quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Justiça em risco, Macau nos ecrãs do mundo

Cadeia de televisão de Singapura prepara programa sobre cidades chinesas

Macau nos ecrãs do mundo

Quais são as mais importantes urbes chinesas? “Macau, Hong Kong, Pequim e Taipé”. O que é que as distingue? “Gastronomia, lazer, arquitectura, vida nocturna, artes, transportes, moda e o oitavo elemento ainda está por decidir”, vincou Ioh Kok Hong, um realizador ao serviço da cadeia de televisão de Singapura, Channel News Asia.
Quatro dias de estadia na RAEM vão ser transformados em 14 minutos de imagens, divididas em duas partes, de um programa televisivo com meia hora de duração. Até Fevereiro do próximo ano, deverá estar montada e pronta a ser emitida uma série de oito episódios intitulados “Uma história de quatro cidades”.
A ideia é olhar para cada uma destas aortas chinesas e procurar as diferenças entre os quotidianos urbanos. “A pergunta que se coloca é: o que é torna Macau único? Cada parte do programa vai ser subordinada a um tema específico e, ao longo de trinta minutos, vamos mostrar as especificidades das quatro cidades”, explicou o mesmo responsável.
Ioh Kok Hong e o repórter de imagem Timothy Shim partem hoje da RAEM com imagens na bagagem que servirão para construir dois episódios sobre gastronomia e lazer. Pelos restaurantes da região, filmaram cinco pratos diferentes, dos quais se destacam o minchi, “arroz frito à portuguesa” e o famoso pastel de nata. A realização do programa está ainda a dar os primeiros passos, Macau foi a primeira cidade onde aterraram, mas o singapuriano já tem em mente alguns pormenores do produto final, conseguidos através de uma pesquisa feita pela Internet, livros e conversas com habitantes dos locais visados.
“É possível estabelecer um contraste entre o pastel de nata e o ‘dim sum’ de Hong Kong, por exemplo. No território vizinho, este elemento gastronómico é tipicamente chinês. Lá não existe a tradição das pastelarias, porque têm uma natureza muito portuguesa”, explicou o realizador.
A forma de se estar à mesa é outro dos aspectos divergentes. “Já repararam como os habitantes da RAEHK comem tão depressa?”, questionou com uma expressão de espanto. Em oposição ao frenesim que caracteriza o quotidiano da antiga colónia britânica, em Macau as pessoas caminham mais calmamente e intercalam as refeições com momentos de conversa. “Sem stress”, defendeu o mesmo responsável.
No capítulo do lazer, a câmara de filmar não vai ultrapassar a porta dos casinos. “O programa ‘Uma história de quatro cidades’ não pretende focar a parte turística dos locais, mas sim o estilo de vida dos habitantes. Demos uma volta de carro para fazer uns ‘shots’ das luzes e dos néons, mas o que queremos realmente conhecer é como os residentes se divertem e passam o tempo. O nosso objectivo é dar, acima de tudo, uma perspectiva humana”, notou. Neste sentido, a equipa do Channel News Asia captou as corridas de cães e o ambiente da linha de bares do espaço das Docas.
Em cada cidade, a dupla terá um anfitrião que funciona como janela para o quotidiano dos locais. Em Macau, esta função coube à jornalista Joyce Pina, que é jornalista da Euronews, presentemente a trabalhar no território. Joyce Pina será a apresentadora dos oito episódios dedicados à RAEM.
“Faz também parte da nossa missão descobrir como mudou o estilo de vida dos locais”, completou Ioh Kok Hong.
Em termos de imagem, foi o contraste entre o dia e a noite, o antigo e o novo que mais encantou o homem da câmara. “A verdadeira essência da cidade só se sente nas horas nocturnas. Quando chegam as luzes tudo se torna diferente e a atmosfera oriental dá lugar a um novo mundo muito mais ocidentalizado”, sublinhou Timothy Shim.

O programa ‘Uma história de quatro cidades’ não pretende focar a parte turística dos locais, mas sim o estilo de vida dos habitantes. Demos uma volta de carro para fazer uns ‘shots’ das luzes e dos néons, mas o que queremos realmente conhecer é como os residentes se divertem e passam o tempo.
Os monumentos listados pela UNESCO foram, no entanto, o que mais despertou o interesse do repórter que está por detrás da objectiva. A viagem de regresso está marcada para Novembro com o propósito de captar a singularidade da arquitectura de Macau, estando ainda marcada uma próxima deslocação em Dezembro que será dedicada aos restantes temas.
O projecto do programa televisivo está intimamente ligado à importância que a China está a ganhar no globo. Na realidade, Ioh e Timothy trabalham para uma empresa de produção chamada Ochre Pictures, cujos serviços foram encomendados pela cadeia televisiva. Mais do que um canal transmissor na cidade-Estado, o Channel News Asia tem uma dimensão pan-asiática, emitindo para os países do Pacífico, como a Austrália e o Médio Oriente.
O programa “Uma história de quatro cidades” está destinado a rodar pelos televisores dos quatro cantos do mundo e entrar em milhões de casas. “A CNN e a Discovery, por exemplo, estão muito interessadas em tudo o que são produtos que digam respeito à China. Neste momento, todas as histórias, conteúdos e ângulos chineses são vendáveis e todos os querem comprar”, apontou o realizador, acrescentado que isto prova a influência que o Império do Meio tem ao nível internacional.
A paragem que se segue no périplo da equipa de Singapura é Taiwan. Há ainda muitos contrastes por descobrir entre as quatro urbes irmãs, mas Ioh deixou o território com uma certeza. “A noite de Macau é uma das mais bonitas do mundo, não tem comparação com Taipei ou Hong Kong. Aqui as luzes estão acesas desde que o sol se põe até nascer, enquanto no território vizinho a partir das 22 horas a cidade já está morta. Na RAEM tudo transpira glamour e dá uma noção que aqui circula muito dinheiro”, sustentou.
Dois pares de jornadas bastaram para a equipa do Channel News Asia absorvesse a realidade do território. Nas palavras do realizador, dentro de uma década o território corre o risco de se tornar numa “cidade do inferno”, na qual vai imperar a fórmula sexo, drogas, rock’n’roll e dinheiro. “A parte bonita da região é que continua a existir pessoas simples que fazem as suas vidas normalmente. Ainda não foram corrompidas por este ambiente de Jogo, mas daqui a 10 anos estas pessoas vão começar a desaparecer, assim como os edifícios antigos”, salientou.
Ao contrário da opinião geral, não é o património que está em perigo, segundo o residente singapuriano, mas sim os pequenos bairros. “As Ruínas de S. Paulo estão protegidas pela UNESCO e ninguém se atreverá a tocar-lhes, mas as pessoas e o estilo de vida normal estão em vias de extinção. Não há nenhuma garantia de que a vida de Macau que existe longe dos casinos vá sobreviver para sempre”.
Alexandra Lages
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn







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