Ouro ao fundo da pista
Para trás ficaram memórias de tempos difíceis, sempre ultrapassados pelo amor à modalidade que se joga com as bolas pesadas em pistas brilhantes de tão polidas. A selecção de bowling da RAEM não quer ser apanhada desprevenida nos 2.os Jogos Asiáticos em Recinto Coberto (JARC), que vão ter início dentro de três semanas. Pelo menos uma medalha tem que ficar no território, de preferência de ouro. É este o objectivo da Associação de Bowling de Macau (ABM).
Para o presidente da comissão executiva da ABM, Fong Wun Man, o bowling já venceu duas batalhas na região: integrar competições internacionais e ganhar um espaço próprio. Os olhos do dirigente desportivo ainda brilham ao contemplar o átrio de mármore do Centro de Bowling do Cotai.
“Há três anos, quando precisávamos de treinar, tínhamos que carregar as nossas próprias bolas e atravessar a fronteira todas as noites até ao centro de bowling de Zhuhai”, lembrou o mesmo responsável, em declarações ao Tai Chung Pou.
A história da modalidade na RAEM é indissociável das novas instalações. Quando foi construído para acolher os Jogos da Ásia Oriental, em 2005, o Centro de Bowling do Cotai representou um passo de gigante para o desenvolvimento da modalidade em Macau.
Antes de 2004, as equipas só eram formadas quando se aproximava um torneio internacional e o espaço existente, perto do Jardim de Camões, não reunia as condições necessárias exigidas pela Associação Internacional. Por outro lado, os preços de aluguer das instalações eram difíceis de comportar.
O evento desportivo de 2005 significou a rampa de lançamento de que a associação local estava a precisar. Foi formada uma equipa um ano antes do começo da competição e os apelos de Fong Wun Man junto da organização foram decisivos para se avançar com a construção do espaço.
Apesar da localização, visto não existirem ligações de autocarros, segundo o dirigente desportivo, o Centro de Bowling do Cotai tornou-se uma das infra-estruturas desportivas mais importantes da RAEM. “Durante os fins-de-semana e feriados, o espaço está sempre apinhado de gente e às vezes é preciso esperar três ou quatro horas por uma pista livre”, frisou.
O responsável da ABM está orgulhoso da sua visão. Fong Wun Man acreditava que o bowling iria tornar-se um desporto popular entre os residentes. Nesta modalidade, o atleta está a jogar contra si mesmo e isso permite treinar a paciência. E, só assim, é possível melhorar a prestação na pista. “A forma como jogamos baseia-se no nosso próprio estado mental. Na verdade, se nos sentirmos bem, nada nos pode influenciar”, sustentou.
Há influências que são, todavia, incontroláveis. Nos Jogos Asiáticos em Banguecoque de 1998, a claque tailandesa transportava consigo instrumentos de percussão para apoiar a sua selecção. Fong Wun Man ainda se lembra de como todo aquele barulho incomodava os jogadores de Macau, pelo que teve mesmo que se queixar à organização.
No entanto, o responsável compreende que é inevitável deixar de ter a cabeça fria quando se está com a bola entre as mãos, fixando o conjunto de pinos. Outra fonte de pressão pode ser apenas a presença dos adversários na pista mesmo ao lado.
“Se o atleta contra quem estamos a jogar é famoso na modalidade, o nível de ansiedade cresce. Mas se os jogadores locais se forem habituando a participar em competições internacionais, mais tarde ou mais cedo vão ficar familiarizados com este género de situações e deixar de competir sob stress”, notou.
Nas palavras do responsável, quando se está a jogar sob tensão é muito fácil perder o ritmo. E o ritmo de um jogador é absolutamente decisivo para se conseguir realizar um “strike”.
A selecção de Macau é composta por oito elementos, quatro homens e quatro mulheres, e já está a treinar a pensar nos JARC há um ano, com uma frequência de três vezes por semana. Com a aproximação do início do evento, desde o mês passado que o programa foi estendido para quatro sessões semanais.
Com o propósito de fomentar o “bichinho” da competição, a equipa local participou no Torneio Aberto de Bowling de Macau que terminou na semana passada. Jogadores e jogadoras vão ainda voltar a testar os lançamentos noutra iniciativa semelhante marcada para este mês.
Os planos da formação local estão centrados num dos lugares do pódio. Em particular, a medalha de ouro numa das categorias – individual ou de grupo. Pode parecer ambicioso, visto que a média de pontos da selecção local é de 210, mas Fong Wun Man espera conseguir alcançar os 220, garantindo assim o acesso às medalhas.
Na verdade, os resultados da formação que vai defender as cores da RAEM nos JARC têm vindo a melhorar. Nos anos 1990, a equipa em masculinos não tinha chegado aos 200 pontos.
O único problema é que a maioria dos jogadores adultos já não tem margem para progressão e as esperanças do dirigente desportivo estão depositadas na facção mais jovem da selecção. “Um jogador com 15 anos de idade já consegue alcançar os 210 pontos”, salientou.
Julia Lam, 31 anos de idade, é uma das atletas do sector da velha guarda da formação local. Já pratica bowling há muitos anos, mas só começou a levar a modalidade a sério em 2003.
A primeira participação no Campeonato Mundial foi um pesadelo. “Pensava que a minha técnica era fraca e estava assustadíssima, mas a partir do momento em que o treinador de Taiwan começou a trabalhar com a equipa o meu estilo de jogo mudou consideravelmente”, notou ao Tai Chung Pou.
Actualmente com uma experiência de três anos nas rodas competitivas, a professora ainda sente algum nervosismo quando sente a aproximação dos JARC. “Na verdade, como Macau é a entidade organizadora ainda me sinto mais pressionada. Vou tentar dar o meu melhor e controlar os nervos, porque quando se joga mais relaxada consegue-se atingir melhores resultados”.
Perdido no tempo
O bowling, tal como grande parte das modalidades desportivas, está associado a lendas milenares. No entanto, esta disciplina, o desporto preferido do Fred Flinstone, vence no que diz respeito aos pormenores macabros.
Uma das histórias diz que um arqueólogo inglês encontrou um túmulo de uma criança egípcia que tinha ao seu lado pinos e bolas. Pensa-se, então, que já no tempo dos faraós existia um tipo de bowling primitivo. Esta teoria veio revelar-se verdadeira em Maio deste ano. Após umas escavações realizadas numa província a 100 quilómetros do Cairo, capital do Egipto, uma equipa de arqueólogos descobriu uma espécie de sala de jogo bastante semelhante ao desporto que hoje conhecemos.
A câmara não tem tecto e o chão é coberto por blocos de granito. Neste local, cientistas italianos encontraram duas bolas de granito, que seriam utilizadas no jogo. Foi a primeira vez que se descobriu uma construção com tais características no Egipto. O achado data da dinastia grega dos Ptolomeus (332 a.C. – 30 d.C.), segundo a agência egípcia Mena.
Macabra é o adjectivo que melhor classifica outra lenda associada ao bowling. Conta-se que os guerreiros das tribos antigas se divertiam após as batalhas, usando os ossos das coxas dos inimigos como pinos. Os crânios serviam de bolas e eram lançados colocando o polegar e um segundo dedo nas cavidades dos olhos.
No século XII, surgiu em Inglaterra um jogo de bowling no relvado. O objectivo era colocar a bola o mais perto possível do alvo, porém, sem o derrubar. Esta actividade desportiva atingiu uma popularidade tal que o Rei Eduardo a baniu, porque temia que superasse o Arco e Flecha, um desporto que tinha uma maior importância militar.
A versão moderna da modalidade surgiu muito antes, por volta do século III ou IV, na Alemanha. Nesta época, tinha uma conotação religiosa e era jogada com nove pinos colocados em forma de losango. Martinho Lutero era um dos maiores entusiastas e diz-se que chegou a mandar construir uma pista particular em casa.
Foram encontradas várias referências do desporto em toda a Idade Média alemã. Em 1325, chegou-se até a promulgar leis que limitavam as apostas em partidas. Além disso, um importante festival em Frankfurt tinha no bowling a sua principal atracção.
A partir daí, a modalidade foi-se espalhando pela Europa. As primeiras regras foram desenvolvidas na Holanda, corria o ano de 1650. Convencionou-se a disposição dos nove pinos na pista em forma de diamante, e ainda hoje esta versão é disputada principalmente no Velho Continente.
A variante que é mais conhecida e difundida mundialmente, com os 10 pinos dispostos em forma triangular, foi criada nos Estados Unidos da América (EUA), a cavalo do século XIX. Actualmente, existem mais de 65 milhões de praticantes apenas nos EUA, onde os troféus das competições chegam a atingir os milhares de dólares americanos, tanto ao nível dos profissionais como dos amadores.
No mundo, existem cerca de 250 mil pistas, mais de 100 milhões de praticantes e 10 milhões de atletas de competição espalhados por mais de 90 países.
No âmbito olímpico, o bowling teve apenas uma única participação em 1988, em Seul, na Coreia do Sul, na condição de desporto de demonstração.
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