sábado, 15 de setembro de 2007

Vida de Maestro, Lusofonia, o Mandarim da Casa





“Quando eu era garoto, ia a concertos com o meu pai [...]. Ficava sempre encantado com aquilo que se passava no fosso da orquestra, era uma coisa mágica, os cantores no palco, os bailarinos, e ali uma pessoa a dirigir aquela gente toda. Pensava sempre que, um dia, eu queria estar ali”







Maestro Oswaldo Veiga Jardim

Uma sinfonia para Macau

Moscovo era o destino musicalmente mais lógico e a bolsa para a então União Soviética já estava ganha, mas Macau, uma cidade sobre a qual nada sabia, apareceu no caminho. Pensou duas vezes, pediu conselhos, decidiu pelo trabalho em vez do estudo que o esperava numa escola russa. Veio com um contrato de um ano, está cá há quase vinte. Seria uma história como tantas outras, mas maestros brasileiros unanimemente aplaudidos pela crítica da especialidade não se encontram todos os dias nas ruas de Macau.
Oswaldo Veiga Jardim, o maestro que o tempo fez ser mais daqui do que do Brasil, não perdeu a musicalidade com que fala, própria da língua portuguesa que vive do outro lado do Atlântico. Os gestos acompanham, sempre, o ritmo compassado mas vivo com que lembra tempos que parecem mais distantes do que são e fala de um presente muito intenso, o presente dele. Carioca do bairro da Lapa, do centro do Rio de Janeiro, pede um chá de limão e não um café.
A música surgiu por via da família, “tanto da parte do pai como da mãe”. “O meu avô materno era mestre de banda e educou todos os filhos na música. Ouviu-se sempre muita música lá em casa”, conta. “Quando eu tinha 5 ou 6 anos de idade, a minha mãe decidiu que eu teria um professor de música e comecei a estudar piano e teoria musical”. Descobriu-se rapidamente que tinha talento, “avancei rápido”, sempre ao piano, e estava tudo encaminhado para ser concertista, tinha sido já distinguido com vários prémios no Brasil. Mas a vontade do adolescente Veiga Jardim fez com que tivesse concorrido à licenciatura em Regência, “é assim que se diz no Brasil”, para a qual entrou sem ter a idade necessária e que, por isso, frequentou com uma autorização especial do Ministério da Educação.
“Quando eu era garoto, ia a concertos com o meu pai, à opera, bailado, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Ficava sempre encantado com aquilo que se passava no fosso da orquestra, era uma coisa mágica, os cantores no palco, os bailarinos, e ali uma pessoa a dirigir aquela gente toda. Pensava sempre que, um dia, eu queria estar ali”. Terminou o curso em direcção de orquestra com apenas 21 anos, com a distinção magna cum laude. A imprensa brasileira de então realçava o facto de ser “o mais jovem regente brasileiro de que se tem notícia”.
Quando a hipótese Macau apareceu a Veiga Jardim, o maestro estava a viver em Madrid, depois de ter ganho o prémio Dell’Arte, uma iniciativa da professora de piano e agente Myrian Dauelsberg, destinada a financiar o estudo no estrangeiro de jovens talentosos. A passagem rápida pela Europa valeu-lhe algumas distinções importantes e o contacto com o mundo musical do Velho Continente, mas mais uma vez o nome de Myrian Dauelsberg, que tinha sido sua professora, apareceu como sinónimo de mudança. “O marido era violoncelista e tinha sido convidado para actuar no primeiro Festival Internacional de Música de Macau. Como ela era empresária, perguntaram-lhe se conhecia algum jovem maestro que estivesse em início de carreira e que quisesse vir para cá trabalhar e reorganizar a orquestra. Ela pensou logo em mim”, explica Veiga Jardim. “Falei com aquele que iria ser meu professor na União Soviética, que me aconselhou a vir, porque eu ia ter a oportunidade de ser maestro, na prática. Estou aqui até hoje”, sorri.
No final da década de 1980, o jovem maestro com uma experiência única para a idade e um currículo invejável, tanto sentado ao piano como à frente de orquestras, aterra em Macau cheio de projectos e com uma energia que, passados 18 anos, continua bem presente e se sente no staccato das palavras. “Com a pouca experiência que tinha mas que era alguma comparada com a que das pessoas que aqui trabalhavam, fiz logo um diagnóstico que penso que era acertado, apesar da medicação dada pelo Governo não ter sido a mais adequada”. Veiga Jardim veio dirigir uma orquestra que era, na altura, uma formação de câmara, pouco flexível em termos de repertório. “Quando a gente chega numa cidade que é culturalmente heterogénea como é o caso de Macau, não pode pensar em oferecer coisas que sejam de difícil assimilação. O repertório de uma orquestra de câmara é normalmente pouco apelativo para a audiência que encontrei na altura em Macau, porque poucas eram as pessoas que tinham um passado com ligações fortes à música erudita”.
Para o maestro, a solução implicava reformular o formato da orquestra, transformando-a em sinfónica, capaz de captar um público mais abrangente, pela flexibilidade de repertório que permite. O projecto de Veiga Jardim passava pela sensibilização de públicos, pela criação de hábitos, pela definição de temporadas devidamente anunciadas. A ideia foi inicialmente bem acolhida por quem detinha o poder, numa altura em que Carlos Melancia era o governador de Macau e concordava, segundo destaca o maestro, com a necessidade de haver uma orquestra e não apenas um grupo de músicos. “Apesar das dificuldades que encontrei, renovei o contrato pela primeira vez por ter sentido que havia esse apoio”, diz.
A ideia do jovem maestro que queria profissionalizar a música em Macau acabou por ter que ser readaptada, com as alterações políticas e consequentes alterações de prioridades no âmbito da cultura. O projecto oficial da reformulação da orquestra não chegou a concretizar-se, mas conseguiu-se uma verba, que serviu para criar a Macau Sinfonietta. “Decidimos fazer uma selecção, chamar músicos de Hong Kong que tinham disponibilidade para vir a Macau e que se juntavam aos músicos locais que tínhamos escolhido. Fizeram-se grandes amizades”. E também grandes concertos, a avaliar pela crítica que se publicou nos jornais, incluindo os de Hong Kong. “A Macau Sinfonietta, uma formação muito credível, na sua estreia sob a condução do maestro brasileiro Veiga Jardim, foi admirável,” escreveu o Standard em 1989.
Com a Macau Sinfonietta o maestro dirigiu concertos em que participaram nomes sonantes como Sequeira Costa e o Coro da Fundação Gulbenkian de Lisboa, dois nomes portugueses entre outros de relevo. Entre 1989 e 1995, o maestro conduziu cerca de cem concertos, com a formação local e outras da Ásia. Quanto ao projecto sinfónico de Macau, e depois de dois anos com participações muito aplaudidas no Festival Internacional, “as coisas começaram a ficar difíceis, as prioridades em relação à cultura passaram a ser outras”. Com a mudança da direcção do Festival a orquestra perdeu espaço, as apostas foram outras, “a aparição da orquestra local já não tinha o impacto que teve”. Pouco tempo depois a Sinfonietta desapareceu, mas não o encanto que criou. Estava lançada a semente que, anos mais tarde, serviu de inspiração ao aparecimento de uma outra orquestra.
Entretanto, na partitura do maestro entraram outros instrumentos de trabalho na música. Em conjunto com Maria da Graça Marques, fez um exaustivo trabalho de divulgação da música de Macau, “um resgate da memória musical”, publicado na Revista Macau. O interesse pela pesquisa e pela abordagem científica levou-o a uma tarefa estóica, ainda em concretização: uma tese de doutoramento sobre a vida musical de Macau desde a chegada dos portugueses à região até 1999.
Ainda nos anos noventa, Veiga Jardim fez o trabalho de composição da banda sonora do filme “A Trança Feiticeira”, a adaptação ao cinema da obra de Henrique de Senna Fernandes. Na área do ensino, concebeu o programa do curso de Música do Instituto Politécnico de Macau, onde lecciona desde 1997. Na mesma altura, Hoi Kin Wa, antigo violinista da Macau Sinfonietta, cria a Associação da Orquestra Sinfónica Jovem de Macau. “É um projecto que me é muito querido, sou director musical honorário desde o princípio. Concordei em trabalhar logo com ele porque senti que foi uma das pessoas que mais sofreu com a extinção da orquestra, ele próprio disse-me que nunca tinha experimentado uma emoção tão grande como quando tocamos Brahms, Tchaikowsky, Schumann”.
A oportunidade que se criou no início dos anos noventa ao permitir que jovens músicos tocassem grandes obras voltou a acontecer, desta feita num outro local da cidade, para músicos de outra geração. É uma escola de música especial, onde se ensina a tocar em orquestra sinfónica. “Muitos dos músicos de Hong Kong da Macau Sinfonietta estão a colaborar na Orquestra Jovem, são professores que vêm cá por causa do passado que se construiu”, conta. Quanto aos alunos, só na orquestra principal são 75 - há uma formação B para os mais pequenos -, conduzidos por Veiga Jardim em Macau e nas tournés que vão fazendo, e que este ano incluiu a Austrália e Singapura. “É uma espécie de continuação do trabalho que tínhamos começado no Instituto”. A orquestra jovem tem vindo a crescer e, no panorama da aprendizagem de Macau, desenvolve um papel único. Muitos destes jovens instrumentistas carimbaram entretanto o passaporte para voos musicais mais altos.
Veiga Jardim não acredita que, no que à música diz respeito, se possa estar à espera que as condições sejam criadas para depois se trabalhar. “Nós é que temos que as criar. A música é fundamental na vida do Homem, faz parte da nossa cultura”. Num regresso de memória ao Brasil, o maestro cita o músico Geraldo Vandré ao defender “que quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, para voltar à China e elogiar a forma como “se apoiam agora estes projectos, que a administração representante de uma cultura ocidental acarinhou mas sempre com reservas”.
No ano passado, o maestro brasileiro que confessa já ser mais de Macau que do Rio, recebeu do Executivo da RAEM a medalha de mérito cultural. “Quando me telefonaram chorei de emoção. Olhei também para o passado, reconciliei-me com alguns dos fantasmas que tinha.” Moscovo não chegou a acontecer, a vida decide-se também nas cidades onde se acorda todos os dias. Macau é a casa, o sorriso é carioca.

Isabel Castro


Novo espaço na Internet sobre Lusofonia nasceu em Macau

Cidadania virtual assumida

Apareceu esta semana na Internet um novo espaço destinado a trocar ideias e conhecimentos nas mais diversas áreas do mundo lusófono. Chama-se Fórum da Lusofonia, tem como mote “Uma Língua, muitas Pátrias”, é destinado a todos aqueles que partilham a língua portuguesa e foi criado em Macau. Mora em http://forumlusofonia.com.
O autor da “acção” é o artista plástico António Conceição Júnior, que começa por esclarecer que podia ter sido um acto cívico de outra pessoa qualquer. A ideia surgiu na sequência de outros projectos que deixaram de existir, como “o Fórum do antigo Terravista que pertencia ao Eng. Roberto Carneiro e que tinha exactamente esse tema da Lusofonia”. Perdeu-lhe o rasto, fez uma primeira tentativa “com um Forum já pronto e gratuito, mas tinha demasiados anúncios e não era do meu agrado”. “Finalmente, e estas coisas têm muito a ver com conjunções casuais, resolvi pedir ajuda ao Tiago, filho de amigos nossos que viveram cá em Macau e que hoje é formado em informática, que teve a gentileza de configurar este Forum e a coisa pegou”, contextualiza.

“Hoje em dia o conceito de vizinhança não é geográfico, mas de afinidades e de respeito pelas diferenças”
António Conceição Júnior, artista plástico


Não há objectivos definidos à partida, embora o fórum obedeça a uma estrutura que ajuda o utilizador a encontrar o local virtual que mais lhe interessa, quer seja em termos de temáticas quer no que toca à própria localização geográfica. “Os objectivos são aqueles que os participantes quiserem traçar. Acho que o espaço virtual requer, por um lado, uma cidadania virtual assumida, enquanto que por outro deve dar livre curso aos impulsos dos utilizadores. Eventualmente, com o tempo e a maior divulgação, as pessoas irão encontrar a riqueza das diferenças”.
Conceição Júnior destaca ainda que “vivemos uma era virtual e penso que deve ser a sociedade civil, não importa onde ou quem, a tomar iniciativas”. “Hoje em dia o conceito de vizinhança não é geográfico, mas de afinidades e de respeito pelas diferenças. Daí que sendo o Português a minha língua materna, achei interessante proporcionar um espaço de conversa e de intercâmbio onde não só portugueses como luso-falantes, independentemente da sua localização geográfica, possam participar e interagir”.
Ao fim de pouco mais de “escassas 48 horas”, refere o autor da iniciativa, “já há membros de Portugal, do Brasil, dos Estados Unidos, de Macau, do Reino Unido”. “É gratificante, sobretudo porque são pessoas todas bonitas, com coisas bonitas e que se unem nem amplexo de diversidade. Quase todos os primeiros contactos originaram uma sucessiva divulgação do Forum e isso é gratificante”.
A propósito do conceito que preside ao forum virtual, o artista plástico defende a lusofonia enquanto sinónimo de diversidade. “Mal de nós se houvesse uma cultura homogénea. É na riqueza do desdobramento linguístico e cultural dos diferentes modos de se ser português ou luso-falante que a fecundidade dos cruzamentos culturais atinge a sua plenitude”, declara. “Sou absolutamente contrário ao etnocentrismo ou a predomínios, preconceitos e outras formas de tentativas de domínio”.
António Conceição Júnior, que afirma não se considerar “um purista nem um conservador”, analisa o conceito de lusofonia - relativamente recente quando comparado com outros movimentos sociológicos que tiveram na comunhão do idioma o ponto de partida - dizendo que “há que ter sempre em aberto um espaço para a expansão, em alternativa a posturas redutoras”. “Penso que lusofonia é apenas um termo que deveria ser suficientemente amplo para, sem constrangimentos, unir em vez de dividir, abarcar em vez de sufocar”, sustenta. E é para isso que o Forum serve.

Isabel Castro



Zheng Guanying, o pensador que influenciou Sun Yat Sen e Mao Zedong

O Mandarim da Casa

As cidades são feitas das pessoas que as habitam e os monumentos juntam, ao valor arquitectónico, as histórias que as paredes ouviram. No vasto e diversificado património de Macau – o reconhecido pela UNESCO, o localmente classificado e o outro, que sobrevive esquecido – a componente humana existe com grande força, muitas vezes anónima, outras identificada, quase sempre associada a venturas, desventuras e feitos heróicos.
A Casa do Mandarim, conjunto de pavilhões de habitação cujo valor mundial foi reconhecido em 2005, tem um elevado peso histórico pelo tipo de arquitectura que representa e pela localização, pois fica num dos berços da cidade, dizem os especialistas. Mas há mais neste edifício para além do tijolo azul e da disposição tradicional de paredes e pilares: existe uma história de vida, livros escritos que influenciaram a China da época e que revelavam a diferença que Macau sempre foi. É o Mandarim da Casa, o habitante do final do século sem o qual a importância do edifício não seria a mesma.
Em português, o local que está a ser alvo de recuperação e que deve ser aberto ao público daqui a meia dúzia de meses, refere-se apenas ao título do proprietário, residente em Macau durante a decadente Dinastia Qing do final do século XIX. Em cantonês, a designação do monumento é mais elucidativa: é a casa com o apelido da família, que em mandarim se diz Zheng.
O Mandarim da Casa, Zheng Guanying, nasceu em 1842 na província de Guangdong. Homem de negócios bem sucedido, ficou para a China moderna como um pensador reformista, capaz de influenciar dois dos homens que mudaram o século XX no país: Sun Yat Seng e Mao Zedong. Carlos Marreiros, arquitecto que tem acompanhado as obras na casa e conhecedor da história deste mandarim, considera que, quando se fala de Zheng Guanying, se está perante um “caso único”.
“Macau tem nomes sonantes a nível internacional entre portugueses e estrangeiros que por cá passaram”, lança. “Como Camões, seja ou não mito, George Chinnery ou até mesmo Camilo Pessanha. São figuras que não são só de Macau, são do universo mundial”. O cenário muda quando se fala de gente da terra. “Que eu saiba, chineses não há”, explica. “Só ele”.
Estamos a falar dos finais do século XIX. Zheng Guanying foi “um homem de negócios de grande sucesso, comercializava com a zona de Cantão, com Xangai e outros portos importantes”, lembra Marreiros. “Ele conheceu uma Macau oitocentista, uma Macau porto franco. Com a experiência de negócios que tinha e a sua formação começou a teorizar sobre economia”. E sobre tudo aquilo que se relacionava com uma sociedade moderna que não existia na China, mas que se começava a desenhar na vontade de alguns espíritos revolucionários de então.

“A base de um país é o seu povo. Não existe outra forma de governo se não aquela que se preocupa com o seu povo”
Zheng Guanying

Em 1893, em Macau, na casa com a esplanada virada para o Porto Interior e as embarcações oriundas de cidades distantes, Zheng concluiu a sua obra mais importante na área da economia, da política e da educação. Desapontado com Xangai e o clima de corrupção de um já enfraquecido feudalismo, o pensador escreve que a China deveria seguir o exemplo do Ocidente da época, nomeadamente ao nível administrativo. Acreditava que as fraquezas do país se deviam ao autoritarismo da política e encorajava a transparência na gestão.
A soberania Qing estava em decadência mas, em simultâneo, as forças estrangeiras eram tidas como uma ameaça ao país. As teorias de Zheng não eram só tidas como revolucionárias mas também ofensivas. Em “Advertências em Tempo de Prosperidade” - obra constituída por um total de 57 artigos, sobre matérias diversas, da educação à defesa nacional – o autor faz diversas análises e sugestões, dissecando os perigos da China que crescia ensombrada por uma política que considerava inadequada.
Carlos Marreiros acredita que Macau foi um campo de análise produtivo para o Mandarim, nomeadamente na vertente económica. “Escreveu um ensaio muito importante, em que teorizava sobre a economia a partir dos portos livres, os portos francos como Macau era, e a vantagem que a auto-enclausurada China teria se, a partir deste princípio de economia livre, movimentasse as suas economias por todo o mundo”. Por outras palavras, “poder-se-á dizer que ele foi pioneiro para a China da chamada economia liberal”.
A obra “Advertências em Tempo de Prosperidade” foi publicada na China e “foi livro de mesa de cabeceira primeiro de Sun Yat Sen, enquanto preparava a revolução republicana, e depois do próprio Mao Zedong”. Presume-se que em Macau tenha trocado ideias com o pai da República da China, que terá dado origem a uma relação de grande confiança. “A importância do Mandarim enquanto pensador de influência reforça o valor da casa onde habitou”, diz Carlos Marreiros, mais a mais tendo em conta “o enorme país que a China é”.
Os escritos de Zheng Guanying contemplam também a educação e a importância da literatura. A Biblioteca Central de Macau cita o habitante da zona do Lilau, grande defensor deste tipo de instituições. Mais uma vez, o modelo estava a Ocidente, pois dizia que “a formação de recursos humanos dos países ocidentais resulta do concurso de três elementos: os estabelecimentos de ensino, os jornais e as bibliotecas”. Num dos artigos, intitulado “Coleccionar Livros”, Zheng Guanying sustentou que “coleccionar livros para satisfazer as necessidades dos leitores é considerado uma contribuição meritória” e que “a China devia generalizar o estabelecimento de bibliotecas, à semelhança dos países ocidentais”.
Quando a Casa do Mandarim estiver reconstruída e aberta ao público, deverá ser criado um centro de pesquisa e um núcleo museológico sobre o habitante que deu o nome ao edifício. O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura anunciou, há tempos, a intenção de tentar, junto de Xangai, recuperar obras que Zheng lá deixou. A Biblioteca Central de Macau dispõe já de alguns manuscritos do homem que dedicava particular atenção à condição humana e aos modelos do relacionamento entre o poder e a pessoas: “A base de um país é o seu povo. Não existe outra forma de governo se não aquela que se preocupa com o seu povo”.

Alice Kok e Isabel Castro




2 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Oswaldo Veiga Jardim é uma das pessoas mais extraordinárias com quem convivi; grande amigo, que me incentivou tremendamente para "enxergar" o mundo da música. Não sou músico, mas um apreciador contumaz, e devo muito de meu gosto pela música erudita ao meu amigo Oswaldo. Só lamento não conhecer as composições dele. Caso tenham contato com ele, enviem, por favor, um abraço do seu amigo Aquiles Lazzarotto, aqui de Cuiabá, Estado de Mato Grosso, Brasil.