O que falta a Macau
Os investimentos em instalações desportivas e a organização de grandes eventos desta natureza no território não se reflectem na percepção da população da RAEM, segundo o Instituto Inter-Universitário de Macau (IIUM). A instituição académica divulgou ontem os resultados do terceiro relatório sobre a qualidade de vida dos residentes da RAEM, elaborado por profissionais do IIUM com o apoio das revistas “Business Inteligence” e “Macau Business”.
O estudo, que diz respeito ao terceiro trimestre do ano, incidiu sobre as áreas do Desporto e do Património, mas incluiu também a auscultação da população em relação a outras matérias, tendo concluído que a satisfação do residentes em relação às condições de vida registou, nos meses de Julho e Agosto, o nível mais elevado de sempre.
As pessoas de Macau estão desapontadas com a qualidade das instalações desportivas públicas (55,8%) e com os esforços para promover o Desporto no território (55,9%). A reorientação da actual estratégia foi o conselho deixado pelo relatório, nomeadamente “promovendo estruturas mais pequenas e aumentando o incentivo à prática desportiva entre a comunidade”, pode ler-se nas conclusões do estudo.
Ainda neste capítulo, os resultados mostram que a população é activa e pratica exercício físico regularmente. O dado mais surpreendente prende-se com a faixa etária em que o Desporto reúne maior favoritismo. O grupo dos idosos, os residentes com mais de 65 anos, reuniu 66 por cento das respostas referentes à prática desportiva diária. Deste modo, o estudo aconselha o Governo a voltar as atenções para as facções mais jovens da sociedade.
A obesidade é um problema de saúde que não afecta a população da RAEM. Apenas 1,2 por cento dos inquiridos foi categorizado como obeso. O nível de pessoas com peso a mais da região mantém-se abaixo da China (5%) e de Hong Kong (3,3%). Em oposição, a magreza é bastante frequente entre as mulheres mais jovens.
Os residentes atribuem uma grande importância à preservação do Património. No entanto, só metade dos inquiridos (49,7%) é que se mostrou familiarizada com os monumentos históricos. Esta tendência difere consoante o nível de escolaridade das pessoas, ou seja, os inquiridos com mais estudos revelaram-se mais conhecedores do património listado pela Unesco. Aumentar o nível de formação dos residentes sobre esta questão foi a proposta deixada pelo relatório sobre a qualidade de vida.
Pouco mais de metade dos inquiridos mostrou estar satisfeito face aos esforços de promoção e balanço entre a preservação do património e o desenvolvimento económico, com 56,4 e 53,8 por cento das respostas positivas, respectivamente.
Entre Julho e Agosto, a satisfação dos habitantes do território registou o nível mais elevado de sempre, com 64,4 por cento das pessoas a mostrarem-se contentes com as suas condições de vida. Segundo o investigador Richard Whitfield, este valor é considerado positivo no âmbito dos outros países asiáticos, cujos índices de satisfação se centram entre os 60 e os 70 por cento.
As relações pessoais e a saúde foram os sectores que reuniram mais opiniões positivas por parte dos inquiridos com 70,6 e 69,8 por cento das respostas, respectivamente. Por outro lado, o nível de satisfação dos habitantes revelou-se menor face à segurança em relação ao futuro (60,4%) e à realização pessoal (58,1%).
No que diz respeito à qualidade de vida da RAEM, após ter registado uma descida de três por cento no último quadrimestre, o índice de bem-estar nacional recuperou dois por cento, fixando-se actualmente nos 59,6 por cento. Em particular, a posição dos residentes face à segurança territorial (66,2%) e à situação económica (66%) reuniu a maior taxa de satisfação, enquanto a prestação geral do Governo e o estado do ambiente são os sectores da cidade que menos agradam aos residentes.
Dos mais de mil inquiridos, apenas 53,1 por cento se mostraram satisfeitos com a acção do Executivo. “O Governo é a área mais problemática. Registou-se um ligeiro aumento do nível de satisfação, mas ainda não conseguiu chegar aos valores verificados no início do ano”, sublinhou Richard Whitfield durante a apresentação do estudo.
O sentimento da população face à qualidade de vida da RAEM não acompanha a média dos outros países asiáticos. “Isto quer dizer que existe um problema, mas nada demasiado grave. Pode dizer-se que Macau está na zona amarela”, defendeu o mesmo responsável.
Recorde-se que o Chefe do Executivo, Edmund Ho, apontou a qualidade de vida dos residentes e o desenvolvimento da economia como as estratégias prioritárias na acção do Governo. No discurso proferido na recepção comemorativa do 58º aniversário da República Popular da China, o governante salientou que “a garantia de melhores condições de vida à população, em especial às comunidades mais vulneráveis, constitui sempre uma prioridade irrecusável no quadro das acções do Governo”. O problema da inflação será uma das questões que Edmund Ho quer ter debaixo de olho, através da elaboração de estudos.
A amostra do terceiro relatório sobre a qualidade de vida foi constituída por residentes em idade adulta. Entre os dias 30 de Julho e 18 de Agosto, foram realizadas 4,298 chamadas telefónicas, mas só 1,105 aceitaram responder ao inquérito, representando uma taxa de participação de 25,7 por cento. Deste número, apenas 1,089 respostas foram consideradas válidas.
O próximo estudo vai analisar os temas do Jogo e dos casinos. Além dos dados referentes aos três últimos meses do ano, a equipa do IIUM vai ainda fazer um relatório final da qualidade de vida de Macau.
APOMAC reabriu admissão de sócios
Um espaço para se estar bem
Um espaço para se estar bem
Guilherme Silva e Pedro Córdova não têm mãos a medir. Com a entrada do mês de Outubro, chegou a época mais movimentada na Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC). Na prateleira primorosamente organizada, apenas destoa o empilhado dos envelopes que contêm os “modelos 11”, adivinhando muito trabalho a fazer nos próximos meses.
São os formulários para as declarações de rendimentos de pensões que chegam anualmente de Portugal. Até ao final do ano, a dupla da secretaria da associação local tem de tomar conta do preenchimento, certificação e envio dos documentos. Depois basta os associados irem chegando, um por um, para assinar o impresso correspondente. No caso dos membros mais carenciados e com idades avançadas, os funcionários vão a casa recolher as assinaturas ou as impressões digitais.
Guilherme e Pedro são duas das peças fundamentais para o cumprimento da missão que subjaz à existência da APOMAC: facilitar a vida dos pensionistas e reformados da RAEM e fazer todos os possíveis para promover o seu bem-estar.
Foi tudo pensado ao pormenor para proporcionar uma sensação de bem-estar aos membros. Até o ar é perfumado. “O cheiro é para cativar as pessoas, para elas se sentirem bem e voltarem mais vezes”
“A ideia da criação da associação nasceu em 2001, após a transferência de administração do território. Os fundadores pensaram em formar uma instituição da classe para auxiliar a maioria dos aposentados a resolver os seus problemas e, ao mesmo tempo, ajudá-los a tratar da correspondência que recebem da Caixa Geral de Aposentações”, explicou o presidente da APOMAC, Francisco Manhão.
O homem que se senta na cadeira da direcção desde a primeira hora conheceu de perto os problemas e dificuldades destas pessoas que são hoje chamadas de associados. “Grande parte dos aposentados são chineses e acabavam por deitar fora as cartas e, mais tarde, tinham que pagar as consequências. Pensavam que não era nada de especial e depois ficavam sujeitos a pagar IRC ou a ficar com a pensão suspensa”, recordou o responsável, que já vai no terceiro mandato.
Situações que são hoje evitadas graças à existência da APOMAC e das pessoas que diariamente trabalham debaixo do tecto do edifício-sede. Actualmente, a associação é composta por 1100 membros. São centenas de fichas pessoais nos computadores de Guilherme e Pedro, centenas de dados para actualizar todos os anos, centenas de pensões que estão à responsabilidade de duas pessoas. Os números parecem assustadores para apenas quatro mãos, mas, mesmo em plena época alta, os responsáveis mantêm o sorriso e a calma adquirida com muitos anos de experiência.
“As declarações vão chegando a partir de Março, tiramos uma cópia e começamos a preparar os impressos. Ao mesmo tempo, temos que fazer a actualização salarial quase todos os anos, é pouco mas dá muito trabalho, porque implica alterar todas as folhas”, assegurou Guilherme, o responsável pela administração.
Além das declarações da Direcção Geral das Finanças de Portugal, entre Outubro e Maio há ainda que tratar das provas de vida, das excursões turísticas, da festa do Ano Novo Chinês, da Assembleia-Geral e da preparação do aniversário da APOMAC. Em Maio de 2008, comemora-se o sétimo ano de vida da associação que foi criada com um propósito maior – disponibilizar um espaço onde os aposentados se pudessem reunir, conversar e trocar impressões entre amigos, bem como usufruir de uma série de serviços.
O sonho foi concretizado em 2003, quando o Governo cedeu dois andares de um edifício na Avenida Sidónio Pais. A primeira sede morava num sétimo andar no centro de Macau e não satisfazia as necessidades dos reformados. “Precisávamos de um espaço bastante grande onde pudéssemos desenvolver muitas actividades e vencer a nossa grande batalha, que era montar um gabinete médico”, sublinhou Francisco Manhão.
Hoje, o consultório médico funciona às mil maravilhas no segundo piso da sede da APOMAC. “A Dona Filomena vem cá quase todos os dias”, apontou um funcionário da associação. A idosa de 92 anos de idade é portadora do cartão de sócio número 60. “Veio medir a tensão arterial”, informou o enfermeiro de serviço, Augustino Assis, enquanto acompanha a associada até ao elevador.
Grande parte do primeiro andar do edifício é ocupado pelo gabinete médico e por actividades dedicadas à saúde. A última novidade é o espaço gimno-terapêutico, com uma massagista fisioterapeuta a tempo parcial, três aparelhos de ginástica e dois balneários. Foi tudo pensado ao pormenor para proporcionar uma sensação de bem-estar aos membros. Até o ar é perfumado. “O cheiro é para cativar as pessoas, para elas se sentirem bem e voltarem mais vezes”, notou o presidente.
Os registos médicos são o orgulho de Francisco Manhão. No ano passado, 1494 pessoas beneficiaram das consultas médicas, 4050 dos serviços de enfermagem e 1420 mediram a tensão arterial gratuitamente. No campo dos serviços a preço subsidiado, foram realizados 225 electrocardiogramas, 176 pensos, 2245 testes de diabetes, 12 exames ao colesterol e, desde Maio até aos nossos dias, 83 pessoas recorreram às sessões de fisioterapia.
Descendo as escadas ou apanhando o elevador, o silêncio dos trabalhos de administração e dos cuidados médicos do primeiro piso é substituído pela azáfama da preparação do almoço. As mesas da cantina já estão postas e só aguardam a chegada dos comensais.
A procura é tanta que, na sala recreativa, as mesas de mahjong são substituídas pelos pratos, copos e talheres. A popularidade da cozinha da APOMAC até foi motivo de uma reportagem no jornal Ou Mun no último domingo, provocando uma “chuva de gente à hora de jantar”, contou Francisco Manhão.
O tempero dos pratos da cantina tornou-se tão famoso que será premiado no próximo sábado pela Associação das Mulheres Empresárias de Macau, numa cerimónia que vai contar com a presença do Chefe do Executivo, Edmund Ho, e terá lugar no Venetian.
A cozinha serve almoço, lanche e jantar, sendo que existe um cardápio de pratos do dia à medida dos desejos gastronómicos de cada um. Cada prato é constituído por sopa, primeiro prato, sobremesa e chá ou café, por uma módica quantia de 23 patacas para sócios e 28 patacas para não sócios.
Por baixo das telhas tipicamente chinesas do balcão da cantina, os empregados honram todos os dias o emblema que trazem ao peito. Lurdes é uma das responsáveis pelo espaço de restauração. Há quatro anos que todos os dias, à hora de refeição, dá as boas-vindas às mesmas caras e troca dois dedos de conversa. É com um largo sorriso que descreve o seu trabalho. “A APOMAC é uma família”, frisou a funcionária filipina.
Um grupo familiar que, a partir deste mês, está destinado a crescer. Na última assembleia-geral extraordinária foi decidida a reabertura da admissão de novos sócios. Durante um período de seis meses, Guilherme e Pedro vão, então, dividir o trabalho entre os “modelos 11” e as novas propostas de sócio.
Alexandra Lages
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn
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