terça-feira, 11 de setembro de 2007

Senna Fernandes no Cenáculo, National Geographic em Macau

Segunda fase do cenáculo pode arrancar no próximo mês

Senna Fernandes recorda Gonzaga Gomes

A segunda fase do “Cenáculo Luís Gonzaga Gomes” pode arrancar já no próximo mês. Segundo o secretário do Instituto Internacional de Macau (IIM), Luís Sá Cunha, a primeira sessão do grupo que foi extinto há 15 anos será comandada pelo escritor Henrique Senna Fernandes. No capítulo das publicações, o mesmo responsável espera ver sair até Dezembro a primeira reedição assinada pelo sinólogo macaense.
“A primeira sessão de evocação é aberta a todas as pessoas que queiram participar e será realizada por Henrique Senna Fernandes”, avançou ao Tai Chung Pou Luís Sá Cunha. O advogado e também professor dispensa apresentações, visto ser o mais famoso escritor contemporâneo de Macau, em língua portuguesa.
O cenáculo será sedeado na Sala Luís Gonzaga Gomes que está situada nas instalações do IIM. No mesmo local, estão a ser reunidos livros, fotografias, objectos e documentos relacionados com o sinólogo macaense. A restauração do grupo está inserida no programa de comemorações do centenário do nascimento do escritor que vai contar com a cooperação de onze associações locais de matriz portuguesa.
Quando foi criado em 1991, numa iniciativa da Revista de Cultura, o objectivo do cenáculo era “estimular o diálogo e o intercâmbio cultural luso-chinês”, explicou Luís Sá Cunha. “A figura de Gonzaga Gomes surgiu-nos como um símbolo vivo de tudo isso, visto que passou a vida inteira a prestar um serviço inigualável a Macau”, frisou o mesmo responsável.
Nas palavras do secretário do IIM, o escritor e historiador foi, durante quatro séculos, o expoente máximo de ponte entre culturas. “Inho Gomes”, como também era carinhosamente tratado, publicou vários livros e lutou pelo ensino da língua chinesa nas escolas lusófonas. Tudo com o propósito de aproximar o universo chinês da comunidade portuguesa.
Muitas destas obras encontram-se esgotadas há quase duas décadas e serão reeditadas também no âmbito do programa comemorativo dos cem anos do nascimento de Gonzaga Gomes. De acordo com Luís Sá Cunha, a primeira obra pode estar nas bancas ainda antes do final deste ano. “Esperamos ter meia dúzia das principais publicações estejam prontas até Julho, mas em Dezembro estamos a pensar ter já um ou outro livro lançado”, acrescentou.

Alexandra Lages


Estação televisiva prepara série de documentários sobre a RAEM

Macau Geographic

São quatrocentas horas de filmagens, muitas imagens e sons recolhidos ao longo de quase sete meses de permanência em Macau. São entrevistas nas ruas, nos táxis, mas também nos escritórios dos homens que fazem negócios na RAEM, sobretudo os que estão na área do jogo. Depois de tratados, sons e imagens vão dar origem a quatro documentários, com a duração de uma hora cada, a serem transmitidos no canal televisivo National Geographic, em Janeiro ou Fevereiro, o mais tardar.
“Como temos muitas imagens, o trabalho de edição vai demorar cerca de três ou quatro meses”, explica Johny Burke, jornalista responsável pela “pequena equipa” que durante mais de meio ano recolheu e guardou Macau em formato digital. A chegada deu-se nos primeiros meses do ano, o toque de partida soou alguns dias depois da tão aguardada inauguração do Venetian Resort, o casino que o mundo quis pôr nos jornais e nos horários nobres da TV.
O fim da presença da equipa do National Geographic em Macau prende-se, naturalmente, com o cair do véu veneziano mas o jornalista promete que o trabalho não vai ser única e exclusivamente centrado nas roletas, “embora o tema seja dominante, como é na economia local”. “Vamos tentar focar o que aconteceu nos últimos anos mas em especial estes últimos meses, em que estivemos cá”, conta. “Queremos mostrar o contraste entre o antigo e o novo, entre o Oriente e Ocidente, o que acontece à cultura local quando há uma entrada massiva de uma cultura estrangeira, com a chegada dos americanos e dos casinos, e tudo adquire uma escala maior,” especifica o britânico.

“Conheci algumas pessoas que me ensinaram bastante sobre Macau, foi importante ver este mundo através dos olhos delas”

Johny Burke quis conhecer as cidades todas que Macau consegue ser, “das pessoas que fazem muito dinheiro aos que desempenham tarefas como distribuir bebidas nos casinos ou conduzir táxis”. O que significa que os documentários não vão ser “pintados” apenas com néons, mármores e pilares acabados de estrear. O jornalista diz ainda procurar, no trabalho que faz, distanciar as impressões pessoais, pois o que guarda das cidades “são as pessoas e as relações que têm com o espaço onde vivem”.
“Conheci algumas pessoas que me ensinaram bastante sobre Macau, foi importante ver este mundo através dos olhos delas”, reflecte. Como o taxista “sem educação, que gosta de beber, fumar e jogar, e que adora conversar com as pessoas”. Foi um achado nas ruas de Macau, à noite, que permitiu ao jornalista ouvir relatos de “coisas fantásticas” que acontecem depois do sol se pôr, que “é quando a cidade acorda, não obstante o frenesim do dia”. “Fazendo parte do estrato social mais baixo, permitiu-me perceber como é a vida desta parte da população”, vinca Burke, “e como anda nas ruas e tem contacto com milhares de pessoas todos os dias, sabe o que acontece na cidade”.
A cidade que o repórter descobriu a bordo de um táxi é “muito jogo”, do apostador que “perdeu tudo e quer pagar a bandeirada com os últimos dez yuans para chegar à fronteira e voltar para a China, aos que chegam a Macau e contam histórias sobre os milhões que vão jogar”. A outra cidade, que encontrou a um nível menos próximo do chão, assegura que vai guardar com o carinho que as grandes descobertas merecem. “Fui à Torre de Macau fazer algumas imagens da cidade e um dos rapazes locais, que trabalha no bungy jumping, contou-me que gostava, no fim do turno dele, às oito da noite, ficar deitado no topo da torre, amarrado, olhar para o céu e a cidade, porque só assim tem a distância necessária para poder pensar e depois voltar à terra”.
Sendo um britânico atento a Hong Kong, com um trabalho já feito na China e uma passagem de apenas um dia por Macau, em 1999, na condição de turista, confessa ter ficado “surpreendido com o facto de haver pouca população portuguesa, tive a sensação de que é uma espécie de sombra”, como se fosse “um filme em que ela existe, a História também, mas aparecem em segundo plano”.
Durante a estadia em Macau, Burke viajou até à China para um refúgio em Wu Dang Shan, “o berço do taoísmo e o local ideal para aprender tai chi”. Interessado em artes marciais, fez um curso de uma semana, partilhou casa com meia dúzia de jovens locais que não falavam inglês e com os quais comunicava “através da partilha das coisas simples da vida, como as refeições". Da vila chinesa trouxe mais umas dezenas de horas de imagens e o valor da experiência, “muito interessante”, porque “as pessoas vivem felizes, sem o nosso cepticismo”.
Com experiências de reportagem no Iraque e no Texas, mas também um pouco por todo a Europa, o jornalista de 32 anos que trabalha por conta própria e para empresas como a BBC e o Channel 4, diz querer voltar a Macau, “não para trabalhar, mas para passar apenas uns tempos.” É que, inaugurações de casinos à parte, “adorei acordar de manhã e ver pessoas a passear com os pássaros e as gaiolas, é que não se vê disso em Londres”.

Isabel Castro





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