segunda-feira, 31 de março de 2008

Wen Jiabao abre a porta a negociações com Taiwan,Residentes de Hong Kong lutam contra demolição de bairro, Samba de Macau em Pequim

Wen Jiabao abre a porta a negociações com Taiwan

O primeiro-ministro chinês Wen Jiabao fez ontem uma oferta de paz a Taiwan mais concreta, ao afirmar que Pequim está disponível para discutir os transportes directos entre o Continente a ilha, ao abrigo do princípio “uma só China”.
“Tendo em conta o consenso alcançado em 1992, podemos reavivar as discussões e as negociações. Podemos falar de qualquer assunto , incluindo a materialização das três ligações”, disse Wen Jiabao, em declarações aos jornalistas, à margem de um encontro sobre questões ambientais que manteve no Laos, onde se encontra em visita oficial.
As “três ligações” a que o principal responsável pelo Conselho de Estado se referia dizem respeito aos negócios, transportes e correios directos, que Taiwan suspendeu há algumas décadas devido a receios com a segurança. No consenso alcançado em 1992, Pequim e Taipé chegaram a um acordo em relação às suas próprias interpretações do conceito “uma só China”, sendo que, no ano seguinte, decorreu em Singapura uma nova ronda de negociações.
No entanto, o diálogo oficial entre a China e Taiwan foi suspenso em 1999, depois do antigo Presidente da ilha, Lee Teng-hui, ter redefinido os laços como “relações especiais Estado-a-Estado”.
Depois de oito anos de poder nas mãos de Chen Shui-Bien, partidário da independência da ilha, as eleições recentes devolveram o controlo de Taiwan ao Kuomitang. Ma Ying-jeou, o recém-eleito Presidente, tem-se mostrado aberto a um novo relacionamento com Pequim, embora tenha descartado, por enquanto, a hipótese de uma visita oficial. Da campanha de Ma fez parte a aproximação ao país nomeadamente através da aplicação prática das “três ligações”.
Alguns analistas acreditam que, depois de mais de meio século de hostilidade e da recente tensão criada com o referendo sobre a entrada de Taiwan nas Nações Unidas, a conflituosa relação com Pequim e Taipé poderá estar perto do fim, para se dar início a uma nova forma de relacionamento.
Segundo as agências internacionais de notícias, Wen desenhou um quadro que pode ir além das “três ligações”. “Podemos desenvolver a economia, os negócios e o intercâmbio cultural”, disse, acrescentando que Hong Kong, que tem beneficiado no papel de intermediário entre os dois lados do Estreito, não irá sofrer consequências negativas se esta aproximação se verificar.
“Não me parece que vá afectar Hong Kong. As trocas económicas através do Estreito irão permitir também o desenvolvimento económico de Hong Kong, bem como em toda a região ao longo do Estreito de Taiwan.” Em relação a possíveis impactos em Macau, as agências não citaram qualquer eventual declaração do primeiro-ministro.
À semelhança da antiga colónia britânica, também Macau tem desempenhado um importante papel enquanto plataforma de comunicação entre Taiwan e a China Continental, sobretudo no transporte de passageiros. Em declarações ao Tai Chung Pou, na passada semana, o principal responsável pela Air Macau não se mostrou particularmente preocupado com a possível criação de ligações aéreas directas. Embora a companhia de bandeira do território transporte muitas pessoas entre os dois lados do Estreito, tem começado, segundo assegurou o director executivo da empresa, a diversificar as rotas e destinos para fazer frente a estas mudanças, previsíveis há já algum tempo.

Residentes de Hong Kong lutam contra demolição de bairro

As casas morrem de pé

É um projecto polémico. Um drama que se arrasta há quatro anos. Um frente-a-frente entre as necessidades de expansão de uma cidade e a vontade de manutenção das características de uma comunidade. Em 2004, 670 famílias de Sham Shui Po, em Hong Kong, foram informadas de que as suas casas iam ser demolidas. Os quatro blocos residenciais iriam desaparecer para dar espaço à construção de mil novos apartamentos e uma área comercial de 11 mil metros quadrados.
Depois de uma série de protestos, conferências de imprensa e recursos à legislação, cinquenta destas famílias continuam a bater o pé, numa batalha contra o responsável pelo desenvolvimento do projecto. Não é por dinheiro que o fazem, garantem, mas sim pela comunidade. Gostam de ali viver. Pura e simplesmente. E continuam à espera de poderem chegar à fala com a secretária para o Desenvolvimento, Carrie Lam Cheng Yuet-ngor, numa derradeira tentativa de convencerem o Governo de que o local deve permanecer como está.
Os planos para a renovação urbana dos K20 – K23, nome técnico do projecto, foram anunciados há alguns anos pela Corporação para o Desenvolvimento de Terras, a entidade que era responsável por este tipo de empreitada na antiga colónia britânica. Em 2002, o organismo desapareceu, sendo que as intenções para Sham Shui Po foram passadas para a Sociedade de Habitação de Hong Kong (HKHS, na sigla inglesa), uma instituição detida pelo Governo que constrói casas económicas. Os planos foram formalmente anunciados em 2004.
Segundo contam os residentes, desde a aquisição dos K20 – K23, o HKHS encontrou-se com os habitantes duas ou três vezes. A seguir, veio o anúncio de que os lotes tinham passado para as mãos do Governo. As famílias que recusaram deixar as suas casas foram processadas no ano passado, por estarem a ocupar propriedades públicas ilegalmente.
Entre estes ocupantes alegadamente ilegais encontra-se Yeung Kwai-ming, comerciante que detém um centro de jogos electrónicos na zona. “De todos os bairros em que esteve, as pessoas desta área são as mais simpáticas e gentis”, atesta. Yeung explorou o seu negócio em Mong Kok, Hung Hom e Ta Kwok Tsui, até que o preço do arrendamento o fez pegar nas máquinas e mudar-se para Sham Shui Po, já lá vão 11 anos.
Uma eventual mudança de espaço faz com que o pequeno empresário tenha que enfrentar um problema específico do seu negócio – na última década, a legislação relacionada com salas de jogos foi alterada, fazendo com que tenham que obedecer a regras relacionadas com a localização, nomeadamente no que diz respeito à distância a que estão das escolas. Além da dificuldade de encontrar um espaço e das novas licenças que teria que pedir, Yeung queixa-se do curto espaço de tempo que lhe foi dado pelo HKHS para sair de onde está. “Dizem que fazem isto a pensar nas pessoas, mas as técnicas que usam são pouco limpas”, sentencia. “Não se chegou a um acordo na primeira negociação e a ordem de despejo chegou dois ou três dias depois, sem qualquer aviso prévio.”
Poon Sup, o dono de uma loja com cerca de 100 metros quadrados que vende ferramentas, também foi processado pelas autoridades governamentais. No caso deste homem de avançada idade, a questão que se coloca é de nível financeiro. “Pensam que não tenho que trabalhar?”, lança, em tom retórico. “Se me derem um espaço onde possa continuar a ter a minha loja... Mas o dinheiro que oferecem não dá para nada”, desabafa.
O antigo vizinho de Poon, um comerciante de apelido Lui, aceitou pouco mais de um milhão de dólares de Hong Kong como compensação pela loja de 500 metros quadrados que ocupava, mas gastou 800 mil para alugar um novo espaço com metade do tamanho. O resto do dinheiro foi para a pôr a loja operacional. As histórias que Poon foi ouvindo dos seus antigos vizinhos fizeram-no exigir uma nova loja, em vez de dinheiro. Para o comerciante, há ainda algo que não é possível indemnizar: as relações de vizinhança que se criaram ao longo de anos. Os clientes fiéis.
Os residentes contam com o apoio de uma veterana em batalhas contra a demolição de prédios. May Yip fez 60 horas de greve de fome por altura do Natal passado, numa tentativa desesperada de parar as máquinas que acabaram por destruir a Li-Tung Street em Wan Chai, onde tinha uma loja. A rua está, neste momento, completamente vazia, sem qualquer casa de pé.
“Na altura disseram-me que era louca”, recorda May Yip. “Tínhamos feito tudo ao nosso alcance, desde recorrer às leis a denunciar a situação aos jornais. Não me restava outra alternativa.” Os residentes perderam a batalha no que à demolição diz respeito, mas o Governo acabou por alterar os planos e prometer a reconstrução da antiga rua, inserida no novo projecto.
Estas disputas recentes relacionadas com a reorganização da cidade têm atraído a atenção dos académicos. Summer Xia, da Universidade Chinesa, esteve bastante próximo dos acontecimentos na Li Tung Street, sendo que deposita igual atenção ao caso de Sham Sui Po. “É uma questão de humanismo”, referiu. Xia percebe porque é que os residentes não querem sair de onde estão. “As crianças brincam na rua, sem razões para preocupações, toda a gente se conhece.” A atitude do Governo desaponta o académico oriundo da China Continental. “Pensava que as autoridades de Hong Kong estavam mais abertas do que estão”, salientou, lembrando que os habitantes da zona continuam à espera de serem recebidos pela secretária.
Ao fim de quase uma mão cheia de anos de batalha, os residentes procuram agora uma situação intermédia, que agrade a todos – a demolição de parte dos edifícios, sendo que os restantes chegariam para estas 50 famílias que fincaram o pé. Esta possibilidade conta com o apoio de um académico. Chen Yun-chung, professor associado da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, foi o responsável por um projecto de pesquisa sobre a zona, tendo concluído que a ideia de manutenção parcial “vai ao encontro da definição do desenvolvimento comunitário sustentado, por permitir diversidade, tanto no vector económico como na vertente social”. Recomenda, assim, que os actuais habitantes sejam todos concentrados numa zona do bairro, demolindo-se depois os prédios vazios. Resta agora saber qual vai ser a resposta do Governo.
Kahon Chan, em Hong Kong
com Isabel Castro

Dança Brasil participa pela quarta vez no Festival de Artes de Pequim

Samba de Macau

Qual é o segredo do negócio no mundo dos espectáculos em Macau? Aculturação, interacção com o público e brilho, “muito brilho”. Esta é a fórmula do sucesso do grupo Dança Brasil de Wallas Silva. Um projecto que conquistou com samba no pé o público da comunidade chinesa não só do território, mas também de Hong Kong e da China Continental. Em breve, o conjunto vai receber a Bola de Ouro do casino Starworld para melhor grupo de danças brasileiras da RAEM. Mas o melhor está para vir. O coreógrafo já tem “na cabeça” tudo planeado para a sua próxima grande subida ao palco, que será no Festival Internacional de Artes de Pequim.
Será a quarta presença consecutiva do grupo orientado por Wallas Silva no evento cultural. No entanto, só no ano passado é que o coreógrafo ficou “satisfeito com a performance”. “Sentia-me verdadeiramente seguro. Normalmente, o público gosta, mas eu penso que há sempre espaço para melhorar”, defende.
Na primeira participação, o ritmo dos tambores foi atrapalhado por algumas limitações. “Tínhamos falta de mão-de-obra, principalmente especializada, e os figurinos eram mais pobres”, conta o proprietário da empresa de espectáculos.
O calendário apontava o ano de 2004, altura do apogeu do conjunto de danças brasileiras. A abertura do casino Sands marcava o arranque das operações do grupo do magnata Sheldon Adelson em Macau. Uma entrada no mercado da indústria do jogo que significou um grande impulso no desenvolvimento deste sector, bem como na velocidade do crescimento da economia local.
“Ainda me lembro do dia como se fosse hoje: 18 de Maio de 2004. Fizemos uma sessão de fotos no lobby do casino, era tanta gente que nem deixaram abrir as portas. Derrubaram tudo e nós tivemos que fugir”, recorda entre risos.
Antes do início da era Las Vegas Sands, Wallas Silva olhava com preocupação para o futuro do Dança Brasil. O motivo chamava-se pneumonia atípica. “Criei a empresa um mês antes [da propagação da doença], em 2003. Estava com medo que não resultasse, porque assustou os turistas. Macau ficou deserto”, conta com um semblante sério, invulgar no residente canarinho.
Mesmo com a empresa a funcionar a meio gás, os tambores continuaram a tocar e as plumas a balançar ao som dos ritmos exóticos da Terra de Vera Cruz. Alguns eventos como a Festa da Lusofonia e Festival de Gastronomia eram suficientes para ir mantendo quentes os corpos.
Aliás, foi num espectáculo de confraternização entre as comunidades lusófonas que nasceu a ideia de criar o grupo Dança Brasil. Wallas tinha acabado de fazer mais uma das suas actuações na Festa da Lusofonia. “Uma amiga perguntou-me: porque é que não crias uma empresa?” A ideia agradou ao brasileiro que propôs uma parceria com uma compatriota de Hong Kong. Contudo, divergências de opinião colocaram o também bailarino num caminho solitário. Assim se desenvolveu uma fórmula de sucesso.
No mundo dos espectáculos de origem estrangeira na China é preciso ter uma “mentalidade aberta”, sustenta Wallas Silva. A aculturação é o segredo número um para se conquistar a plateia.
“Em Macau, as coisas têm que sofrer uma aculturação e modificar um pouco o samba para o público de origem chinesa. As pessoas têm a ideia das mulatas, com pouca roupa e os seios de fora, mas é difícil o povo chinês acostumar-se com o que existe no Brasil. Os meus shows servem para mostrar a cultura e a dança brasileira”, sublinha.
Com bom senso e alguma ajuda de uma costureira chinesa, os figurinos do grupo Dança Brasil ganharam um estilo próprio. São “fechados com algumas plumas atrás”. O segundo segredo do negócio é o brilho. As roupas devem ter muito colorido, mas extravagância q.b..
“Mudei a minha táctica. Em cada trabalho, vou percebendo o que pretende o cliente chinês. Diz-se que show brasileiro tem que ter mulatas de fio dental, mas não. Isso é no Brasil, na China não. Eles não querem, já fiz vários testes”, garante.
A mesma receita aplica-se a outros negócios que lidam com manifestações culturais. “No caso dos grupos portugueses não há necessidade de adaptação, porque há aqui uma forte tradição [lusitana]. Contudo, os espectáculos de outras partes do mundo mais estranhas à comunidade local devem adaptar-se”, aponta.
A terceira estratégica é a interactividade. No final, os elementos da plateia são os reis do espectáculo. “Organizo o show normal, mas a última música é para dançar com o público. Meto música latina ou pop. No início, muita gente falava: ai música estrangeira num show brasileiro?! Eu digo, não não! Nós já fizemos o nosso show. Agora é a vez do povão! Acontece que toda a gente sabe dançar música latina ou pop, mas samba não. É uma forma de perderem a vergonha e entrarem na dança”, afirma.
Quatro anos após a primeira incursão no mundo dos negócios, Wallas Silva faz um balanço positivo. “Mudei da água para o vinho”, diz ainda com a memória viva da primeira participação no Festival Internacional de Artes de Pequim. Todavia, os problemas do costume prevalecem. É a dificuldade da praxe dos pequenos e médios empresários em Macau: falta de trabalhadores especializados.
“É difícil conseguir mão-de-obra especializada, tenho que trazer do Brasil, nem toda a gente se encaixa no perfil psicológico e as viagens são muito caras”, lamenta. Não havendo cão, caça-se com gato. “O povo chinês não é tão exigente como o brasileiro. Por isso, treino algumas alunas das universidades, no samba ou no axé para misturar ao forró”, explica o coreógrafo.
O grupo é formado por portuguesas, chinesas, macaenses e até israelitas. “Fico espantado ao ver uma mulher chinesa a dançar samba. Não é perfeito, mas dá o passinho”, elogia.
Actualmente, o Dança Brasil tem ao seu serviço “cerca de sete meninas e três homens”. Os amigos também colaboram. Wallas Silva conta ainda com quatro bailarinas profissionais que trabalham num casino do território.
O número de dançarinos é um dos pormenores que falta estabelecer por parte da organização da edição de 2008 do Festival Internacional de Artes da capital chinesa. De resto, já está tudo planeado. “Este ano, vai ser ainda melhor do que o anterior. Vou misturar futebol com samba. Já temos as roupas. No final, as bailarinas fazem a coreografia do golo do Bebeto e cantam o hino nacional do Brasil”, revela entusiasmado.
De acordo com as previsões de Wallas Silva, o evento terá lugar entre o próximo mês e Maio.

Com a dança no sangue

Não tem formação de coreógrafo, mas dar aulas de dança é uma segunda profissão. Wallas Silva trocou há 15 anos a cidade natal de Campos de Goytacazes, no Brasil, por Macau. Em terras asiáticas, o brasileiro não deixou silenciar as batucadas do coração. A música não pode parar e o corpo também não, porque a dança está-lhe no sangue. É uma herança ancestral.
Wallas Silva abandonou um emprego estável para se dedicar ao grupo Dança Brasil, do qual é proprietário desde 2003. “Não podia dedicar-me às duas actividades em simultâneo. Pediram-me para escolher. Escolhi a dança e, graças a Deus, ainda não me arrependi”, conta sorridente.
O discurso corre quase à velocidade do pensamento. É o entusiasmo do residente brasileiro. Afinal, mais do que um negócio, a empresa de espectáculos é uma paixão. Antes de coreógrafo, o homem de 34 anos é bailarino. Aliás, como qualquer elemento do povo brasileiro. “No Brasil, toda a gente dança”, exclama.
Decidiu vir para Macau com a intenção de completar os estudos para poder frequentar a licenciatura de medicina em Portugal. Na sua cidade, perto do Rio de Janeiro, trabalhava como farmacêutico. No entanto, os planos de se tornar médico deram “água por torto”. “Acabei por arranjar trabalho por aqui”, informa.
A música e a dança estão desde sempre presentes na sua vida. Ao virar de cada esquina no Brasil, há samba, pagode ou forró. “Também frequentava as escolas da Mangueira e Beija-flor, entre outras”, acrescenta.
Quando chegou a Macau, começou a organizar festas brasileiras e a dar aulas de dança à comunidade lusófona local. Durante uma participação na Festa da Lusofonia, uma empresária também brasileira viu-o, gostou e fez-lhe uma proposta. “Levou-me para Hong Kong, onde comecei a fazer shows”, recorda. Estávamos no início da década de 1990.
Em 1998, propuseram-lhe um novo trabalho, ensinar samba a crianças portadoras de deficiências. Uma tarefa que acabou por se tornar uma lição de vida. “No início, quando me chamaram para dar aulas a crianças deficientes eu tinha uma mentalidade diferente. Foi um susto, era difícil conquistá-las e pensei em desistir”, conta.
Ao contrário do 1,2,3 e do sistema de passos, Wallas percebeu que miúdos com necessidades especiais precisam de um modo de ensino especial. “Desisti de tentar ensinar samba e passámos a brincar com a música. Acabei por conseguir conquistá-los com brincadeira e carinho. Deu certo. Foi interessante ultrapassar as barreiras”, sublinha.
Hoje em dia, o brasileiro dirige a empresa de espectáculos que conta com uma oferta não só de danças brasileiras, mas também latinas e árabes. As várias variantes da dança do ventre são um dos produtos oferecidos pelo grupo Dança Brasil.
Os conhecimentos do coreógrafo foram adquiridos à custa de iniciativa individual e de pesquisa. O resto nasceu com ele. É Wallas Silva que dá formação aos seus bailarinos. Saber dançar é saber sentir o ritmo. É este o seu mote. “Gosto de bater o pé no chão até os meus alunos conseguirem sentir a música”, frisa.
No futuro, ambiciona trazer a Macau “bandas brasileiras famosas, como Daniela Mercury e Ivete Sangalo”. “Mas é difícil, porque são necessários patrocínios”, lamenta.
Uma escola de samba é o projecto mais sonhado, mas também o mais difícil de concretizar. “É o problema da falta de instalações”, informa. No entanto, diz, espaço no sector do entretenimento para as danças brasileiras é coisa que não falta. E, em Macau, só isso chega para transformar o Carnaval numa festa com mais de três dias.
Alexandra Lages
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn

sexta-feira, 28 de março de 2008

Mio Pang Fei na primeira pessoa; Susana Chou a Chefe, diz Leonel Alves; Portugal com casa maior

Obra de Mio Pang Fei e de Un Chi Iam em análise no Museu de Arte de Macau

O Orientalismo pelos olhos de quem o conhece

Hoje tem lugar mais uma exposição. Amanhã, mais uma conferência sobre um tema que tão bem conhece. Precursor de um estilo, que auto-denominou Neo-Orientalismo, o pintor Mio Pang Fei, em entrevista ao Tai Chung Pou, traduzida pela filha Cristina, contou como veio parar a Macau em 1982, depois de um longo percurso académico e artístico no Continente que terminou devido aos turbulentos anos da Revolução Cultural.
O que é o Neo-Orientalismo? Resumindo – tarefa difícil, quando se está perante um movimento artístico -, é o Oriente visto por quem o conhece. “Antes, há alguns anos, depois do Expressionismo, os pintores ocidentais voltaram-se para o Oriente – primeiro o Japão e depois a China -, mas era sempre pelos seus olhos, uma percepção que está longe de ser a verdadeira”, conta. Para combater esta “superficialidade”, surge então, pelas mãos de Mio Pang Fei, o Neo-Orientalismo. Nome encontrado, à pressão, quando há 15 anos, teve de discursar sobre a Arte Moderna e lhe pediram para rotular as suas pinturas. “Orientalismo” por ser o nome dado pelos ocidentais “às coisas do Oriente”. “Neo” por ser da perspectiva de quem conhece – os chineses. Tudo para culminar no tipo de pintura, que inspirado nas “ideias ocidentais”, acaba por ser “arte contemporânea chinesa”.
Uma das suas pinturas, intitulada “Capturar a Alma”, nada mais é do que um símbolo da sua arte. “Quero capturar a parte boa da cultura chinesa, quero ver essa alma para mostrar às pessoas”, diz. Por exemplo, “Agruras de uma Nação”, pintado em 1997, pretende aludir à história da China, recorrendo ao “estilo nacional”. Ou mesmo, exemplifica com os seus trabalhos mais recentes, o recurso à caligrafia chinesa é uma forma de passar uma mensagem: “Por um lado, os caracteres contêm informação; por outro, quando fazes caligrafia, apercebes-te de quão bonito é.” Um motivo que inspirou o último período da vida artística, e que também está compilado num livro, o “pós-caligrafia”.
Mas a corrente artística de que foi precursor começou a nascer nos anos 60, por ocasião da Revolução Cultural. “Quando as pessoas não podem pintar, a única coisa que podem fazer é pensar”, recorda com pesar. Apesar de não querer reviver uma época que para si foi dolorosa, Mio Pang Fei não pode deixar de apontar aqueles anos como uma boa experiência no campo artístico. “Naquela altura, se eras pintor ou intelectual terias sempre problemas. Só não terias problemas se fosses agricultor”, conta. Por isso, apesar de não ser uma época “muito produtiva em termos de trabalhos”, e de muitos artistas terem destruído as suas obras para fugir à repressão, não deixa de ser um bom período para reflectir e amadurecer as ideias. Até porque quem “não passa por tempos difíceis ao longo da sua vida, não amadurecerá suficientemente em termos artísticos”. Assim, chegado aos anos 60, tudo o que tinha aprendido durante a sua vida académica em termos de Expressionismo, Abstraccionismo, Cubismo, interrompeu. Mas não estagnou. E amadureceu. Impedido de mostrar abertamente as suas influências ocidentais – por força da política maoísta -, acabou por redescobrir “o que é um verdadeiro artista chinês”. Começou a recorrer, exemplifica, ao papel de arroz. Contudo, dos seus trabalhos dessa época, conta, não sobrou um único original. Foram todos por si queimados e destruídos. Apenas teve tempo de tirar fotografias e registá-los em livros.
O gosto pela pintura surgiu logo aos cinco anos, quando estabelecia o caos na sua casa, “pintando nas paredes”. Enveredou pela Arte Moderna durante o seu percurso académico. Aliás, muito motivado pelo seu trabalho final, inspirado no Expressionismo, Cubismo e Abstraccionismo. Só uns anos mais tarde viria a procurar incluir tradições, costumes e história chineses nos seus trabalhos. O seu percurso artístico pode dividir-se em cinco épocas. São elas, “Xangai – Experiência, Macau – A prática, As séries da Água, Condição Humana, Pós-Caligrafia”. Divisões artísticas que coincidem com áreas de interesse, em determinados pontos da sua vida.
Em 1982 chega a Macau para fugir aos dias conturbados da China e “retomar a sua liberdade”, sem ter de se preocupar, quando pintava, com “o que as pessoas pensam”. Mas também para se reaproximar do Ocidente, – o único contacto que teve com pintores ocidentais deu-se durante a vida académica - já que a China ainda se encontrava “fechada” ao resto do mundo. Foi a “grande vantagem” de ter vindo para o território, já que, em termos de influências no seu trabalho, poucas teve. Aliás, Mio Pang Fei, é duro na resposta: “Já tinha 47 anos quando cheguei a Macau, já estava bem maduro, não seria fácil deixar-me influenciar pelas pessoas, pelos locais ou pelo jogo.”
Aos 72 anos, quando interrogado sobre o seu quadro favorito, Mio Pang Fei respondeu um assertivo “não”. Porque todos tiveram – e têm – a sua importância em algum ponto da vida do pintor.
Um artista e um académico

Nascido em Xangai em 1936, Mio Pang Fei estudou arte em Fujian e na sua cidade natal, tornando-se, posteriormente, um artista profissional e um académico. Incidiu a sua atenção nos artistas russos e no desenvolvimento do Realismo, Impressionismo e Abstraccionismo no Ocidente. Um interesse que viria a causar-lhe problemas durante a Revolução Cultural.
Um ponto de viragem na sua vida foi a amizade com o artista de renome Liu Haisu. Foi ele quem fez com que mudasse a incidência da sua pesquisa da pintura ocidental para a arte tradicional chinesa. Aprendeu as técnicas mais tradicionais e estudou os Budistas, além das antigas pinturas rupestres.
A seguir à sua vinda para Macau, ingressou nos meandros da arte local e surgiu a sua mistura única entre as ideias chinesas e ocidentais. Reforçou a sua determinação e empenho na criação de uma arte abstracta contemporânea, de “carácter oriental”. Além de artista, é também um teórico. Actualmente, é docente na Escola de Artes do Instituto Politécnico de Macau e professor convidado na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Xangai e no Instituto de Artes de Nanjing. Já escreveu, inclusivamente, um tratado sobre o Novo Orientalismo.
Luciana Leitão
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn

Susana Chou a Chefe, diz Leonel Alves

Leonel Alves defendeu ontem a candidatura de Susana Chou ao cargo de Chefe do Executivo. Em entrevista à Rádio Macau, o deputado à Assembleia Legislativa (AL) e membro do Conselho Executivo afirmou que “o ideal seria que Susana Chou decidisse também candidatar-se”.
Para Alves, a actual presidente da AL é uma pessoa que “conhece profundamente Macau, conhece o mecanismo e o funcionamento da RAEM e de Pequim, com as suas enormes qualidades seria benéfico para Macau, mas trata-se de uma questão de disponibilidade pessoal”. No seguimento da resposta, o deputado disse também que “se me perguntar se poderá haver novidades no espectro político, Susana Chou poderá ser uma das peças dessa novidade”.
Na entrevista à estação de rádio em língua portuguesa, o membro do Conselho Executivo sustentou ainda que a estrutura do próximo Governo da RAEM deve incluir a figura do sub-secretário. “Em Hong Kong há sub-secretários para questões constitucionais... Podemos ter em Macau vários secretários, vários sub-secretários, dividindo as diversas tarefas, designadamente a reforma administrativa.”
Acerca desta matéria, Leonel Alves acrescentou que “em qualquer território, quando se fazem reformas administrativas, há sempre uma subunidade do Governo exclusivamente dedicada a este assunto, para ganhar relevância política e para ganhar também responsabilidade acrescida no desempenho dessa obra” que, disse, “é mais difícil do que construir muitas pontes”.
A entrevista de Leonel Alves à Rádio Macau vai para o ar amanhã, quando forem 12h00. Segundo a estação, o deputado à Assembleia Legislativa pronuncia-se também sobre o seu futuro político e as eleições agendadas para 2009, ano em se escolhe o novo Chefe do Executivo e entrará em funções uma nova legislatura.

Albergue em S. Lázaro será palco de novos projectos da instituição lusófona

Portugal com casa maior

Quatro salas, é quanto cresceram as instalações da Casa de Portugal em Macau (CPM). O Albergue da Santa Casa da Misericórdia situado no Bairro de S. Lázaro é o local das novas operações da instituição de matriz portuguesa. Um espaço que vai ser palco de um sem fim de actividades. Começando na joalharia, passando pelas artes e terminando na área da multimédia, a direcção da CPM apostou no ensino e na promoção de trabalhos com o objectivo de criar uma plataforma para a criação de um mercado local de arte. E para que Macau possa oferecer um “produto próprio”, as portas estão abertas para todas as comunidades que conferem a esta terra o seu carácter único. Com a CPM, o projecto de criação de um centro de indústrias criativas no Bairro de S. Lázaro dá assim um passo de gigante.
“Há muito tempo que a Casa de Portugal pretendia avançar para outros tipos de iniciativas que não fossem apenas as exposições. No entanto, isso era dificultado pela falta de espaço. Ouvimos falar do Albergue e conseguimos arrendar quatro salas”, contou ontem a presidente da instituição, Maria Amélia António, durante a apresentação aos jornalistas das novas instalações.
Isto não quer dizer que a sede da associação, localizada na Rua Pedro Nolasco da Silva, vá ser abandonada. Actualmente sujeito a obras de remodelação, este espaço vai continuar a funcionar como quartel-general da CPM, onde será realizado todo o trabalho administrativo. O edifício em frente ao Consulado-geral de Portugal na RAEM vai ganhar “uma nova dimensão do centro de encontro e convívio, algo que faz falta na comunidade portuguesa”, explicou a mesma responsável.
Quando os trabalhos de remodelação ficarem concluídos, fica vaga mais uma sala das instalações em S. Lázaro, sendo que hoje está ocupada com os serviços de secretaria. Contudo, a sala ao lado do rés-do-chão já começou a receber gente. O artista Joaquim Franco inaugurou com os seus alunos o atelier de artes plásticas.
Os workshops em xilogravura e ciência da cor foram as primeiras actividades a serem organizadas no novo espaço. O cheiro a tinta continua forte numa sala que está equipa com mesas multiusos, para se adaptarem às exigências e técnicas das diferentes artes.
Ao subir as escadas, o odor vai desaparecendo. No primeiro piso, a sala multimédia já está preparada para ser usada. Os computadores portáteis estão a postos para receber os primeiros alunos do curso de informática, uma formação que, segundo apontou Maria Amélia António, deverá arrancar no início do próximo mês.
Para finais de Abril, deverá ficar totalmente montado e equipado o atelier de joalharia. “Vamos promover cursos com vários níveis de acordo com os conhecimentos e experiência dos formandos, bem como workshops especializados. Aqui será feito tudo aquilo que é possível fazer no âmbito da joalharia artística e do design”, sublinhou a presidente da CPM.
A par da formação, a organização portuguesa quer dar apoio futuro aos formandos para desenvolverem projectos artísticos. “A sede da CPM terá condições para expor os trabalhos que as pessoas realizam aqui [no Albergue da Santa Casa da Misericórdia]. Desta forma, dá-se um estímulo ao que estão a fazer e conseguem entrar no mercado”, notou a também advogada.
Para desenvolver as indústrias artísticas locais, a instituição apostou ainda na abertura a todas as comunidades da RAEM. Neste sentido, a equipa de Maria Amélia António pretende garantir que qualquer pessoa possa utilizar o espaço, quer da óptica do aluno como da do formador, independentemente das suas origens e língua, oferecendo, se necessário, serviços de tradução durante os workshops.
“Macau é um ponto de encontro de culturas, mas por vezes essas culturas andam desencontradas. Há portugueses e elementos de outras comunidades com capacidades no domínio das artes. A CPM quer fazer a simbiose das diferentes origens para dar origem a um mercado de arte local. Macau precisa de criar um produto próprio”, defendeu.
É precisamente com o objectivo da aproximação das comunidades que, na próxima terça-feira, a instituição inaugura oficialmente o novo espaço e o ciclo de actividades com uma exposição de Kwok Woon. Até ao dia 20 do próximo mês, vão estar patentes na galeria do Albergue da Santa Casa da Misericórdia duas colecções do artista de Macau.
A primeira é formada por um conjunto de peças representativas de várias fases artísticas do criador, enquanto a segunda é uma mostra inédita de trabalhos realizados numa altura avançada da doença de Kwok Woon. Recorde-se que o artista ficou com a parte direita do corpo paralisada na sequência de uma operação e criou várias obras com a mão esquerda. Será possível ainda observar o último quadro do artista, desenhado dois dias antes da sua morte.
“Kwok Woon tinha uma grande amizade pela comunidade portuguesa. Esta exposição tem um grande significado no contexto desta iniciativa. Ao assinalarmos o início dos trabalhos nestes ateliês com esta exposição, deixamos claro que este local pretende ser um encontro quer da cultura portuguesa, como da chinesa. É fundamental manter a identidade de Macau”, sustentou a presidente da CPM.
A instituição portuguesa junta-se então aos ateliers de arquitectura e design, à livraria e a um restaurante que já estão em funcionamento no espaço da zona histórica da cidade. São Lázaro começa assim a ir ao encontro do objectivo definido pelo Governo, em 2004: transformar o bairro no centro de indústrias criativas da cidade.

Próximas actividades da Casa de Portugal

01/04 Inauguração da exposição de Kwok Woon, Galeria do Albergue da Santa Casa da Misericórdia

25/04 Inauguração da exposição de fotografias da Associação 25 de Abril de Portugal

26/04 Concerto com João Mendes (ainda por confirmar)

Abril Ciclo de cinema “Encontros de Culturas”
Alexandra Lages
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn

Aeroporto de Zhuhai quer ser internacional

O Aeroporto de Zhuhai quer aumentar consideravelmente os serviços prestados e o número de passageiros transportados através da estrutura. Com o Aeroporto de Hong Kong a gerir a estrutura da cidade chinesa há mais de um ano, há planos para a expansão da actividade, a aplicar ainda durante o corrente ano, nomeadamente através da construção de um terminal marítimo que faça a ligação a Macau e a Hong Kong.
A falta de rotas internacionais e de companhias aéreas interessadas em marcar presença em Zhuhai condiciona, contudo, os projectos das autoridades chinesas. Em declarações à imprensa de Hong Kong, Huang Yue-song, responsável pelo departamento de transportes da cidade, disse que mais de 1,1 milhões de passageiros utilizaram o aeroporto em 2007, sendo que o número deve subir, ainda este ano, para os 1,35 milhões, o que será exactamente o dobro do registado antes da gestão do Aeroporto de Hong Kong.
Apesar das previsões optimistas, Huang admitiu que o futuro do aeroporto continua, em certa medida, por definir, uma vez que não disponibiliza voos internacionais, não tem operadoras lá baseadas e não dispõe de um terminal que faça ligação às cidades vizinhas. O mesmo responsável explicou que deveria entrar em funcionamento este ano o terminal para embarcações com destino a Macau, ao Aeroporto de Hong Kong e ao centro da antiga colónia britânica, mas o processo depende de Pequim, uma vez que interfere com políticas de imigração. A partir de 2009 – a nova data apontada - será possível fazer o check-in nas regiões administrativas especiais e sair directamente no Aeroporto, sem ter que passar por mais procedimentos de imigração. O esquema planeado é semelhante ao já existente entre Macau e Hong Kong.
Quanto à ausência de companhias aéreas de peso no aeroporto, as autoridades elaboraram já um conjunto de propostas para atrair empresas que queiram operar a partir de Zhuhai. Se os planos feitos forem bem-sucedidos, o aeroporto poderá disponibilizar serviços a 1,7 milhões de passageiros, em 2010.
O Governo de Zhuhai anunciou ainda que já está decidida a localização dos acessos à ponte do Delta: ficarão nas imediações da fronteira com Macau, de modo a que possa haver, numa fase posterior, ligação às auto-estradas e às vias rápidas da zona. Será construído um túnel a partir do actual posto fronteiriço de Gongbei que irá dar a uma ilha artificial. As autoridades estão, neste momento, a proceder a um estudo do impacto ambiental das construções, sendo que deverão começar mal Pequim se pronuncie sobre as questões relacionadas com as fronteiras. O projecto será financiado pelo Governo da província de Guangdong.

quinta-feira, 27 de março de 2008

A ilusão do jogador, Macau arrasou em Tens de Hong Kong, Arte às cegas

Investigador do Canadá em seminário da Universidade de Macau

A ilusão do jogador

Não é o jogador que domina o jogo, mas sim o contrário. Nada mais é do que uma questão de sorte. Quando esta premissa deixa de ser uma realidade, e o indivíduo se deixa dominar por uma “ilusão”, então está dado o sinal de alarme. O caminho para a doença está a um passo. Conclusões do psicólogo e académico canadiano, Robert Ladouceur, presente ontem na Universidade de Macau para um seminário sobre o jogo.
Perante uma plateia cheia de académicos, curiosos, jornalistas e estudantes, Robert Ladouceur apresentou os resultados de estudos realizados, ao longo de vários anos, no que toca, principalmente, ao mundo de Las Vegas, aquele que conhece melhor, mas que poderão ser adaptados ao universo asiático. Com a legalização do jogo a ser uma realidade nos países ocidentais e asiáticos, Robert Ladouceur veio discutir o desenvolvimento de sérias patologias ligadas ao vício do jogo que levam à necessidade de recorrer a ajuda especializada.
Garantindo que as probabilidades não são favoráveis, e que apenas uma pequena percentagem, em raras ocasiões, consegue realmente ganhar, o académico lançou uma pergunta à audiência: “Se se joga apenas pela possibilidade de vir a ganhar e tão poucos realmente conseguem, porque é que as pessoas continuam a jogar?” Um aparente “paradoxo”, intimamente ligado ao verdadeiro motivo que leva as pessoas a continuar. A resposta, baseada em exemplos e casos práticos, foi rápida: “Enquanto jogamos a maioria esquece-se que o resultado é um mero produto do acaso.”
Dando inúmeros exemplos do que tem vindo a assistir em Las Vegas, Ladouceur afirma que frases como “vou vencer a máquina”, ou o facto de, quando estão a jogar à roleta, algumas pessoas analisarem os números que saíram anteriormente de forma a prever o resultado, mostram que uma grande percentagem se esquece de que se trata apenas de um fruto do acaso. Tendo inquirido vários indivíduos sobre o que comentam, manifestam ou expressam antes de lançar os dados ou indicar os números, apercebeu-se de que “75 a 80 por cento tem monólogos internos baseados em falsas percepções”. Por isso, se ouvem frases como “hoje é o meu dia para ganhar, perdi duas noites de seguida”, “estou numa maré de sorte” ou “a sorte tem de mudar”. Assim, salienta o académico, há um denominador comum a todos estes comportamentos: “todos estes indivíduos relacionam factores que são independentes por natureza”. Factores que podem ser “jogos anteriores, sensações ou outros”. Uma forma de tentar prever o imprevisível, remata.
O que acontece é que “a maioria pensará que tem uma estratégia qualquer”, quando, na realidade, se esquecem que “o resultado do jogo é fruto do acaso”. Porque é que tal sucede? A resposta certa não se sabe. “Talvez porque toda a nossa vida temos ouvido dos nossos pais e professores que temos de pensar nos eventos passados para aprender”, diz. Mas, adverte, “o jogo é a única actividade humana em que é inteligente não ter em conta eventos ou factores anteriores”.
Baseando-se em modelos de estudo determinados por investigadores dos EUA, Custer e Milt, o académico salienta que “ganhar logo no início uma grande quantia aumenta as expectativas, no sentido de encorajar a jogar cada vez mais – e tal deverá persistir mesmo depois de sofrer perdas”. Por isso, é que surgem comentários, no desenrolar de um jogo, como: “Não sabes jogar, não segues o padrão certo”. Sinais de alarme. Sintomas do desenvolvimento de uma patologia.
Dados teóricos que foram comprovados na prática por Ladouceur. Aliás, revela, a “maioria afirma no tratamento que teve grandes vitórias no início”. Em jeito de prevenção, o especialista alerta: “Atenção à forma como interpretam as vitórias.”
O académico divide os jogadores em quatro tipos: os que jogam raramente (baixo risco), os que o fazem por diversão (risco moderado), os que jogam esporadicamente (alto risco) e os que têm uma patologia (jogadores problemáticos). Pertencendo a maioria ao grupo de risco moderado, o académico não deixa de salientar que é preocupante que “cinco por cento da população total que joga tenha problemas”.
Como se identifica uma patologia? Quando se ouvem expressões como “jogo porque adoro baccarat” ou “não estou viciado, apenas adoro sentar-me numa mesa redonda”. São indícios de que aquela pessoa já “perdeu o controlo sob o jogo”, com as inerentes consequências para “a família e o emprego”, podendo, inclusivamente, “roubar dinheiro” e repetir, continuadamente, o jogo para “recuperar as perdas”. Quando se usa dinheiro que não se tem “significa que se está a tentar ganhar o que se perdeu”.
Coloca-se então a questão do tratamento. Citando Custer, um psiquiatra famoso na área, Ladouceur afirma que “só quando se reconhece que o dinheiro está perdido para sempre” é que se está “curado”. E quando se supera a “ilusão” de que “dinheiro ganho atrai mais dinheiro”. Mas, afirma, declarar a derrota face ao jogo é “muito difícil para o jogador”.
Assim, as componentes do tratamento psiquiátrico passam por “perceber o conceito de acaso, admitir e ter consciência das percepções erradas que levam a relacionar factores independentes por natureza, corrigir cognitivamente essas falsas percepções”. Os resultados poderão não tardar a surgir e, “daí a seis meses, pode estar curado”.
Luciana Leitão
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn

Equipa de râguebi da RAEM não sofreu um único ponto

Macau arrasou em Tens de Hong Kong

Os jogadores da SJM Macau foram reis e senhores no Torneio de Tens que decorreu ontem em Hong Kong. A equipa derrubou as equipas adversárias sem sofrer um único ponto e arrecadou o troféu principal da competição. A participação serviu de preparação para a próxima missão dos atletas da RAEM: o Torneio Asiático de Tens que se realiza no início do próximo mês nas Filipinas.
A SJM Macau conquistou ontem a vitória e trouxe para casa a “Cup” da competição que se joga com 10 jogadores de cada lado do relvado e é anualmente organizada pela Liga de Râguebi de Hong Hong. Após terem assegurado a passagem à disputa da taça principal do torneio – existe ainda a Taça Playte e a Bowl – os atletas que defendem as cores de Macau na antiga colónia britânica venceram os adversários Kowloon Mallons por 33-0.
Por tradição, o Tens de Hong Kong antecede a realização do Mundial de Sevens da RAEHK, evento desportivo que conta com a participação de algumas das selecções mais fortes da modalidade a nível mundial e que terá a presença da equipa portuguesa. Na edição deste ano, o torneio de 10 contra 10 reuniu 24 conjuntos.
Com alguma experiência no campeonato da liga do território vizinho, a SJM Macau não teve uma época desportiva feliz, terminando com um número de derrotas considerável. No entanto, é na variante de tens que Macau obtém os melhores resultados.
“Sempre jogámos muito mais na variante de 10 do que de 15, devido ao problema da falta de jogadores. Como temos atletas adaptados para certas posições torna-se mais complicado distribuí-los pelo relvado. Por outro lado, o tens é mais a essência do râguebi, há mais espaço para carga e passe”, explicou em declarações ao Tai Chung Pou o capitão da SJM Macau, Ricardo Pina.
No dia 6 do próximo mês, os jogadores da RAEM viajam para Manila, nas Filipinas, para disputarem o Torneio Asiático de Tens. “Os resultados desta competição em Hong Kong servem de preparação para este campeonato”, frisou o atleta.
Segundo Ricardo Pina, o objectivo da equipa é chegar a uma das finais do torneio. Em Manila, em vez de três, disputam-se quatro taças. A par da cup, da Playte e da Bowl, existe o troféu Shield. O capitão da formação ambiciona um lugar na final nas três primeiras competições.
O torneio de Manila não é desconhecido para a maioria dos jogadores da Associação de Râguebi de Macau. Há 10 anos que a organização local marca presença na competição que junta 36 equipas, não só asiáticas, mas também europeias e de outros cantos do mundo.
No entanto, a formação da RAEM fez um interregno no ano passado. Uma pausa que aumenta o entusiasmo de Ricardo Pina. “Vamos voltar em força para um torneio que é muito importante”, prometeu.
Alexandra Lages

Trabalhos de crianças expostos em “Para Além da Escuridão”

Arte às cegas

Bengalas coloridas, com formas de animais, que tilintam quando são agitadas. Máscaras e óculos com surpresas. Instrumentos musicais feitas de todo o tipo de materiais. Quadros concebidos para serem tocados. As crianças dos cursos do Museu de Arte de Macau (MAM) receberam um desafio: criar obras que permitissem experienciar a deficiência visual. As ideias mais originais estão expostas no espaço cultural.
A mostra destina-se a miúdos e graúdos. É um jogo de sentidos, com uma forte componente lúdica, que pretende levar o público a relacionar-se com as peças e experimentar a sensação de escuridão total. Após sensibilizar os mais pequenos para o privilégio que é poder ver o mundo, a iniciativa visa alertar o público em geral sobre as dificuldades vividas pelos deficientes visuais. É a última chamada para contemplar as obras de “Para Além da Escuridão” - a exposição patente no MAM termina no dia 7 do próximo mês.
Os vidros que envolvem a porta do espaço da mostra estão cobertos de negro. No entanto, o interior é dominado pela cor. Cada secção da iniciativa é indicada por percursos de manchas de tinta de várias cores. O primeiro desafio de “Para Além da Escuridão” é o “Túnel do Som”.
Os mais pequenos devem pegar nas bengalas para cegos e nos olhos milagrosos que estão pendurados na parede. São objectos cor-de-laranja, pretos, rosa ou amarelos que foram concebidos para servir de apoio às pessoas invisuais. As formas de animais revelam o toque especial dado pelos pequenos artistas, que também se lembraram de utilizar materiais que tilintam quando são agitados.
Já os óculos com lentes do tamanho de metade de um ovo são colocados no rosto com a ajuda de um elástico. As “viseiras de glaucoma” foram criadas pelas turmas infantis para mostrar a sensação de deficiência visual e recomendar a protecção da vista. Glaucoma é conhecido como o ladrão sorrateiro da visão, sendo uma doença que afecta gradualmente o nervo óptico.
As crianças devem ultrapassar as cortinas pretas no “Túnel do Som” devidamente equipadas. Lá dentro, devem tentar encontrar a saída entre um sem fim de fios pendurados, fabricados com tecido e objectos que emitem sons com o movimento. Terminada a viagem, um cartaz colado no chão da saída pergunta: “Como se sente? Feliz? Assustado? Deliciosamente surpreendido?” No fim de contas, o Túnel do Som é mais uma estratégia para fazer os participantes experimentarem, durante pouco mais de cinco minutos, as dificuldades e barreiras do dia-a-dia da vida das pessoas invisuais.
À volta da estrutura que dá forma ao túnel encontram-se afixados vários trabalhos das turmas dos cursos de arte infantil do MAM. Há as luvas sensoriais feitas de plástico, com bolinhas de barro no seu interior e enfeitadas com pinturas e colagens, que representam o tacto, um dos sentidos mais importantes para quem não consegue ver.
Com o mesmo objectivo, estão expostos os trabalhos das séries “Criando Texturas”. Ao contrário das exposições normais, estes quadros foram feitos para serem tocados. Fechando os olhos e através do tacto, é possível descobrir que as crianças desenharam flores, animais e corações, entre outros. Para este resultado final, foram utilizadas duas técnicas: a aplicação de massa de modelagem ou colagem de materiais em placas de madeira.
Depois, encontra-se a parte da exposição intitulada “Ping-Ping Bang-Bang”. Os termos estranhos do título são onomatopeias dos ruídos produzidos pelas dezenas de garrafas ali expostas. “Para quem é cego, o sentido de audição assume uma grande importância na percepção do mundo exterior”, explica o cartaz informativo. É por esta razão que as bengalas que se encontram no princípio da mostra produzem sons. O mesmo conceito foi aplicado em garrafas usadas, com a única diferença que os diferentes materiais e técnicas aqui aplicadas possuem uma componente lúdica. São instrumentos musicais.
O “Túnel dos Pirilampos Brilhantes” é a parte que se segue. À entrada avisa-se que é necessária a utilização de uma lanterna. “Tactear na escuridão e sentir o que é ser cego” é o desafio lançado neste segundo jogo da mostra. Do outro lado da cortina de pano preto rasgado em tiras, as paredes do espaço foram invadidas por pirilampos cujos olhos ficam fluorescentes com o contacto com a luz. A mensagem que os pirilampos de cartolina pretendem transmitir é a importância de proteger a vista.
À saída do túnel, estão suspensas por fio-de’coco várias “Máscaras Surpresa”. Com caixas de cartão, os alunos dos cursos de arte construíram máscaras com diferentes tipos de óculos que permitem experienciar as deficiências visuais das pessoas. Espreitando para dentro dos objectos feitos à medida de cabeças de crianças e de adultos, vê-se através dos olhos de quem sofre de cataratas, glaucoma e “macula lutea”.
Já de fora do espaço que envolve o “Túnel dos Pirilampos”, estão dispostos no chão pneus com rolos de papel no centro. É a secção intitulada “Olhar para o mundo de olhos fechados”. Os mais pequenos ouviram com os olhos vendados histórias sobre crianças invisuais e foram desafiados a desenhar as personagens. Os trabalhos podem ser contemplados nos rolos de papel dentro dos “olhos de fantasia com rodinhas”.
Enquanto se caminha para a porta da saída, há uma tela onde está a rodar o vídeo que mostra os principais momentos das aulas dos cursos de arte infantil. Com vendas pretas, as crianças trabalham nas suas obras e até se sentam à mesa a comer.
Mais à frente, estão ainda patentes pinturas de meninos e meninas invisuais oriundos de várias províncias chinesas que foram curados no âmbito de projectos de tratamento de organizações não-governamentais. São pinturas expressivas e carregadas de detalhe. Algumas conseguem transmitir alguns momentos da vida destas crianças. É o caso do quadro que mostra um menino a ser tratado por um médico ou de outro que representa um jogo de cabra-cega.
“De acordo com as estatísticas, quase 180 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de deficiência visual aguda e calcula-se que, em 2020, sem um plano sistemático de prevenção, outros 76 milhões perderão o uso da vista. Ou seja, há inúmeros indivíduos em risco de ficarem cegos ou que já vivem num mundo sem luz. Mas sabia que a deficiência visual pode ser evitada em cerca de 75 por cento dos casos?”. É a questão lançada em jeito de alerta no prefácio da exposição “Para Além da Escuridão”. Uma mostra que vai continuar a ver a luz do dia por pouco mais de uma semana.
Alexandra Lages

China Daily publica estudo sobre ensino no país

População chinesa desiludida com a educação

Quatro em cada dez chineses queixam-se de que existe um enorme fosso entre o investimento feito na educação e as vantagens retiradas, aponta um estudo feito a nível nacional. O relatório do grupo de consultoria e pesquisa “The Horizon”, citado ontem pelo jornal China Daily, inclui inquéritos feitos a 3355 pessoas, com idades compreendidas entre os 16 e os 60 anos, residentes nas zonas rurais e nas cidades, incluindo sete metrópoles, como Pequim e Xangai.
O estudo permitiu chegar à conclusão de que apenas 16 por cento dos inquiridos acredita que os investimentos feitos na educação darão lucro. Os que têm uma maior formação académica são precisamente aqueles que estão mais desapontados com a qualidade da educação que receberam.
“Mesmo tendo um mestrado, não consigo ter um emprego decente numa grande empresa”, lamentou-se Mao Xin, um residente de Pequim de 26 anos. “Os meus conhecimentos empíricos não me trouxeram qualquer vantagem e não tenho armas para competir.” Mao teve que rever em baixa as suas expectativas e trabalhar numa pequena empresa privada, auferindo um salário igual ao de colegas que nem licenciatura têm.
“Desiludi os meus pais, que me deram, pelo menos, 30 mil yuan para eu poder frequentar o curso de pós-graduação numa universidade de qualidade, durante três anos”, acrescentou, em declarações ao jornal oficial chinês em língua inglesa.
Os habitantes das zonas rurais têm percepções acerca da educação consideravelmente mais positivas do que os residentes das áreas urbanas, indica ainda o relatório.
“A nossa educação tem sido desenvolvida a pensar nos exames”, começou por explicar Huo Qingwen, vice-director de um centro de serviços de testes da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim. “O resultado deste estudo não me surpreende, uma vez que ouço queixas não só dos alunos, como também dos professores, a quem tem sido exigido que se concentram na taxa de aprovação dos seus estudantes.”
O Ministério da Educação pediu às escolas e às universidades que abandonem gradualmente o sistema de ensino orientado, única e exclusivamente, para os exames, depois de cada vez mais estudantes se queixarem de que os graus académicos não os estão a dotar de bases mínimas de experiência e de competência. “O mercado de trabalho está sedento de pessoas com talento, mas muitos dos licenciados não apresentam as competências exigidas para tarefas em que é necessário ter experiência e sentido criativo”, acrescentou Huo.
Há quem tenha, contudo, uma opinião bem diferente sobre a qualidade da educação. “Não acredito que a qualidade do ensino seja a principal causa do aumento do desemprego da China”, afirmou ao China Daily Hong Chengwen, professor de gestão na Universidade Normal de Pequim. “As vagas no mercado de trabalho não acompanharam o ritmo do desenvolvimento económico dos últimos anos”, acrescentou.
Para o docente, estar-se-á perante o efeito “dominó” se o Governo não levar a cabo acções mais eficientes para controlar a taxa de desemprego. “As pessoas têm grandes expectativas em relação a melhores salários quando investem mais na educação”, afirmou o académico, dizendo ainda que “uma taxa de desemprego baixa irá influenciar o desejo dos chineses em terem uma formação académica superior, especialmente entre aqueles que menos possibilidades têm de estudar neste momento”.
Os comentários de Hong foram feitos numa altura em que já se sabe que diminuiu o número de estudantes candidatos ao exame nacional para a entrada em cursos de pós-graduação, um fenómeno inédito na última década. Segundo dados oficiais, 1,2 milhões de pessoas inscreveram-se este ano para o exame, o que representa uma descida de seis por cento comparativamente com 2007.
O China Daily ouviu ainda as entidades patronais. Vivian Guo, directora executiva de um empresa privada em Pequim, explicou que a sua companhia contrata as pessoas que mais possam contribuir pelos menores custos possíveis.
“A maioria dos licenciados prefere postos de trabalho nas grandes cidades, o que causa um desequilíbrio nos recursos humanos das áreas urbanas e das zonas rurais”, constatou Hong Chengwen. “Teriam mais hipóteses de progressão na carreira se optassem por começar a trabalhar nas áreas rurais e na região Oeste. O Governo tem estado a incentivar a deslocalização de profissionais para lá”, sustentou.
Os custos financeiros do sistema educativo são outra questão da qual os chineses se queixam. O estudo revela que os agregados familiares das zonas urbanas gastam, em média, um quarto do vencimento em educação. Nas áreas rurais, o ensino chega a levar um terço dos rendimentos familiares.
Dados oficiais indicam que 150 milhões de estudantes de escolas primárias e secundárias beneficiam actualmente da isenção de propinas, no âmbito de medidas introduzidas em 2006. No entanto, denuncia o China Daily, há escolas que violam as regras, exigindo pagamentos extra em troca de “um melhor ambiente educativo”.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Chengdu, uma surpresa ao virar da esquina;Exposição de cerâmica de Macau e Guangdong na Galeria do Tap Seac

Chengdu, a quinta maior cidade da China

Uma surpresa ao virar da esquina

Picante. Insólita. Surpreendente. Três adjectivos que descrevem bem Chengdu, na província de Sichuan. A primeira impressão é a que se tem nas grandes cidades chinesas – enormes estradas de betão e viadutos de cimento desproporcionais. Mas basta perder-se um pouco a pé para descobrir a comida, as ruas tradicionais, o povo, os jardins e os monumentos. E a calma. Nem mesmo o facto de estar situada quase junto à fronteira com Lhasa, e de contar com uma grande comunidade de tibetanos, a perturba. Pelo menos, aparentemente. As surpresas ao virar da esquina na quinta maior cidade do país.
“Hello, hello” ouve-se frequentemente pelas ruas. São os habitantes locais que saúdam os estrangeiros depois de um longo olhar inquiridor. O inglês normalmente não passa disso. O que se segue são palavras do dialecto local, semelhante ao mandarim. Mas nem só de falar vive a comunicação. O sorriso está lançado e as portas da cidade estão abertas.
Em pleno centro de Chengdu situa-se a estátua gigante de pedra do antigo líder do Partido Comunista, e impulsionador da Revolução Cultural, Mao Zedong. Com a mão erguida em jeito de “estou a olhar para vocês”, a enorme figura está disposta a um nível bem superior a qualquer um dos elementos da paisagem. A poucos metros de distância, vale a pena parar para observar o espectacular estádio desportivo. Mais uma obra monumental.
Caminhando a pé, de autocarro ou de táxi – desde que esteja preparado para uma eventual condução em contra-mão -, além das inúmeras casas de chá, restaurantes e lojas que vendem bugigangas, depara-se com um trânsito caótico, a que ficam imunes as bicicletas, que circulam numa via reservada. Não raras vezes se vêem ciclistas, motociclistas e peões, impávidos e serenos, nas passadeiras, à espera que o sinal mude. E, sem medo, avançam rumo à sua via. Um cenário, no mínimo, curioso. Mas normal – e saudável - para uma cidade que é completamente plana.
Pelo caminho, encontram-se alguns militares ou civis “mascarados”. O que é certo é que, em Chengdu, existe pelo menos uma rua repleta de lojas que vendem exclusivamente uniformes, calçado e restante material militar. Para os profissionais ou para meros curiosos e entusiastas.
Por todo o lado, os cheiros. Não são maus. São bons. É o cheiro da comida. Mas cuidado. Para apreciar a comida de Chengdu – bem como de toda a província -, é preciso gostar muito de picante. E, mesmo apreciando, há que estar preparado para alguns efeitos colaterais, como ficar com os lábios dormentes, tal é a intensidade do chili e da malagueta.
Em cada rua, uma surpresa. De repente, num muro vulgar uma figura impecavelmente pintada por algum artista local. As flores e as plantas que se encontram por todo o lado. O rio claro e límpido, sem indícios de mau cheiro. Nos jardins espalhados pela cidade encontram-se pessoas a comer, a jogar às cartas, a fazer tai-chi, ou mesmo a cantar. Passeando pelas ruas, é frequente encontrar um rádio a alto volume e pessoas a dançar ao som da música. Aquelas danças tradicionais, tão características da cultura chinesa.
Não muito longe da praça central de Tianfu, vale a pena ver o mosteiro budista Wenshu, um espaço onde monges e cidadãos convivem serenamente. Sendo um espaço de oração, encontram-se vários ensinamentos budistas escritos em chinês e em inglês – caso raro – espalhados pelo lugar sagrado. Caminhando pelo mosteiro, encontra-se ainda um jardim, onde idosos e jovens praticam tai-chi, observam os animais no lago ou conversam animadamente. Saindo do espaço religioso, o visitante encontra-se num quarteirão comercial que em nada destoa do monumento. Em casas tradicionais inspiradas no mosteiro, vendem-se as sedas e tecidos de Sichuan, comida ou livros. O local ideal para comprar uma lembrança.
Partindo dali de autocarro chega à rua dos tibetanos. Um local onde se vendem recordações, tecidos e comida característica daquele ponto do mapa. Um local onde, é quase certo, se avistam tibetanos. Desta vez, dados os recentes incidentes em Lhasa, contava com policiamento extra. Carros e agentes repartiam o espaço com tibetanos e transeuntes. Ali perto, o templo Wuhou. Um local de oração onde, além das figuras pitorescas esculpidas nas plantas ou árvores cuidadosamente podadas, estão representadas principalmente as figuras do período dos Três Reinos (220 d.C. – 80 d.C.). Entre jardins lindíssimos, encontram-se ainda locais destinados à interpretação de ópera chinesa que tem lugar à noite.
Relativamente perto, vale a pena espreitar o templo taoísta Green Ram. Desta vez, ao invés dos monges, encontram-se taoistas trajados a azul escuro. E são inúmeras as bandeiras e os símbolos alusivos ao Yin e Yang e à natureza. Saindo do templo, é de aproveitar um passeio pelo Parque do Povo, onde além de casas de chá, situadas no meio da natureza, há jogos para crianças e espaços para descansar, conversar e comer.
Percorrer as ruas. Perder-se nos caminhos que rodeiam o rio. Perder-se na tranquilidade da paisagem. Quase se esquece dos viadutos de cimento e das longas avenidas com prédios altos e mosaicos não particularmente bonitos. Descobrir as árvores de bambu, as cadeiras tão características construídas com este material e os vários parques bem cuidados espalhados pela cidade. Ou os resquícios de outros tempos. É o caso do bairro tradicional atrás do Hotel Shangri-la. Quarteirões que sobreviveram à modernização. Um sítio onde impera o comércio tradicional, as ruas estreitas e animadas, os becos, as senhoras sentadas nas ruas, os pátios a servir de acesso às casas. O local ideal para capturar o tempo e obter boas fotografias.
À noite, a não perder a animação. E as surpresas. Vale a pena perder-se numa visita a Cunxi, um local interdito a viaturas, onde o transeunte pode passar pelos espaços comerciais e pelos restaurantes. Descontraidamente. E terminar a noite num dos bares da zona.
Chendgu, uma cidade de surpresas, onde o verde convive com o betão. Onde as bicicletas convivem com os automóveis. Onde as tasquinhas chinesas convivem com os restaurantes ocidentais. Onde as livrarias chinesas se misturam com as ocidentais. Onde, inesperadamente, se encontram pontos como a “Bookworm”, um espaço junto ao Consulado dos Estados Unidos, que vende livros em inglês sobre a Ásia e que serve de biblioteca, restaurante e bar. Uma agradável surpresa, ideal para terminar o dia.

O Buda Gigante de Leshan

Um Buda gigante esculpido num penhasco ou um dos grandes símbolos da China, o panda. Duas atracções nas redondezas de Chengdu, que vale a pena visitar.
Situado no sopé do Monte Lingyun, em Leshan, a algumas dezenas de quilómetros de Chengdu, está aquele que é considerado o grande orgulho da cidade e o seu ex-líbris, o Buda gigante. Listado como Património Mundial da UNESCO, e situado junto aos templos Lingyun, Tiangwang, Daxiong, até subir todas as escadas e percorrer os trilhos que vão dar ao penhasco, ainda há muito para ver. Na confluência entre o rio Dadu e o Min, além da paisagem espectacular de flores e água, destaque para as várias representações do Buda do Sudeste Asiático.
Depois de uma longa subida, e de muito exercitar as pernas, vê-se finalmente o Buda Gigante – são 71 metros de altura e só o dedo grande do pé mede 8,5 metros. Foi concebido por um monge budista chamado Haitong em 713 a.C., na esperança de que a figura viesse acalmar as perigosas correntes e proteger os pescadores. Acabaria por estar completo quase 90 anos depois da morte de Haitong. Observar o Buda Gigante de vários ângulos é obrigatório. Só assim se tem noção do seu tamanho real. Só assim se tem percepção da sua importância para a China. Passar de barco para avistá-lo também é uma hipótese.
Na terra do bambu, os pandas, outro dos símbolos da China. A poucos quilómetros de Chengdu, basta apanhar um táxi ou um autocarro e rapidamente se chega ao Centro de Pesquisa e Criação de Pandas. Um espaço que nasceu da captura de seis pandas selvagens e cujo principal intuito é preservar a espécie quase extinta, fazendo nascer, através de inseminação artificial, mais animais. O resultado é um local onde esta espécie muito semelhante ao urso, ao ar livre, alimentando-se de bambu, está separada por um fosso e um muro dos visitantes. A uma pequena distância dos inúmeros curiosos que acorrem todos os dias ao centro. Destaque ainda para a presença do chamado panda vermelho, uma espécie também quase extinta, que de panda só tem o nome, já que pertence à família dos guaxinins.
Vivendo nas florestas de Sichuan, o panda é também o símbolo da cidade de Chengdu. Por todo o lado surgem as referências ao animal que fascina as pessoas pelo mundo fora. Basta olhar em volta para ver as imagens e as alusões turísticas, comerciais e históricas a esta espécie em vias de extinção. Uma passagem pelo Centro de Pesquisa e Criação de Pandas é obrigatória.
Luciana Leitão (texto e fotografias)

Exposição de cerâmica de Macau e Guangdong na Galeria do Tap Seac

Descubra as sete diferenças

Das figuras de gente aos momentos históricos, a criatividade ao serviço da arte de moldar o barro é o que se pode encontrar na Galeria do Tap Seac. Artistas de Macau e da província de Guangdong juntaram as suas obras no mesmo espaço a convite do Instituto Cultural, na “Exposição de Cerâmica Contemporânea 2008”. Divididos por várias salas, os 38 trabalhos dos 15 criadores revelam técnicas e bagagens culturais distintas. Passear pela mostra é algo mais do que uma contemplação da cerâmica chinesa. É uma descoberta das diferenças entre as concepções artísticas “made in” Macau e da província vizinha.
Entre as cerâmicas provenientes de Guangdong, dominam os temas relacionados com a história da China, com recurso às técnicas mais tradicionais. Pelo menos é o que se encontra nas primeiras salas da galeria. Mal se entra, no chão, à direita, estão expostas duas espécies de formações militares. “Naquele Momento Estávamos” é o título do conjunto de obras da autoria do artista da província da China Continental Huang Qianghua. Cerca de uma dezena de figuras humanas com cerca de um palmo de altura estão alinhadas, vestidas com fatos militares, segurando um livro vermelho. A cena faz lembrar os tempos da Revolução Cultural.
Ao lado, as pequenas estátuas vestem a pele de um exército da antiguidade num trabalho intitulado “O General da Família Yang”. O mesmo tema militar é repetido nos “Aliados em Taoyuan”. Todos os trabalhos foram concebidos através da mesma técnica, o barro é a base material que foi queimada com lenha.
A sala da parte esquerda do espaço é totalmente ocupada com cerâmicas da série “Novo Ser Humano”. Mais uma vez, são notáveis as diferenças entre as esculturas assinadas por artistas de Macau e da província de Guangdong.
O criador local Sou Pui Kun apresenta três bustos incompletos e desfigurados, conjugando o barro com o acrílico e as fibras ópticas. Já Zhang Wenzhi, oriundo da província vizinha, utilizou o barro grosseiro para dar corpo a três obras. Duas assemelham-se a potes de porcelana, destacando-se as decorações monocromáticas. Há ainda uma figura vermelha assinada pelo mesmo artista, que representa um rosto humano visto de perfil.
No espaço que se segue, prevalece o tema militar e/ou político. Li Jing trouxe da província de Guangdong três trabalhos subordinados ao tema “Memória Vermelha”. Os pequenos homens de barro, cujo tamanho da cabeça é desproporcional ao corpo, posam de um modo autoritário.
Da parte de Macau, Alice Lee Shun Yu expõe uma caixa de costura entornada criada em porcelana, com agulhas verdadeiras incluídas. Através do barro e da técnica da queima por oxidação, a artista local criou “Memórias sobre Amendoins”. São vários amendoins gigantes, alguns com forma humana, que estão espalhados numa mesa.
Num regresso às temáticas orientais, Alice Lee tentou retratar o “Desabrochar das Bombax num Dia Primaveril”, combinando a porcelana e o veludo. Esta espécie de árvore encontra-se no Sul tropical da Ásia, Norte da Austrália e África tropical. As flores vermelhas destas plantas, que chegam a alcançar entre 30 a 40 metros de altura, surgem entre Janeiro e Março.
A parede do espaço contíguo à segunda sala é ocupada por máscaras de porcelana pintada criadas na província de Guangdong. É uma homenagem aos próximos Jogos Olímpicos de Pequim que se organizam em Agosto. “No mesmo mundo, no mesmo piso” é a ideia que o artista pretende transmitir.
James Wong, residente em Macau, contribuiu para a mostra com dois trabalhos. “Contos Dobrados I e II” são cerâmicas produzidas em barro vidrado, um dos exemplos de obras que se demarcam das demais por não desenvolverem uma temática local, nacional ou tradicional, mas sim contemporânea.
Atravessando o corredor principal, no centro, à direita, dominam os materiais eléctricos criados em porcelana branca, da autoria do artista da província de Guangdong Simon Ho Siu Chong. A parede maior é o suporte de “Distâncias Iguais”. São 405 pequenas tomadas, lâmpadas e fichas eléctricas de porcelana.
Na parede ao lado, repete-se a concepção artística. O trabalho “Natureza Morta” é composto por 20 peças rectangulares que representam materiais eléctricos. Da mesma série, há ainda uma escultura formada por um conjunto comprimido numa espécie de cubo de lâmpadas e fichas eléctricas. Simon Ho nasceu em Sidney, na Austrália, mas as suas raízes são de Cantão.
Nesta sala, o único criador que representa Macau é Konstantin Bessmertny com a sua “Almofada para a República”. Para criar esta escultura em porcelana branca pintada, o artista de nacionalidade russa escolheu a técnica de queima por oxidação.
No chão do espaço contíguo, Zhuo Zhengyao expõe três “Séries de Tianju” concebidas em barro de Fosham. Já Josefina Maria Bañares usou o barro em combinação com o plástico e o pano para dar forma a pequenos “Trabalhadores”.
Subindo as escadas, chega-se às últimas salas da exposição de cerâmica chinesa. No primeiro patamar, Diana Maria Bañares de Jesus partilha o espaço com o artista de Guangdong Wang Qi, com as suas obras de barro grosseiro de Shivan.
A criadora de Macau apresenta trabalhos inspirados no Largo do Senado. Três figuras, apenas da cintura para baixo, sentadas em bancos, mostram os diversos tipos de pessoas que se podem encontrar no mais movimentado local do centro histórico da cidade.
Pai e filho com cabeça de produtos de fast-food parecem representar a cultura ocidental que invade a zona. Os famosos sacos azuis e vermelhos transportados pelos comerciantes chineses são usados para dar corpo a dois residentes que descansam trocando uns dedos de conversa. O turista tem a cabeça em forma de saco dos biscoitos tradicionais de Macau e segura uma máquina fotográfica.
No final da exposição, apenas a província de Guangdong marca presença. Através do barro grosseiro, os artistas Tan Hongyu e Yi Hua apresentam um conjunto de cinco esculturas que assumem a forma de um cão, um anjo e “Mulheres Belas”, entre outras.
A cerâmica chinesa vai habitar a Galeria do Tap Seac até o dia 4 de Maio, entre as 10h00 e as 19h00. A entrada é gratuita.

Cerâmica para desenvolver indústrias culturais

Mostrar “trabalhos de grande qualidade” é apenas um dos objectivos da “Exposição de Cerâmica Contemporânea da Província de Guangdong e Macau 2008”, organizada pelo Instituto Cultural (IC), que vai estar patente na Galeria do Tap Seac até ao dia 4 de Maio. O evento tem ambições mais altas que se centram no desenvolvimento de pesquisa e promoção das indústrias culturais em Macau. Uma meta que pretende ser alcançada não só abrindo mais uma vez as portas à cerâmica, mas também através da realização de workshops.
As obras de 15 artistas da província de Guangdong e da RAEM pretendem revelar novos aspectos da cerâmica contemporânea chinesa, bem como divulgar e promover os artistas e as suas criações. Em particular, no que respeita ao tipo de materiais que usam e às suas diferentes concepções artísticas.
A mostra pode representar uma plataforma onde os artistas procuram a sua posição e estilo, com base nos traços tradicionais, contemporâneos, orientais e ocidentais. Na Galeria Tap Seac, encontram-se trabalhos sobre temas locais e nacionais, ou ideias inovadoras.
De acordo com uma nota divulgada pelo IC, nos últimos anos, Macau tem assistido a um desenvolvimento considerável no mercado da arte da cerâmica. É na sequência deste fenómeno que o organismo governamental decidiu promover a exposição, visando aprofundar o conhecimento dos residentes sobre este mundo da arte de moldar o barro, bem como o seu desenvolvimento no território e na província de Guangdong.
Para concretizar este objectivo, a organização da exposição irá realizar dois workshops destinados a jovens e crianças nos dias 6 e 13 do próximo mês, entre as 14h00 e as 16h00. A participação nesta iniciativa é gratuita.
Alexandra Lages

A história de Fuxi e Nuwa

O confronto dos seres humanos com o deus do Trovão

Estando nós absortos na luz proveniente do computador, não demos conta da mudança rápida do tempo. Somos interrompidos quando, pela falta de luz, a máquina se desliga e logo se ouve um estrondoso ribombar de um trovão que nos traz à memória duas histórias da mitologia chinesa.
O deus do Trovão (Leigong) constantemente pairava nos céus e fustigava os agricultores com inúmeras tempestades e intensas trovoadas e chuvas que deitavam a perder as culturas dos campos.
Um dia, farto de trabalhar para no fim perder tudo, um camponês, ao aperceber-se, pelo adensar das nuvens no céu, que o deus do Trovão se aproximava, resolveu confrontá-lo. Dependurando uma gaiola de ferro na parte de fora da casa, desafiou o deus para um combate. Furioso perante o desplante daquele terreno ser, atirou-se dos céus para acabar com o provocador. Mas o agricultor com a sua forquilha de ferro e cabo de madeira apanhou-o e num movimento rápido meteu-o dentro da gaiola, fechando-lhe a porta. O deus fora derrotado e logo parou de chover.
Precisando de ir fazer umas compras, antes de partir o agricultor avisou os seus dois filhos para se afastarem da gaiola, não se dirigirem ao deus e muito menos darem-lhe água.
As duas crianças, o rapaz de nome Fuxi e a rapariga chamada Nuwa, andavam a brincar já que, desde há muito tempo não se encontrava um dia tão bonito e ensolarado, quando o deus do Trovão se começou a lamentar pelo calor que fazia. Assim preso não podia falar com o deus das Águas e só as crianças o poderiam salvar. As crianças, lembrando-se dos avisos do seu pai, tentaram ignorá-lo, mas a insistência com que o deus clamava por compaixão, agora murcho e com um aspecto inofensivo, mexeu com elas. Começaram a ter pena e após este prometer não lhes tocar, pensando não haver grande mal em lhe tirar a sede, assim lhe deram um pouco de água para beber.
Mas mal o deus tocou na água, logo a sua força e poder voltaram, libertando-se da jaula. As crianças assustadas iam fugir quando o deus do Trovão lhes lembrou que não lhes faria mal e deu-lhes um dos seus dentes dizendo que este os protegeria da vingança que iria dar aos humanos, pela desfeita de o terem capturado.
O lavrador, com o cair das primeiras gotas, logo percebeu que o deus do Trovão se tinha libertado. Mas nada pôde fazer já que o deus do Trovão, conjuntamente com o deus das Águas rodopiando, abriram tamanha tempestade que durante dias inundaram todas as terras e até as mais altas montanhas ficaram cobertas de água. Ninguém se salvou excepto os dois irmãos pois, logo após plantarem o dente na terra, este se transformou numa enorme cabaça. Quando as águas começaram a chegar, esta dividiu-se em duas metades e as crianças colocaram-se em cada uma das partes. Nas agitadas águas navegaram durante dias mas as correntes, devido ao deus do Vento, levaram-nas por caminhos diferentes, separando-as.
As águas estavam a chegar ao Céu e então o Deus do Céu ordenou aos deuses seus subordinados para pararem e voltarem a colocá-las nos seus leitos.
Já outra história, que ouvimos contar quando, na parte Leste da província de Gansu, visitamos a cidade de Tianshui, apresenta-nos uma versão diferente acerca do nascimento mitológico de Fuxi, um dos três Ancestrais chineses.
Fuxi era filho do deus do Trovão e de uma jovem mulher, a única filha de um casal que habitava no Noroeste, na província de Gansu, junto ao rio do Trovão, próximo do lago com o mesmo nome, onde o deus também vivia.
A jovem, farta dos maus humores do deus do Trovão, que constantemente infligia inundações às povoações junto ao rio, um dia resolveu ir falar-lhe e perguntar qual a razão dele não ir habitar o céu como os outros deuses. Perante tal desplante, mas rendido à beleza da rapariga, acordou retirar-se para o céu, se ela casasse com ele. Passados nove meses tiveram um filho e como a ela estava vedado o regresso à sua terra, resolveu que o seu filho deveria crescer fora daquele fechado lugar e, se possível, na sua terra natal, entre os humanos. Um dia, aproveitando a ausência do deus Trovão, colocou a criança dentro duma enorme cabaça e deixou que o rio a levasse. Aconteceu que o pai da jovem estava a pescar e ao ver a enorme cabaça retirou-a do rio levando-a para casa. Assim que o casal a talhou, dela saiu uma criança que envergava uma camisola bordada, que reconheceram ser proveniente da camisa da filha. Deram-lhe o nome de Fuxi, que significa oriundo de uma cabaça. A criança crescia rapidamente, distinguindo-se das outras por ser alta, forte e muito inteligente. Por ser filho de um deus podia subir ao céu pela escada celestial e assim, como era um observador atento, ao olhar para o Céu observou os fenómenos celestes e olhando para baixo, viu-os na Terra. Descobriu que o que dentro de si se passava, estava conotado com o exterior. Viajou por terras com propriedades de solos diferentes e viu muitos outros animais. Terá usado nós numa corda para fixar certos factos. Tendo criado um método de fazer redes de pesca inspirando-se nas teias de aranhas, foi um pioneiro na domesticação de animais, no lavrar a terra, no cozinhar os alimentos e no uso do almofariz e da mó.
Estas duas histórias mitológicas relatam o desaforo dos seres humanos que se atrevem a provocar um deus do Céu. Se umas vezes essa atitude faz que aconteçam as calamidades, por vezes levam ao aparecimento de seres, filhos dos deuses, que mudam os caminhos à História.
A pequena borrasca que se abatera sobre Macau terminara e a electricidade tinha regressado, retirando a mitologia dos nossos pensamentos e colocando-nos de novo a receber a luz proveniente do ecrã do computador.
José Simões Morais

terça-feira, 25 de março de 2008

Air Macau não está preocupada com resultados das eleições em Taiwan, Vida de cão

Director executivo da Air Macau não está preocupado com resultados eleitorais

Japão compensa Taiwan

O aumento do número de voos para o Japão virá compensar a eventual diminuição de passageiros para Taiwan. Declarações do director executivo da Air Macau, David Fei, ao Tai Chung Pou, depois de o recém-eleito presidente da ilha, Ma Ying-jeou, ter reiterado a intenção de estabelecer ligações aéreas directas para o Continente.
David Fei prefere falar em “impacto positivo”, ao invés de negativo. Ciente de que a eventual criação de uma rota directa entre Taiwan e o Continente poderá representar uma diminuição dos lucros da Air Macau, o director executivo afirma que as declarações de Ma Ying-jeou não foram uma surpresa, já que essa possibilidade esteve sempre em cima da mesa. Aliás, tendo isso em conta, “desde 2004 – com a inauguração de rotas para a Coreia - que a Air Macau se está a preparar”.
Antevendo que, mais tarde ou mais cedo, tal viesse a acontecer, foi assinado um acordo bilateral entre as autoridades aeronáuticas da RAEM e do Japão, em Fevereiro último, eliminando todas as restrições à capacidade e aumentando o número de cidades japonesas para as quais é possível voar. Por isso, a Air Macau deverá lançar, ainda este ano, voos regulares para Hokkaido, Nagoya, Okinawa e Fukuoka, tornando a rota para Osaka diária a partir de Maio.
Em 2010, a transportadora pretende estender este serviço a Tóquio. Este aumento do tráfego entre Macau e o Japão deverá, na opinião do responsável, “compensar a perda de voos para Taiwan”. Além disso, tendo em conta que “os japoneses gastam dinheiro e recursos” quando vêm ao território, também desta ligação aérea resultará um “impulso para o desenvolvimento económico de Macau”. Assim, remata David Fei, caso se concretize a criação de ligações directas entre Taiwan e o Continente, a Air Macau nada tem a temer, dado o aumento do número de voos e a aposta no mercado nipónico.
A licença administrativa que permitiu operar voos regulares entre Macau e o Japão foi atribuída à Air Macau pelo Ministério do Território, das Infra-estruturas e dos Transportes do Japão e teve o apoio do Governo Central e do Executivo da RAEM em Junho do ano passado. Uma autorização que surgiu na sequência de uma deslocação ao Japão de uma delegação constituída por representantes do Governo da RAEM, Air Macau e individualidades ligadas à aviação, para contactos informais com o Gabinete para a Aviação Civil daquele país. Foi o abrir de uma porta de entrada no mercado japonês.
Recorde-se que uma grande percentagem dos lucros da Air Macau resulta do transporte aéreo de passageiros de Taiwan para a República Popular da China via Macau, dada a inexistência de voos directos entre a ilha e o Continente. Nas palavras de David Fei, a Air Macau e o Aeroporto Internacional do território têm servido de plataforma de ligação entre o Continente, Taipé e Kaohsiung. Algo que deverá mudar, pelo menos se Ma Ying-jeou cumprir a sua promessa. Uma proposta que surge da vontade de uma aproximação a Pequim e do fim das relações conflituosas.
Luciana Leitão

Eleições de Taiwan servem de “lição”, dizem académicos de Macau

Das eleições de Taiwan, a RAEM poderá, quanto muito, extrair uma lição. É essa a opinião do professor da Universidade de Macau, Eilo Yu. O académico declarou ao Tai Chung Pou que a disputa de dois partidos às eleições presidenciais da ilha separatista poderá servir de exemplo a Macau que, realçou, está longe de ser um regime democrático.
Recordando as anteriores eleições de Taiwan, o académico de Macau afirma que envolveram “dinheiro e interesses”. Mas as eleições que tiveram lugar no sábado foram “transparentes”, o que, na sua opinião, poderá servir de indicador às pessoas do território de que têm de lutar contra a corrupção. O verdadeiro impacto de tais resultados será, principalmente, “económico”, já que o recém-eleito Presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, reiterou a intenção de criar ligações aéreas directas entre a ilha e o Continente. “O Aeroporto Internacional poderá sofrer algumas consequências”, diz. Mesmo assim, “não será um verdadeiro problema”.
Comentando os efeitos políticos dos resultados eleitorais, Eilo Yu afirmou ainda que Ma Ying-jeou não defende directamente a independência de Taiwan, tendo sempre incentivado a interacção entre a ilha e o Continente. Fugindo sempre à questão da reunificação com Pequim, Ma Ying-jeou tem procurado mostrar que se trata de “outro assunto”, que não deverá nortear a sua intervenção política.
Por seu turno, a académica da Universidade de Macau, Agnes Lam, afirmou que o único impacto negativo em Macau resultante da vitória de Ma Ying-jeou será económico. Mas, em termos culturais e sociais, a RAEM continuará a servir “de plataforma entre o Continente e Taiwan”, sublinhou, em declarações ao Tai Chung Pou.
Em entrevista ao jornal Va Kio, a académica tinha sustentado ainda que a paz e a estabilidade das eleições presidenciais de Taiwan revelam que a participação pública e a democracia levam tempo a amadurecer e a desenvolverem-se. Se alguma lição Macau pode tirar é que se a democracia é o último objectivo, os residentes devem ter acesso a deveres relevantes para minimizar os danos infligidos à sociedade no decurso do desenvolvimento. Por isso, a participação da sociedade na vida política deverá aumentar, através da promoção da educação cívica e da monitorização dos meios de comunicação social imparciais.
Para Agnes Lam, uma pequena emenda às leis eleitorais pode resultar em avanços na democratização, mas as propostas recentes do Governo não surtirão esse efeito. A académica sugere, ao invés, que os deputados escolhidos por sufrágio universal nas próximas eleições coloquem na agenda política a questão da extensão do sufrágio universal aos colegas do hemiciclo.
Recorde-se que o recém-eleito Presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, eleito no sábado com perto de 60 por cento dos votos, repetiu que vai promover melhores relações com a China, mas que não tem a intenção de visitar o país “num futuro próximo”.
Conservando um tom de desafio relativamente ao regime comunista, o inimigo histórico de Taiwan, o candidato do Kuomintang (KMT) assentou a sua campanha na contenção relativamente a Pequim. Ma Ying-jeou deseja um “acordo de paz” com a China para acabar com um conflito armado que nunca teve um final oficial desde 1949. O novo presidente declarou-se ainda favorável ao restabelecimento de ligações directas e à criação de um mercado comum com o vizinho comunista.
Ma Ying-jeou acabou por fugir cuidadosamente à espinhosa questão da reunificação, “grande objectivo” da China, que ameaça intervir militarmente caso exista uma declaração formal de independência da ilha.
Pequim, que possui um milhar de mísseis apontados contra a ilha, considera Taiwan como uma província rebelde, apesar de uma independência de facto que data da criação da República da China há cerca de 60 anos.

Centro acolhe mais de trezentos animais abandonados nas ruas de Hong Kong

Vida de cão

Nasceu da vontade conjunta de oito pessoas e, em menos de dois anos, passou a ser o responsável por mais de 300 cães e gatos. O Centro de Acolhimento de Animais Abandonados (RCAP, na sigla em inglês) lida actualmente com um problema comum em Hong Kong: a utilização de terrenos cedidos pelo Governo.
Criado em Outubro de 2006 por um grupo de amigos dos animais, que alimentavam cães abandonados nas ruas da antiga colónia britânica, o RCAP tem, como objectivo principal, proporcionar-lhes melhores condições de tratamento e evitar que sejam maltratados. O centro fica localizado nos Novos Territórios, com vista para os arranha-céus de Shenzhen, que ficam do outro lado das águas lamacentas. Com espaço para os animais correrem, o RCAP dispõe ainda de área suficiente para que os visitantes possam brincar com os cães que “adoptam”. No início, eram apenas 40 cães, mas o número não tardou a aumentar: o centro acolhe, neste momento, 289 cães e 34 gatos, sendo que os felinos se encontram separados num espaço com ar condicionado.
Atento aos visitantes, o sociável “golden retriever” Mo-mo reúne todas as características da sua raça. Cão bonito e com o qual se estabelece rapidamente um laço de afectividade, Mo-mo não tem a orelha esquerda. O facto de ter um “chip” incorporado revela que teve, em tempos, um dono, mas o contacto perdeu-se. Foi encontrado na rua pelo proprietário de uma armazém, com graves ferimentos. O estado da sua ferida era tão avançado que o veterinário não teve outra hipótese que não tirar a orelha esquerda.
Mo-mo é uma excepção no RCAP: por norma, os cães de raça pura são aqueles que estão menos sujeitos ao abandono. Nos casos em que são encontrados a vaguear pelas ruas, facilmente encontram um novo dono. Assim, “a maioria dos animais são arraçados ou rafeiros”, sintetiza Fiona Fung, a administradora do centro. “No entanto, cada vez mais animais de estimação têm vindo parar ao centro e recebemos três ou quatro telefonemas diários de pessoas que precisam da nossa ajuda”, explica. “A primeira coisa que dizem é que estão a mudar de casa e, no novo prédio, não são permitidos animais.”
O RCAP não ajuda todos os donos de animais de estimação. Para começar, os cães e gatos têm que estar esterilizados. Depois, são sujeitos a um check-up completo antes de serem admitidos. Em situações de aflição, o centro apoia financeiramente os proprietários de animais que necessitam de tratamento médico urgente, quando os donos comprovadamente não têm possibilidades para tal.
A maioria dos cães vem, deste modo, das ruas, trazidos por voluntários ou recolhidos após terem sido recebidas denúncias de residentes. Dor-dor, de apenas um ano de idade, não partilha o espaço de recreio dos restantes cães e parece muito tímido. A fita vermelha da coleira indica que morde – ao contrário da maioria dos cães que ocupam o centro, Dor-dor não gosta do contacto humano.
Encontrado por um residente numa estação de autocarros na cidade satélite de Tsuen Mun, quando era ainda um cachorrinho, Dor-dor encontrava-se deitado numa suspeita poça de sangue antes de ser levado para tratamento. Na clínica, revelou ser um animal pouco amigável: mordeu o veterinário, que teve dificuldade em lidar com ele. Embora a causa das feridas de Dor-dor tenha ficado por esclarecer, o cão tem nítidos problemas com seres humanos. Com os outros animais, relaciona-se sem problemas.
Os cães podem ser adoptados e levados para casa, ou então permanecerem no centro, sendo que a maioria reconhece os seus pais adoptivos e reage com entusiasmo às visitas, sinónimo de maior atenção e de brincadeiras na relva. V.V. é uma excepção. “Assim que os pais adoptivos chegam, esconde-se ou foge.” A explicação pode estar, mais uma vez, naquilo que a cadela passou antes de chegar ao centro. “Quando foi ‘adoptada’, estava a fazer tratamento a uma ferida. Mal viu os ‘pais’ começou a correr em círculos e magoou-os nas pernas”, recorda Fiona Fung. “É possível que tenha sido maltratada ou sujeita a isolamento, o que a faz reagir mal à presença de pessoas estranhas.”
O percurso do RCAP tem sido complicado e não parece que vá melhorar. Os problemas começaram logo no início: um outro centro de recolha de animais abandonados queixou-se ao jornal Ming Pao que o RCAP tinha levado a cabo, de forma ilegal, uma campanha de recolha de donativos. A estrutura administrada por Fiona Fung foi multada. “Não sabíamos que tínhamos que pedir autorização prévia ao Departamento de Segurança Social”, justifica a responsável.
Pouco tempo depois, os órgãos de comunicação social noticiavam que o centro estava envolvido numa disputa de terrenos, um problema que Fiona Fung diz jamais ter pensado que poderia acontecer. Entretanto, continuaram a chegar animais ao RCAP. “Temos muita vontade de ajudar, mas chegam aqui pessoas que vêm indicadas por outros centros. Parece-me que não deviam apenas trabalhar na recolha de verbas, sem assumirem as suas responsabilidades”, atira, em tom crítico.
O maior problema é, no entanto, o terreno onde o centro está instalado, um dilema que continua por resolver. Em Novembro passado, o Departamento de Terras acusou o RCAP de estar a usar o espaço de forma abusiva em relação à finalidade inscrita na concessão, tendo definido uma data para a organização sair do local, que acabou, contudo, por ser adiada duas vezes. Fiona Fung conta que o centro anda à procura de um novo terreno, aguardando a aprovação das autoridades.

Difíceis relações de vizinhança

O maior problema com o qual o Centro de Acolhimento de Animais Abandonados se depara é o espaço, mas a vizinhança também não ajuda. Fiona Fung, a administradora da estrutura, acredita que, na origem da questão do terreno, estão as queixas feitas pelos moradores da aldeia dos Novos Territórios onde o RCAP está instalado.
Admitindo que os cães fazem barulho a meio da noite, “quando precisam de ajuda”, a responsável assegura que o problema foi ultrapassado em grande parte com a contratação de uma pessoa que fica no centro no período nocturno. “Com alguém a fazer-lhes companhia, deixaram de ladrar. Quando o fazem, voltam a estar sossegados em dois segundos.” Embora os vizinhos também se queixem do cheiro, à entrada no espaço, limpo com regularidade, não se sente qualquer odor que incomode.
Há mais cães na vizinhança, pertencentes a alguns dos vizinhos, que contribuem para o barulho durante a noite, argumenta ainda Fiona Fung. “Passam-se coisas complicadas nesta zona depois da meia-noite. Os cães dos vizinhos ladram quando sentem pessoas na rua ou quando alguém, por exemplo, fecha a porta de um carro.” Em épocas festivas, os panchões e foguetes que a vizinhança queima deixam os animais do centro irrequietos. “Já tivemos que chamar a polícia para nos ajudar”, conta a responsável.
À saída do centro, não é difícil sentir o ambiente de tensão e os vizinhos que se encontram nas imediações não se mostram disponíveis para conversar e, muito menos, para serem fotografados. Teresa Wong, uma das fundadoras do RCAP, explica que vários visitantes do centro foram ameaçados pelos moradores da zona. “Já tentámos conversar com a vizinhança, mas com este clima de ameaças é complicado chegarmos a um entendimento.”
Para Teresa Wong, o barulho não é o problema real, mas sim o facto de serem “estranhos” naquela zona. Durante um teste ao ruído feito pelo Departamento do Ambiente, a pedido dos moradores, “os vizinhos tentaram, de todos os modos, provocar os animais, para que estes fizessem efectivamente muito barulho”. As autoridades acabaram por não o considerar válido. “Já recebemos várias ameaças, mas não temos nada a temer. Estamos aqui apenas porque queremos tomar conta de animais abandonados, somos uma associação sem fins lucrativos,” remata a fundadora da organização.
Kahon Chan, em Hong Kong,
com Isabel Castro