quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Quase na água, Macau desassossega Hong Kong

Natação da RAEM espera concorrência aguerrida em Recinto Coberto

Nadar contra a maré

“A minha mãe diz que aprendi a nadar aos quatro anos”. O nome Victor Wong Wing Cheung é para reter na memória. As braçadas do jovem de 23 anos tornaram-no o rei da piscina curta nos Jogos Asiáticos em Recinto Coberto (JARC), há dois anos, em Banguecoque. Veio carregado de medalhas da Tailândia e subiu ao pódio cinco vezes para ouvir o hino da RAEM.
Fora de água, na véspera do arranque da segunda edição do evento desportivo, as notícias da chegada de um dos melhores atletas chineses é o que mais perturba a concentração do exímio nadador.
“Estou um bocadinho nervoso. Soube que um dos elementos da equipa da China é um recordista com quem treinei há cerca de quatro anos e ele é muito bom”, salientou. Na Piscina Olímpica de Macau, na Taipa, já “cheira” aos JARC. As bandeiras dos 45 países e territórios asiáticos pairam sobre as águas ainda calmas do recinto, a sala técnica está montada e ultimam-se alguns pormenores em frente aos computadores.
A selecção da RAEM realizou um dos últimos treinos antes de entrar em estágio. Nove atletas femininas e 13 masculinos compõem o grupo que vai defender as cores da bandeira do território. Victor Wong regressou à companhia dos colegas há poucos dias. Desde Janeiro que esteve a treinar juntamente com nadadores profissionais em Xangai.
São mais de 15 anos de experiência em natação de competição, mas o representante de Macau não consegue tirar da cabeça a presença do adversário chinês. “O meu recorde é de 53 segundos em piscina curta, enquanto este nadador faz longas distâncias em 52 segundos”, exclamou o jovem, meio incrédulo com tal façanha. “Vou fazer o meu melhor, mas é impossível bater este atleta”, confessou.
Na primeira edição dos JARC, “não havia competidores tão fortes”, explicou. Victor Wong fez as manchetes dos jornais conquistando o primeiro e o segundo lugares do pódio nos 100 metros estilos individual e nas estafetas de estilos 4x25 metros, respectivamente. Depois repetiu a proeza conquistando mais duas medalhas. A primeira foi nos 100 metros, em que concluiu a piscina em 57,6 segundos, batendo o recorde de Macau. E o bronze obteve-o nas estafetas. Feitas as contas, foram duas medalhas de ouro, um par de prata e uma de bronze, só à conta de Victor. Os restantes nadadores da selecção do território conquistaram outras duas de bronze.
“Os troféus dos eventos internacionais estão guardados num armário de vidro na minha casa. As medalhas que ganhei em Banguecoque são aquelas de que mais me orgulho”, notou o atleta. Os troféus obtidos em campeonatos locais e regionais são tantos que o campeão os tem metidos dentro de uma caixa.
As provas de natação nos JARC, que começam dia 30 deste mês, vão ser realizadas na piscina de 25 metros, o que exige mais velocidade, pelo maior número de viragens que os atletas têm que fazer. A competição combina vários estilos, desde o free-style, também conhecido como crawl, o mariposa, costas e o medley. Os primeiros dois são as variantes em que Victor se sente mais confortável.
Os objectivos do campeão local já estão traçados, sendo prova da falta de confiança do nadador. “Fico satisfeito só com uma medalha. E, se assim for, a de bronze. Claro que é melhor se conseguir mais”, frisou, esboçando um sorriso tímido.
Ainda menos confiante está a seleccionadora de Macau, Zheng Ruo Xu. Sem arriscar prognósticos, a técnica principal afirmou que as medalhas são uma meta a alcançar, mas as verdadeiras possibilidades do grupo de Macau estão ao fundo da piscina e a uma profundidade considerável.
“Vamos competir contra o Kuwait, a China, o Irão, o Cazaquistão e Taiwan, que são adversários muito fortes”, defendeu. Embora a equipa do território treine seis dias por semana ao longo de todo o ano, é formada por amadores. “Na época de exames escolares, há sempre baixas nos treinos e assim é difícil conseguir trabalhar uma formação vencedora. Vamos dar o nosso melhor”, garantiu.
Sem problemas com a disponibilidade de instalações desportivas, é o amadorismo a corrente forte que continua a afectar o avanço da modalidade no território. “Em Macau há muitos adeptos da natação, principalmente entre as camadas mais jovens. Por isso, falta de recursos humanos não é uma preocupação para a competição. O pior é que, como são todos estudantes, é difícil programar os treinos”.
Alexandra Lages
Fotografia: Carmo Correia


Sector turístico de Hong Kong céptico quanto a cooperação com Macau

De pé atrás

As boas intenções das autoridades do sector do turismo de Hong Kong em relação a Macau estão longe de convencer os agentes da indústria da colónia britânica. Na passada segunda-feira, o responsável pelo Serviços de Turismo da RAEHK, James Tien, esteve em Macau, tendo debatido com os responsáveis locais hipóteses de cooperação nas diferentes áreas.
Este espírito de boa vizinhança parece estar longe de agradar aos operadores de Hong Kong, que nos últimos tempos se têm mostrado muito apreensivos com o desenvolvimento de Macau, tanto na expansão da indústria hoteleira como na área das exposições e convenções.
Ontem, a Associação de Empregados de Hotelaria, Alimentação e Bebidas da RAEHK fez chegar as suas queixas aos serviços dirigidos por James Tien. A associação está preocupada, em particular, com as declarações do responsável sobre a possibilidade de Macau e Hong Kong providenciarem formação profissional, na área da hotelaria, a trabalhadores da província de Guangdong, uma forma de colmatar a falta de recursos humanos neste sector.
Na deslocação a Macau, Tien apontou este plano como sendo uma possibilidade forte de cooperação entre as duas regiões administrativas, manifestando a esperança de que assim se possa resolver o problema da escassez de recursos humanos actual e garantir os necessários para a próxima década.
No campo de pensamento oposto encontram-se os trabalhadores do sector da hotelaria que, durante o protesto feito ontem nos serviços de turismo da RAEHK, disseram ser contra a importação de mão-de-obra da China continental, exigindo que a ideia de James Tien seja submetida a discussão pública antes de ser colocada em prática.
Numa rara partilha de posições entre empregados e patronato, os empregadores também vieram a público dizer que Hong Kong não precisa de um plano de formação profissional para potencial mão-de-obra proveniente de Guangdong. “Muitas empresas providenciam já formação em hotelaria e catering”, começou por explicar o director executivo da Federação de Proprietários de Hotéis em Hong Kong, Michael Li Hon-Shing.
“O grave problema é que menos de 20 por cento das pessoas com um diploma em hotelaria arranja emprego na área de formação, uma vez que neste tipo de trabalho se começa a carreira numa posição hierárquica baixa, fazendo-se a progressão dentro da empresa, à medida que vai sendo adquirida experiência”, disse.
À semelhança de outros agentes da área turística da antiga colónia britânica, também Michael Li entende ter razões de queixa em relação à RAEM. “Os hotéis de Macau podem não ser nossos inimigos mas amigos também não, com toda a certeza”, afirmou. A razão do descontentamento reside nas ofertas salariais que são feitas pelos operadores de Macau para os cargos de topo na indústria.
“Um executivo de um hotel aqui ganha 45 mil dólares de Hong Kong, mas estão a ser recrutados pelas empresas de Macau para irem ganhar 90 mil”, explicou, dizendo ser impossível aos empresários de Hong Kong fazerem contrapropostas de modo a manterem o pessoal. O mesmo responsável admitiu, contudo, que a estrutura salarial da RAEHK terá que ser repensada a curto prazo.
Ainda ontem, também no sector do turismo, mas na área dos transportes, o jornal Min Pao dava conta de preocupações em relação à futura operação da companhia CotaiJet. De acordo com fonte não identificada pelo jornal em língua chinesa, os moldes em que a empresa pretende explorar a sua presença no Aeroporto Internacional de Hong Kong fazem com que os turistas interessados em vir para Macau sejam direccionados, à saída do avião, para o serviço de transporte da Venetian, o que se entende ser prejudicial aos negócios da RAEHK. Uma carta sobre a matéria, em que são expostas as apreensões dos interessados, terá sido já enviada ao Executivo de Donald Tsang.
Recorde-se que, na deslocação a Macau efectuada na passada segunda-feira, James Tien esteve reunido com o director dos Serviços de Turismo da RAEM, Costa Antunes. Após o encontro, presidido pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Chui Sai On, os responsáveis destacaram a história das boas relações entre as duas regiões administrativas especiais, garantindo que ainda há muito trabalho conjunto a fazer no sector turístico.
Um dos caminhos apontados pelo director dos Serviços de Turismo de Macau (DST) foi a promoção de grandes eventos, especialmente aqueles de cariz internacional. “Devemos combinar esforços na organização global dos calendários, pois perdem-se muitas oportunidades por falta de articulação das iniciativas das várias regiões do Delta do Rio das Pérolas que, por vezes, acontecem em datas próximas”, vincou.
James Tien acrescentou, por sua vez, que as duas regiões devem fomentar a coordenação na promoção para o exterior, com o objectivo de incentivar os turistas dos outros territórios a visitarem ambos os destinos.
Os períodos que vão anteceder e seguir-se aos Jogos Olímpicos de Pequim estão já a ser planeados pelo Turismo de Hong Kong. James Tien aproveitou a oportunidade para explicar que, no final deste ano, começam os trabalhos de promoção da ex-colónia britânica.
Uma das iniciativas propostas pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, segundo o responsável da RAEHK, é aproveitar o aeroporto de Macau e o mercado das companhias de baixo custo para desviar o tráfego aéreo do outro lado do Delta do Rio das Pérolas.
I.C./ K.C.


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