São três espectáculos num, uma espécie de mostra do que a companhia faz de melhor. “A razão que nos levou a apostar numa apresentação diferente daquelas que vamos fazer no resto da Ásia tem a ver com o facto de ser a nossa estreia em Macau. Estas três composições são muito representativas do trabalho da nossa companhia”, resumiu ao Tai Chung Pou o director artístico da Aterballetto, Mauro Bigonzetti.
A principal companhia de bailado de Itália sobe amanhã ao palco do Centro Cultural de Macau quando forem 20 horas. Ao público do território, Bigonzetii promete oferecer “energia, vitalidade e frescura”. “É a forma como nós nos apresentamos perante o público”, argumenta. “Homenagem a Bach”, “Songs” e “Cantata” foram as peças escolhidas para Macau, cidade inserida numa digressão pela Ásia que inclui Banguecoque e Daegu, na Coreia do Sul.
“Os trabalhos que levamos são muito diferentes uns dos outros. Queremos dar a Macau a possibilidade de ver as várias vertentes da nossa companhia”, reitera o director artístico. “‘Homenagem a Bach’ é uma coreografia especial que tem como ponte de partida a Divina Comédia de Dante”, introduz Bigonzetti. “Gosto imenso de música, tanto contemporânea como erudita. Confesso que tenho uma preferência por Bach”.
Não é a primeira vez que o encenador utiliza temas do mais conceituado compositor do período barroco para os trabalhos da Aterballetto. “Acho que é muito dançável. Por vezes os movimentos estão de acordo com a música, outras vezes não”. Nesta homenagem a Bach, Bigonzetti lança “Comoedia canto terzo”, para ir ao encontro da música tendencialmente harmónica de Johann Sebastian. O resultado, assegura o criador, é uma atmosfera intimista, uma viagem simbólica por algumas das composições mais conhecidas de Bach.
Terminada a homenagem, segue-se “um trabalho muito intenso para os três bailarinos” que dão forma a “Songs”, uma peça com música de Henry Purcell, outro compositor da lista dos favoritos do criador artístico. A companhia apresenta o trabalho dizendo que é uma viagem aos aspectos mais profundos da condição psicológica.
A escolha de Purcell para cenário musical prende-se com a “forma genial e singular de expressar as paixões, numa linguagem contemporânea, intemporal na abordagem do sujeito”. Concebida a pensar em dois bailarinos e uma bailarina, desde 2002 que este bailado da Aterballetto tem uma versão totalmente masculina.
A terminar o espectáculo de amanhã, a apresentação de Cantata, que Mauro Bigonzetti descreveu ao Tai Chung Pou como sendo “o caos, o instinto puro”. Este ambiente é reforçado por uma adaptação de temas da música tradicional italiana feita pelo grupo Assurd.
A Aterballetto é a principal companhia de dança de Itália em matéria de produção e distribuição, tendo sido o primeiro grupo de ballet residente independente das companhias de ópera. Mauro Bigonzetti é o director artístico desde 1997, mas já tinha passado pela companhia na década de 1980, enquanto bailarino e coreógrafo. Foi na Aterballetto que fez as suas primeiras experiências ao nível da coreografia, tendo sido projectado a nível internacional para desenvolver colaborações com as mais prestigiadas companhias de dança.
Neste momento, o repertório da Aterballetto é composto por coreografias de Mauro Bigonzetti, Michele Abbondanza, Antonella Bertoni e Itzik Galili, bem como por trabalhos de jovens coreógrafos europeus, além de criativos do mundo internacional da dança como William Forsythe e Jiri Kylian.
Em 1991, a Aterballetto tornou-se a Companhia do Centro Regional de Dança, uma associação oficialmente reconhecida e que é formada pela cidade de Reggio Emilia, a Region de Emilia-Romagna e a ATER (Associação dos Teatros de Emilia Romagna). O Centro Regional de Dança passou a desenvolver a sua actividade com a imagem da Aterballetto, congregando vários recursos do mundo da dança, em diferentes aspectos: produção, promoção, difusão, formação profissional, estudo e pesquisa. Em Abril de 2003, o centro mudou de estatuto, passando a ser a Fundação Nacional da Dança/ Companhia Aterballetto.
Criada em 1979 e gerida durante quase vinte anos pelo director artístico Amedeo Amodio, a Aterballetto construiu um importante repertório que inclui obras de Amodio e de coreógrafos internacionais de renome como Glen Tetley, Alvin Ailey e Lucinda Childs. É detentora dos direitos de produção de obras como concebidas por George Balanchine, Kenneth Mc Millan, Antony Tudor, Jose Limon, Hans Van Manen, Leonide Massine, David Parsons e Maurice Béjart.
A Fundação desenvolve, neste momento, algumas das experiências mais significativas na área da dança, ao nível do país, distinguindo-se no contexto italiano. Tem ainda pautado a actividade pela formação de jovens bailarinos, festivais e projectos direccionados para a captação de públicos.
Isabel Castro
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