O Orientalismo pelos olhos de quem o conhece
Hoje tem lugar mais uma exposição. Amanhã, mais uma conferência sobre um tema que tão bem conhece. Precursor de um estilo, que auto-denominou Neo-Orientalismo, o pintor Mio Pang Fei, em entrevista ao Tai Chung Pou, traduzida pela filha Cristina, contou como veio parar a Macau em 1982, depois de um longo percurso académico e artístico no Continente que terminou devido aos turbulentos anos da Revolução Cultural.
O que é o Neo-Orientalismo? Resumindo – tarefa difícil, quando se está perante um movimento artístico -, é o Oriente visto por quem o conhece. “Antes, há alguns anos, depois do Expressionismo, os pintores ocidentais voltaram-se para o Oriente – primeiro o Japão e depois a China -, mas era sempre pelos seus olhos, uma percepção que está longe de ser a verdadeira”, conta. Para combater esta “superficialidade”, surge então, pelas mãos de Mio Pang Fei, o Neo-Orientalismo. Nome encontrado, à pressão, quando há 15 anos, teve de discursar sobre a Arte Moderna e lhe pediram para rotular as suas pinturas. “Orientalismo” por ser o nome dado pelos ocidentais “às coisas do Oriente”. “Neo” por ser da perspectiva de quem conhece – os chineses. Tudo para culminar no tipo de pintura, que inspirado nas “ideias ocidentais”, acaba por ser “arte contemporânea chinesa”.
Uma das suas pinturas, intitulada “Capturar a Alma”, nada mais é do que um símbolo da sua arte. “Quero capturar a parte boa da cultura chinesa, quero ver essa alma para mostrar às pessoas”, diz. Por exemplo, “Agruras de uma Nação”, pintado em 1997, pretende aludir à história da China, recorrendo ao “estilo nacional”. Ou mesmo, exemplifica com os seus trabalhos mais recentes, o recurso à caligrafia chinesa é uma forma de passar uma mensagem: “Por um lado, os caracteres contêm informação; por outro, quando fazes caligrafia, apercebes-te de quão bonito é.” Um motivo que inspirou o último período da vida artística, e que também está compilado num livro, o “pós-caligrafia”.
Mas a corrente artística de que foi precursor começou a nascer nos anos 60, por ocasião da Revolução Cultural. “Quando as pessoas não podem pintar, a única coisa que podem fazer é pensar”, recorda com pesar. Apesar de não querer reviver uma época que para si foi dolorosa, Mio Pang Fei não pode deixar de apontar aqueles anos como uma boa experiência no campo artístico. “Naquela altura, se eras pintor ou intelectual terias sempre problemas. Só não terias problemas se fosses agricultor”, conta. Por isso, apesar de não ser uma época “muito produtiva em termos de trabalhos”, e de muitos artistas terem destruído as suas obras para fugir à repressão, não deixa de ser um bom período para reflectir e amadurecer as ideias. Até porque quem “não passa por tempos difíceis ao longo da sua vida, não amadurecerá suficientemente em termos artísticos”. Assim, chegado aos anos 60, tudo o que tinha aprendido durante a sua vida académica em termos de Expressionismo, Abstraccionismo, Cubismo, interrompeu. Mas não estagnou. E amadureceu. Impedido de mostrar abertamente as suas influências ocidentais – por força da política maoísta -, acabou por redescobrir “o que é um verdadeiro artista chinês”. Começou a recorrer, exemplifica, ao papel de arroz. Contudo, dos seus trabalhos dessa época, conta, não sobrou um único original. Foram todos por si queimados e destruídos. Apenas teve tempo de tirar fotografias e registá-los em livros.
O gosto pela pintura surgiu logo aos cinco anos, quando estabelecia o caos na sua casa, “pintando nas paredes”. Enveredou pela Arte Moderna durante o seu percurso académico. Aliás, muito motivado pelo seu trabalho final, inspirado no Expressionismo, Cubismo e Abstraccionismo. Só uns anos mais tarde viria a procurar incluir tradições, costumes e história chineses nos seus trabalhos. O seu percurso artístico pode dividir-se em cinco épocas. São elas, “Xangai – Experiência, Macau – A prática, As séries da Água, Condição Humana, Pós-Caligrafia”. Divisões artísticas que coincidem com áreas de interesse, em determinados pontos da sua vida.
Em 1982 chega a Macau para fugir aos dias conturbados da China e “retomar a sua liberdade”, sem ter de se preocupar, quando pintava, com “o que as pessoas pensam”. Mas também para se reaproximar do Ocidente, – o único contacto que teve com pintores ocidentais deu-se durante a vida académica - já que a China ainda se encontrava “fechada” ao resto do mundo. Foi a “grande vantagem” de ter vindo para o território, já que, em termos de influências no seu trabalho, poucas teve. Aliás, Mio Pang Fei, é duro na resposta: “Já tinha 47 anos quando cheguei a Macau, já estava bem maduro, não seria fácil deixar-me influenciar pelas pessoas, pelos locais ou pelo jogo.”
Aos 72 anos, quando interrogado sobre o seu quadro favorito, Mio Pang Fei respondeu um assertivo “não”. Porque todos tiveram – e têm – a sua importância em algum ponto da vida do pintor.
Um artista e um académico
Nascido em Xangai em 1936, Mio Pang Fei estudou arte em Fujian e na sua cidade natal, tornando-se, posteriormente, um artista profissional e um académico. Incidiu a sua atenção nos artistas russos e no desenvolvimento do Realismo, Impressionismo e Abstraccionismo no Ocidente. Um interesse que viria a causar-lhe problemas durante a Revolução Cultural.
Um ponto de viragem na sua vida foi a amizade com o artista de renome Liu Haisu. Foi ele quem fez com que mudasse a incidência da sua pesquisa da pintura ocidental para a arte tradicional chinesa. Aprendeu as técnicas mais tradicionais e estudou os Budistas, além das antigas pinturas rupestres.
A seguir à sua vinda para Macau, ingressou nos meandros da arte local e surgiu a sua mistura única entre as ideias chinesas e ocidentais. Reforçou a sua determinação e empenho na criação de uma arte abstracta contemporânea, de “carácter oriental”. Além de artista, é também um teórico. Actualmente, é docente na Escola de Artes do Instituto Politécnico de Macau e professor convidado na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Xangai e no Instituto de Artes de Nanjing. Já escreveu, inclusivamente, um tratado sobre o Novo Orientalismo.
Susana Chou a Chefe, diz Leonel Alves
Leonel Alves defendeu ontem a candidatura de Susana Chou ao cargo de Chefe do Executivo. Em entrevista à Rádio Macau, o deputado à Assembleia Legislativa (AL) e membro do Conselho Executivo afirmou que “o ideal seria que Susana Chou decidisse também candidatar-se”.
Para Alves, a actual presidente da AL é uma pessoa que “conhece profundamente Macau, conhece o mecanismo e o funcionamento da RAEM e de Pequim, com as suas enormes qualidades seria benéfico para Macau, mas trata-se de uma questão de disponibilidade pessoal”. No seguimento da resposta, o deputado disse também que “se me perguntar se poderá haver novidades no espectro político, Susana Chou poderá ser uma das peças dessa novidade”.
Na entrevista à estação de rádio em língua portuguesa, o membro do Conselho Executivo sustentou ainda que a estrutura do próximo Governo da RAEM deve incluir a figura do sub-secretário. “Em Hong Kong há sub-secretários para questões constitucionais... Podemos ter em Macau vários secretários, vários sub-secretários, dividindo as diversas tarefas, designadamente a reforma administrativa.”
Acerca desta matéria, Leonel Alves acrescentou que “em qualquer território, quando se fazem reformas administrativas, há sempre uma subunidade do Governo exclusivamente dedicada a este assunto, para ganhar relevância política e para ganhar também responsabilidade acrescida no desempenho dessa obra” que, disse, “é mais difícil do que construir muitas pontes”.
A entrevista de Leonel Alves à Rádio Macau vai para o ar amanhã, quando forem 12h00. Segundo a estação, o deputado à Assembleia Legislativa pronuncia-se também sobre o seu futuro político e as eleições agendadas para 2009, ano em se escolhe o novo Chefe do Executivo e entrará em funções uma nova legislatura.
Quatro salas, é quanto cresceram as instalações da Casa de Portugal em Macau (CPM). O Albergue da Santa Casa da Misericórdia situado no Bairro de S. Lázaro é o local das novas operações da instituição de matriz portuguesa. Um espaço que vai ser palco de um sem fim de actividades. Começando na joalharia, passando pelas artes e terminando na área da multimédia, a direcção da CPM apostou no ensino e na promoção de trabalhos com o objectivo de criar uma plataforma para a criação de um mercado local de arte. E para que Macau possa oferecer um “produto próprio”, as portas estão abertas para todas as comunidades que conferem a esta terra o seu carácter único. Com a CPM, o projecto de criação de um centro de indústrias criativas no Bairro de S. Lázaro dá assim um passo de gigante.
“Há muito tempo que a Casa de Portugal pretendia avançar para outros tipos de iniciativas que não fossem apenas as exposições. No entanto, isso era dificultado pela falta de espaço. Ouvimos falar do Albergue e conseguimos arrendar quatro salas”, contou ontem a presidente da instituição, Maria Amélia António, durante a apresentação aos jornalistas das novas instalações.
Isto não quer dizer que a sede da associação, localizada na Rua Pedro Nolasco da Silva, vá ser abandonada. Actualmente sujeito a obras de remodelação, este espaço vai continuar a funcionar como quartel-general da CPM, onde será realizado todo o trabalho administrativo. O edifício em frente ao Consulado-geral de Portugal na RAEM vai ganhar “uma nova dimensão do centro de encontro e convívio, algo que faz falta na comunidade portuguesa”, explicou a mesma responsável.
Quando os trabalhos de remodelação ficarem concluídos, fica vaga mais uma sala das instalações em S. Lázaro, sendo que hoje está ocupada com os serviços de secretaria. Contudo, a sala ao lado do rés-do-chão já começou a receber gente. O artista Joaquim Franco inaugurou com os seus alunos o atelier de artes plásticas.
Os workshops em xilogravura e ciência da cor foram as primeiras actividades a serem organizadas no novo espaço. O cheiro a tinta continua forte numa sala que está equipa com mesas multiusos, para se adaptarem às exigências e técnicas das diferentes artes.
Ao subir as escadas, o odor vai desaparecendo. No primeiro piso, a sala multimédia já está preparada para ser usada. Os computadores portáteis estão a postos para receber os primeiros alunos do curso de informática, uma formação que, segundo apontou Maria Amélia António, deverá arrancar no início do próximo mês.
Para finais de Abril, deverá ficar totalmente montado e equipado o atelier de joalharia. “Vamos promover cursos com vários níveis de acordo com os conhecimentos e experiência dos formandos, bem como workshops especializados. Aqui será feito tudo aquilo que é possível fazer no âmbito da joalharia artística e do design”, sublinhou a presidente da CPM.
A par da formação, a organização portuguesa quer dar apoio futuro aos formandos para desenvolverem projectos artísticos. “A sede da CPM terá condições para expor os trabalhos que as pessoas realizam aqui [no Albergue da Santa Casa da Misericórdia]. Desta forma, dá-se um estímulo ao que estão a fazer e conseguem entrar no mercado”, notou a também advogada.
Para desenvolver as indústrias artísticas locais, a instituição apostou ainda na abertura a todas as comunidades da RAEM. Neste sentido, a equipa de Maria Amélia António pretende garantir que qualquer pessoa possa utilizar o espaço, quer da óptica do aluno como da do formador, independentemente das suas origens e língua, oferecendo, se necessário, serviços de tradução durante os workshops.
“Macau é um ponto de encontro de culturas, mas por vezes essas culturas andam desencontradas. Há portugueses e elementos de outras comunidades com capacidades no domínio das artes. A CPM quer fazer a simbiose das diferentes origens para dar origem a um mercado de arte local. Macau precisa de criar um produto próprio”, defendeu.
É precisamente com o objectivo da aproximação das comunidades que, na próxima terça-feira, a instituição inaugura oficialmente o novo espaço e o ciclo de actividades com uma exposição de Kwok Woon. Até ao dia 20 do próximo mês, vão estar patentes na galeria do Albergue da Santa Casa da Misericórdia duas colecções do artista de Macau.
A primeira é formada por um conjunto de peças representativas de várias fases artísticas do criador, enquanto a segunda é uma mostra inédita de trabalhos realizados numa altura avançada da doença de Kwok Woon. Recorde-se que o artista ficou com a parte direita do corpo paralisada na sequência de uma operação e criou várias obras com a mão esquerda. Será possível ainda observar o último quadro do artista, desenhado dois dias antes da sua morte.
“Kwok Woon tinha uma grande amizade pela comunidade portuguesa. Esta exposição tem um grande significado no contexto desta iniciativa. Ao assinalarmos o início dos trabalhos nestes ateliês com esta exposição, deixamos claro que este local pretende ser um encontro quer da cultura portuguesa, como da chinesa. É fundamental manter a identidade de Macau”, sustentou a presidente da CPM.
A instituição portuguesa junta-se então aos ateliers de arquitectura e design, à livraria e a um restaurante que já estão em funcionamento no espaço da zona histórica da cidade. São Lázaro começa assim a ir ao encontro do objectivo definido pelo Governo, em 2004: transformar o bairro no centro de indústrias criativas da cidade.
Próximas actividades da Casa de Portugal
01/04 Inauguração da exposição de Kwok Woon, Galeria do Albergue da Santa Casa da Misericórdia
25/04 Inauguração da exposição de fotografias da Associação 25 de Abril de Portugal
26/04 Concerto com João Mendes (ainda por confirmar)
Abril Ciclo de cinema “Encontros de Culturas”
Aeroporto de Zhuhai quer ser internacional
O Aeroporto de Zhuhai quer aumentar consideravelmente os serviços prestados e o número de passageiros transportados através da estrutura. Com o Aeroporto de Hong Kong a gerir a estrutura da cidade chinesa há mais de um ano, há planos para a expansão da actividade, a aplicar ainda durante o corrente ano, nomeadamente através da construção de um terminal marítimo que faça a ligação a Macau e a Hong Kong.
A falta de rotas internacionais e de companhias aéreas interessadas em marcar presença em Zhuhai condiciona, contudo, os projectos das autoridades chinesas. Em declarações à imprensa de Hong Kong, Huang Yue-song, responsável pelo departamento de transportes da cidade, disse que mais de 1,1 milhões de passageiros utilizaram o aeroporto em 2007, sendo que o número deve subir, ainda este ano, para os 1,35 milhões, o que será exactamente o dobro do registado antes da gestão do Aeroporto de Hong Kong.
Apesar das previsões optimistas, Huang admitiu que o futuro do aeroporto continua, em certa medida, por definir, uma vez que não disponibiliza voos internacionais, não tem operadoras lá baseadas e não dispõe de um terminal que faça ligação às cidades vizinhas. O mesmo responsável explicou que deveria entrar em funcionamento este ano o terminal para embarcações com destino a Macau, ao Aeroporto de Hong Kong e ao centro da antiga colónia britânica, mas o processo depende de Pequim, uma vez que interfere com políticas de imigração. A partir de 2009 – a nova data apontada - será possível fazer o check-in nas regiões administrativas especiais e sair directamente no Aeroporto, sem ter que passar por mais procedimentos de imigração. O esquema planeado é semelhante ao já existente entre Macau e Hong Kong.
Quanto à ausência de companhias aéreas de peso no aeroporto, as autoridades elaboraram já um conjunto de propostas para atrair empresas que queiram operar a partir de Zhuhai. Se os planos feitos forem bem-sucedidos, o aeroporto poderá disponibilizar serviços a 1,7 milhões de passageiros, em 2010.
O Governo de Zhuhai anunciou ainda que já está decidida a localização dos acessos à ponte do Delta: ficarão nas imediações da fronteira com Macau, de modo a que possa haver, numa fase posterior, ligação às auto-estradas e às vias rápidas da zona. Será construído um túnel a partir do actual posto fronteiriço de Gongbei que irá dar a uma ilha artificial. As autoridades estão, neste momento, a proceder a um estudo do impacto ambiental das construções, sendo que deverão começar mal Pequim se pronuncie sobre as questões relacionadas com as fronteiras. O projecto será financiado pelo Governo da província de Guangdong.
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