quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Manuel Silvério em discurso directo



A polémica em torno das finanças dos Jogos da Ásia Oriental foi aproveitamento político de pessoas menos bem intencionadas, diz o ex-presidente da MEAGOC. Numa entrevista em que não fala só de Desporto, o homem que lidera a equipa dos Asiáticos em Recinto Coberto defende porque é que Edmund Ho é o líder certo para a RAEM.









Manuel Silvério explica legado dos eventos desportivos em Macau

Uma questão de auto-estima

Qual é a dimensão real dos Jogos Asiáticos em Recinto Coberto, em comparação com os anteriores eventos?
A dimensão dos Jogos Asiáticos em Recinto Coberto é grande, são 45 Comités Olímpicos Nacionais representando toda a Ásia aqui em Macau. Em termos de protocolo, a Ásia é grande e está dividida em cinco zonas, com uma infinidade de costumes e tradições todas diferentes. Desde o mundo árabe, passando pelos países da ex-União Soviética, até esta zona em que Macau se insere. São, portanto, protocolos diferentes dos Jogos da Lusofonia ou dos Jogos da Ásia Oriental.
No que diz respeito às modalidades desportivas, é totalmente diferente dos Jogos da Lusofonia, em que o denominador comum é a língua portuguesa, que une todo o mundo lusófono à volta de um projecto desportivo. Os Jogos da Ásia Oriental dizem respeito a uma das cinco regiões da Ásia, mas com modalidades tradicionais, as olímpicas. Os Jogos em Recinto Coberto são um projecto inovador, porque inclui modalidades não olímpicas, que têm uma grande participação dos jovens e um valor comercial e televisivo superior aos outros eventos desportivos.
Portanto isso dá um maior impacto em relação à projecção de Macau...
Exacto. Tenho confiança no sucesso destes Jogos. Para mim, vão ser os melhores Jogos se comparados com os dois anteriores. Olhando para todos os dados que temos ao nosso dispor - o número de países e territórios participantes, a grandeza e diversidade do continente asiático que vai estar em Macau, o número de atletas, técnicos e convidados protocolares e patrocinadores – podemos aferir da grandeza dos JARC. Estes Jogos vão proporcionar a verdadeira internacionalização da marca de Macau e da sua capacidade organizativa.
Os dois Jogos anteriores quase se classificam apenas como ensaios para os Jogos em Recinto Coberto. Faltavam atrás deles organizações como o Conselho Olímpico da Ásia ou o Comité Olímpico Internacional, porque são organizações já testadas e muito experimentadas em termos de projecção de qualquer país.
Os Jogos em Recinto Coberto são uma propriedade do Conselho Olímpico da Ásia. O MAIGOC e Macau organizam, mas sob a égide, controlo e o grande acompanhamento do Conselho Olímpico da Ásia. O facto de Macau ter conseguido o direito de se candidatar para a organização destes Jogos e a confiança que em nós depositaram é um grande atestado de capacidade e de competência de Macau.
Tendo em conta a experiência dos anos anteriores, o que é que já foi conseguido por esta equipa?
As duas sociedades anónimas criadas pelo Governo da RAEM – a MAIGOC e a MEAGOC – foram autênticas escolas para muitos jovens recém-formados. Mais de 90 por cento dos meus colegas que estão aqui a trabalhar não tinha qualquer experiência em termos de organização de eventos desta natureza. Deste modo, formou-se muita gente, que está a mostrar capacidade para desenvolver mais trabalho deste género no futuro.
São destes projectos que Macau precisa para criar coisas muito concretas em termos de unidade territorial, coesão, inter-ajuda e auto-estima. Lembro-me que, a partir dos Jogos da Ásia Oriental, todos passaram a pensar e sentir “eu sou de Macau”. Deram-lhes oportunidades para irem lá fora concretizar aquilo que estavam habituados apenas a ver na televisão e deram-lhes um motivo para pensarem “deixemo-nos de outros assuntos e politiquices e vamos concretizar isto em conjunto”.

“Nunca houve derrapagem financeira, mas sim um aproveitamento da classe política e de algumas pessoas mal intencionadas contra o Governo”

Mas também houve críticas e polémicas associadas aos eventos.
O que se passou foi que, a seguir, as próprias pessoas de Macau destruíram, à volta da questão da chamada “derrapagem financeira”, o trabalho desenvolvido nestes últimos anos. Nunca houve derrapagem financeira, mas sim um aproveitamento da classe política e de algumas pessoas mal intencionadas contra o Governo, porque foi um sucesso. Houve uma politização em demasia de um projecto desta natureza, com resultados visíveis. Foi um sucesso reconhecido, ninguém imaginou que Macau pudesse organizar isso. Só que já andam a bater na questão dos Jogos da Ásia Oriental há quase dois anos. E novamente a questão da auditoria. Está tão claro como a água.
Mas apesar das explicações dadas, o certo é que volta e meia há uma nova interpelação...
A Assembleia Legislativa já nos disse, da última vez que lá fomos, que está satisfeita, não é preciso voltar mais e o assunto está esclarecido. Todos os anos cumprimos o orçamento. Em nenhum ano foi gasto mais do que aquilo que estava orçamentado. Tanto que nós temos que dar contas aos nossos accionistas, ao Conselho Fiscal e ao próprio Comissariado de Auditoria.
O próprio Comissariado de Auditoria dizia no seu relatório que as contas estavam legais e verdadeiras. Só que depois, a auditoria em matéria de construção - lá está o apontar mal as armas - deu a entender que eu fui o grande mentor e convenci o Governo que devíamos fazer isto e aquilo para os Jogos. Só que eu não tenho esse poder. Há serviços próprios. A Função Pública de Macau sempre viveu na base da suspeição. É mais fácil tentar incriminar alguém do que descobrir a verdade.
O que é que vai ficar depois de acabados os Jogos em Recinto Coberto?
Aquilo que foi construído foi um investimento. As coisas não desapareceram. Estão aqui e são utilizadas pelas pessoas de Macau. As estatísticas falam por si, porque há instalações que todos os dias estão a ser solicitadas e, inclusivamente, há “over booking”. Se fossem construídas agora custariam o triplo ou o quádruplo do preço de mercado.
Faltava um campo de futebol, aulas de educação que eram feitas ao ar livre no meio da poluição e agora existem pavilhões com toda a segurança e higiene. Até então, a natação era praticada no Porto Exterior ou na confusão da piscina do Estoril. Agora temos uma piscina que é das melhores da Ásia, a água é a mais límpida. Em termos de convenções e reuniões, temos a Nave Desportiva dos Jogos da Ásia Oriental em que até já foi feito o Fórum de Cooperação entre a China e dos países de língua portuguesa. Gostava de lembrar que em 2000, quando a RAEM celebrou o primeiro ano, o Governo teve que improvisar um fórum com colunas de cortiça, tudo artificial para fazer o banquete com o Presidente. Ainda estávamos a improvisar para fazer um banquete apenas para cem pessoas. Hoje, no Dome, conseguimos pôr lá duas mil e tal pessoas sentadas. Qualquer cidade de qualquer país moderno, merece umas instalações destas.
As pessoas não têm nada que misturar o investimento feito com infra-estruturas desportivas e de apoio com despesas do evento ou para formação das pessoas. São duas coisas diferentes.
A polémica em torno dos Jogos da Ásia Oriental é apenas um dos ingredientes de uma situação política complicada. Como analisa o actual estado da Região?
Fala-se agora de uma fragilização do Executivo e numa longa agonia até 2009. Até parece que se devia encurtar o caminho e fazer como em Hong Kong.
Eu não vejo as coisas desse modo. O Executivo que temos é capaz e deve acabar o mandato para o qual foi nomeado. O Chefe do Executivo é o homem certo e o líder da RAEM. Tenho um grande orgulho em ele estar a chefiar-me, assim como me sinto muito honrado por ele ter exercido o cargo de presidente do Comité Olímpico de Macau. Ao longo dos anos que está à frente de Macau, tem sempre procurado estabelecer um diálogo com todos. Tem dado oportunidade às diversas forças para se expressarem. Temos, todos nós incluindo o Chefe do Executivo, que admitir que o Governo está numa fase de aprendizagem. Por isso, não se deve apagar tudo o que este Executivo fez de realmente positivo. Os anos que estão para trás foram extremamente benéficos para Macau. As análises têm que ser feitas com o puzzle completo e não com uma peça.
Atendendo ao clima generalizado de crítica, o que é que deve ser feito para avançar com o mandato até ao fim?
Pegando numa afirmação bem portuguesa, é preciso “pegar o touro pelos cornos”, enfrentar os problemas, mas explicá-los de uma forma real e frontal, procurando soluções. Para tudo isto tem que haver coragem. Todos aqueles que estão no Governo e que vão deixar de governar daqui a dois anos não vão emigrar, vão continuar aqui. Essa é a grande diferença em comparação com o tempo da Administração portuguesa. Eu julgo que eles vão encarar e abraçar esses problemas com coragem e determinação, porque com certeza o Governo Central, a população e a Função Pública vão dar esse apoio.
Estamos num momento em que a pequena sociedade de Macau está a mudar. Assiste-se a uma invasão progressiva de pessoas que não conhecem as regras do jogo ou as especificidades de Macau. Falo de australianos, de americanos, de novos residentes chineses. Por isso, a palavra de ordem é “Cada macaco no seu galho!”. E não há muito tempo para se arrumar isso.

Luís Ortet
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn


Temporada de concertos 2007-2008 arranca amanhã

Uma orquestra à medida da cidade

O concerto com Maria João Pires é um dos momentos altos do ano, mas são outros os nomes sonantes para a temporada musical que amanhã começa no grande auditório do Centro Cultural. O pianista Yundi Li é o convidado da Orquestra de Macau para o concerto de gala integrado no Ciclo de Grandes Mestres, um programa para desenvolver ao longo do ano e que se insere numa lógica de continuidade do trabalho feito pela formação.
“Queremos dar à população de Macau concertos melhores e aumentar o padrão de qualidade da Orquestra”, sintetiza o director geral da formação, Cao Yi Ji, acerca dos objectivos para a temporada que agora começa. A par da melhoria de qualidade, a manutenção dos espectadores já conquistados, a captação de novas audiências e a formação de novos públicos são as principais ideias que presidem à escolha de repertório e método de trabalho da Orquestra. “Tentámos ainda escolher um repertório com músicas conhecidas, de modo a atrair pessoas”, explica Cao, destacando obras como a Sinfonia do Novo Mundo, de Dvorák, e a Sinfonia nº 5 de Beethoven.
Em ambos os casos, são concertos integrados no conceito dos Grandes Mestres, ideia que trará a Macau instrumentistas como os violinistas Pinchas Zuckermann, Pan Yinlin, Antje Weithaas e o pianista Alexander Melnikov, entre outros (ver texto nesta página). Quanto aos maestros, a Orquestra destaca Matthias Bamert e Philip Pickett, que ao longo do ano tem En Shao na direcção da formação.
No que toca ao repertório, a temporada divide-se em cerca de trinta programas musicais diferentes, para quase quarenta actuações. O director geral vinca dois momentos do ano, ambos no próximo mês. O primeiro é a Rigoletto, a ópera em três actos de Giuseppe Verdi, que vai ser tocada nos dias 5, 6 e 7. Para Cao Yi Ji, adquire ainda particular relevância o concerto do dia 13 de Outubro, “com a estreia de composições contemporâneas da música chinesa e a presença dos compositores em Macau, que irão explicar ao público o seu trabalho”. Lá mais para a frente, em Abril, a ópera Tosca, de Puccini, vai ser apresentada “pela primeira vez em concerto”.
A temporada é destinada à população de Macau em geral mas há momentos específicos do ano, em que os músicos sobem ao palco para tocar para públicos especiais. “No Dia da Criança, vamos ter um concerto explicado aos mais jovens. Estamos a colaborar também com associações de Macau e a desenvolver um programa de concertos educacionais, temos ainda concertos multimédia”, refere.
É através deste trabalho de criação de novos públicos que se conseguiu, de acordo com o director geral, alterar o cenário da música erudita em Macau. Quando veio ao território pela primeira vez, corria o ano de 1993, com a Orquestra Sinfónica de Xangai para o Festival Internacional de Música, o panorama era diferente. “Em 2002, comecei a trabalhar com a Orquestra de Macau. Sinto que nestes mais de dez anos houve uma grande evolução, Macau é agora mais rica e diversificada em termos musicais”.
Aquela que é já a quinta temporada da reestruturada Orquestra de Câmara de Macau – em 2001, o Instituto Cultural da RAEM decidiu aumentar o número de músicos e, em 2002 alterou o nome da formação – vai ser feita, na prática, por um grupo de cinquenta instrumentistas das mais variadas nacionalidades e proveniências. Músicos locais são alguns e a formação é um dos melhores exemplos da multiculturalidade da cidade. “A preocupação é a qualidade”, vinca Cao, “vamos sempre buscar músicos ao exterior quando é preciso, tanto para a própria Orquestra como na qualidade de músicos convidados”.
Os convites a instrumentistas de Hong Kong, da China e de Singapura são frequentes, uma vez que a Orquestra de Macau tem apenas cinquenta músicos, um número que tecnicamente é considerado ainda próprio de uma formação de câmara, que por norma integra quarenta pessoas. O director, que em tempos exerceu as mesmas funções na Sinfónica de Xangai, reconhece que “encontram-se sempre limitações com este número de músicos, mas não precisamos, definitivamente, de uma orquestra com cem pessoas”, a composição característica de uma sinfónica ou de uma filarmónica.
O repertório sinfónico, que por norma é o que mais público leva às salas de concertos, está garantido com os convites ao exterior. “Há um grande número de composições que conseguimos tocar com este tipo de orquestra e sendo Macau um local especial, uma orquestra de dimensões médias encaixa muito bem”. É uma orquestra à medida da cidade. “A qualidade, para nós, é o mais importante”, conclui.


Concertos de Setembro e Outubro

Amanhã – Concerto de Gala com Yundi Li, no Centro Cultural de Macau, às 20 horas
Dia 22 – Arte Florescente, Ciclo de Concertos Educacionais (entrada livre), na Igreja de São Domingos, às 20 horas
Dias 5,6 e 7 de Outubro – Rigoletto, Ópera em 3 actos e Giuseppe Verdi, Ciclo de Produções Especiais (XX Festival Internacional de Música de Macau), no Centro Cultural, às 20 horas
Dia 13 de Outubro – Concerto e Encontro de Música Contemporânea, Ciclo de Produções Especiais, na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, às 19h30.
Dia 31 de Outubro – Orquestra de Macau convida Maria João Pires, Ciclo de Grandes Mestres (XX Festival Internacional de Música de Macau), no Centro Cultural, às 20 horas

Isabel Castro


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