Partida para a vitória
Muita garra e determinação, porque a meta está já traçada e é nada mais, nada menos do que a vitória. Pelo segundo ano consecutivo, a equipa de râguebi da RAEM vai participar na 3ª divisão da liga de Hong Kong. O primeiro jogo realiza-se hoje e pode ser o pontapé de saída para uma evolução do desporto no território.
“Vai ser um ano de viragem da Associação de Râguebi de Macau (ARM)”, assegurou ao Tai Chung Pou o capitão da formação, Ricardo Pina. Com raízes anglo-saxónicas, a modalidade desportiva está a ganhar uma nova força com a mudança do tecido social da região.
À medida que os grandes empreendimentos hoteleiros e da indústria do jogo vão nascendo, aumenta a carência de recursos humanos. Para colmatar esta lacuna, chegam todos os dias novos residentes australianos, canadianos, norte-americanos, entre outros. Nestas culturas, não é o futebol que ocupa o trono do desporto rei, mas sim o râguebi.
Ora, candidatos a jogadores não têm faltado ao grupo que começou por ser uma claque de apoio à selecção portuguesa da modalidade e que, mais tarde, acabou por formar uma equipa em que a língua mãe era a de Camões. Com a nova fase económica da RAEM, até o panorama da associação mudou consideravelmente.
“Só durante este mês, com o recrutamento de mais profissionais para os projectos do Cotai, apareceram muitos jogadores novos. Sempre fomos uma equipa muito diversificada, em que a maioria era portuguesa, mas os anglo-saxónicos são cada vez mais. A comunidade australiana, por exemplo, está a crescer”, notou Ricardo Pina.
Actualmente, numa equipa com 15 atletas locais, apenas dois ou três são portugueses. De resto, os homens fortes de Macau são oriundos da Nova Zelândia, Austrália, Canadá, Espanha e alguns de origem asiática.
É nesta multiculturalidade que o “asa” da equipa patrocinada pela Sociedade de Jogos de Macau deposita todas as suas esperanças para o campeonato do outro lado do Delta do Rio das Pérolas. “Queremos ganhar a terceira divisão e as principais condições são apenas o espírito e a vontade”, garantiu. Nas palavras do atleta que está ligado à ARM quase desde a sua formação, a equipa da RAEM já tem o mais importante – jogadores com mais qualidade e muitas margens para progressão.
“É possível acreditar na vitória, porque temos um grupo bastante diversificado que ajudou à criação de um espírito que ninguém tem em Hong Kong. Além disso, a SJM Macau tem uma mistura de diferentes tipos de râguebi. O objectivo é vencer”, sublinhou.
Igualmente optimista, mas mais prudente, é o treinador da equipa, Luís Herédia, que sente que ainda faltam jogadores para algumas posições chave. “O ano passado serviu para ganhar experiência, agora esperamos melhorar um pouco e vai correr melhor”, frisou.
Na primeira participação na liga de Hong Kong, a equipa local classificou-se no segundo lugar do grupo B da 3ª divisão. No entanto, durante a pré-época, os atletas da ARM arrecadaram o primeiro lugar nos torneios de Sevens e na competição Fat Boys Tens. Mais recentemente, venceram também o Beach Rugby na praia de Hac Sa. Na taça Playmate, estiveram na disputa pelo primeiro lugar, mas acabaram por ficar no segundo posto sem registo anterior de nenhuma derrota ou ensaios sofridos. No fim-de-semana passado, os homens de Macau conseguiram chegar à semi-final de um torneio em Kowloon, em Hong Kong, ficando na 4ª posição.
A equipa local não parou durante as férias desportivas. Além da participação em competições por todo o Sudeste Asiático, a ARM promoveu uma estrutura de treinos. Em Setembro, a preparação tornou-se mais intensa, aguardando apenas pela concessão de um campo.
Actualmente, a equipa realiza dois treinos por semana no relvado anexo ao Estádio da Taipa. No entanto, este recinto não tem o tamanho oficial e nem um formato regular. “É difícil jogar nestas condições, mas vamos fazendo jogos de 10 contra 10 num campo mais reduzido”, explicou o jogador Ricardo Pina.
Nascida há 11 anos, a ARM tornou-se o órgão máximo de representação da modalidade desportiva na RAEM, visto que faz parte da Associação Asiática de Râguebi que, por sua vez, é uma ramificação do Internacional Rugby Board. Ricardo Pina começou a jogar na associação local um ano após a sua formação.
“Comecei em 1998 por influência de um amigo e sem nunca ter jogado na vida. Desde aí, nunca mais larguei”, lembrou. Tal é a paixão que, mesmo apesar de uma parte considerável da sua vida ter sido fora de Macau, o atleta fez sempre questão de ajudar os companheiros nas competições em que participavam.
“Uma vez estava a estagiar em Espanha e fui de propósito a Bali. Foi uma maluqueira, mas valeu a pena”, contou. Ricardo Pina está de volta desde 2005, a tempo inteiro e, este ano, foi o jogador eleito pelos colegas para transportar a braçadeira que diz “capitão”.
Uma década de experiência no relvado são suficientes para o atleta notar a evolução da modalidade em Macau. “A exposição pública do râguebi é agora muito maior e o último campeonato mundial é um exemplo disso. Macau sempre foi privilegiada em termos de divulgação da modalidade por causa do torneio de Hong Kong, que é o melhor do mundo”, defendeu.
A única batalha que está ainda por vencer é junto da população chinesa. Segundo Ricardo Pina, ainda há muita gente que associa este desporto à violência.
“A atitude do râguebi é muito diferente do futebol e, quando é bem jogado, não é violento. Nas competições, os jogadores são penalizados por actos que os árbitros não viram e isso prova que a essência do râguebi é o espírito do cavalheirismo”.
À conquista de Macau
Que o râguebi está a ganhar terreno no mundo do desporto em Macau já ninguém duvida. Principalmente se atentarmos aos números de residentes oriundos da Oceânia no território que, no ano passado, ultrapassavam os mil. Nos treinos da equipa SJM da Associação de Râguebi de Macau (ARM), a assistência tem sido cada vez maior. O mesmo se aplica aos alunos inscritos na modalidade enquanto actividade extracurricular da Escola Portuguesa, do estabelecimento de ensino canadiano e da Escola Sheng Kung Hui.
No entanto, o índice de sucesso junto dos estabelecimentos de ensino de língua chinesa ainda continua aquém das expectativas da associação. “Há uma grande motivação por parte dos expatriados que querem os miúdos desde muito novos a praticar um desporto. Nos mini treinos, até chegamos a ter crianças com quatro e cinco anos que vão essencialmente para brincarem com os irmãos. Entre a etnia chinesa, contudo, já não há tanta adesão”, frisou ao Tai Chung Pou o responsável pelas camadas jovens da ARM, José Luís Paulo.
Os planos da colectividade desportiva estão agora centrados na promoção da modalidade nas escolas. “Estamos a tentar fazer com que os nossos jogadores chineses tenham disponibilidade para fazer demonstrações nas instituições de ensino, ultrapassando assim a barreira da comunicação”, informou o também vice-presidente da associação.
Todos os anos lectivos, a ARM contacta as escolas para a realização de cursos de treinador aos professores de educação física, sem resultados notórios. “São pessoas que nunca praticaram râguebi e é difícil desenvolverem interesse”, lamentou.
Mesmo assim, no ano passado, o grupo desportivo treinou alunos de quatro estabelecimentos de ensino do território. À parte deste projecto, existe ainda a Escola de Mini Râguebi que começou no início do mês e conta com cerca de 20 jogadores de palmo e meio.
Para além das acções nas instituições de ensino e da formação de técnicos, a ARM presta ainda apoio logístico, nomeadamente em termos de equipamentos necessários para a realização dos treinos, monitores e marcações de campo.
Alexandra Lages
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn
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