Tabuleiros e pressão ao quadrado
O xadrez chinês ou xiangqi pode parecer demasiado delicado e sossegado para ser categorizado como um desporto, mas é uma das modalidades incluídas nos 2.os Jogos Asiáticos em Recinto Coberto (JARC). O evento desportivo que vai ter Macau como palco arranca já no dia 26 do próximo mês. Na mesma altura, vai disputar-se, também na RAEM, o Campeonato Mundial de Xiangqi. A selecção do território terá uma responsabilidade a dobrar.
“Esta coincidência provocou alterações em termos de planeamento do calendário, mas será muito proveitoso o facto de os nossos membros se juntarem nas duas competições que, ao mesmo tempo, vão ajudar a promover o xiangqi no mundo”, frisou ao Tai Chung Pou o secretário-geral da Associação de Xadrez Chinês de Macau (AXCM), Bupeng Chen. Por outro lado, na opinião do responsável, os “JARC serão uma boa oportunidade para todas as regiões asiáticas manterem relações e reforçarem os contactos”.
Serão cinco os jogadores que vão representar as cores da RAEM nos dois eventos desportivos. Este grupo já está seleccionado desde Maio, quando a AXCM realizou um torneio aberto. Os trunfos de cada elemento da equipa residem inteiramente nos seus próprios talentos, conhecimentos e experiência.
Segundo Bupeng Chen, é muito importante ter a noção de que a participação na competição é mais importante do que a prestação, uma vez que a selecção de Macau é totalmente formada por jogadores amadores. “Nós raramente discutimos sobre os resultados. Em primeiro lugar, só nos podemos juntar depois do trabalho. E depois, como não somos profissionais, arranjar uma hora certa para treinar é difícil. No final de contas, somos apenas amadores”, confessou Choi Hou Wa, um dos jogadores.
Mesmo assim, a selecção de Macau não tem estado sentada à espera que os JARC e o campeonato mundial comecem. Além de consultarem livros enquanto estão à frente do tabuleiro, os melhores jogadores podem juntar-se aos torneios regionais e internacionais organizados regularmente pela associação. Por outro lado, a participação em competições amadoras também vem complementar a preparação para os eventos desportivos.
Este ano, a equipa já fez duas visitas à província de Guangdong e contou com a ajuda de mestres da China para lhe prestar apoio durante os treinos. A esperança da AXCM baseia-se na ideia de que mais exercício pode conduzir a um objectivo muito concreto – ficar entre os quatro primeiros lugares, tanto nas provas individuais como nas competições colectivas.
Para a prosperidade ficou o feito de Lei Kam Fun no 9º Campeonato Mundial. No ano passado, o jogador do território conseguiu arrecadar o primeiro prémio nas partidas individuais em masculinos. Esta vitória é descrita pelos membros da associação como um “milagre” visto que o participante local competiu frente a frente com profissionais da China e de Taiwan, que são as selecções favoritas.
Embora ultimamente o “milagreiro” Lei Kam Fun não esteja a “sentir-se muito bem”, segundo explicou o secretário-geral da associação, a selecção de Macau tem uma nova esperança. O nome do novo talento da equipa é Leong Sio Man. O jogador de 39 anos de idade ficou nos primeiros lugares nas partidas individuais em masculinos e os seus parceiros encaram a sua inclusão na equipa com bastante optimismo.
Foi na infância que Leong aprendeu a jogar xadrez chinês, só pela observação de outros jogadores. Quando atingiu os sete anos de idade, começou a participar nas competições locais. “No início não jogava muito bem, mas fui melhorando lentamente”, lembrou ao Tai Chung Pou. Para os dois eventos desportivos que se adivinham, o jogador de Macau pretende repousar o máximo possível.
Já Chao Keng Wa é um dos participantes com mais experiência. Como perdeu a conta aos torneios dos quais fez parte, não se lembra da última vez que se sentiu pressionado. “Já estou demasiado familiarizado com estas andanças”, garantiu.
Lei Kam Fun, Chan Chi Mui e Choi Hou Wa são os restantes elementos da equipa que, entre os dias 26 do próximo mês e 3 de Novembro, vão bater-se em frente aos tabuleiros em defesa da selecção de Macau nos JARC.
Kahon Chan
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn
Elemento essencial do Festival do Bolo Lunar
Um doce com muitas histórias
Começou por ser uma sobremesa, mas chegou a ter um papel fundamental na preparação de uma revolução. Com o passar dos séculos, a tradição de juntar a família, a observar a lua e a comer este doce, está cada vez mais enraizada. Em Macau, até já houve quem inventasse novas formas de o confeccionar. Moldando-o aos novos tempos ou recheando-o de ingredientes que são considerados de luxo na sociedade chinesa. No entanto, a receita original foi criada há mais de dois mil anos e ainda continua viva.
O Bolo Lunar nasceu de um pastel chinês tradicional chamado “Tai Si”. Antigamente, era usado como uma oferenda ao deus da Lua durante as festividades que se realizavam a meio do Outono. Na dinastia Tang, também era uma sobremesa comida pela corte do palácio e tinha o nome de “Bolo Wu”, porque as nozes eram o seu ingrediente principal. No entanto, reza a lenda que esta designação não agradava ao Imperador Xuanzong.
O soberano defendia que “Bolo Wu” não soava bem e pediu sugestões aos seus companheiros do palácio. Enquanto estava a observar a lua, brilhante e redonda, as palavras “Bolo Lunar” escaparam-se entre os lábios da princesa Ya Guifei. A partir daí, este termo popularizou-se e ainda hoje continua a ser usado.
O bolo que nesta altura do calendário se multiplica pelas lojas da China também teve um papel na história de uma revolução. Estávamos na dinastia Yang (1200 a.C. – 1368 a.C.) e os mongóis, que se tinham estabelecido desde a dinastia Yuan, tornaram-se demasiado opressivos. O povo chinês aproveitou-se do facto da comunidade invasora não possuir a tradição de comer bolos lunares e congeminou uma revolta. Os líderes do plano distribuíram estes pastéis enquanto se celebrava a longevidade do imperador.
Contudo, no seu interior, os bolos tinham mensagens secretas a convocar a população para um golpe político no décimo quinto dia da oitava lua, data em que se assinala o festival do Bolo Lunar. A rebelião realizou-se com sucesso e os bolos lunares passaram a ser uma tradição nacional da China.
Enquanto estava a observar a lua, brilhante e redonda, as palavras “Bolo Lunar” escaparam-se entre os lábios da princesa Ya Guifei. A partir daí, este termo popularizou-se e ainda hoje continua a ser usado.
Hoje em dia, este tipo de pastelaria ainda desempenha uma função central nas festividades que se realizam nesta altura do ano lunar. A sua utilização vulgarizou-se por todas as províncias, existindo até diferentes tipos em cada ponto do território chinês. Os mais famosos são o Jing de Pequim, o Guang de Cantão, o Su de Suzhou e o Chao de Chaozhou. Apesar de serem confeccionados através de métodos semelhantes, os sabores variam consideravelmente.
O de Pequim é conhecido pelos seus recheios vegetarianos. O cantonês é mais doce, sendo que o açúcar é mesmo o seu ingrediente mais importante. Em Suzhou, a população prefere os sabores mais fortes e insiste muito no açúcar e no óleo. Já o tipo Chao caracteriza-se por ter uma forma mais lisa e é confeccionado com açúcar e óleo de porco.
Como não podia deixar de ser, em Macau, o bolo mais popular é o cantonense. Existem mais de 200 recheios diferentes. Contudo, os mais vendidos são os que contêm sementes de lótus, pasta de feijão vermelho ou os recheios de cinco sementes, que são feitos com cinco tipos de nozes, sésamo, amêndoas, amendoins e sementes de melancia. Além disso, a essência do Bolo Lunar é ainda a gema salgada do ovo de pato, em representação da lua.
Com o evoluir dos tempos, também surgiram novas formas destes pequenos e pesados bolos. Um desses exemplos são uns que parecem revestidos de neve, visto que as massas são confeccionadas com farinha de arroz. Na RAEM, é possível encontrar os bolos lunares de gelado ou de chocolate. Uma pastelaria famosa do território, a Wing Wa Macau, também confecciona uns bolos que são considerados de luxo, cujos ingredientes são a barbatana de tubarão e o ninho de pássaro. Estes últimos são feitos com a saliva das andorinhas.
Uma característica que atravessa todos os tipos de bolos é que, para serem considerados de qualidade, devem ter uma crosta o mais leve e fina possível. Os recheios são misturados e a massa não pode ficar demasiado doce ou seca. Caso contrário, é considerado um bolo medíocre. O interior de ovo também deve ter uma pitada de óleo e tem que parecer dourado e reluzente.
O bolo tradicional é feito principalmente com açúcar e o recheio é muito denso e de difícil digestão. Por isso, o seu consumo deve ser acompanhado por chá. Esta bebida ajuda a dissolver o óleo. Por seu turno, os bolos doces devem ser acompanhados por chá verde e os salgados com uma chávena de chá Oolong.
Alice Kok
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn
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