domingo, 30 de setembro de 2007

Henrique de Senna Fernandes, Os labirintos escondidos


Henrique de Senna Fernandes

O miúdo que escrevia romances de amor

Como todas as histórias que realmente merecem ser contadas, foi uma história de amor que esteve no início de tudo. Andava no liceu, adolescente, tinha começado então o primeiro ano da década de quarenta do século passado. Ela era “tão bonita, tão realmente bonita”, uma das mulheres mais bonitas de Macau, e ele apaixonou-se. Ao contrário dos filmes, a história não teve um final feliz. “Foram desencontros e mais desencontros, más compreensões” e aquele “amor platónico” nem sequer vivia das palavras, que não se falavam. Mas há um dia no liceu em que desceu do primeiro andar para o rés-do-chão e cruzaram-se. “Deitou-me um olhar rápido, mas tão perturbador. Mas este parvo não fez mais nada, não soube actuar”, recorda. “São esses pequenos desencontros que decidem a vida das pessoas”. Este foi, talvez, o mais decisivo.
As aulas acabavam às 4h30, antes das seis já estava em casa. “Estava tão inspirado, já estava na minha mente fazer uma história. Fui para a sala de jantar, papel branco almaço e lápis, escrevi ‘capítulo primeiro’. E fiz uma história, o meu primeiro volume”. O livro acabou por se perder, juntamente com outros. Da história de amor ficaram as memórias e a descoberta que a escrita pode ser a fuga que leva ao reencontro.
Na verdade, o princípio da história, não a de amor mas a da escrita, começa mais cedo, tinha 11 ou 12 anos. Henrique de Senna Fernandes conta histórias como quem come cerejas, elas vêm todas juntas e só assim fazem sentido. Advogado de formação, curso tirado em Coimbra, foi a escrita que o marcou. Viveu oito anos em Portugal e sobre o país onde ficava a metrópole também escreveu, pois grande era o deslumbramento. Mas foi Macau que passou para os livros, em “Amor e Dedinhos de Pé” e em “A Trança Feiticeira”, entre outros volumes, alguns perdidos, outros editados. Enquanto fala gesticula muito, como se as mãos escrevessem no ar, num escritório da Praia Grande, que noutros tempos “era mesmo a praia grande, o mar chegava aqui”.
Desses tempos vem, então, o princípio da história. Desta vez, não de um desencontro mas sim de um encontro, com um professor da escola primária, do quinto ano, opcional para os alunos que se queriam preparar melhor para o liceu. “Foi decisivo para a minha vida nas letras. Era um profundo conhecedor da língua portuguesa, um homem muito esquisito, que tinha estudado para ser jesuíta, todo ele era jesuíta”. Pelo meio o escritor contextualiza a dificuldade que era, para os miúdos de Macau, com forte influência da língua chinesa, aprender o português que vinha do outro lado do mundo. O drama do jovem Senna Fernandes eram os verbos, com todos os imperfeitos, perfeitos e mais-que-perfeitos que a língua exige na conjugação. “Aprendi os verbos à força, na terceira classe”, recorda. Verbos mais ou menos dominados, a prosa vem pela influência do tal professor, através das redacções.
“Ele tinha um livro chamado Leituras Morais, em que se exaltavam as virtudes e se carregava nos defeitos. Pegava no livro e contava uma história, lendo. Tínhamos que reproduzir a historia à nossa maneira.” A redacção que mudou a forma de olhar as palavras era sobre a inveja. “Escrevi e entreguei. Eu era um dos melhores a português, lia muito desde pequenino, o meu pai incutiu-nos o gosto pela leitura”, explica. Quando viu os traços a vermelho – alguns verbos ainda por apurar – veio a desilusão, que passou, no entanto, depressa. E isto porque, conta, o professor gostou, disse-lhe que ele “tinha ideias, continua”. Foi a “palavra mágica”, que o deixou “radiante”. “Fui para casa, contei aos meus pais, mostrei, fiquei muito contente”. O professor “disse que era preciso ler muito e comecei a ler ainda mais do que lia”.
“Deu-se na vizinhança um incêndio e os bombeiros regaram as casas todas, o prédio que ardeu foi o vizinho mas os edifícios eram velhos, a água entrou no meu escritório de tal ordem que o telhado desabou. O baú apanhou água. Quando fui tirá-lo, bem como os livros que lá estavam, já não se aproveitava nada”.
Os anos que separaram a quinta classe ao encontro no rés-do-chão do liceu foram mais de leituras do que de escritas. Ao primeiro volume, que não foi publicado, “nem podia, era muito infantil”, escrito com 17 anos, seguiram-se muitos, “uns dez no tempo do liceu”. Se o primeiro foi obra de uma paixão, os que se seguiram foram uma fuga à realidade. “A guerra começou na Europa em 1939 mas chegou ao Oriente em 41, quando os japoneses atacaram Hong Kong,” enquadra Senna Fernandes. “O meu pai perdeu a fortuna toda que tinha, ficámos praticamente na miséria. Mas uma coisa foi legada pelos nossos antepassados: um imenso orgulho, que vem da educação que recebi, o orgulho de esconder a miséria e o sofrimento”. E assim foi fugindo para os livros, escrevendo histórias. “Tinha como leitoras as minhas irmãs”.
Seguiu-se Coimbra, os tempos da universidade. As histórias acompanharam-no, arquivadas num baú, que foi para Portugal e voltou para Macau. Destes primeiros escritos, não sobram vestígios. “O baú foi para o meu primeiro escritório, na Avenida Almeida Ribeiro. Deu-se na vizinhança um incêndio e os bombeiros regaram as casas todas, o prédio que ardeu foi o vizinho mas os edifícios eram velhos, a água entrou no meu escritório de tal ordem que o telhado desabou. O baú apanhou água. Quando fui tirá-lo, bem como os livros que lá estavam, já não se aproveitava nada”.
Outras histórias viriam a ser escritas – as que foram publicadas e que inscreveram Senna Fernandes na literatura lusófona. Se nos tempos de Portugal os escritos eram sobre “um Portugal mítico, que não tinha visto ainda”, nos textos redigidos em Macau o amor volta a ser o tema principal. O profundo conhecimento da terra onde nasceu, os passeios com o pai pelas várias cidades que Macau sempre foi, servem de mote a contos e romances, como a história de A-Chan, a tancareira que se apaixonou e teve um filho demasiado louro para ser possível esconder a origem do progenitor. “A A-Chan é, em parte, fruto da imaginação, mas fisicamente existiu”, conta, “porque eu vi-a”. Uma das personagens centrais de “A Trança Feiticeira”, A-Leng, também era real, “era tão bonita”. Adozindo, que com A-Leng vive o amor proibido, “é uma mistura de muitas pessoas, com traços de uns e de outros”.
Nos livros de Senna Fernandes encontram-se, espelhadas nas histórias de amor, as diferenças sociais e preconceitos da época, em que amores vividos entre etnias distintas “eram complicados”. Em Hong Kong “era pior, havia a elite, as pessoas a que hoje chamam eurasianas eram muito discriminadas”. Como a Maria Marinheiro de Macau, filha de um marinheiro que abandonou a descendente, “bailarina de um cabaret que existiu no Porto Interior, chamado O Gato Preto, uma rapariga linda, uma chinesa com traços europeus”, personagem de uma história que o escritor ainda quer passar para o papel.
De regresso às personagens que já ficaram para a história, Henrique de Senna Fernandes explica o processo de construção dos actores dos seus livros. “Fisicamente as personagens existem, ou eram misturas de várias pessoas, depois deixa-se correr a imaginação. Certos factos eram retirados da vida de Macau daqueles tempos”. Uma vida muito mais calma, entre festas em enormes casarões e passeios pelos bairros da cidade, porque o escritor espreitou tudo. De “Amor e dedinhos de pé”, revela a inspiração para a construção de Victorina Vidal, a donzela que não obedecia aos padrões de beleza da época. “Existiu e ela própria sabe que é ela,” ri-se.
A carga autobiográfica também está lá, “pela forma como se sentem as coisas” que surgem nos livros. O Adozindo de “A Trança Feiticeira”, jovem que, por amor, perde a vida confortável que tinha, é a personagem que tem mais de Senna Fernandes, confessa, pela “sua desgraça, porque eu senti muitas vezes o que é a pobreza”.
Do passado para o presente. Henrique de Senna Fernandes tem 83 anos e continua a escrever, embora sem obra que planeie editar em breve. Um manuscrito em que ressuscitou algumas personagens de “Amor e Dedinhos de Pé” perdeu-se “no antigo escritório, no meio daquela papelada toda”. Há um outro livro, “faltam poucos capítulos para acabar mas eu já o estraguei”. Há que o deixar respirar e depois logo se vê, mas fica desde já a fórmula e o conselho: “Pego num papel e escrevo, o primeiro jacto é sempre muito lacunoso, mas é preciso ter aquela base. Depois começo a construir. No entanto, a minha experiência diz-me que não se deve demorar muito a tentar melhorar, porque acabamos por, no fim, estragar o livro”.
Henrique Senna Fernandes diz sentir “um isolamento em Macau” e adivinha-se muita prudência à publicação dos seus escritos actuais. Uma história passada há coisa de dez anos, que diz recordar sem mágoa, está na origem da desmotivação. “Uma das coisas que me quebrou o ritmo foi quando pensei em concorrer com o ‘Amor e Dedinhos de Pé’ a um prémio em Portugal. Numa conversa em Lisboa alguém me disse que dificilmente poderia ser considerado um escritor português, eu sei que quem o disse não teve a mínima intenção de me ofender, foi com boa fé”. Na altura riu-se do comentário, mas não concorreu. Para o então septuagenário que tem Portugal catalogado como “a Pátria e Macau a Mátria”, ficou a certeza de poder dizer que “sim, sou um escritor de Macau”, numa terra pouco pródiga em matéria literária local.
Para o fim fica o amor, o regresso ao amor. Senna Fernandes contempla a beleza com modos de outros tempos, em que “as paixões eram terríveis”, o olhar sorri quando percorre as memórias das mulheres bonitas, dos amores que teve, de outros que imaginou. A história de amor dos 17 anos, a que deu origem à inspiração e ao primeiro volume, teve um segundo capítulo, o final necessário para a vida em paz. Tanto ele como ela já estavam perto dos oitenta, quando finalmente conversaram e compreendeu “perfeitamente os erros” que fez “e, se calhar, ela também”. E porquê o amor, porquê sempre presente? A resposta dá-se em duas frases, de tão simples que é. “O amor e o sexo têm uma influencia enorme na vida de uma pessoa. Praticamos erros imensos, outras vezes é a redenção”.
Isabel Castro
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn

Passos em volta

Esta cidade é como as pessoas: quando se olha para o mapa, não se encontram duas ruas iguais. Cada bairro tem as suas histórias, vontades, artes, desejos, esperanças e desesperos. Os seus segredos sussurrados. São passos em volta à redescoberta da urbe.

Da Travessa do Armazém ao Mercado de São Domingos

Os labirintos escondidos

São travessas em que é difícil andar em grupo, que não têm largura para mais do que duas pessoas a par. São becos com saída, que servem de ligação a pequenos pátios e ruas, numa malha urbana complicada, nascida da necessidade da construção de porto de abrigo. Neste ponto da urbe, parece que estamos noutra cidade: é a Macau do tempo em que as construções se faziam à escala humana.
Deixamos hoje um verdadeiro desafio aos sentidos mas principalmente à capacidade de orientação. Numa cidade que se percorre rapidamente e que se conhece com relativa facilidade, é sempre surpreendente a capacidade que alguns locais têm de nos baralharem o norte-sul-leste-oeste dos passos.
Continuamos em volta do Bazar, a zona chinesa de Macau quando a cidade estava dividida em duas. Partimos da Rua da Tercena, que surge no prolongamento da Rua dos Ervanários, ali no entroncamento com a Rua das Estalagens. Seguimos no sentido do Porto Interior.
No cruzamento entre a Rua da Tercena e a Travessa do Armazém Velho, ponto onde começa esta viagem, a primeira paragem, só para olhar para a placa toponímica que identifica a artéria. A Travessa do Armazém Velho tem uma história antiga e cheia de contornos dramáticos. Contava o P. Manuel Teixeira, no livro “Toponímia de Macau” que, em cantonês, esta artéria dá pelo nome de “Lan Kuai Lau”, o equivalente, em português, a “casa arruinada e endemoninhada” ou “ruínas da casa de estilo estrangeiro”.
A designação no dialecto local surgiu no séc. XIX, quando Yeong Yeok Ym, emigrante bem sucedido na América, construiu uma casa em Macau com varanda, pormenor arquitectónico reproduzido de imediato pelos vizinhos. Começou a chamar-se ao edifício a “casa estrangeira” (kuai lau). O proprietário voltou para a América e alugou a casa a um outro emigrante, Uong Mau que, chegado da Malásia, se metera no “escuro negócio da emigração”, um eufemismo de Manuel Teixeira para o tráfico humano de que se ocupavam alguns “homens de negócios” de Macau. Os “emigrantes” eram trancados nos gudões da casa das varandas até serem enviados para Havana. Em Janeiro de 1835, o incêndio na igreja e no Colégio de São Paulo chegou à “casa estrangeira”. Conta-se que os trinta escravos que lá estavam morreram, uns carbonizados, outros ao saltarem da varanda para a rua. A casa ficou muito tempo em ruínas, o que deu origem ao nome da rua em cantonês.
Da Travessa do Armazém Velho vira-se à esquerda para encontrar o Beco do Canto. “Não tem nada de especial, é só uma passagem”, explica o designer Manuel Correia da Silva, o anfitrião destes passos em volta. É mais uma oportunidade para admirar os nomes das artérias da cidade. “Serve de ligação ao Beco da Ostra, esse sim, um espaço muito interessante”.
Os becos em Macau têm saída, são artérias de ligação. No Beco da Ostra, tem-se acesso “a um pequeno oásis, em decadência, com casas de dois andares, tipicamente chinesas”. Aqui moram os vendedores do mercado dos tin-tins, deixado para trás no início da Rua da Tercena. E é aqui que o beco se transforma num pátio, “o som vai-se abaixo, o tempo passa com outra cadência, as pessoas jogam mahjong ao meio-dia”, destaca Manuel Correia da Silva. “Há um lado comunitário muito forte nesta zona da cidade. O conceito de vizinhança é muito forte”, diz. “Há sempre um templo em todos estes pequenos espaços, que são muito vividos”.
Numa zona que vai sobrevivendo com intervenções pontuais que não chegam para travar a degradação dos edifícios, mas que mantém um importante legado histórico, o designer lança a questão que se coloca em relação ao chamados bairros antigos da cidade. “É preciso tentar perceber como é que se pode recuperar tudo isto, para que as pessoas que cá estão possam viver melhor, sem destruir o encanto mais cru desta parte da cidade”.
A saída do Beco da Ostra é estreita e vai dar àquilo que Manuel Correia da Silva chama “a rua da fruta”. De ambos os lados da artéria, estão armazéns que conservam os mais variados tipos de fruta e que são a base de abastecimento da cidade. “Aqui o cheiro é diferente, a luz também, os toldos cobrem a rua e transformam-na completamente. Durante o dia não se consegue passar de carro, porque está ocupada pelas camionetas que carregam os produtos”. É uma artéria tapada, protegida pelos tradicionais plásticos tricolor, como se toda ela fosse um enorme armazém.
Na realidade, a “rua da fruta” tem o pomposo nome de “Rua do Teatro”, mas de um espaço para esse fim ou de representações artísticas ao ar livre não existe qualquer vestígio. O contraste com os armazéns faz-se, de novo, pela presença de um templo, este “recuperado recentemente”, localiza Manuel Correia da Silva.
Da Rua do Teatro vamos para o Pátio da Eterna Felicidade, nome para não cair no esquecimento. Este é um labirinto bem escondido: a entrada em nada indica tratar-se de um espaço público, é um túnel estreito com tecto de madeira que mais parece ser o acesso a uma casa. “Andando por aqui vamos ter a este pátio, com estas casas de construção tipicamente chinesa”, diz Manuel Correia da Silva. “Foram fechadas há pouco tempo, serviam de tecto aos sem-abrigo. O facto de terem sido fechadas leva-me a acreditar que mais cedo ou mais tarde serão recuperadas”.
No pátio encontra-se um homem que tira rótulos a centenas de garrafas. Não há qualquer outro elemento nesta banda sonora além do som do vidro. O pátio não termina ali, prolonga-se e dá lugar a umas escadas, com uns bons lanços, onde surge mais um conjunto arquitectónico tradicional chinês, mais uma vez “à espera de uma renovação”. Aqui nada respira, o silêncio é total.
A contrastar com a pequena rua de casas cinzentas que, na realidade, ainda faz parte do Pátio da Eterna Felicidade, surgem ao fundo dois ou três pequenos edifícios coloridos. Um deles tem uma porta ao nível do primeiro andar, deixando imaginar uma varanda que desapareceu ou uma escadaria que já não existe. “É uma porta pendurada, por ali é difícil entrar ou sair”.
Mesmo ao lado, um novo túnel, o Beco dos Faitiões, e a entrada na rua com o mesmo nome. É também o regresso ao barulho típico desta parte da cidade. Ao contrário de muitas ruas de Macau, em que os significados dos nomes das ruas são totalmente distintos conforme a língua que se emprega, neste caso estamos perante um vocábulo introduzido na língua portuguesa por adaptação do cantonês. “Faitião” é a conjugação de “fai” (veloz) com “teang” (barco), explica o P. Manuel Teixeira. É, portanto, a rua dos barcos ligeiros. “O nome foi dado à rua para comemorar a revolta dos marítimos chineses, a 8 de Outubro de 1846, contra o governador Ferreira do Amaral, por este ter imposto uma taxa sobre os seus barcos”, lê-se no primeiro volume da obra “Toponímia de Macau”.
Mais dois passos e aparece o Largo do Pagode do Bazar, “uma zona de descompressão num bairro em que tudo está comprimido”, sublinha Manuel Correia da Silva. Aqui é um ponto de encontro do bairro, de vez em quando há opera chinesa, conversa-se nos bancos que enfeitam o largo, mesmo em frente ao Pagode do Bazar, “dedicado aos deuses que protegeram esta zona da cidade das cheias”.
Quem se senta a olhar para a porta do pagode tem, nas suas costas, uma pequena rua que vai dar ao Porto Interior, exactamente no ponto do Cais 16, onde está a ser construído o projecto homónimo que está já a transformar a fisionomia desta linha da urbe. Do lado esquerdo do pagode, vê-se a Rua das Estalagens, que na extremidade oposta toca com a Rua dos Ervanários. Estas duas artérias, juntamente com uma outra, fazem parte de um conjunto que em tempos deu origem à primeira associação de beneficência de Macau, a “Associação das Três Ruas”, explica Luís Gonzaga Gomes. Era este também o ponto comercial de maior relevo da “incipiente Macau”.
Dando um salto no tempo, e ainda sobre a Rua das Estalagens, a referência ao facto de o fundador da República Chinesa, Sun Yat Sen, ter ocupado uma casa desta artéria, durante uma das suas estadias em Macau. Além de lá ter praticado medicina europeia, “foi nessa residência que se realizou, pela calada da noite, importantes conciliábulos antimonárquicos”, foi “o ninho onde estas águias chocaram o plano que derrubou a dinastia manchu, pelo que se pode considerar o berço da República Chinesa”, assegurava o P. Teixeira.
Outro salto para o presente, passa-se a porta colorida do pagode, que se deixa à nossa esquerda, para seguirmos por uma rua, esta com dimensão suficiente para passarem veículos. Corte à esquerda, novo beco, agora vai-se sempre em frente, rumo ao Mercado de São Domingos, pretexto para exploramos as zonas de comércio tradicional da cidade, em novos passos em volta.
Manuel Correia da Silva*, percursos e imagens
Isabel Castro, texto
* É designer em Macau. Em 2004, foi o vencedor de um concurso do Instituto Cultural sobre os percursos históricos da cidade, no âmbito da conservação do património de Macau.


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