalmente diferente daquela que tem tido o Ministério Público, a única entidade na RAEM com o poder de conduzir a acção penal, que tem mostrado reserva” sobre aos casos que investiga ou sobre as acusações que promove.
Mas a conduta do MP também merece críticas de João Miguel Barros, que recorda que, em Maio do ano passado, Leong Lai Heng, constituída arguida num dos processos sob investigação, “sem nunca lhe terem sido comunicados os factos de que era suspeita”, apresentou uma queixa-crime contra o CCAC por violação do segredo de justiça. Acontece que, conta o advogado, só em Setembro último é que o MP abriu o processo, “desrespeitando o dever legal que o obrigava a iniciar imediatamente as investigações para averiguar os factos participados, em especial tratando-se de crimes públicos”. Resultado? “Desde Novembro que aparentemente o processo não avança, tendo voltado a cair num impasse, não obstante os diversos pedidos de informação apresentados, que não obtêm resposta.” Por isso, conclui, “não deixa de ser preocupante que, um ano depois de entregue a queixa, o processo não tenha tido qualquer desenvolvimento significativo, em especial no momento em que é apresentada uma nova queixa de violação de segredo de justiça, também por factos praticados por funcionários do CCAC”.
Isabel Castro

Conselho Executivo confirma subsídio para combate à inflação

Um subsídio aos trabalhadores cujo rendimento mensal é inferior a quatro mil patacas será atribuído pelo Governo, enquadrando-se nessa categoria perto de “16 mil pessoas”. Foi esta a medida, que já tinha sido anunciada, mas que agora foi confirmada mediante a criação de um regulamento administrativo, apresentada pelo presidente do Conselho Executivo, Tong Chi Kin. Uma medida que surge, nas suas próprias palavras, “para atenuar a pressão causada pela subida dos preços dos produtos”.
Para poder auferir deste apoio mensal, basta preencher alguns requisitos: trabalhar a tempo inteiro completando, trimestralmente, 456 horas; estar inscrito no Fundo de Segurança Social; ser residente permanente; ter pelo menos 40 anos; e receber de três em três meses menos de 12 mil patacas. Cumprindo tais condições, então o trabalhador “já pode receber subsídio para aliviar a pressão na vida”, afirmou Tong Chi Kin.
Este apoio corresponde “à diferença entre o montante do seu vencimento e o limite máximo [quatro mil patacas] do apoio que vamos atribuir”. Um apoio “pago trimestralmente em quatro prestações” durante um ano. Quanto ao limite etário mínimo de 40 anos, Tong Chi Kin também explicou. “Tratam-se dos trabalhadores por conta de outrem que recebem menos de quatro mil patacas por mês e têm um grau de instrução cultural mais baixo.” O montante do subsídio refere-se ao “rendimento total do trabalhador, independentemente do número de empregadores que tem”.
Para requerer tal apoio pela primeira vez, o pedido deve ser apresentado até ao final de Maio à Direcção dos Serviços de Economia e Finanças, enquanto os respeitantes ao segundo, terceiro e quarto trimestres devem ser requeridos até ao final de Julho, Outubro e Janeiro de 2009, respectivamente. As medidas entram em vigor, com efeitos retroactivos, desde Janeiro de 2008, sendo o dinheiro directamente transferido para a conta do trabalhador.
O diploma proposto pelo Governo prevê ainda uma cláusula, que estipula que “a entidade patronal não pode reduzir os rendimentos do trabalhador, ainda que este receba um subsídio”. E, por outro lado, quaisquer declarações falsas ou inverosímeis por parte do trabalhador serão alvo “de assumpção de responsabilidade penal”.
Quanto a mais detalhes, Tong Chi Kin apenas afirmou que a Direcção dos Serviços de Economia e Finanças deverá “apresentar o processo de atribuição do subsídio, sobretudo no que toca às formalidades e aos impressos”.
O presidente do Conselho Executivo apresentou ainda um segundo diploma, que vem regular a emissão de declarações electrónicas entregues à Direcção dos Serviços de Economia e Finanças. Numa primeira fase, a prioridade será a “aplicação deste regulamento à área fiscal, porque este é o meio mais importante no que diz respeito à comunicação entre a população e o Governo”. Mas, mais tarde, estender-se-á a áreas como a da Contabilidade Pública e Gestão Patrimonial.
Contendo disposições sobre a forma e as condições de acesso, modalidades de envio, procedimento, consulta, anulação e alteração, além da preservação e segurança de dados, o diploma vem definir que “as declarações electrónicas enviadas e processadas nos termos deste regulamento têm o mesmo valor e o mesmo efeito das declarações em papel”. O diploma inclui ainda uma disposição que define “que algumas entidades precisam de utilizar o sistema de assinatura electrónica qualificada nas declarações electrónicas”. Finalmente, concluiu Tong Chi Kin, quaisquer “dúvidas de aplicação deste regulamento administrativo serão resolvidas mediante despacho do secretário para a Economia e Finanças, a publicar em Boletim Oficial”.
Luciana Leitão

Proposta de lei sobre idade de imputabilidade penal deverá estar pronta em Maio

Incendiários e traficantes também serão punidos

A prática de incêndios ou explosões – vulgarmente conhecido por “fogo posto” -, e o tráfico de droga também farão parte do rol de crimes de “extrema gravidade” que resultarão para o jovem de 14 anos numa responsabilização penal. Dois crimes que foram acrescentados a uma lista já submetida a discussão pública pela Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça que incluía nesta categoria o homicídio, as ofensas graves à integridade física e a violação. E que irão constar da proposta de lei do Governo que deverá estar concluída já no próximo mês, conforme adiantou André Cheong.
Novidades anunciadas na passada sexta-feira pelo director dos Serviços de Assuntos de Justiça, na sequência da conclusão do período de consulta pública da proposta de redução da idade de imputabilidade penal dos 16 para os 14 anos. Entre inquéritos telefónicos, sessões de discussão, e recolha de pareceres de académicos, chegou-se à conclusão de que o fogo posto e o tráfico de droga deveriam também ser incluídos na lista dos chamados “crimes de extrema gravidade”. Crimes que, de acordo com as conclusões apresentadas à imprensa, “prejudicam o ofendido, mas também a sociedade em geral”.
“Na verdade, especialmente na sociedade chinesa, a cada pessoa, desde pequena, foi incutido o conceito de que o homicídio e o fogo posto seriam actos graves que violam os princípios morais e imperdoáveis. Os jovens que tenham completado 14 anos já conhecem a natureza e as consequências do acto e têm capacidade para fazer um juízo correcto”, lê-se no documento distribuído à imprensa. Com base nestas premissas, o Governo decidiu então incluir “os incêndios, explosões e outras condutas especialmente perigosas nos crimes de extrema gravidade”.
Quanto ao tráfico de droga, sendo uma questão “permanente e complexa da sociedade contemporânea” e, dada a “nocividade social”, se “não se reprimir, o fenómeno de consumo irá propagar-se aceleradamente, prejudicando gravemente o estado físico e psicológico dos consumidores, e até causando morte, em casos graves”. E porque se entende que “os próprios jovens já têm conhecimento sobre a natureza e as consequências das actividades de tráfico de droga”, o Governo decidiu também enquadrá-lo na categoria de crimes de “extrema gravidade”.
De acordo com André Cheong, as conclusões apresentadas resultam de um longo período de intensa investigação, que se baseou na análise do direito comparado, nos pareceres de peritos, nas opiniões de indivíduos, associações e instituições, além de dados estatísticos. Referindo que, entre 1998 e 2007, foram praticados, por jovens dos 14 aos 16 anos, 72 crimes de “extrema gravidade”, André Cheong não deixa, contudo, de afirmar que não se trata de um número alto. Tendo realçado que foram vários os factores ponderados, o director dos Serviços de Assuntos de Justiça afirmou que, “na decisão, o juiz vai considerar atenuantes especiais”. E vincou que “o objectivo máximo [desta proposta] é favorecer a reinserção social”. Referindo-se ao facto de que a inclusão do “fogo posto” e do tráfico de droga na lista dos crimes de “extrema gravidade” se deu por tal ter sido requerido por muitos dos inquiridos, André Cheong explicou que “são os que mais causam preocupação no meio social”. Na generalidade, os inquiridos defenderam que “os jovens, aos 14 anos, já têm uma mentalidade madura”.
Por seu turno, os peritos contactados afirmaram que “o mais importante não é a redução, mas que esta seja acompanhada de medidas complementares”. Por isso, o Governo deverá propor que “os jovens reclusos com idade inferior a 18 anos sejam internados separadamente dos reclusos adultos e estejam sujeitos ao ensino obrigatório”.
Outro dos pontos focados na consulta pública passa pela redução do período mínimo para que se possa requerer a liberdade condicional. “Se tiver sido condenado a nove anos de prisão, segundo o regime actual, cumpridos seis anos pode pedir liberdade condicional. Mas, de acordo com a proposta, passados quatro anos já a pode requerer”, exemplificou. Tudo para que “possa reinserir-se mais facilmente na sociedade”.
Outro dos pontos focados por alguns dos inquiridos passava pela possibilidade de algumas penas serem reduzidas. “Nos termos do Código Penal, se o agente não tiver completado 18 anos no momento da prática do facto ilícito, a pena a ele aplicada pode ser especialmente atenuada. Sugere-se que esta norma também seja aplicada aos jovens que tenham completado 14 anos mas não tenham perfeito os 16 anos de idade”, lê-se no documento distribuído à imprensa.
Chega assim ao fim um longo processo de preparação de um diploma que se espera que esteja terminado já no próximo mês.
Luciana Leitão

A sala e o cinema

Queria esta semana escrever sobre o ver cinema, de uma forma que o ver cinema já não é entendido.
Queria falar do ver cinema como o era há dez anos, quem sabe mesmo há cinco. Via-se cinema numa sala, muitas vezes, para meu desgosto, apinhada de gente, onde nos tínhamos de sentar na última, ou então pior, na primeira fila.
Não vou ver um filme a uma sala comercial que esteja mais ou menos cheia à mais de cinco anos. Claro que para isto contribui uma certa protecção, não vejo muitos blockbusters, muito menos em salas de cinema, e costumo ir às salas em dias e horas com menos gente, mas a ideia mantém-se, há muito menos gente nos cinemas, a ir às salas de cinemas.
Mas ver um filme numa sala de cinema é algo incomparável ao vê-lo numa televisão. Há uma “magia” associada à ida ao cinema, sempre com implicações à volta. O próprio ir ao cinema, a maior parte das vezes não significa apenas ir ao cinema. Às vezes janta-se primeiro ou depois, muitas vezes vai-se beber um copo a seguir, fala-se do filme, por vezes discute-se seriamente… chega-se aos gritos.
Não posso deixar de dizer que há coisas que não se compram, são-nos oferecidas, a maior parte das vezes pelo destino. O meu primeiro filme em sala de que me lembro vivamente, tinha seis anos, foi quando o meu pai me levou à cinemateca ver “O Facho e a Flecha”. Não mais me esqueci do filme, nem da emoção de ouvir os diálogos traduzidos pelo meu pai, a viva voz, para mim, para a minha irmã e para quem mais estivesse na sala. Hoje é com irritação que ouço sequer um sussurro dentro de uma sala de cinema. Não posso descrever as semanas de claustrofóbico anseio pela estreia de Batman, nem o quão desapontado fiquei quando a sala (num supermercado em Alcântara, Lisboa) estava esgotada por três dias. A ida ao cinema passou de um ritual para uma diversão para um ritual novamente. Estar numa sala de cinema e pensar que vou ver um bom filme tem para mim, para lá de um incrível poder de concentração, um… não o consigo descrever de outra maneira, é o mais perto de estar num templo religioso, fosse a minha fé dada a religiões. Digo desde já que não o é, mas talvez haja por aqui a oportunidade de escrever sobre filmes “religiosos”.
Mas antes, esperando que leiam estas linhas não como crítica mas como sugestão, gostava mesmo de conseguir passar um pouco desta magia aos mais novos, que contudo, devem ser hoje, em Macau, dos poucos que vão ao cinema.
(Uma boa experiência é ir à sala improvisada no Albergue da Santa Casa da Misericórdia pela Casa de Portugal em Macau, com um festival de cinema, às quartas e sábados, às 21 horas).

Into the Wild

Nesta segunda semana que atento contra a vida sem cinema (e sem cinema significa também sem ver filmes em salas de cinema), tentarei escrever sobre um filme que vi em DVD. Poderia ver numa sala de Macau? Talvez seja injusto dizer que não, mas o mais certo é mesmo o facto de nunca ter passado por aqui em sala.
Vem-me à cabeça o festival de cinema de Macau e o realizador Peter Greenway. “O cinema morreu”, vai dizendo por onde passa. O cinema não morreu de facto, mas vai morrendo aos poucos, e o dia chegará em que morrerá de facto (boa questão para falar para a semana). O que não morreu, nem morrerá, são os filmes. Vem-me isto à cabeça por falar num filme que não é uma obra prima, mas tem algo de especial. Nele nada é excepcional, uma boa realização, belíssimas interpretações, música sofrível e (quanto a mim) muito mal escolhida. “Into the Wild” ou na sua aberrante nomenclatura em português, “O Lado Selvagem” (numa era de estrangeirismos por tudo e por nada, às vezes, é preciso chamar as coisas pelos nomes, neste caso, o nome inglês). Aqui destaca-se a estória, mas esta já tratada diversas vezes, com finais semelhantes, por vários filmes. Lembro-me do filme de Dennis Hopper, Easy Ryder, em que a tentativa de viver livremente esbarra no Homem. Aqui esbarra na falta dele, esbarra directamente na Natureza.
Fui para a floresta viver de livre vontade, para sugar o tutano da vida. Para, quando morrer, não descobrir que não vivi. (Henry David Thoreau)
Sean Penn. Claro que à partida o nome se reconhece, é do actor. Neste caso é do realizador que falo. Sean Penn tem tido uma carreira menos visível, mas profícua quanto baste no campo da realização. Já fez uma mão cheia de longas metragens, mais vídeos musicais e uma parte do filme mosaico sobre o 9/11.
“Into the Wild” podia e devia ser uma obra maior da cinematografia americana deste ano. Estreou em Setembro nos Estados Unidos, a tempo das nomeações para os Óscares, mas só conseguiu duas (num ano de fortes nomeações).
Mas não é de prémios que quero falar… O projecto de Sean Penn nasceu depois de ler o livro de Jonh Krakauer sobre a estória de Chris McCandless. Essa estória conta a forma como um aluno acabado de se graduar numa universidade doa todo o seu dinheiro para caridade e parte numa viagem em busca de um maior sentido de plenitude e comunhão com a vida. O livro e filme levam-nos pelo seu percurso, pelos seus encontros, durante os muitos meses da viagem, até ao seu fim, quando se isola no Alaska, onde acaba por morrer. Isto sustentado em razões fundamentadas, sem os levianíssimos argumentos do costume. McCandless sustenta-se a si próprio por um amor à vida e à natureza profundamente enraizados.
A ideia original de Penn passava por ser Leonardo di Caprio a fazer de Chris McCandless. Passaram dez anos até conseguir os fundos para fazer o filme, e quem faz de McCandless é um jovem desconhecido, Emile Hirsch, que se vai confundindo com o próprio McCandless.
O filme leva-nos a uma viagem pela América povoada de comunidades estranhas entre si. Leva-nos por paisagens magistrais, por um caminho que vai da comunidade ao individuo. McCandless vai-se libertando do factor humano durante o filme, até ficar só, talvez no mais belo plano do filme, enquanto deixa o seu último “amigo” (Hal Holbrook no papel que lhe valeu a nomeação para o Óscar).
A viagem de Hirsch/McCandless está dividida em quatro capítulos, em que a sua situação final se vai delineando, numa narrativa bem montada. O que estranha é que enquanto a imagética é magnífica, a música escolhida e composta originalmente para o filme por Eddie Vedder é sofrível, meramente contextualizando o que acontece, sem oferecer um pingo de contraste emocional ao que se passa (excluindo uma única música, a da cena final).
No final fica a estranha sensação de que o que Chris McCandless viveu não foi suficiente, mas poderão pessoas que morrem com 25 anos ter atingido aquilo que da vida poderiam ter extraído?
Chris McCandless foi para a floresta para não descobrir que não viveu (ou quando descobriu que não vivia), paradoxalmente, encontrou-se e morreu…
Isto é-nos dado no filme, na sua última meia hora está patente a resolução do dever cumprido, do trabalho feito, voltar à civilização e partilhar, porque nada é tão bonito visto por um só par de olhos como o é visto por dois (dizia na semana passada que uma das motivações da crítica é isto mesmo). Mas o caminho de Chris McCandless está traçado e o filme torna-se maior do que a viagem… torna-se um filme sobre a vida.
Into the Wild
Sean Penn
EUA, 2008, 148’

Luís Campos Brás,
Realizador

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Museu de Macau prepara lista de património intangível, Viagem exclusiva à RAEM não cativa turistas portugueses

Director fala de novos planos no 10º aniversário do espaço museológico

Museu de Macau prepara lista de património intangível

É o “novo trabalho” do Museu de Macau (MM). A instituição está a preparar uma lista do património intangível da região. As tradições macaenses e os bonecos de farinha já estão incluídos nesta classificação. O projecto final será conhecido dentro de dois meses, altura em que será enviado para apreciação do Governo Central sob a forma de uma candidatura para património intangível nacional da China.
De acordo com Chan Ieng Hin, director do Museu, neste momento estão a decorrer dois projectos de recolha de manifestações culturais que necessitam de ser protegidas. Esta operação conjunta com entidades de Cantão e Hong Kong debruça-se sobre o A Nam-Yam, a música popular do sul da China, e a Cerimónia do Chá.
“No entanto, há um trabalho que é totalmente de Macau. Diz respeito às pequenas estatuetas tradicionais de deuses taoistas e budistas feitas com farinha. Há 15 anos, havia muitas lojas que produziam estes objectos no território, mas hoje só restam duas”, alertou Chan.
O próximo passo é incluir a cultura macaense nesta lista. Actualmente, estão a ser feitos contactos com as associações e representantes da comunidade para iniciar o projecto. “Há o patuá e a gastronomia que são muito importantes para a cultura local”, afirmou o director.
A preparação desta lista de património intangível é uma das tarefas que o Museu está a levar a cabo, na altura em que assinala uma década de existência. O MM completa amanhã 10 anos. Ao longo deste período, conseguiu ganhar um espaço próprio, marcando a diferença e conquistando o carinho das gentes locais, assegura Chan Ieng Hin.
Em entrevista ao Tai Chung Pou, o responsável sustentou a necessidade de fazer do espaço “um museu académico”. “É esta a nossa missão. Nos outros museus, o objectivo é manter os objectos expostos limpos e conservados. Nós não. O nosso trabalho é mais específico - investigar para dar mais à história de Macau.”
Para cumprir esta meta, o director do espaço pretende reforçar a investigação cultural sobre a história local, promovendo a qualidade dos seus serviços através de exposições, da educação e da divulgação, bem como o desenvolvimento dos trabalhos de classificação. Em termos práticos, o museu vai dar mais ênfase à promoção de mostras temporárias, sobre personalidades e património local.
“A nossa exposição permanente já evidencia a história de Macau. Agora temos que nos focar na investigação e criar mais. Temas e artistas não faltam, por isso temos que promover mais exposições temporárias para suprimir as necessidades da população”, defendeu.
A organização de mais mostras deste género tem também outro propósito: atrair mais público. “Quanto mais exposições temporárias organizarmos, mais visitantes teremos. Acho que é isto que tem proporcionado um aumento de público nos últimos dois anos. As exposições temporárias são muito importantes”, sustentou.
Desde a inauguração, o MM já recebeu mais de dois milhões de visitantes, incluindo dirigentes nacionais, importantes representantes de Governos de vários países, turistas e residentes locais. Só nos últimos dois anos, o museu tem registado um aumento anual médio de 200 mil pessoas.
Um crescimento que não satisfaz plenamente o director do espaço. “Não é um aumento muito grande. Em 2006, houve uma subida de cerca de 200 mil e, no ano passado, de 211 mil”, apontou.
São valores que não chegam aos calcanhares dos recordes constantes do Turismo mas, mesmo assim, Chan Ieng Hin não tem dúvidas de que os aumentos deste sector reflectem-se no número de visitantes do MM. “Quem quer conhecer a história de Macau tem que vir ao Museu. Um turista que não nos visitar nunca vai perceber porque é que esta região é tão especial.”
A par da história da região, o espaço cultural foi pensado ao mais ínfimo pormenor. O objectivo era criar um espaço que marcasse a diferença. O que faz de Macau um território único. O coordenador-geral do projecto, o arquitecto Carlos Bonina Moreno, rodeou-se de pessoas conhecedoras de Macau e foram elas que criaram o guião para o museu. A sociedade local também foi envolvida, através de doações.
O resultado foi a imagem de uma Macau em que o Oriente e Ocidente se vão cruzando. Algo que encontramos assim que se entra no espaço. De um lado, temos o percurso histórico português, com todas as características religiosas e culturais e, na parede oposta, temos exactamente a mesma interpretação, mas da China.
Uma década após a abertura do museu, a missão inicial do espaço foi cumprida com sucesso, diz Chan Ieng Hin. “Este museu é diferente dos demais. Foi criado pelas pessoas de Macau, porque 90 por cento das exposições são de habitantes locais. Por isso, penso que os residentes do território revêem-se profundamente neste espaço. Pertence-lhes verdadeiramente.”

O director que conhecia o museu antes dele abrir

Nasceu na Indonésia, cresceu em Cantão e estudou em Hunan, mas Macau é a sua terra. Fala português, mas não se sente confortável com a língua. É designer artístico, mas descobriu uma paixão pela museologia. Chan Ieng Hin é director do Museu de Macau (MM) há seis meses, mas explica que já lá estava antes deste espaço ser inaugurado.
“Fiz parte da equipa que ajudou o arquitecto Carlos Bonina Moreno a criar o guião do museu. Por isso, antes dele abrir, já estava cá dentro”, contou, com um sorriso de orgulho.
A simpatia e a serenidade são duas características dominantes do carácter de Chan Ieng Hin. Com um sorriso tímido conta que tem “mais de 50 anos” e que nasceu na Indonésia, em Sumatra. “Os meus pais são chineses, mas tenho raízes indonésias”, explicou. “Depois vivi em Cantão e vim para Macau com 24 anos. Por isso, já sou mais de Macau do que de lá”, frisou.
Na província de Hunan, fez a licenciatura em design de artes. No território, completou os estudos no grau de mestrado em Gestão e Administração. Reservado, não mostra muita vontade em falar de si, dos seus gostos, hobbies e do interesse pela arte. Só diz que o MM representa mais do que um emprego, é uma paixão.
Chan Ieng Hin ocupa a cadeira de director desde Outubro do ano passado. No entanto, desempenhou durante um ano a função de director substituto. Antes de se mudar para o espaço na Fortaleza do Monte, trabalhou como curador na galeria de exposições do Tap Seac, nos Serviços de Turismo e no departamento cultural da TDM.
O actual director do MM também domina a língua de Camões. Contudo, perdeu o hábito de falar. “Aprendi durante quatro anos e meio no Instituto Português do Oriente, mas agora já não consigo”. A frase saiu num português perfeito. De volta à língua inglesa, Chan Ieng Hin explicou que queria conhecer melhor a cultura portuguesa. Uma cultura que é uma metade fundamental do museu que conhece desde a nascença.
Alexandra Lages
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn

Seminário sobre Mao Zedong, Ho Chi Minh e a Guerra Fria na Ásia

Em busca de uma “correcção da visão ocidental”

A união entre Mao Zedong e Ho Chi Minh nada mais era do que “propaganda” da época, havendo, na realidade, uma “relação de cooperação com fricção”. Procurando explicar documentos chineses e vietnamitas recentemente tornados públicos, o professor de História, Qiang Zhai, da Auburn University Montgomery, nos Estados Unidos, dissertou na Universidade de Macau sobre os contornos políticos que colocaram a Guerra Fria – fase de gelo político que opôs EUA e União Soviética – em pleno Sudeste Asiático. E procurou, acima de tudo, corrigir “a tradicional visão ocidental que se encontra nos manuais”, fazendo emergir uma “nova visão da Guerra Fria”.
Como foi que Mao Zedong e Ho Chi Minh reagiram à introdução da Guerra Fria na Ásia? Até que ponto houve apoio dos chineses comunistas às forças de Ho Chi Minh na primeira guerra da Indochina? Como é que a aproximação sino-americana afectou a unidade sino-vietnamita no princípio dos anos 1970? Perguntas que o académico Qiang Zhai se propôs a responder, de forma a “corrigir a tradicional abordagem americana e eurocêntrica”.
Para enquadrar historicamente, há que recordar o final da Segunda Guerra Mundial. “O Japão rendeu-se. Ho Chi Minh acabou por entrar em Hanói fundando a República Democrática do Vietname”, conta. Na sequência do fim do conflito mundial, os franceses viriam então a regressar ao Vietname. Entretanto, em 1949, na China, Mao Zedong funda a República Popular da China, derrotando o líder do Kuomitang, Chang Kai Chek.
Os EUA, nesta altura, sob a liderança de Franklin D. Roosevelt, opunham-se aos interesses coloniais franceses no Vietname. Com a sua morte, Harry Truman viria a suceder-lhe. Num ambiente já dominado pela Guerra Fria, “o combate ao comunismo tornou-se a prioridade”. “Os líderes de Washington continuavam a apoiar a França, tendo ignorado o apelo de Ho Chi Minh à cooperação norte-americana”, recorda. Deteriorou-se assim a relação entre os dois países. Entre 1946 e 49, enquanto o Partido Comunista Chinês continuava a braços com a sua própria guerra civil, Ho Chi Minh “estava por sua conta”. Só com a criação da República Popular da China é que a situação se alterou.
Com a cimeira que se realizou na União Soviética, e que reuniu Estaline, Ho Chi Minh e Mao Zedong, em 1950, ficou definido que “Mao iria ter um papel activo na revolução no Sudeste Asiático”, dada a “proximidade geográfica da China e do Vietname”.
A China viria a ser o primeiro país a reconhecer a República Democrática do Vietname, tendo exigido à União Soviética e ao Leste Europeu “o mesmo”. Foi então que começou o verdadeiro auxílio da China a Ho Chi Minh. “Mao enviou conselheiros especiais militares para os ajudar a reorganizarem-se, transmitiram-se informações sobre a política de reforma agrária, procurou criar-se a consciência de classes nas aldeias”, conta. E, se antes o partido liderado por Ho Chi Minh se denominava Partido Comunista da Indochina, nesta altura passou a chamar-se Partido dos Trabalhadores do Vietname. Os chineses “montaram, inclusivamente, hospitais junto à fronteira”. No entanto, foi uma época de “fricção social”: “Os soldados começaram a ficar confusos quando viram os pais a serem acusados e perseguidos por serem proprietários de terras.” Ho Chi Minh procurou “terminar com a reforma agrária”.
Por esta altura, os franceses queriam “criar uma separação do Vietname em dois: o Norte seria comunista e o Sul não comunista”. Em 1954, com a conferência de Genebra, em causa esteve principalmente a divisão do país em dois. Os chineses, ainda bem conscientes do “pesadelo que tinha sido a guerra da Coreia”, e com “medo de uma intervenção norte-americana no Vietname”, dada a questão da divisão, pressionaram o Vietname a “negociar com os EUA”. Por isso, da conferência resultou o fim da primeira guerra da Indochina e a imposição de que, daí a dois anos, iriam ter lugar eleições nacionais. Foi então que os norte-americanos entraram no país, apoiando os líderes do Vietname do Sul. Contudo, os dirigentes de então estavam longe de reunir consenso, causando, nomeadamente, algumas reacções, mais tarde, por parte da comunidade budista. Estava-se já na Guerra do Vietname, que opôs os comunistas da República Democrática do Vietname e os EUA. Foi também o “fim da amizade entre a China e o Vietname”, que discordaram a “propósito da fronteira democrática, e a propósito da postura face ao Cambodja”. “Uma relação de cooperação, mas sempre pautada por fricção e disputa”, explica o professor.
Esclarecimentos do académico que procurou, assim, mostrar uma visão diferente do que se passou nesta época. E, esclarece, ao invés do que tem vindo a ser “publicado nos manuais de história pós 1945, não se trata de um conflito que opôs o Ocidente ao Oriente, mas sim o Norte – desenvolvido e industrializado – e o Sul – em desenvolvimento”. Na opinião do académico, o Ocidente “estava sempre focado no Oriente e não se apercebia do resto”. Mas, actualmente, já “se vê uma série de novos intelectuais dos EUA que falam em choque de civilizações”. O que, mesmo assim, “não deixa de ser uma espécie de visão de pouco alcance dos académicos do Ocidente, que ignoram a questão do Norte e Sul”. Por exemplo, referindo-se estes professores a Mao Zedong como “instigador da luta de classes”, estão a “adoptar uma terminologia típica do Ocidente, mas precisam de olhar mais atentamente para os discursos” do antigo líder comunista.
É por isso que Qiang Zhai fala numa “nova Guerra Fria”. Algo que nada mais é do que uma diferente postura académica que tem incitado ao debate sobre as suas origens e o seu fim.
Luciana Leitão

Viagem exclusiva à RAEM não cativa turistas portugueses

Macau é uma passagem

Durante duas semanas, no metro, nos comboios e nos autocarros de Portugal estiveram expostos cerca de dois mil “mupis”, com o mote “Sentir Macau”. O objectivo era promover a viagem exclusiva para a RAEM da “Viagens Abreu”, que constituiu uma das inovações deste ano da feira anual da agência, ocorrida entre sexta-feira e domingo na FIL, em Lisboa. No entanto, a poucas horas do final da “Mundo Abreu”, nenhum visitante tinha ainda comprado o pacote turístico “Macau, Estrela do Oriente”, admitiu a técnica de turismo, Olga Vaia, responsável pelas grandes viagens criadas pela “Club 1840”, operadora turística da agência.
A técnica de turismo garantiu que já esperava estes resultados. “Por mais completo que o território seja, as pessoas não conseguem resistir à tentação de dar um pulo a Hong Kong, Pequim ou Xangai, fazendo uma viagem mais completa”, explicou Olga Vaia, acrescentando que “sabia a priori que desta vez não ia funcionar”, mas ambicionava “mostrar e dar destaque à RAEM como destino”, sendo “esta a melhor forma de o fazer”. Para Olga Vaia, o território “é um destino onde se deve investir e ao qual os turistas não podem deixar de ir quando visitam o Oriente”.
Por outro lado, a técnica de turismo lembrou que os preços promocionais praticados na “Mundo Abreu” estarão disponíveis até domingo. Por isso, está confiante que até lá receberá pedidos de reserva para a “Estrela do Oriente”. Segundo Olga Vaia, geralmente, os clientes das grandes viagens não reservam o pedido na feira, preferindo fazê-lo no conforto de uma loja.
A técnica sublinhou que “mesmo que ninguém reserve a viagem exclusiva para o território, será uma aposta ganha” se o público exigir a inclusão de Macau nas viagens à China. Neste ponto, Olga Vaia sublinhou que os pacotes de viagens à China, nos quais se insere a RAEM, estão a ter grande sucesso. “Antes os nossos clientes queriam ir à China mas não exigiam saber quanto custaria uma ida a Macau mas agora já começam a considerar e a desejar a inclusão do território no percurso”, salientou.
Segundo a mesma responsável, o interesse por Macau está novamente a despertar em Portugal. “Depois de 1999, os portugueses desinteressaram-se pelo território mas agora, com todas as informações que chegam da RAEM, têm mais curiosidade” em saber o que aconteceu após a transferência de soberania.
O “namoro” entre a Viagens Abreu e o território terá começado no ano passado em Maio, aquando da visita do director da operadora turística, Diamantino Pereira, à RAEM, adiantou Olga Vaia. “O entusiasmo que trouxe foi suficiente para nos despertar a curiosidade” sobre o território, contou.
Na verdade, para a técnica de turismo, o “tesouro” de Macau é, em grande parte, o vestígio português, assim como os recentes investimentos na RAEM. Daí que, ao elaborar o programa da viagem, Olga Vaia tenha agendado, além de uma visita ao património histórico, tempo livre para que as pessoas possam descobrir por si próprias “tudo aquilo que Macau tem para oferecer”.
Na “Mundo Abreu”, estas e outras características do território estão expostas num stand promocional, um dos mais destacados da feira. “Este ano temos um espaço maior na feira”, salientou o coordenador do Centro de Promoção e Informação Turística de Macau em Portugal, Rodolfo Faustino. De acordo com o coordenador, o stand tem tido sucesso, pois recebe muitos portugueses que querem saber mais sobre o “novo Macau”. “A nova era do território está a despertar interesse”, salientou, embora lembre que os portugueses não esquecem as ligações patrimoniais pois ainda “têm Macau no coração”. Rodolfo Faustino acredita que com um produto específico para Macau, através da Viagens Abreu, “há já uma procura pelo território não só em termos institucionais mas também em termos comerciais”.
Para o mesmo responsável, o preço da Estrela do Oriente é “absolutamente suportável”. Ao preço da feira, uma viagem de sete dias entre 1 de Maio e 20 de Junho e entre 16 de Setembro e 31 de Outubro, custa 1350 euros (cerca de 17 mil patacas), enquanto que entre 21 de Junho e 15 de Setembro custa 1466 euros (cerca de 18.500 patacas). O alojamento mais barato será no Hotel Sintra, mas mediante um pagamento extra os visitantes poderão ficar hospedados no Wynn, no Venetian ou no MGM Grand Hotel.
Tal como aconteceu na Bolsa de Turismo de Lisboa, em Janeiro, o stand de Macau, além de oferecer informações sobre o território, apresentou também alguns espectáculos, como as exibições de dança do dragão e de artes marciais que, segundo Rodolfo Faustino, encantaram os visitantes da “Mundo Abreu”.
Laura Bastos, em Lisboa

O rei e a rainha de outros tempos estão a chegar às bancas da fruta

A líchia e o longan

A primeira vez que ouvimos falar de líchias foi no livro A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, ficando a saber tratar-se de um fruto. Mas sem imagem mental pouco interesse despertou. Um dia, já lá vão três dezenas de anos, ao fazer uma refeição num dos poucos restaurantes chineses, que então existiam em Portugal, provámos um fruto de cor branca, transparente e mais ou menos gelatinoso, que como sobremesa nos foi servido com uma calda muito doce. Vinha sem caroço e em conserva.
Só quando viemos viver para o Extremo Oriente é que tomámos consciência da que se considerava antigamente a rainha das frutas. Há um ditado que diz: “A líchia está para os outros frutos como os imortais ou Buda estão para o comum dos mortais”.
Passeávamos em Maio pela rua da fruta, junto à rotunda dos Três Candeeiros (Carlos da Maia), quando ao olhar para uma banca vemos uma série de pequenos ramos atados em cacho, cheios de pequenas bolas vermelhas de tamanho um pouco maior e mais arredondadas que as uvas. A vendedeira, percebendo o nosso interesse, oferece-nos uma e com um gesto diz-nos para provar. O intenso perfume adocicado, que logo se desprendeu quando retirámos a casca um pouco rugosa ao tacto e expôs o fruto branco, fez saltar da memória sensitiva a primeira vez que a provámos. O sabor correspondia mais ou menos ao da uva moscatel.
Poucos dias depois, andando com uns amigos chineses em passeio pelo distrito vizinho de Macau, passando por um vendedor com a banca na borda da estada, aí parámos. Este deixou-nos ir ao campo colher das árvores as líchias e foi assim que complementámos o nosso conhecimento sobre esta fruta.
Originária do Sul da China, a líchia (Litchi chinensis Sonn ou fruto Nephelium Litchi) era cultivada desde o século III a.C. Existem muitos livros antigos sobre líchias, mas o que apresenta mais detalhes é o de Cai Xiang, escrito durante a dinastia dos Song do Norte e que fala de 32 espécies de líchias. Outro livro, escrito durante a dinastia Ming, por Xu Bo, refere haver 70 espécies. A líchia precisa de muito calor e chuva logo só se dá num clima tropical.
Como apreciadores desta fruta, ao viajarmos pelas províncias do Sul da China (Guangdong, Fuquiam, Guangxi e Sichuan), encontramo-las com diferentes sabores e formas.
Um dia andávamos pelo distrito de Nanhai, na província de Guangdong, quando nos deram a provar umas líchias conhecidas desde a dinastia Tang como o Sorriso da Concubina. Tal como o nome indicava, eram as eleitas para agradar às mulheres da corte, que nesse período se encontrava em Chang’an (actual Xian). E para que chegassem frescas à capital, viajavam de cavalo por estafetas.
A líchia aparece entre os meses de Maio e Junho e as árvores de líchia duram bastante tempo, havendo uma em Fuquiam com mais de mil e quatrocentos anos que continua a produzir.
Crê-se que o fruto seco da líchia serve para purificar o sangue, tonificar o cérebro e fortificar a saúde.
Parecido com a líchia é o longan (longana em português), que significa “olho de dragão”. De casca amarelada e mais fina, é um pouco mais pequeno e menos gostoso que a líchia, sendo a sua polpa mais ácida. Nos tempos antigos estava registado como fruta-rei e na dinastia Han era usado como um precioso tonificante. Existem 400 espécies de longans, que são produzidos nas mesmas regiões que a líchia.
A fruta seca de longan é chamada guiyuan e tem mais valor que as líchias secas. Os livros farmacêuticos dizem servir a polpa para tonificar o baço, enriquecer o sangue e por isso ser bom para tratar anemias. Também tranquiliza a mente sendo usado contra as insónias e neuroses. O caroço, sem a sua pele preta, quando moído serve para aplicar em feridas e assim parar hemorragias.
Na Primavera, a árvore da Litchi chinensis encontra-se em flor e em Junho e Julho dá fruta. No entanto, actualmente estas podem ser vistas nas bancas a partir do mês de Abril. E é assim que começámos a desfrutar destes dois suculentos e requintados produtos que mais parecem provenientes do Paraíso.
José Simões Morais
Artista plástico, estudioso de Questões Civilizacionais

terça-feira, 15 de abril de 2008

Um olhar sobre a imprensa oficial chinesa e a questão tibetana, Em busca do nirvana

Um olhar sobre a imprensa oficial chinesa e a questão tibetana

O mundo tem duas verdades

Pode ser lida como uma mega-acção de propaganda, ao estilo dos regimes condenados em praça pública internacional, ou então como uma tentativa de reposição de uma certa verdade desvirtuada por quem olha só para um lado da questão. Qualquer que seja a perspectiva da análise, certo é que está lá, existe, e surge da necessidade de contrariar uma tendência marcadamente vinda do Ocidente: a imprensa estatal chinesa não tem poupado esforços para pôr água na fervura tibetana.
Há precisamente um mês, aconteceu o que Pequim mais queria evitar, em vésperas de Olimpíadas e com a tocha olímpica prestes a correr o mundo. As confusões em torno do Tibete e os acontecimentos destes últimos trinta dias fazem quase esquecer os últimos 49 anos, excepção feita a alguns raciocínios mais claros e menos radicais que se encontram em ambos os lados da barricada e que jogam cartadas históricas para sustentar teses divergentes.
A violência despontou e seguiram-se as tradicionais contagens de mortos e feridos com números díspares, consoante as fontes. Seguiram-se os protestos em torno da tocha olímpica, condenados por quem entende que a chama se deve manter sagrada – ou não fosse a paz a essência do espírito olímpico –, sendo que há também quem defenda que as oportunidades da causa tibetana são escassas, pelo que é necessário aproveitar a onda e não deixar morrer o assunto.
Uma pesquisa rápida em qualquer motor de busca conduz a uma China que é só quase Tibete. O encontro entre Hu Jintao e o vice-presidente eleito de Taiwan, Vincent Siew, veio introduzir alguma diversidade a um sem-número de notícias de carácter essencialmente político que, no último mês, se distinguem essencialmente pela diferença que vai sendo apresentada em termos de números e de protagonistas. De um modo geral, excepção feita às afirmações públicas das autoridades chinesas - nas reacções às acusações e nas tomadas de posição em relação ao Dalai Lama, o líder tibetano no exílio – as notícias sobre a China fazem dela o papão da história. As condenações em torno dos direitos humanos não são novas: o que é novo é o contexto.
Como reage Pequim a tudo isto? Antes de mais, pelos métodos mais ou menos diplomáticos, políticos por certo, que passam ao lado da opinião pública. Depois, pela assunção da posição oficial que tradicionalmente assume quando se fala em independência, quer de Taiwan, quer do Tibete. São matérias de soberania, de carácter interno, de hegemonia do Estado. E há ainda a tal tentativa de mostrar a sua verdade, o Tibete real, a região autónoma onde agora se vive melhor do que até 1959.
Uma pesquisa com a palavra “China”, em qualquer banco de imagens internacional, mostra inúmeras manifestações em torno da causa tibetana, que se multiplicam por diferentes continentes. Já a agência noticiosa oficial chinesa, a Xinhua, mostrava ontem um outro protesto, na secção de desporto. A fotografia exibia um considerável número de pessoas, com cartazes coloridos, “chineses ultramarinos a viver no Canadá, durante um protesto de apoio aos Jogos Olímpicos e contra as forças separatistas que querem a independência do Tibete”.
Estas são as mensagens de conteúdo mais imediato, mais político. Não é difícil encontrar outras, de maior subtileza. Nos dias que se seguiram aos violentos protestos de meados de Março, a Xinhua publicou centenas de fotografias sobre o regresso à vida normal. Crianças a brincar nas ruas de Lhasa, estabelecimentos comerciais de portas abertas. Como que a dizer que a história não é tão má como se pinta.
Nas secções de cultura e sociedade, surgem quase todos os dias novos textos sobre o que são os hábitos de quotidiano dos tibetanos. Sobre a cultura tibetana e a forma como esta não foi esmagada pelo peso da estrutura Han. Alguns artigos são mais informais, quase como se estivessem ali por acaso, no meio de tantos outros. Mas há textos também assumidamente a pensar no contraditório, como a história de Saijor Zhoigar, o antigo vice-reitor da Universidade do Tibete, que começou por ser servo.
"Só aqueles que passaram por um Inverno rigoroso sabem dar valor ao calor do Sol”, começa por dizer o entrevistado da Agência Xinhua, que compara assim a sua vida “antes e depois da reforma democrática do Tibete, em 1951”. Zhoigar tornou-se servo com apenas sete anos, não tendo o que comer ou vestir. “Em plena primeira metade do século XX, o Tibete permanecia uma sociedade teocrática de servidão feudal”, contextualiza a agência.
No final da passada semana, um outro trabalho da agência de notícias dava a conhecer a obra de Soinam Cering, dramaturgo tibetano comparado a Shakespeare (pelo autor do artigo), sendo que ainda se encontra vivo e de saúde, a perpetuar as tradições orais tibetanas, através da sua transformação em peças de teatro. Um sinal de que não só a cultura local existe e não foi destruída - como alegam os que se encontram do outro lado da barricada - , mas que Pequim aprecia e incentiva a preservação de hábitos e costumes, fazendo deles notícia em língua inglesa. Para que o mundo os conheça. Para se fazer ouvir entre os coros de protestos, inevitavelmente dominantes.
Isabel Castro

UCTM analisou evolução da procura de casas em regime económico e social

Projecto de habitação pública é suficiente, diz estudo

O projecto do Governo para a habitação pública é suficiente para as actuais necessidades dos residentes de Macau. Esta foi a conclusão principal do estudo sobre a evolução da procura de habitação pública, uma investigação adjudicada pelo Instituto de Habitação (IH) à Faculdade de Administração e Gestão da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (UCTM). Durante a sessão de apresentação dos resultados do inquérito, os investigadores alertaram que esta previsão só será efectiva se não se registarem alterações no número de pessoas com baixos rendimentos e nos preços das casas.
“Este estudo não é dinâmico, é estático”, sublinhou aos jornalistas Michael Pang, professor da Faculdade de Administração e Gestão da UCTM. Isto é, os investigares analisaram a evolução da procura de habitação pública com base em dados actuais e sem ter em conta o futuro. Por isso, segundo o estudo, se a situação económica e os preços do mercado imobiliário do território se mantiverem como hoje os conhecemos, as 19 mil fracções de habitação pública prometidas pelo Executivo até 2012 vão colmatar a procura.
Neste momento, diz o relatório, “é necessário satisfazer a procura de habitação a 20 ou 30 por cento dos residentes, ou seja, entre 110 e 165 mil pessoas, (...) o que corresponde a 36.700 ou 55 mil fracções de habitação pública. Consideramos que este fornecimento consegue satisfazer basicamente a procura”.
No entanto, a equipa de investigadores do estabelecimento de ensino superior deixa duas propostas. Em primeiro lugar, o Governo deve centrar a sua política num mercado de “tipo assistência”. O que quer dizer que os primeiros destinatários da habitação pública devem ser as pessoas com baixos rendimentos. Só assim será possível “satisfazer a procura básica”.
Em segundo lugar, é preciso dizer à população que existe uma outra opção válida – o arrendamento de casas a preços mais reduzidos - que é o conceito que está por trás da habitação social. “Na cultura chinesa, as pessoas pensam que ter casa é ser-se proprietário. Através dos inquéritos, verificou-se que os cidadãos de Macau têm forte preferência na procura de habitação económica [sistema de compra de apartamentos]. Contudo nos outros países e regiões do mundo, a situação que se encontra é o oposto”, explicou Michael Pang.
Este estudo recolheu ainda as opiniões da população quanto à revisão actualmente em curso dos critérios de acesso à habitação pública. A maior parte dos residentes concorda com as propostas de alteração.
Recorde-se que os moldes do processo de candidatura a apartamentos em regime social ou económico estão a ser analisados pelo Governo, ainda sem data definida para a conclusão dos trabalhos. A intenção é tornar mais rígidas as condições para obter fracções de habitação pública. Por exemplo, pretende-se que um residente só se possa candidatar se não tiver em seu nome mais nenhuma propriedade.
A habitação pública tem sido várias vezes apontada como uma solução para o controlo da especulação do mercado imobiliário. São muitos os sectores da sociedade que defendem a aceleração do processo de construção das 19 mil fracções prometidas pelo Executivo num prazo de cinco anos. Algo que poderá, segundo os defensores da medida, aliviar o fardo que os aumentos constantes da inflação têm causado à população.
De acordo com os últimos dados lançados pelo IH, que se referem a Abril do ano passado, existiam 6636 famílias em lista de espera para habitação social. Entretanto, foi construído um novo edifício de habitação social na Ilha Verde, com um total de 210 fracções.
A página de Internet do IH informa ainda que existem no território cerca de 6300 apartamentos de habitação social. A estes, somam-se mais 28 mil fracções de habitação económica, localizadas em Macau e na Taipa.
A habitação social é construída pelo Governo ou por empreiteiros que doam as fracções ao Executivo em troca de contrapartidas. A Administração aluga as habitações sociais com rendas baixas a agregados familiares de parcos rendimentos ou problemáticos. Já a habitação económica é construída por privados que estabelecem acordos com o Governo em que, em troca de contrapartidas, se comprometem a construir habitações de baixo custo para vender aos residentes segundo um preço acordado com o Executivo.
Alexandra Lages

Cristina Lobo conta como nasceu o spa

Em busca do nirvana

Gota a gota, ouve-se o barulho da água a pingar. Sente-se o cheiro a limão. Sensações que antecipam um prazer maior: o corpo a relaxar, libertando-se das agruras do dia-a-dia. Pelas salas do Nirvana, um dos mais conceituados spas de Macau e o único detido por uma portuguesa, a atmosfera de tranquilidade é o cartão de visita.
Cristina Lobo era secretária assistente do administrador da Companhia do Aeroporto de Macau (CAM), proprietária de uma loja de antiguidades no hotel Westin e instrutora de aeróbica em Macau, quando um dia partiu para as Filipinas. O objectivo era acompanhar o marido, que ali iria construir um resort de luxo. Depois de assistir a um seminário, cuja oradora era uma norte-americana especialista em aromaterapia, Cristina Lobo começou a interessar-se pela arte das massagens. “Passei a estudar muito e a frequentar cursos com bastante interesse”, conta.
Três anos depois, o marido partiu para Lisboa com a intenção de abrir mais um hotel de luxo, mas Cristina, desta vez, não o acompanhou. Optou por regressar à terra da mãe e do marido, Macau. Acompanhada de dois filhos, começou a pensar no que “iria fazer”. Inicialmente, retomou as aulas de aeróbica. Mas a ideia de aprender mais na área das massagens nunca a largou. “Comecei a ir a Hong Kong, à Índia e à Tailândia para tirar vários cursos, inclusivamente o de gerente nos Estados Unidos”, conta.
Começou por fazer o chamado “home service” em Macau. Munida da sua cama portátil, deslocava-se de casa em casa para dar uso às técnicas aprendidas no estrangeiro. Mais tarde, viria a abrir um pequeno estúdio no NAPE, já denominado Nirvana, local onde “ganhou clientela”. E se, no início, eram as amigas e a família que procuravam os seus serviços, que “passaram de boca em boca a mensagem”, rapidamente a clientela se diversificou. Surgiu então a oportunidade de abrir um espaço em plena Avenida da Praia Grande.
No budismo, nirvana é o culminar da busca pela libertação. É a superação da existência, a superação dos sentidos para um estado de desprendimento absoluto. E a escolha do nome do spa gerido por Cristina Lobo não foi aleatória.
O spa, perfumado com um aroma de limão, desde a recepção até às salas de massagem, tem em cada pormenor o dedo de Cristina Lobo. “As especialidades são as massagens orientais de base holística [práticas que encaram um ser humano como um todo – um corpo físico a que se aliam as emoções, sensações e sentimentos], não são massagens técnicas. Tinha de ser um ambiente ecléctico, oriental e exótico”, diz. Por isso, assim que se entra na recepção, é essa a percepção que se tem. Cuidadosamente decorado, entre várias malas para senhora e peças de vestuário concebidas por residentes locais que estão à venda, os detalhes e as referências visuais às terras por onde passou estão à vista.
O espaço é composto por seis quartos onde são efectuados os tratamentos, com nomes alusivos a cidades da Ásia: Thai, China, Bali, Índia, Yin e Yang e M (referindo-se a Macau e ao Homem, em inglês). São quartos individuais, exceptuando o Yin e Yang que se destinam a duas pessoas, tendencialmente casais. Em cada um, o ambiente de relaxamento é proporcionado pelo som da água a cair, gota a gota. Um detalhe para reforçar o efeito de relaxamento dos tratamentos.
A especialidade da casa é a massagem Ayurvédica e a Shirodara, ambas inspiradas em técnicas milenares indianas. “Shirodara é uma oleação, uma terapia com um fio de óleo quente especial que escorre no corpo, havendo posteriormente uma massagem nos ombros, no pescoço e no crâneo. A Ayurvédica recorre a uma técnica totalmente diferente das outras, em que o óleo, à base de especiarias, é aquecido, sendo o próprio óleo a causar o efeito de relaxamento”, explica. Mas, espreitando a lista de preços, rapidamente se percebe que, desde a massagem tradicional tailandesa passando pela depilação, manicure, pedicure até aos tratamentos faciais, o leque de serviços prestados é bastante abrangente.
Da clientela do spa Nirvana fazem parte macaenses, portugueses e restantes ocidentais. “Fui ganhando as gerências dos casinos, já que os serviços dos spas dos próprios locais de trabalho são muito caros”, explica. Também os filipinos de classe média e alta, que passam por Macau, acabam por ali parar, juntamente com os residentes de Hong Kong. Assíduos frequentadores dos spas são também os “os artistas do Venetian, os gondoleiros, os músicos de rua, além de todos os elementos do Cirque du Soleil”.
Tendo sido modelo durante vários anos, a ligação ao cuidado com o corpo sempre esteve presente na vida de Cristina Lobo. Foi assim que, naturalmente, se tornou a única portuguesa a deter um spa em Macau. Tendo, ao longo dos anos, conquistado uma reputação no seio da comunidade de Macau, a verdade é que ainda hoje continua a ter clientes menos informados a bater à sua porta. Clientes em busca de um outro tipo de serviço, comum em várias casas de massagem espalhadas por Macau. Cristina Lobo esclarece. Eles não regressam.

Os quartos

THAI: Espaço para manicures e pedicures. Se o cliente quiser uma massagem tradicional tailandesa, “sem óleo e à base de estiramentos”, coloca-se um colchão no chão. Sem duche.
YIN e YANG: O quarto duplo onde qualquer massagem se pode realizar. Com duche.
CHINA: O espaço destinado a máscaras faciais e depilação. Sem duche.
BALI: O quarto maior com espaço para qualquer tratamento. Com duche.
ÍNDIA: O quarto decorado com as cores da Índia. As massagens Shirodara e Ayurvédica são realizadas aqui. Com duche.
M: Podendo significar Macau ou homem (em inglês), é o espaço ideal para os vários homens que se deslocam ao Nirvana. Um quarto onde qualquer tratamento pode ser realizado. Com duche.
Luciana Leitão
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn

Hong Kong lança novo plano de reforma da assistência médica

As mil e uma tentativas para curar a Saúde

Uma população envelhecida, carente de cuidados, e um sistema de saúde que, frequentemente, é objecto de críticas, tanto por médicos como pelos pacientes. É este o quadro geral da assistência médica de Hong Kong. A piorar a situação, há as longas listas de espera em clínicas e hospitais públicos e o fardo financeiro que daí resulta para o Governo. Uma realidade que já é conhecida dos residentes do território vizinho desde 1990. O Executivo da RAEHK tem feito uma longa caminhada à procura de soluções. Finalmente, no mês passado, surgiu uma luz ao fundo do túnel.
São seis os planos que deverão ser responsáveis pela melhoria do sector. Em cada um, há uma percentagem de participação das carteiras dos residentes e dos cofres da Administração. A região deverá chegar a um consenso sobre a proposta do Executivo no espaço de três meses. O projecto intitula-se “Ser Mais Forte”; no entanto, o caminho no sentido de conseguir uma melhor infra-estrutura de saúde pode levar muitos anos a alcançar.
Quando foi lançado para consulta, o novo plano foi ensombrado pelo surto de gripe entre crianças em idade escolar. A divulgação dos detalhes das reformas, feita pelo secretário para a Alimentação e Saúde, York Chow Yat-ngok, foi acompanhada de vários protestos, principalmente da parte dos pais e encarregados de educação. Até o jornal Oriental Daily acusou o Governo de tentar “tapar o sol com a peneira”, lançando o documento para consulta exactamente na mesma altura em que se temia um caso de epidemia.
Esta não foi a primeira tentativa de avançar com uma revisão do sistema de saúde de Hong Kong. Hoje em dia, 95 por cento do sector da assistência médica é suportado pelo Governo e há um longo historial de tentativas para mudar esta situação.
O primeiro grande passo no sentido de encontrar uma alternativa de financiamento para aliviar a despesa do Executivo chamava-se “Em Direcção a Uma Saúde Melhor”. O plano foi lançado em 1993 e sugeria dois tipos de regime: um obrigatório, com base nos impostos pagos pelos residentes, e um opcional, de carácter privado através de apólices de seguro.
Seis anos depois, uma equipa de investigação da Universidade de Harvard responsável pelo estudo “Melhorar o Sistema de Saúde de Hong Kong: Porquê e Para Quem?” recomendou um método tripartido. A proposta incluía uma combinação de seguro com um sistema de poupança.
Mais tarde, com base neste relatório, surgiu uma nova alternativa. Desta vez a reforma dava pelo nome de “Investimentos Vitalícios na Saúde”. A reforma foi alvo de consulta pública mas teve o mesmo destino das anteriores. Ficou pelo caminho e não foi implementada.
O diploma abordava as deficiências no actual sector da saúde em Hong Kong e fazia várias recomendações. Entre elas, um maior ênfase nos cuidados primários de prevenção, um sistema mais abrangente para as famílias com baixos rendimentos e as camadas da sociedade mais necessitadas, melhor colaboração entre os grupos prestadores de serviços privados e públicos, bem como um registo electrónico que serviria como plataforma para a classe médica partilhar mais facilmente informação sobre o historial dos pacientes.
Medidas que pouco importavam tanto aos críticos como aos meios de comunicação social. No fim de contas, a cura para os males do sector de saúde de Hong Kong chama-se modelo de financiamento. Uma fórmula que tem levado anos a ser determinada e que tem motivado discussões intermináveis.
O impasse pode acabar com as novas seis opções. Segundo o documento actualmente em consulta pública, o plano pretende suplantar o surgimento de custos em despesas de saúde. Isto é, as alternativas vão desde taxas mais simples que evoluem para um sistema de seguros, muito semelhante ao utilizado nos Estados Unidos.
A par do sistema privado de saúde praticado nas terras do Tio Sam, a reforma tomou como exemplo os casos de Singapura e da Alemanha. No meio dos planos de saúde de carácter público e privado, há ainda um regime combinado especificado para um grupo de residentes.
Contudo, o Governo da RAEHK ressalvou que a população poderá beneficiar no futuro com o aumento do leque de escolhas. York Chow já admitiu que existe o risco de não surgirem conclusões da primeira fase da consulta pública. Neste caso, está agendada para o próximo ano uma segunda fase de auscultação e os trabalhos poderão passar para o seu sucessor.
As opiniões dividem-se. E isso pôde ser observado quando rebentou a possibilidade de uma epidemia. Num inquérito realizado pela organização “Força da Classe Média”, até ao final de Março, mais de 57 por cento dos 723 moradores de bairros da classe média de Hong Kong e de Kowloon disseram preferir regimes opcionais de assistência médica por seguro, apesar da longa listas de desvantagens. As restantes opções, como um seguro obrigatório ou aumentos nas despesas da saúde, foram rejeitadas por uma maioria esmagadora.
As preferências da classe média são reiteradas por Lam Pun-Lee, professor de Finanças e Contabilidade no Instituto Politécnico de Hong Kong. De acordo com o docente, qualquer sistema de financiamento por parte do Governo dificilmente vai ganhar o apoio da população. Em particular, no caso da classe média, que faz questão em planear a sua saúde.
“Porque é que aqueles que não se preocupam com a sua própria saúde ou em preparar-se para o futuro têm o direito aos subsídios que partem dos contribuintes e gozar de serviços médicos gratuitos?”, questionou Lam Pun-Lee. O docente apontou ainda que os hospitais públicos devem triplicar as actuais tarifas para cobrir até 30 por cento dos custos e despesas.
Como incentivar os residentes de Hong Kong a escolher um seguro de saúde é a questão que se levanta. Acontece que as seguradoras da região vizinha não estão a fazer o melhor dos trabalhos e isso dificulta a situação.
Em 2006, estas entidades privadas foram abertamente criticadas pelo Conselho Médico da RAEHK. À semelhança do que vemos no documentário de Michael Moore, “Sicko”, alguns profissionais recusaram dar tratamento a doentes, por questões de lucro.
O certo é que o panorama no sistema público de saúde, os pacientes vítimas de doenças avançadas também não têm a vida facilitada. Mesmo quando todos os custos são subsidiados pelo Governo, mostrou um estudo realizado pela Sociedade de Reabilitação de Hong Kong. O problema chama-se lista de espera.
Kahon Chan, em Hong Kong,
com Alexandra Lages

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Líderes mundiais reunidos no Fórum Boao em Hainão, Mestrados e doutoramentos em Macau

Líderes mundiais reunidos no Fórum Boao em Hainão

Por uma Ásia “verde”

O presidente da China, Hu Jintao, não poderia faltar. Começa hoje, em Hainão, o Fórum Boao para a Ásia, uma reunião anual que congrega líderes mundiais e que este ano terá por tema principal a protecção do ambiente. Esperam-se personalidades como o primeiro-ministro da Austrália, Kevin Rudd, o Presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, e empresários para, num ambiente informal, discutirem questões ligadas ao desenvolvimento económico. Uma oportunidade anual que vem enfatizar “a crescente importância que a China tem na senda internacional, congregando líderes que não são só políticos nacionais, mas também empresários famosos e académicos”, conforme declarou ao Tai Chung Pou o presidente do Instituto de Estudos Europeus, José Sales Marques.
Sendo equiparado ao Fórum Davos, na Suiça, o Fórum Boao para a Ásia é uma oportunidade importante “para troca de informações”, marcando “o papel da China como facilitador do diálogo”, focando aspectos de “desenvolvimento económico e segurança”. Sempre num “ambiente informal”. Estando, provavelmente, longe do palco questões políticas como a da independência de Taiwan, é de realçar ainda a presença já confirmada do vice-presidente eleito da ilha, Vincent Siew. A ideia é que “a cooperação na Ásia seja uma ‘win-win situation’, em que todos têm a ganhar”, afirma Sales Marques.
Numa recente conferência de imprensa, o secretário-geral da iniciativa, Long Yongtu, dizia que “a força do painel de oradores para o evento deste ano é um testemunho da importância e influência do Fórum Boao para a Ásia”, tendo-se tornado “uma plataforma de discussão para o futuro político, económico e social do continente”. Serão três dias de debate que, conforme informação veiculada no site da Internet, irá procurar “encaminhar-se rumo à eficiência energética, de forma a assegurar o futuro da Ásia através das fontes de energia renováveis”.
Em declarações também publicadas no site, o primeiro-ministro da Austrália, Kevin Rudd, afirmou estar “ansioso” por contribuir para tais discussões. “Tenho uma ligação pessoal à China, e estou muito contente por ter a possibilidade de regressar. Mas, mais importante, estou entusiasmado por poder ter algo a dizer neste diálogo”, diz.
Recorde-se que o vice-presidente eleito de Taiwan, Vincent Siew, afirmou esperar encontrar-se com os dirigentes chineses no Fórum Boao. Salientando não poder dizer se os encontros que prevê manter incluem o Presidente Hu Jintao, Vincent Siew disse que "durante anos" se encontrou com os principais dirigentes chineses no fórum e que este ano espera o mesmo. O mesmo responsável escusou-se, contudo, a dizer quando é que poderia encontrar-se com Hu Jintao, e garantiu "respeitar os preparativos da organização". O vice-presidente eleito já participou cinco vezes no fórum Boao como presidente da Fundação para o Mercado Comum do Estreito de Taiwan, uma organização não-governamental por si criada, e já esteve reunido com o Presidente chinês. "Considero o fórum como uma oportunidade para expandir as operações económicas de Taiwan para outros pontos do globo e irei aproveitar a reunião para demonstrar a sinceridade e boa vontade de Taiwan ao continente chinês e fazer disso a nossa base de mútua confiança", afirmou Vincent Siew.
O Fórum Boao para a Ásia deverá contar com cerca de mil participantes de cerca de 12 países. Entre os principais intervenientes, contam-se, além dos já mencionados, a Presidente do Chile, Michelle Bachelet, o primeiro-ministro do Cazaquistão, Karim Massimov, o Presidente da Mongólia, Nambar Enkhbayara, os Chefes do Executivo de Macau e Hong Kong, além do antigo secretário de Estado dos EUA, Colin Powell. Uma longa lista de nomes sonantes à qual se juntam ainda vários empresários.
Luciana Leitão
Fotografia: Xinhua

Governo organiza evento internacional sobre protecção ambiental

Macau, aquela plataforma

Comércio, economia e agora também o ambiente. O Governo quer transformar Macau numa plataforma de cooperação de tecnologias para as indústrias amigas do ambiente, tanto ao nível regional como internacional. É com este objectivo que vai ser organizada, entre os dias 23 e 25 deste mês, a primeira edição do Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental Macau 2008 (MIECF, na sigla inglesa), que terá lugar no Centro de Exposições e Convenções do Venetian. O evento traz ao território 54 personalidades e especialistas na matéria, oriundos de 15 países e regiões, além de mais de uma centena de empresas (ver texto nesta página).
Água, Energia e Desenvolvimento Sustentável serão as três palavras de ordem durante o seminário. “São três questões que levantam preocupações a nível internacional”, explicou a presidente substituta da comissão executiva do Conselho do Ambiente, Vong Man Hung, durante a conferência de imprensa que se realizou ontem. “É a primeira vez que este tipo de evento é organizado em Macau e queremos ser uma plataforma de cooperação para os nossos vizinhos do Delta do Rio das Pérolas e o exterior”, frisou a mesma responsável.
“Macau pode tirar partido das vantagens geográficas e económicas, assumindo-se como uma plataforma de intercâmbio entre a China e os países europeus, nomeadamente no que toca à introdução de políticas e tecnologias de protecção ambiental dos países da Europa, com o objectivo de promover a conservação da água e energia e as indústrias de reciclagem na China”, defendeu, por sua vez, a vogal da comissão executiva do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau, Echo Chan.
O MIECF representa a quarta aposta deste ano do Governo centrada no ambiente. Recorde-se que, em Janeiro, Macau aderiu ao protocolo de Quioto, ao mesmo tempo que foi lançado o regulamento administrativo que proíbe a comercialização de motas com motor de combustão interna a dois tempos e estabelece limites de emissão de gases aos diferentes modelos de motociclos. No final do próximo ano ou no início de 2010, prevê-se que o gás natural já esteja disponível para uso doméstico.
Quanto a novidades, Vong Man Hung nada adiantou. Questionada sobre medidas aplicadas nos grandes empreendimentos turísticos que estão actualmente em construção, como os casinos, a representante do Conselho do Ambiente apenas salientou que “o sector hoteleiro está a ser encorajado para adoptar esquemas mais verdes de consumo de água e energia, através do concurso para o hotel mais amigo do ambiente”.
Ao longo dos três dias do seminário, as apresentações vão basear-se em diversas matérias, destacando-se a “Agenda para a cooperação internacional”, “Poupança de energia e redução de emissões” e “Cidades inteligentes/ecológicas e políticas sustentadas para os transportes”. A título de exemplo, os oradores vão focar-se em questões ambientais e soluções eficazes, nas tecnologias que podem ser aplicadas nas diferentes indústrias e como podem as tecnologias ecológicas de baixo custo contribuir para suster parte dos danos provocados ao meio ambiente.
Durante o evento, serão ainda abordadas estratégias para que os países se possam comprometer com políticas públicas que visem impulsionar a inovação no que toca à protecção ambiental.

Empresas de Macau expõem tecnologias de protecção ambiental

São 26 os representantes locais na primeira edição na Exposição Internacional de Cooperação Ambiental Macau 2008, um evento que se realiza no Centro de Convenções e Exposições no Venetian, entre os dias 23 e 25 deste mês. A par de seminários, a iniciativa inclui uma mostra na qual uma centena de empresas oriundas de várias regiões chinesas e do estrangeiro vão exibir tecnologias de protecção ambiental.
De acordo com a vogal da comissão executiva do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau, Echo Chan, um total de 115 entidades e empresas irão colocar expositores no espaço destinado à exposição, que terá uma área de 6900 metros quadrados. O Pavilhão de Macau vai marcar presença no evento, com 69 stands e 26 participantes, incluindo departamentos do Governo.
A área do Delta do Rio das Pérolas tem um total de 813 metros quadrados. São 80 as empresas provenientes das diferentes províncias e regiões e vão mostrar os mais recentes desenvolvimentos no sector das indústrias verdes.
Nos primeiros dois dias do MIECF, as portas do espaço da exposição estão abertas apenas a representantes do sector empresarial. Na mostra, será ainda possível conhecer as ofertas amigas do ambiente de outros países fora do contexto asiático, como Portugal e Suécia, por exemplo.
Alexandra Lages

Abertas as inscrições para mestrados e doutoramentos em Macau

A um passo do conhecimento

Existem inúmeras áreas de investigação disponíveis em Macau para quem deseja aprofundar o conhecimento. Pós-graduações, mestrados e doutoramentos são alguns dos meios para o conseguir. As datas em que têm início variam conforme as instituições de ensino, mas normalmente são dois os períodos: Setembro e Fevereiro.
Neste momento, as inscrições estão abertas para os mestrados que vão iniciar no último trimestre do ano. Até ao próximo dia 25 os interessados podem matricular-se nos mestrados e pós-graduações que vão decorrer na Universidade de Macau (ver caixa). Esta é também a altura certa para se candidatar aos cursos de investigação, que conferem o grau de mestrado ou doutoramento, no Instituto Inter-Universitário de Macau (IIUM).
O professor Ivo Carneiro de Sousa, vice-reitor para a Investigação e Relações Internacionais do IIUM, confirma que a investigação é a grande aposta estratégica e afirma, sem receios de interpretação, que a instituição “é pequena e de elite”.
Está em curso, pela primeira vez, um mestrado em Estudos Comparados entre China e Europa, que começou em Fevereiro deste ano, e em Setembro arrancam três novas áreas de investigação - Estudos Latino-Americanos, Estudos Lusófonos e Estudos da Mulher - , totalizando quinze mestrados diferentes. Mais de 190 interessados já entregaram as candidaturas para ingressar nos mestrados e 36 tencionam realizar o doutoramento.
A frequência das aulas divide-se por módulos, o que “flexibiliza o estudo”. Caso alguém inicie o mestrado fora dos prazos, frequentará os módulos em falta no ano seguinte.
As portas abriram-se para a investigação em 1997, com um mestrado em Educação, um ano após a fundação do Instituto Inter-Universitário no território, que resultou de uma parceria entre a Universidade Católica Portuguesa e a Diocese de Macau.
Ainda hoje a investigação em Educação é a mais procurada, a par do MBA (Master in Business Administration).
No campo da Educação, Ivo Carneiro de Sousa destaca teses relevantes.
Porque é que os alunos estudam língua inglesa durante 10 ou 12 anos, mas chegam ao fim sem saber falar? Este foi o problema levantado por uma das teses, relativamente ao ensino de inglês nas escolas de Macau. A investigação deu origem a algumas respostas. “Como o inglês não é uma língua de comunicação, dificilmente era falada pelos alunos”, revela Ivo Carneiro de Sousa, adiantando que o sistema de ensino também estaria na origem do problema, pois “sendo essencialmente baseado na memorização, não permitia aos alunos aplicar os conceitos gramaticais na comunicação oral”.
A necessidade da criação de um centro de professores (Teacher’s Centre) foi fundamentada por uma outra tese de mestrado. O centro “permitiria o encontro de professores, e consequente partilha de experiências e recursos, num espaço que privilegiaria a comunicação transversal, distante de regulamentos e da estrutura vertical de cada estabelecimento de ensino”, explica. “A criação deste núcleo implicaria a reorganização da profissão”, conclui o responsável.
Também noutras áreas vão surgindo abordagens interessantes. Por exemplo, no mestrado de História e Património estão a ser feitos estudos sobre pátios de Macau, farmácias chinesas, além de um arquitecto chinês “estar a debruçar-se sobre o Porto Interior”.
O vice-reitor para a investigação constata que há muitas pessoas que “ainda não perceberam que Macau tem um património único, sendo a única cidade europeia na Ásia e, ao mesmo tempo, uma cidade chinesa muito antiga”, em que não há grandes cruzamentos ou misturas. O responsável dá como exemplo as fábricas de panchões, que estão também a ser alvo de uma outra investigação, em que a arquitectura é semelhante, não por uma influência natural ou cruzamento de culturas, mas “por imposição de regulamentos militares que remontam ao séc. XIX”.
O professor é da opinião que “uma tese não termina na sua defesa”. Existem duas hipóteses em cima da mesa: “Ou fica a dormir numa prateleira ou é dada a conhecer”.
Mediante os estudos válidos e projectos inteligentes que ali vê nascer, frisa que uma das funções da instituição de ensino superior em que está inserido é sempre “promover a divulgação na comunidade científica”, através da publicação de artigos em revistas ou jornais de âmbito internacional ou proporcionando a participação em conferências e seminários, usando o inglês como língua veicular “para atingir o máximo de pessoas possível”, esclarece.
O objectivo principal no campo da investigação, seja ao nível de mestrados ou doutoramentos, é cumprir as áreas estratégias que a instituição definiu: Globalização e os seus impactos; Mudança Social e Desenvolvimento Sustentável, abrangendo três grandes áreas geográficas como a região do Delta do Rio das Pérolas, Sudeste Asiático (Indonésia, Tailândia, Filipinas) e os países lusófonos.
Quanto às novas áreas de investigação que vão começar em Setembro, Ivo Sousa espera ver “estudos comparados entre a América Latina e a China, no âmbito da política, da sociedade, relacionando os níveis de integração regional ou a circulação nos mercados globais”, no caso do mestrado em Estudos Latino-americanos.
Nas comemorações do Dia Internacional da Mulher, surgiram também abordagens que gostaria que fossem trabalhadas no mestrado de Estudos da Mulher, como “o problema do tráfico humano, a prostituição, a subalternidade no trabalho, os direitos associados à maternidade”, entre outros.
Já no caso dos Estudos Lusófonos, o vice-reitor considera importantes as “investigações comparadas por sector, por exemplo, em matéria de florestas, pesca, têxteis, sistema bancário, em países como Moçambique ou Angola”, uma vez que Macau é um território que serve de plataforma entre a China e os países lusófonos e cuja análise em determinadas áreas é “bastante necessária”.
Para 2009, um novo doutoramento poderá arrancar no IIUM, denominado Estudos Globais, cujo mês limite de inscrições é Outubro deste ano.
Até à data, têm sido possível superar dificuldades na contratação de docentes especializados, mas se o objectivo é evoluir para esta área e outras, como Psicologia Social, Psicologia Jurídica ou Arquitectura, vai tornar-se um desafio complicado. “Vamos ter de competir com outras universidades que também solicitam a mesma massa crítica que nós”, remata o professor, que desabafa: “Por exemplo, em Macau só existe uma pessoa doutorada em Arquitectura!”

A investigação na Universidade de Macau e no Instituto Politécnico

Na Universidade de Macau, a maioria das faculdades disponibiliza formação que vai para além do grau de licenciatura. Na faculdade de Direito, além das pós-graduações de Introdução ao Direito de Macau – curta duração e do Curso de Adaptação ao Direito de Macau, entre outras, destinadas especialmente aos licenciados que chegam ao território para trabalhar, são proporcionados também mestrados em Ciências Jurídicas e Ciências Jurídico-Políticas em língua veicular portuguesa. Estudos específicos em Direito Internacional, Direito da União Europeia ou Sistemas Jurídicos Comparados são outras possibilidades mas, desta feita, em língua inglesa.
A Faculdade de Gestão de Empresas conta com um MBA (Master in Business Administration).
Na Educação, os mestrados desdobram-se em áreas específicas: Administração Educacional, Psicologia Educacional, Currículo e Ensino. O único que tem a indicação de que não irá abrir vagas é o mestrado de Educação em Aconselhamento Escolar.
Na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, o Departamento de Comunicação confere também a possibilidade de estudar Comunicação e Novos Media (em inglês).
No Departamento de Português, dirigido por Alan Baxter, as ofertas variam entre Língua e Cultura Portuguesa (Linguística, Literatura e História) e Tradução. Já o Departamento de Psicologia não oferece a opção de mestrado.
Em alguns casos pode concluir-se o mestrado em dois anos, ou entre três a quatro anos, como é o caso da maioria dos programas de mestrado da Faculdade de Ciência e Tecnologia.
O Centro de Educação Contínua da Universidade de Macau organiza diversos cursos, seminários e workshops, mas no que diz respeito a mestrados, Olívia Lei, do Centro, disse que estão ainda na fase de planeamento, pelo que nada pode adiantar. “Talvez em Setembro já haja novidades”.
O Instituto Politécnico de Macau estabeleceu parcerias com várias universidades chinesas e também com algumas instituições de ensino superior sediadas em Hong Kong e Inglaterra, para possibilitarem aos alunos o acesso ao grau de mestrado. As áreas de formação vão da educação física às telecomunicações, passando pela enfermagem.

Sandra Gomes
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn