quarta-feira, 5 de março de 2008

Ao Man Long presta depoimento confuso sobre relações com empresários, A herança de Camilo Pessanha

Ao Man Long presta depoimento confuso sobre relações com empresários

Os serviços que (não) prestou a Nolasco

Foi um depoimento confuso, com várias contradições. Ao Man Long voltou ontem ao Tribunal Judicial de Base, para ser ouvido na qualidade de testemunha do julgamento que tem como arguidos os seus familiares – mulher, pai, irmão e cunhada –, bem como três empresários de Macau.
O antigo secretário para os Transportes e Obras Públicas reiterou o desconhecimento da sua família em relação às suas “actividades” extra Governo, ideia que tinha expressado já na passada segunda-feira, tendo ainda feito várias tentativas para explicar a relação que mantinha com os empresários acusados de corrupção activa.
As justificações apresentadas pela testemunha estiveram longe de convencer o Ministério Público (MP), que o inquiriu ao longo de toda a manhã e parte da tarde. Ao Man Long insistiu que os cheques que recebeu se deviam a trabalhos de consultoria feitos pela offshore Ecoline, tendo remetido responsabilidades e pormenores para Lee See Cheong, empresário que era o proprietário da offshore, falecido no Verão de 2006. Embora a empresa estivesse nome de Lee, o antigo governante detinha plenos poderes de gestão da offshore.
O facto de não se lembrar dos montantes envolvidos e de não ser capaz de enunciar uma única empresa que a Ecoline tenha indicado, no seu papel de consultora, aos empreiteiros de Macau, levaram o MP a perguntar se não achava “esta forma de responder ridícula”. “Ridícula porquê?”, argumentou Ao. A contribuir para a estranheza das declarações do antigo governante, a relação com a família de Lee See Cheong após a morte deste. A testemunha não comunicou aos familiares do empresário a existência da Ecoline porque “a companhia ia continuar para o futuro e era uma offshore, os sócios podiam mudar”, sendo que fazia depósitos de cheques - alegadamente destinados ao pagamento dos serviços da empresa – na conta do seu pai, Ao Veng Kong. Também não foi capaz de precisar uma forma de distribuição dos lucros da Ecoline. “Dependia de quem arranjava o negócio”, disse.
O Tribunal de Última Instância, que condenou o ex-secretário a 27 anos de prisão, entendeu terem ficado provados três crimes de corrupção passiva que envolvem a Companhia de Sistemas de Resíduos de Macau – CSR.
Arguido no julgamento do TJB, Frederico Nolasco da Silva, responsável pela CSR, disse ter sido forçado por Ao Man Long aos pagamentos que fez, de quase oito milhões de patacas. De acordo com o depoimento do empresário, só depois de Ao ter exigido, por três vezes, o pagamento de uma “atenção” é que ele e os seus sócios de Hong Kong cederam à pretensão do ex-secretário.
Ao Man Long tem uma versão completamente distinta da contada por Nolasco da Silva e da constante da acusação. Na inquirição feita pelo MP, ao final da manhã de ontem, começou por dizer que o empresário lhe deu um envelope com cheques, mas não se lembrava do montante nem de quantos eram. Depois, afirmou que o empresário chegou a perguntar-lhe se tinha uma empresa de consultoria, tendo-lhe dito que não. O Ministério Público quis saber qual a razão da recepção dos cheques. “São coisas particulares entre nós. Ele era um intermediário”, acrescentou, dizendo não ter “nenhuma relação de negócios com ele”.
Já durante a tarde, depois de ver os cinco cheques, apensos ao processo, emitidos pela Polymile (empresa através da qual a CSR fez o pagamento a Ao), o antigo governante disse não ter a certeza se eram os mesmos que recebeu dentro do envelope, até porque, diz, só ouviu falar da Polymile durante o seu julgamento. O MP insistiu no motivo da entrega dos montantes por Nolasco da Silva, Ao disse não se recordar “em concreto”, dizendo achar que, “na altura, tínhamos chegado a um acordo num processo de consultoria”. Chegou a prestar algum serviço, perguntou a acusação? “Sim, sim, mas não me recordo”, respondeu. “Frederico Nolasco disse-me que, no serviço de consultoria, recebeu a sua parte e que os cheques eram para mim pelo serviço. Referiu que tinha a ver com a estação de tratamento de resíduos perigosos.” Os cheques foram depositados na conta do seu pai mas, disse ainda a testemunha, o serviço não foi prestado através dele, “pessoalmente, mas sim pela Ecoline, que descobriu as empresas” de que a CSR precisava.
De referir que, ao final da manhã, ao sair da sala de audiências, Ao Man Long olhou para Frederico Nolasco, no momento em que este se levantava do banco dos réus. Um olhar que em nada condiz com a postura que manteve sempre no TUI – jamais virou a cara para ver quem entrava no tribunal.
A face de Ho Meng Fai

Avançando explicações que não prestou no julgamento no TUI, Ao Man Long falou ontem sobre o seu relacionamento com o empresário Ho Meng Fai – a ser julgado à revelia -, com o qual, admitiu, tinha “investimentos particulares” que em nada estavam relacionados com as suas funções de secretário. Sobre uma das obras mencionada no processo, os terrenos no Pac On, Ao disse ter adquirido uma parcela, “um acordo entre eles”. Ho Meng Fai iria “deduzir o valor” – mais de 10 milhões de patacas – no montante a pagar pelos tais serviços de consultoria que o secretário prestava, através da offshore Ecoline.
Minutos mais tarde, os contornos da história passaram a ser outros. “Ho Meng Fai contava muitas coisas, que ia ganhar algum dinheirinho, mas isso era com ele. Só me disse que conseguiu obras particulares, que tinha conseguido muitas obras, que a companhia dele ia ganhando mais envergadura, que agradecia o apoio ao Governo e ao secretário.” Os 10 milhões foram uma “sugestão” do empreiteiro, “não havia nada em concreto”. Aliás, a testemunha só se lembrou destas “conversas” com Ho Meng Fai ao ouvir a acusação, explicou. “Eu não disse que aceitava. Não queria negar à frente dele, punha-o em má posição. Ele também não estava a falar muito a sério.”
O Ministério Público confrontou estas declarações com as anotações que o ex-secretário fazia, os chamados “cadernos da amizade”, onde estavam assinalados os montantes recebidos pelas diferentes obras, segundo o TUI entendeu ter ficado provado. Tal como disse no julgamento em que foi arguido, Ao disse que precisava de anotar os valores das obras públicas a decorrer em Macau, para dizer à imprensa e até para prestar contas ao Chefe do Executivo. Perante as coincidências entre cheques e anotações, o MP insistiu para que a testemunha desse uma explicação. “É um hábito pessoal. Não quero aqui comentar os meus hábitos.”
A testemunha aproveitou para alegar os seus “precários conhecimentos de direito”, fazendo referência à decisão do TUI e ao facto de não ter tido possibilidade de recorrer do acórdão que o condenou. “Apesar de serem processos diferentes, é o mesmo assunto”, disse.
Quanto ao relacionamento com Chan Tong Sang, também arguido no processo a decorrer no TJB, Ao Man Long disse que a Ecoline prestou serviços de consultoria à Chong Tit, no projecto de concepção do silo para veículos pesados da Ponte Flor de Lótus. O proprietário da empresa de construção civil deu-lhe um envelope com os cheques, mas não se recorda do valor, “porque era Lee See Cheong que fazia os contactos”. É que “nunca guardo para mim os pormenores das coisas, não me consigo recordar”.
Quanto à Ponte Sai Van, também construída pela Chong Tit, em parceira com uma empresa chinesa, o ex-secretário negou ter recebido cerca de 14 milhões de patacas, divididos em 11 cheques. Refutou ainda ter dado indicações que influenciassem a escolha da empresa adjudicatária, algo que tem negado em relação a todas as obras mencionadas.
Ao Man Long continua a ser inquirido no TJB na próxima audiência, marcada para a próxima segunda-feira.
Conta no HSBC encerrada em 2004 por “suspeitas” do banco

Uma conta bancária no Hong Kong Shanghai Banking Corporation (HSBC), em nome da empresa Citygrand - uma offshore detida pela cunhada de Ao Man Long mas controlada por este, que detinha uma procuração para o efeito - , foi encerrada no Verão de 2004 pela própria entidade bancária, por suspeitas relacionadas com os montantes depositados.
A revelação foi feita por uma funcionária de uma sucursal de Hong Kong do HSBC, que ontem veio a Macau depor no julgamento dos familiares do antigo secretário para os Transportes e Obras Públicas. Lao Fong, a gerente que abriu, em Maio de 2004, a conta detida por Ao Chan Wai Choi, disse que o banco “teve suspeitas” e encerrou a conta, comunicando o facto por carta a Ao Man Long, que lhe telefonou para averiguar as razões. A testemunha não sabia da fundamentação do banco e alegou, na altura, motivos administrativos. No tribunal, disse ter ficado a par das suspeitas através de um colega, não sabendo o que aconteceu ao valor depositado nem sendo capaz de explicar se o HSBC comunicou o caso às autoridades de Hong Kong. Lao Fong não pareceu ser conhecedora dos procedimentos das entidades bancárias em relação às directrizes para o combate ao branqueamento de capitais.
A mesma testemunha contou que, aquando da abertura da conta, Ao Man Long foi ao banco com a cunhada que, nesse mesmo momento, delegou poderes, por via de procuração, ao secretário. Lao Fong desconhecia, no entanto, o cargo que o seu cliente ocupava – uma situação oposta à verificada no Banco da China em Hong Kong, pois o gerente que abriu contas em nome da Ecoline e da Bestchoice, outras duas offshores controladas por Ao, percebeu logo, através da base de dados, que estava perante um governante de Macau, segundo um depoimento feito também ontem.
A primeira conta aberta no HSBC acabaria por ser encerrada poucos meses depois, tendo Ao Man Long aberto uma outra, com a justificação de não ter recebido o cartão de débito. Segundo a gerente, o detentor da procuração de Ao Chan Wai Choi foi ao banco acompanhado da mulher, Camila Chan Meng Ieng, que passou então a poder movimentar a conta. Pouco tempo depois, acabou por ser encerrada, mas Ao foi com o seu pai ao mesmo banco, abrindo uma nova conta, em nome de Ao Veng Kong. Foi Lao Fong que conduziu pai e filho a um outro gerente, que ficou responsável pelo atendimento dos clientes.
Confrontado pelo Ministério Público com o encerramento da conta pelo banco, Ao Man Long desmentiu a versão apresentada, dizendo que tinha sido por sua iniciativa. Já a cunhada, que pediu para falar ainda durante a inquirição da gerente do HSBC, disse não ter ido ao banco e explicou que assinou “uns papéis a pedido de um homem, não de uma mulher”, negando ainda ter recebido explicações sobre a procuração assinada, algo que entra em contradição com o depoimento de Lao Fong.
Isabel Castro


Oitenta e dois anos depois da morte do poeta

A herança de Camilo Pessanha

Filomeno Jorge tem 50 anos e faz parte da quarta geração de descendentes de Camilo Pessanha. É natural e residente de Macau, mas pouco sabe do escritor português que lhe está no sangue. “Sempre nos interessámos por bola e música, e os livros ficavam sempre para último lugar”, justifica.
De um total de onze irmãos, Filomeno, também conhecido por Russo - alcunha que ganhou quando era pequeno devido aos olhos azuis e cabelo louro - , inclinou-se para a música e é hoje o presidente da Tuna Macaense, posição que concilia há quatro anos com o trabalho de chefe de segurança.
O pai, antigo funcionário dos Correios de Macau, Leonel Cupertino Onofre Jorge, actualmente com 77 anos, “insistiu sempre que se falasse em português e ainda hoje assim é”, pelo menos quando se encontram, conta Filomeno Jorge. Mas raramente se fala de Camilo Pessanha ou em poesia. A família está repartida entre Macau, Canadá e Portugal e a última vez que se reuniram foi há cerca de três anos.
A descendência é incontestável, mas o restante legado de Pessanha não é extenso. Passados 82 anos sobre a sua morte, que aconteceu a 1 de Março de 1926, afinal o que ficou?
É face de uma nota de 100 patacas já fora de circulação, mas que pode encontrar-se nas lojas de antiguidades (um conjunto de três notas pode ultrapassar as mil patacas). Dá nome a uma artéria no centro de Macau, que liga a Rua das Estalagens à Avenida Almeida Ribeiro. Uma estátua em tamanho natural, da autoria de Carlos Marreiros, ergue-se no Jardim das Artes, entre o local de trabalho de Filomeno Jorge, o casino Wynn, e o velho Lisboa, onde as letras gravadas na pedra foram já carcomidas pelo tempo. O monumento que inclui também homenagem ao companheiro inseparável de Camilo, o seu cão Arminho, foi inaugurado pelo último governador de Macau sob administração portuguesa, em Dezembro de 1999.
Filomeno Jorge recorda que, numa visita oficial das autoridades portuguesas ao território, antes da transição, “muito se falou e escreveu sobre a minha avó materna, já falecida, neta de Pessanha”. Mas pouco mais sabe. O seu irmão mais velho, garante, “arquivou tudo o que a minha avó tinha”.
Maria do Espírito Santo Manhão contactou, ainda criança, com Pessanha e, numa entrevista feita pelo escritor Daniel Pires, em 1990, a neta do poeta responde que não conhecia muito bem o avô fisicamente “porque estava sempre na cama quando o visitava”. Aliás, imagem que vários convivas deixaram em alguns escritos.
“Há uma série de mitos em torno de Camilo Pessanha, um dos poetas maiores do simbolismo português”, avança Tereza Sena, com cerca de 20 anos de presença no território e representante da Associação Wenceslau de Moraes em Macau. “A sua atitude fugia aos padrões da altura: imergiu na cultura chinesa, assumiu uma relação com a concubina Lei Ngoi Lam e esses mitos iam mais longe. Havia quem dissesse que era um professor displicente, que se vestia mal e que não sabia comportar-se.” Em síntese, que não fazia parte da vida da comunidade portuguesa colonial. Mas sabe-se, contudo, que “era um docente empenhado”. O facto de ser um opiómano assumido também não ajudou nem à sua imagem social, nem à sua saúde, que muitas vezes o prostrava na cama.
Apesar de não ser um escritor com uma vasta obra, conhecendo-se apenas Clepsidra - graças a Ana de Castro Osório que, a partir de Portugal, insistiu com ele para a publicação, em 1920, e depois ao filho João de Castro Osório que concretizou outras edições da mesma obra - , “isso não significa que não seja um grande poeta, pelo contrário, em determinados círculos poéticos e intelectuais vem à conversa, está traduzido para chinês e outros escritores referenciam-no”, explica. “Muito já foi escrito sobre um dos poetas maiores do simbolismo português, especialmente nos anos 90”, cujas obras podem consultar-se na biblioteca central no Tap Seac ou na biblioteca com o nome do escritor, com sede no IPOR.
Recentemente, foi lançado em Portugal um livro de Paulo Franchetti, crítico literário, escritor e professor brasileiro com vários estudos de Pessanha publicados, intitulado “O Essencial sobre Camilo Pessanha”, livro que será também apresentado em Abril na RAEM, no âmbito das comemorações preparadas pela Associação Wenceslau de Moraes. Tereza Sena diz também que o professor fez inclusive “estudos comparativos de várias edições da Clepsidra, uma vez que há poemas que diferem de edição para edição pelo facto de Pessanha estar constantemente a reescrevê-los, ou por terem sido transcritos de declamações”.
Enquanto estava no território, a saúde débil levou-o a Portugal por algumas vezes, onde integrava os círculos poéticos, privava com Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, declamava os poemas que trazia na memória. Estas alturas reflectem o “intercâmbio que Pessanha fazia nos dois sentidos” e também “a colecção de obras chinesas doadas ao Estado português, e que partilha com o seu país, reflectem o orientalismo e humanidade de Camilo Pessanha”, corroborada pela entrega da sua colecção bibliográfica a Macau.
Em suma, “foi bom escritor, jurista, poeta”. “Amado por uns e odiado por outros. Havia quem se sentisse afrontado até pelo facto de ser maçónico”, conclui.
A casa onde vivia na Rua da Praia Grande, no número 75, não ficou para a história, tendo sido demolida onze anos depois da sua morte.
A última prova da presença de Pessanha na ex-colónia é a sua sepultura no cemitério de São Miguel, juntamente com o filho João Manuel de Almeida Pessanha e a nora Li Oi Long.

Professor, jurista, escritor, poeta

Camilo Pessanha nasce em Coimbra no dia 7 de Setembro de 1967, cidade onde cursou Direito. Em 1894, após concurso, decide vir para o território para ser professor de Filosofia Elementar no Liceu de Macau, onde lecciona durante três anos com um cão debaixo do braço, de nome Arminho, que viria a ser o seu amigo fiel. Mal pisou a então colónia portuguesa, decidiu estudar a língua e cultura chinesas. Em 1895, compra uma concubina, Ngo Lei Lam, que será a sua companheira e de quem vem a ter o único filho um ano mais tarde, João Manuel de Almeida Pessanha.
O escritor revela saúde frágil e, em 1896, a junta médica recomenda-lhe uma estadia em Portugal, que cumpre em Lamego, terra onde viviam os pais. Oito meses mais tarde regressa ao território. Em 1900, toma posse como Conservador do Registo Predial, quatro anos mais tarde assume o cargo de Juiz de Direito Substituto de Macau.
Em 1905, a junta médica diagnostica-lhe uma anemia e sugere novamente uma estadia em Portugal, onde passa mais de três anos, deambulando pelos círculos académicos da altura. De regresso a Macau, motivado também pelo fácil acesso ao ópio, lecciona economia e direito comercial e ensina português no Liceu de Macau. Em 1915, doa a sua colecção de arte chinesa ao estado português e, em 1920, é um dos fundadores do Instituto Cultural de Macau, com o objectivo de estudar e divulgar a influência portuguesa no Oriente.
Depois da morte da concubina Ngo Lei Lam, fica Kuoc Ngan Ieng, referenciada como Águia-de-Prata, segundo uns filha da concubina, que outros garantem ter passado a substituir a mãe naquela função. Na hora da morte é beneficiada em detrimento do próprio filho com acções, mobília e objectos do quarto.
A 1 de Março de 1926, morre de tuberculose pulmonar. Dezoito dias depois, a Rua do Mastro passa a ser denominada Rua Camilo Pessanha. Três anos mais tarde nasce o neto João Manuel de Almeida Pessanha. Em 1941, morre com a mesma doença do pai, João de Almeida Pessanha, filho do poeta.
Sabe-se que Pessanha teve uma outra filha, ainda solteiro, Maria Rosa dos Remédios do Espírito Santo, avó de Filomeno Manhão Jorge.
Sandra Gomes
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn

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