quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O que falta ao atletismo de Macau

Selecção de Macau faz últimos preparativos para Recinto Coberto

Uma longa distância até à meta

A Cerimónia de Abertura dos 2.os Jogos Asiáticos em Recinto Coberto de Macau (JARC) realiza-se na próxima sexta-feira e todos, da organização aos atletas, estão a fazer os últimos preparativos para que tudo seja perfeito.
A selecção de atletismo de Macau não é excepção. No entanto, segundo o técnico principal, Hou Li Jian, há um pormenor em falta que pode ser crucial – o espírito vencedor. Só assim é que a equipa da RAEM pode sonhar com bons resultados.
No evento teste que teve lugar no domingo passado na Nave dos Jogos da Ásia Oriental, no COTAI, o treinador observava com atenção o desempenho da sua formação. “Não está suficientemente bom”, explicou a um atleta. O responsável chinês está radicado no território há um ano, após ter sido recomendado à Associação de Atletismo de Macau (AAM) pela Administração Geral do Desporto da China.
Actualmente, Hou Li Jian tem sob o seu comando 22 homens e 12 mulheres que irão participar em 19 de um total de 26 provas de atletismo em recinto coberto. Pao Hin Fong faz parte do grupo em masculinos e está a treinar para a corrida dos 60 metros. Na RAEM, é o dono do recorde local, por isso os sonhos do jovem de 21 anos estão focados nas finais.
Um dos lugares do pódio e superar os tempos individuais são os objectivos traçados para os JARC pelo estudante do Instituto Politécnico. O receio em fazer uma má exibição tem sido o único travão da determinação do atleta. Pao está, contudo, a esforçar-se por transformar a pressão em motivação na vitória. “Temos que encarar o lado positivo: é melhor competir na nossa terra com a família a apoiar-nos. Sinto-me muito bem quando penso nisso”, destacou.
O atleta já contava com oito anos de experiência competitiva no “desporto base” quando conheceu o seleccionador de Macau num torneio inter-escolas. Daí foi um salto para os eventos internacionais, uma oportunidade única para conhecer outros países e diferentes técnicas de treino, destacou o jovem. As recordações da participação no 11º Campeonato Mundial de Atletismo, na cidade japonesa de Osaka, ainda fazem cintilar os olhos de Pao. “Tenho muito orgulho em ter a oportunidade de competir entre atletas de renome internacional, representando ainda uma experiência muito enriquecedora”, vincou.
Tal como outras equipas locais que vão estar em campo nos JARC, a selecção de atletismo é formada por amadores e o técnico principal não consegue ignorar este facto. Na China, Hou Li Jian trabalhava com atletas profissionais. Em Macau, é responsável por um grupo que não tem disponibilidade para cumprir um calendário de treinos mais rigoroso, bem como não possui instalações desportivas próprias e definitivas.
Durante todo o ano, as duas formações da RAEM estão em exercício três ou quatro dias por semana. E nem com a participação nos JARC houve oportunidade para intensificar o programa de preparação. “A maior parte dos membros da equipa é formada por estudantes que têm que dividir o seu tempo com a escola. Logo, a disponibilidade de cada um para treinar fica muito reduzida”, apontou o mesmo responsável.
A questão da falta de profissionalização é um problema já bem conhecido do desporto do território, mas as preocupações de Hou Li Jian estão concentradas noutro aspecto – a garra dos membros da selecção da RAEM. “Ao contrário os chineses, eles têm falta de motivação e confiança na vitória para honrar a bandeira do território. Há o predomínio de um espírito amador, sendo que partem para as competições mas não se importam se os resultados são bons ou maus”, lamentou, acrescentando que melhores instalações desportivas de nada servirão se os atletas não tiverem vontade de treinar.
Empenhada em mudar o estado das coisas, há uma década que a AAM tem apostado na contratação de treinadores da China. Mesmo assim, o profissionalismo dos praticantes e dos técnicos locais ainda não atingiu um nível satisfatório aos olhos de Hou Li Jian. A outra missão do seleccionador é convencer os atletas a concordarem com um programa de treinos mais intenso, durante todos os dias da semana.
As provas de pista e campo em recinto coberto são provavelmente as mais competitivas nos JARC. O técnico principal espera que a equipa da RAEM esteja numa posição em que consiga competir, no verdadeiro sentido da palavra, na corrida de curta distância e nos saltos. Chegar às finais, entre os oito primeiros, é uma esperança, não uma convicção, salientou.
No final das contas, o evento desportivo que arranca na sexta-feira é uma boa oportunidade para a selecção de Macau ganhar experiência e o entusiasmo desportivo que o treinador tanto almeja.
Kahon Chan com Alexandra Lages


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