quarta-feira, 31 de outubro de 2007

O segundo mandato de Ruben Cabral, FIMM com Maria João Pires, À tarde com poesia

Ruben Cabral assume novo mandato à frente do Instituto Inter-Universitário de Macau

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O responsável máximo de uma das instituições de ensino mais respeitadas de Macau é um homem que quer viver à frente do seu tempo. Ruben Cabral é o reitor do Instituto Inter-Universitário de Macau (IIUM), uma entidade criada por uma fundação detida a meias entre a Universidade Católica Portuguesa e a Universidade de Macau.
No IIUM tira-se partido do ensino moderno e modular, onde o que se quer é a interdisciplinaridade e transdisciplinaridade nos cursos. “É o futuro, que já está a acontecer”, diz Ruben Cabral em entrevista. Para o reitor, os professores querem-se “móveis” e, numa questão de dias, o seu instituto cria licenciaturas e mestrados. Tudo porque o corpo docente é maioritariamente “não-residente” e os módulos transdisciplinares permitem uma economia de recursos humanos a pensar na qualidade.
Ruben Cabral é hoje reconduzido no cargo de reitor. Está em Macau há cinco anos e não vê problemas em lado algum, apenas desafios. Sobre a sua instituição, considera que há muito a fazer, tudo, porque “não se deita sobre louros”.
Quando Ruben Cabral chegou a Macau, foi incumbido de criar cursos e desenvolver o IIUM. “O meu trabalho foi criar uma série de cursos, tanto a nível de licenciatura, como de mestrados e de doutoramentos, que respondam às necessidades do mercado da educação e da escolaridade, que são comodidades como outras quaisquer”.
Hoje, não esconde a satisfação de ver no IIUM uns 700 alunos, numa altura em que a instituição chegou ao equilíbrio financeiro e atingiu o ponto de massa crítica a que se dispôs: “A época de investimento abrandou, este ano atingimos esse ponto que é fulcral no desenvolvimento de qualquer organização. Entretanto as obras do novo campus já começaram, na Ilha Verde, porque não queremos sair de Macau, e é onde havia terreno”.
O novo campus promete ser uma pequena revolução: “As salas de aula saem das paredes, ficam suspensas, quero uma universidade aberta para a comunidade e não fechada sobre si própria. Isso representa a postura da nossa universidade, não existimos dentro de portas, mas fora delas”.
O edifício é fruto de uma parceria com o Instituto de Tecnologia de Tóquio. Os alunos de arquitectura do instituto desenvolveram o projecto do novo campus.
Com o novo campus chega também um novo curso de Design Industrial: “Vamos também entrar a sério, através de parcerias, no mundo das artes. Tentar desenvolver parcerias, com quem quiser trabalhar connosco. Podemos oferecer cursos, dar coberturas académicas ao que já exista. Estamos à espera de lançar um curso de Design industrial, para a indústria, para os interiores.”
O novo campus terá capacidade para 2800 alunos, mas Ruben Cabral quer ficar-se pelos 1800 ou dois mil. “Esta é uma universidade de investigação, nós queremos ter sempre um número reduzido de alunos e recrutar, anualmente, cerca de 35 estudantes por curso. É, portanto, uma universidade selectiva”, afirma.
O IIUM tem mais de dez licenciaturas e 15 mestrados, além de seis programas de doutoramento. Para o reitor, “o que nos interessa é ter uma universidade de excelência, nós competimos contra nós próprios e não contra nenhuma universidade, vemos o nosso papel em Macau sempre como um papel de complementaridade, não competimos em cursos, os que existem nas outras universidades nós não abrimos aqui, quando o fazemos é sempre para complementar qualquer lacuna que possa existir no panorama geral académico de Macau”.
A nova fase que a RAEM atravessa, a do desenvolvimento económico, é um sinal positivo para se mexer com o sistema de ensino local. É aqui que Ruben Cabral “puxa dos galões” adquiridos nos seus mais de 20 anos nos Estados Unidos, depois de se ter formado em Educação e ter trabalhado na área da educação comunitária, assim como em Portugal, na Universidade Católica. Ao todo, há trinta anos que “anda nisto”.
“O problema de Macau é o das civilizações, de todos, é o problema da qualificação das pessoas. Temos imensas razões para fazer mais, não estamos bem, não podemos descansar, mas estamos tão mal ou tão bem como outros lugares. Não há razão para entrarmos em agonia, mas há que mexer depressa”.
Este homem declaradamente positivista, que prefere a palavra “desafio” ao termo “problema”, defende que a qualificação das pessoas é a chave para os problemas do território. “O que aconteceu nos últimos tempos em Macau e que tem criado uma certa ansiedade é que estamos numa região do mundo onde o futuro está a acontecer. Nos últimos cinco anos houve desenvolvimentos económicos, com todas a implicações sociais tremendas para a pacatez que era esta terra, e isto é positivo porque dá um sentido de urgência às sociedades. Macau tem de reagir, há coisas a funcionar relativamente bem, outras menos, mas desde que haja algumas pessoas a liderar o resto acaba por ir.”
O período de grandes alterações que Macau tem atravessado terá, para o reitor, repercussões naturais. “Vão processar-se mudanças curriculares e em Macau vê-se o esforço que está a ser feito para a requalificação de professores e para mudança dos currículos. O desafio que existe é saber quem vai dar essas aulas. Um professor terá de reeducar-se praticamente desde o início, vai ter de aprender a pensar de outra forma e olhar para a sua área científica de maneira diferente.” Esse mesmo professor, acrescenta o reitor do IIUM, terá de “começar a ler, a estudar, a pensar e sobretudo a questionar-se. É um processo simples, mas moroso, nunca mais acaba, mas sem começar nada muda.”
Ainda sobre Educação em Macau, entende Ruben Cabral que o papel da Região bem podia ser o de um centro académico para o mundo interessado na China e na Índia. “Macau tem uma potencialidade tremenda para ser um centro académico, tremenda! Muita gente diz que há imensas universidades em Macau, no entanto, não acho que seja suficiente. Não o digo em termos de número, mas há muito espaço em Macau”.
Tudo porque o futuro está, claramente, nesta região: “A China neste momento é talvez um dos fulcros do desenvolvimento a nível mundial em todas as esferas, não só na questão industrial, mas económica, financeira, social, política, de tudo e mais alguma coisa. A Índia e a China, toda esta parte da Ásia e, obviamente, Macau, que sendo o que é, uma cidade com condições bastante boas, tem todas condições para que, por exemplo, as pessoas que vêm das Américas e da Europa, possam estudar aqui.”
O reitor estuda hoje mais do que há vinte anos, para perceber as tendências, entender o mundo em que vive e oferecer o que acha ser a resposta certa no momento certo. Tenta mesmo “antecipar-se” às necessidades, uma forma de responder aos desafios. Mostra o lado prático de um académico habituado a fazer contas e a gerir o seu “reino”. “O saber é cada vez mais fundamental. Saber não é saber coisinhas. A ciência vive da ignorância, vive daquilo que não se sabe.”
Joyce Pina
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn


Maria João Pires na despedida do FIMM de 2007

A música que não se explica

Toca Mozart desde os sete anos. Nos últimos tempos, tem estado menos presente. Mas é com Mozart que vai subir, hoje à noite, ao palco do Centro Cultural de Macau. Com Beethoven também. A casa vai estar cheia, o que não espanta. É o melhor concerto da temporada, por umas mãos que dispensam apresentações. Maria João Pires tem a identidade definida há muito tempo.
Houve um concerto que ficou na memória do território, já lá vai um quarto de século. A pianista, que hoje se apresenta com a Orquestra de Macau, no encerramento do Festival Internacional de Música, confessa que as recordações desses tempos são bastante vagas. Foi um período de muitos concertos, muito trabalho, a memória confunde-se.
As recordações de Macau são outras, mais pessoais. “Lembro-me que vim muito a Macau nessa altura porque queria encontrar alguém que ainda tivesse conhecido o meu pai, que viveu cá durante muitos anos”. Mais de metade da vida, precisa. “Eu própria não o conheci, estava muito interessada em ver se ainda havia alguém, mas não encontrei ninguém”. Destes laços afectivos nasce um carinho especial, reforçado pelos amigos que cá tem.
Quem tiver comprado atempadamente bilhete para o concerto desta noite, sabe o que pode encontrar. Aquilo que “se espera de um concerto, que é ouvir música”, resume. É que a música não se explica, “a emoção musical é difícil de descrever, porque é uma emoção diferente” de todas as outras.
Sobre os músicos que a acompanham, e com quem já ensaiou, Maria João Pires diz que a orquestra tem um alto nível de qualidade, que em nada fica a dever às outras. Quanto a Beethoven e a Mozart, não são os favoritos mas também não deixam de o ser. “É difícil dizer quais são os predilectos”, mas como são os compositores que hoje vai interpretar, assegura, serão aqueles de que vai gostar mais esta noite.
A pianista que diz ter uma visão pessimista em relação ao mundo actual e ao futuro do ser humano, e que, por isso mesmo, tenta com o seu trabalho combater as causas da falta de optimismo, parte daqui para Tóquio e depois estará em Hong Kong, nesta digressão por terras do Oriente.
Na passagem por Macau, defende que seria muito importante que as artes fossem introduzidas na vida quotidiana das pessoas. Principalmente nos dias das crianças, nas escolas, para que pudessem, através da imaginação e da criatividade que só as artes despertam, descobrirem quem são e seguirem o caminho que realmente querem. Maria João Pires não é só uma virtuosa. Há mais de duas décadas que partilha a arte com os outros. É a pedagogia da música.
Natural de Lisboa, Maria João Pires tocou pela primeira vez em público aos 4 anos de idade. Um ano depois, deu o primeiro recital. Entre 1953 e 1960, estudou no Conservatório Nacional de Lisboa com o professor Campos Coelho, tendo frequentado também os cursos de Composição, Teoria e História da Música com Francine Benoît. Os estudos prosseguiram na Alemanha, primeiramente na Academia de Música de Munique, com Rosi Schmid, e depois em Hanôver, com Karl Engel.
O reconhecimento internacional de Maria João Pires aconteceu com o Primeiro Prémio do Concurso do Bicentenário de Beethoven, em 1970. As suas estreias em Londres, na década de 1980, foram entusiasticamente aplaudidas pela crítica. A partir daí, não parou. Os palcos espalham-se por todos os continentes e os concertos são dos mais variados formatos.


Associação lança primeira revista de poesia on-line de Macau

Palavras ao entardecer

É um convite à contemplação da palavra, um momento para ouvir, absorver, reflectir. A Associação de Estórias em Macau (AEM) promove, na próxima terça-feira, uma sessão de poesia que conta com a presença de três escritores australianos. É uma troca de poemas entre Macau e a Austrália, que servirá também para apresentar a primeira revista on-line de poesia do território, uma iniciativa dos escritores que integram a AEM.
Adam Aitken, Peter Bakowski e Carolyn van Langenberg são os convidados da organização para a apresentação da poesia que escrevem em língua inglesa.
Peter Bakowski, distinguido em 1996 com o prémio Victorian Premier's Poetry Prize, pelo seu livro “In The Human Night”, é o escritor residente do programa Asialink, uma novidade do departamento de inglês da Universidade de Macau.
Quanto aos poetas locais, de acordo com as informações disponibilizadas pela AEM, a sessão será preenchida com as obras de Yao Jingming (poeta que assina com o nome Yao Feng), Lili Han, Elisa Lai, Li Ying, Agnes Vong e Amy Wong.
Com um pé na RAEM e outro na Austrália está o anfitrião do final de tarde com poesia, o australiano Christopher (Kit) Kelen, professor de Escrita Criativa na Universidade de Macau ao longo dos últimos sete anos. No dia seguinte, quarta-feira, os poetas da Austrália e de Macau atravessam a fronteira para uma sessão semelhante a realizar na Universidade Unida Internacional, em Zhuhai.
A declamação de poemas coincide com o lançamento da revista on-line em língua inglesa “Poetry Macao”, que poderá ser acedida em www.geocities.com/poetrymacao. Porque o primeiro número será lançado aquando do encontro com os escritores australianos, a tónica forte da revista vai, precisamente, para a cooperação entre Macau e a Austrália no domínio das palavras em forma de verso.
No primeiro editorial, o responsável pela coordenação do projecto, Christopher Kelen, explica que Novembro é o mês que coincide com o início do projecto Asialink em Macau, com a colaboração da Universidade de Melbourne e a presença, em Macau, de Peter Bakowski na condição de escritor residente.
“O número de estreia da “Poetry Macau” enfatiza, assim, o trabalho de Bakowski, bem como de outros poetas australianos com fortes ligações à Ásia Oriental”, diz Kelen.
Na primeira edição da revista, os interessados neste género literário poderão ainda ler trabalhos do poeta chinês Ouyang Yu, professor de literatura australiana na Universidade de Wuhan, e de Alan Jefferies, um escritor que residiu, por um longo período, em Hong Kong, e que regressou recentemente a Queensland.
As participações locais na publicação electrónica ficam a cargo do grupo de novos talentos de Macau que participaram num projecto de escrita criativa conduzido por Christopher Kelen e Yao Jiming. Agnes Vong, Amy Wong, Hilda Tam, Jenny Lao, Lili Han e Elisa Lai têm obras publicadas pela Associação de Estórias em Macau. Na revista on-line são reproduzidos alguns dos poemas que constam das edições em papel.
A AEM é a responsável pela publicação, até ao momento, de 18 volumes de poesia e prosa, tanto clássica como contemporânea. Este ano, foram lançados seis livros, em Junho passado (ver caixa), numa iniciativa conjunta com a Livraria Bookachino.
Para 2008, estão já planeadas novas edições bilingues (em inglês e chinês), bem como uma edição trilingue (com a inclusão da língua portuguesa) de uma antologia de poesia de Macau, adianta Kelen no editorial da revista. Será a primeira vez que a poesia do território poderá ser compreendida por quem lê apenas em língua inglesa, destaca o professor universitário.
Christopher Kelen diz ainda que, com a “Poetry Macao”, a Associação de Estórias de Macau pretende criar um veículo para a tradução de poesia, do chinês para o inglês e vice-versa. “É uma forma de envolver o leitor no diálogo sobre as questões da tradução e no intercâmbio cultural”, sustenta o responsável. É a descodificação e partilha de diferentes contextos culturais através da palavra escrita.
Isabel Castro



1 comentário:

Anónimo disse...

Bom dia,Isabel! Está a fazer um trabalho maravilhoso. Gosto muito de visitar este cantinho. Yao