terça-feira, 9 de outubro de 2007

Os hábitos de leitura dos jovens de Macau, Escalada desportiva a caminho dos Jogos

Inquérito sobre hábitos de leitura dos jovens traça cenário pouco optimista em Macau

Um livro de vez em quando

A maioria dos jovens de Macau que frequentam o ensino secundário complementar, com idades compreendidas entre os 15 e os 18 anos, não lê mais do que um livro por mês. Esta é uma das conclusões de um estudo levado a cabo pela Revista da Nova Geração, uma publicação local em língua chinesa.
A revista decidiu distribuir inquéritos nas escolas secundárias de Macau e comparar os números com um trabalho semelhante efectuado por jornais chineses, que se dedicaram ao estudo dos hábitos de leitura nos dois lados do Estreito de Taiwan. Os estudantes de Taipé são aqueles que mais lêem, comparativamente com os jovens de Pequim, Xangai, Hong Kong e Macau.
Quanto à “profundidade” dos conteúdos, os leitores das duas maiores cidades chinesas são os mais abertos a diferentes tipos de literatura, demonstrando-se interessados em obras que exigem maior capacidade de abstracção e compreensão.
Curiosamente, os adolescentes de Hong Kong são os que menos horizontes têm em termos literários: as bandas desenhadas locais e os romances de escritores da região administrativa especial são as obras preferidas, aventurando-se pouco no trabalho de descoberta de literatura que vá além das fronteiras da cidade.
Já em Macau a situação é bastante diferente. Embora os jovens não elejam a leitura como principal forma de passar o tempo livre, a diversidade de géneros literários é satisfatória. No entanto, é nos autores de língua chinesa, dos contemporâneos aos clássicos, que se encontram os autores preferidos. As excepções aplicam-se nas escolhas de J.K. Rowling, a autora da série Harry Potter, e do japonês kafkiano Haruki Murakami. Merece destaque o facto de o pai do modernismo literário da China, Lu Xun, aparecer como o terceiro escritor favorito dos adolescentes da RAEM.
Em Macau, não existe um plano de estudos homogéneo para os estabelecimentos de ensino. A pesquisa feita pela Revista da Nova Geração foca apenas os livros que não entram nos currículos variados das escolas da RAEM. A primeira conclusão a que os autores chegaram foi o facto de 57,6 por cento dos inquiridos ler apenas um livro extracurricular por mês. Quase 23 por cento dos jovens acaba dois livros no espaço de trinta dias, enquanto apenas 8,6 por cento chega ao fim do terceiro livro.
Quanto ao número de horas passadas a ler por semana, 40,5 por cento dos adolescentes está sessenta minutos (ou menos) a ler livros extracurriculares, sendo que 20 por cento confessou não ler qualquer obra literária que não seja obrigatória na escola. A maioria dos inquiridos prefere passar esta hora a ler jornais.
De assinalar o facto de os estudantes em Macau não prestarem grande atenção à banda desenhada, com 50,9 por cento a afirmar não tocar em álbuns de BD. Comparando este número com os dados obtidos na pesquisa efectuada pelo “China Times” e pelo “Mingpao News”, o dado é surpreendente: os adolescentes de Hong Kong e de Taiwan são verdadeiros fãs das histórias contadas em quadradinhos.
Já no que toca à forma de obtenção dos livros que lêem, a maioria (49,4 por cento) compra livros, mas o valor gasto mensalmente na aquisição de literatura encaixa com os hábitos de leitura pouco enraizados. Mais de 77 por cento gasta, da mesada, um valor inferior a cem patacas, com apenas 3,3 por cento a despender entre 300 e 500 patacas por mês. Quase 25 por cento dos auscultados não comprou um único livro no ano passado e 42 por cento recorre, por norma, ao empréstimo.

57,6% lê apenas um livro por mês
25% não comprou um único livro em 2006
55,4% requisita livros nas bibliotecas
50,9% não lê banda desenhada

As bibliotecas da cidade são a forma mais comum para se terem os livros que não se compram, com 55,4 por cento dos jovens a frequentarem estes espaços para levarem obras para casa. Mais de 25 por cento pede livros emprestados aos amigos. Os autores do estudo sugerem um papel mais pró-activo da rede de bibliotecas de Macau, de modo a cativar mais estudantes.
O número de livros lidos pelos estudantes de Macau não é significativo, mas a variedade de estilos é relevante. O romance é o género de eleição, mas as obras biográficas, os livros sobre ciências naturais, filosofia e arte estão entre as preferências dos adolescentes.
As respostas dadas pelos estudantes do ensino secundário complementar quando se pede para eleger o livro favorito revela diversidade nas escolhas, que vão dos clássicos chineses, como “A verdadeira história de Ah Q”, de Lu Xun, às aventuras de Harry Potter.
As opções literárias dos estudantes da RAEM ficam, contudo, aquém dos hábitos dos alunos de Pequim e Xangai, no que à diversidade e profundidade de conteúdo diz respeito. Nas duas principais cidades chinesas, os jovens lêem Gabriel García Marquez, Arthur Schopenhauer, Chekhov, Milan Kundera, Italo Calvino, Li Ao e Wang Xiaobo, entre outros. O contraste é grande com Hong Kong, que apresenta um cenário bem mais pessimista do que o verificado em Macau, na medida em que os hábitos literários são essenciais para a capacidade de comunicação.
Os responsáveis por este estudo indicam que 42 por cento dos jovens de Hong Kong não são capazes de ler um livro por mês. As actividades extracurriculares preferidas são passear e conversar; já aqueles que lêem, elegem como favoritos escritores de Hong Kong, como Ah Nong, Au Lok Man, Ho Chin e Ni Kuang, autores de histórias para crianças e de literatura classificada como “cor-de-rosa”.
A escritora de Taiwan Fu Yue An, que fez a análise dos hábitos literários dos dois lados do Estreito, considera que as obras lidas pela juventude de Hong Kong pouco têm a ver com a cultura chinesa. “Temos razões para acreditar que, comparativamente com outras cidades, os horizontes literários dos adolescentes de Hong Kong são muito limitados”, acrescentou a mesma responsável.
Se bem que a situação seja melhor do que na região vizinha, os pais, professores e demais responsáveis do sistema educativo de Macau não têm razões para achar que o cenário dos jovens da RAEM é animador e devem ter um papel mais activo em matéria de criação de hábitos de leitura. Os autores da pesquisa assinalam que o facto desta nova geração se concentrar, em demasia, na imagem, dando pouco valor à palavra escrita, faz com que as capacidades de redacção, de compreensão e de comunicação sejam pouco desenvolvidas. Os livros são ainda essenciais para estimular a criatividade e abrem as portas para um mundo sem fim.
A análise da responsabilidade da Revista da Nova Geração foi feita com base em inquéritos distribuídos nas salas de aula das Escolas para Filhos e Irmãos dos Operários de Macau, Pui Ching, Estrela do Mar e Hou Kong. Foram preenchidos 269 questionários.
Isabel Castro com Ina Chiu
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn


Escalada desportiva vai defender Macau
nos Jogos em Recinto Coberto

Trepar o mais alto possível

Ao chegar ao Jardim do Lago, Ana Sofia não consegue despregar o olhar da parede de escalada desportiva com 15 metros de altura. A mãe, Adelina, lá acedeu aos pedidos insistentes, mas de nada adiantou. “Não pode subir, porque não tem sapatilhas”, informou o instrutor. A aventura da menina de oito anos de idade ficou então adiada para o próximo fim-de-semana. Todos os sábados e domingos à tarde, durante a maior parte do ano, os membros do Clube de Escalada Guia Macau (CEGM) estão estacionados no espaço verde situado na Taipa, na estrada que faz a ligação à ponte da Amizade.
Desde Julho que há, contudo, outro incentivo para se ligarem por cordas à plataforma. Estão a chegar os 2.os Jogos Asiáticos em Recinto Coberto (JARC) e a RAEM vai ter dois representantes na disciplina de escalada desportiva, inserida na modalidade de desportos radicais. Há que trepar muito para conseguir alcançar as finais e subir o mais alto possível na tabela de classificação.
Macau vai fazer-se representar por dois atletas, que participam em masculinos e femininos. Além da escalada desportiva, a modalidade de desportos radicais vai incluir bicicleta stunt, skateboard e patins em linha vert. Leo Fong e Uni Cheong serão, portanto, os únicos defensores das cores da bandeira da RAEM no conjunto das actividades que privilegiam a adrenalina.
“Vou fazer os possíveis para entrar na semifinal, mas vai ser difícil porque os adversários são mais profissionalizados e fortes. Vem muito pessoal de locais que promovem esta modalidade há muitos anos, como a China, o Japão, a Coreia do Sul e Hong Kong”, explicou, em declarações ao Tai Chung Pou, o estudante de Desporto do Instituto Politécnico de Macau.
É com o mesmo espírito com que escala a parede do Jardim do Lago que o jovem de 24 anos encara a competição desportiva que terá início no dia 26 deste mês. “Não sinto qualquer tipo de pressão, porque já estou habituado a este tipo de eventos. O mais importante é divertir-me”, frisou sorridente.
Leo já enverga o arnês, o cinto revestido que amarra o atleta à corda, como se de outra peça de vestuário se tratasse. Descobriu o prazer de escalar há cerca de seis anos e já perdeu a conta aos torneios em que participou. “Em Maio ou Junho deste ano, fiquei em 2º lugar no Torneio Aberto de Hong Kong”, recordou.
A última participação do atleta numa competição foi em Julho, num torneio organizado pela Universidade de Macau. Foi a partir desde evento, que a CEGM seleccionou os representantes da RAEM nos JARC. Leo e Uni subiram mais alto e mais depressa e isso deu-lhes acesso directo ao Pavilhão da Universidade de Ciência e Tecnologia, as instalações que foram construídas de raiz para acolher os desportos radicais.
Experiência também não falta à residente de 29 anos de idade que vai disputar o pódio nos femininos. A professora de Geografia vive entre as cordas dinâmicas, fitas e cordeletes há cerca de seis anos e, tal como o colega de equipa, participou nos últimos JARC. Em Banguecoque, corria o ano de 2005, a exibição do duo de Macau não foi muito expressiva, ficando-se pelos últimos lugares da tabela de classificação.
A pouco mas de 15 dias da segunda edição do evento desportivo, a praticante sente a tensão e a ansiedade a aumentarem. “Desde que participei na competição na Tailândia que comecei a sentir-me mais pressionada. Além disso, estou muito preocupada com a minha condição física, porque me feri na perna”, notou ao Tai Chung Pou.
A escalada desportiva divide-se em diferentes variantes. Normalmente, esta modalidade é praticada em pequenas falésias que variam entre 20 e 60 metros de altura sob condições controladas de segurança. Nos JARC, porém, os atletas vão escalar debaixo de tecto.
O pavilhão que está a ser ultimado no Cotai vai albergar a segunda parede com medidas estandardizadas do território. Os praticantes têm que trepar paredes preparadas com adarras, simulando pedaços de pedra e situações encontradas nas rochas naturais, como desníveis, inclinações negativas (com mais de 90 graus), tectos, obstáculos, etc.
Tudo será preparado para que os atletas tenham que enfrentar situações semelhantes àquelas encontradas no meio natural. Para isso, vão ser criadas vias com diferentes níveis de complexidade, o que vai exigir níveis distintos de técnica e esforço físico.
A escalada desportiva implica que os praticantes possuam uma certa resistência e força físicas. A pensar nos JARC, Leo tem vindo a desenvolver um programa de treinos durante cinco dias por semana que também inclui trabalhos de ginásio.
No Jardim do Lago, o jovem aproveita ainda para transmitir os seus conhecimentos aos residentes que se sentem atraídos pelas alturas. Foi o que aconteceu com Jessica. “É preciso saber onde pôr as mãos e os pés”, frisou depois de uma primeira tentativa pouco feliz de trepar a parede.
Após algumas dicas dadas por Leo, foi a força física que traiu a jovem filipina que, já com os pés bem assentes na terra, não conseguia esconder a excitação. “Sempre quis experimentar, é muito divertido e quero voltar a fazer na próxima semana”, acrescentou.
O local onde mora a única parede de escalada com as medidas estandardizadas tem, todavia, os dias contados. “Ouvi dizer que o jardim vai ser demolido, mas ainda não sabemos quando”, contou o responsável do CEGM, Rogério Nogueira.
“Estamos muito preocupados com a situação da modalidade após a demolição. Parece que a parede vai ser transferida para o jardim da Universidade de Ciência e Tecnologia, mas é apenas um zunzum e não temos ainda nenhuma certeza”. A estrutura adaptada para a prática de escalada desportiva foi inaugurada há quatro anos e partilha o espaço com dois campos de futebol e basquetebol, jardim e zona para piqueniques.

Escalada desportiva em Macau

Onde e como praticar

O Clube de Escalada Guia Macau (CEGM) é uma associação com mais de uma centena de membros e promove várias iniciativas para a comunidade. Todos os fins-de-semana, a partir das 15 horas, os elementos da associação fazem de ponte entre os cidadãos curiosos e a parede do Jardim do Lago, na Taipa.
A actividade é gratuita e está sob a chancela do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais. “Basta assinar o registo cada vez que se pretende escalar”, explicou ao Tai Chung Pou o responsável do CEGM, Rogério Nogueira.
O organismo governamental promove ainda, anualmente, em conjunto com a associação desportiva local, um curso de iniciação à escalada desportiva. De acordo com o mesmo responsável, a acção de formação, que tem a duração de 10 horas, aborda apenas as medidas de segurança.
“As pessoas aprendem como devem proteger o atleta que está a escalar. No final do curso, têm que fazer um exame e só depois podem entrar no nosso clube”, acrescentou Rogério Nogueira. Uma vez por ano, o CEGM organiza ainda visitas até Guiling, na China, para praticar escalada em montanhas verdadeiras. “Macau é muito baixo”, frisou o atleta.
A adrenalina das alturas atrai muitas pessoas para a modalidade. No Jardim do Lago, situado na estrada que faz a ligação à ponte da Amizade, os participantes dos jogos que se disputam nos campos de basquetebol e futebol param para assistir à exibição dos atletas.
No entanto, nas palavras de Rogério Nogueira, muita gente experimenta, mas poucas ficam agarradas à modalidade. “É um desporto que implica bastante energia, resistência, prática e a realização de muitos cursos”.
Alexandra Lages
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn


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