quinta-feira, 20 de março de 2008

Centro de Indústrias Criativas assinala cinco anos em 2008, O concurso Miss Macau visto pelas irmãs Pedruco

Centro de Indústrias Criativas assinala cinco anos em 2008

A Helsínquia que Macau podia ser

São cinco anos de exposições, workshops, encontros com os artistas, participações em feiras e colóquios internacionais, com Macau sempre na bagagem. Concebido a pensar nos criativos nados e criados por aqui, e também naqueles que decidiram fazer do território o seu espaço de trabalho e de residência, o Centro de Indústrias Criativas (CIC) tem já uma mão cheia de anos de actividade. Dentro e fora de Macau.
“A experiência tem sido positiva. Não posso dizer que seja excelente, porque queremos sempre mais”, diz Lúcia Lemos, a responsável por este projecto que tem como objectivo projectar Macau a nível internacional, no que à criatividade diz respeito. Para se atingir a excelência, é preciso mais. Lúcia Lemos tem planos, ideias e conceitos mas, no mundo da criatividade que se quer industrial, o dinheiro e a vontade de quem cria (e de quem compra) são condições imperiosas. A qualidade também.
De regresso aos primeiros tempos, corria o ano de 2003, Lúcia Lemos recorda que, na altura, “não se ouvia falar de indústrias criativas”, essa expressão que ainda hoje dá que pensar mas que tem, assegura, uma projecção muito maior do que há cinco anos. “O Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM) foi pioneiro nesta área, as indústrias criativas eram pouco conhecidas, falava-se muito em indústrias culturais.” Projecto nascido no seio do IEEM, o Centro foi a evolução lógica de alguns workshops e conferências que foram sendo realizados, “com pezinhos de lã”, a ver se a ideia tinha consistência.
Chegou-se então à conclusão de que fazia sentido avançar para a criação de uma estrutura que fosse além do que o associativismo já se encarregava de fazer. “Foi um projecto discutido com as pessoas que já tinham assumido uma carreira como artistas, designers, arquitectos. Fizemos questão de dialogar com as pessoas para saber se o nosso projecto fazia sentido para elas”, contextualiza. A ideia convenceu, nem sequer havia nada do género em Macau, “avançámos imediatamente com a inscrição de membros”.
Abrangendo áreas tão distintas como a publicidade, a arquitectura, o artesanato urbano, o design, o design de moda, a música e as artes performativas, entre outros campos que se considera poderem ser criativamente industriais, o CIC nasceu da vontade de proporcionar visibilidade aos trabalhos locais. Seguindo este raciocínio, tornou-se indispensável arranjar um espaço, “um corpo”, um local que servisse não só para os artistas terem canais de divulgação dos seus trabalhos, mas também para os potenciais clientes perceberem qual a capacidade de produção dos criativos. “Em Macau, é preciso existir fisicamente para que as pessoas vejam e passem a conhecer”, sublinha Lúcia Lemos.
Alice Kok, uma jovem artista visual de Macau, que expôs recentemente no “Creative Macau” – a manifestação física do CIC, instalada no Centro Cultural – entende que o projecto está a ser bem-sucedido. “Funciona bastante bem, conseguem até vender grande parte dos trabalhos dos artistas, o que é raro”, exclama. Chegados a este ponto, entramos numa outra dimensão do trabalho de Lúcia Lemos à frente do Centro. É o “Creative Macau” uma galeria? A resposta é negativa. Funciona, isso sim, como uma plataforma, uma montra de trabalhos. Além disso, distingue-se da galeria clássica por não ser um espaço dedicado às Belas-Artes, mas sim às indústrias criativas.
“Há uma perspectiva industrial neste conceito. É também mais realista”, explica Lúcia Lemos. Os artistas de hoje em dia já não se resumem às telas e aos pincéis, em românticos ateliês de sombras e cores. As faculdades de Belas-Artes desdobraram-se em ofertas, perceberam as realidades do mercado. “As pessoas têm que estar aptas a fazerem várias coisas, a serem versáteis”, diz a responsável. Exige-se o quase impossível: “Responderem ao que a sua alma exige e ao que o mercado pede.”
Macau tem potencialidades para se tornar num local onde se produzem objectos bonitos, funcionais e inovadores, extremamente inovadores. A inovação é indissociável da criatividade; a capacidade de produção é essencial para que essa criatividade se torne industrial. Lúcia Lemos detecta o problema de Macau. “Seria muito importante que se criassem estruturas de produção e de formação técnico-profissional de excelente qualidade.” É a resposta às exigências do mercado: “Todos os contactos que temos tido de grandes empresas exigem grande qualidade, bom design, novo, diferente, olham para o currículo do artista e para a capacidade de produção.” Neste sentido, continua, “é preciso dar formação, não esporádica - aquela que se faz em workshops - , mas sim em continuidade”.
O que falta, assim sendo, é levar a sério as indústrias criativas, porque isto “não é uma brincadeira, tem um objectivo industrial”. Lúcia Lemos dá o exemplo de Helsínquia. “Apostou-se em força, houve uma vontade colectiva, facilitou-se a vida dos criativos.” Em Macau não falta criatividade. E o momento é o certo – a cidade está cada vez mais internacional, “a China está muito aberta, há uma enorme procura, querem surgir no mapa do mundo com esta vertente.”
Com cerca de trezentos membros inscritos, o CIC aceita tanto novos como conceituados artistas, desde que sejam residentes de Macau. “Acho que são muito entusiastas na forma como trabalham e promovem a arte local”, sentencia Alice Kok. “Encorajam muito a produção e organizam exposições individuais a cada três semanas, o que é imenso!”
O Centro de Indústrias Criativas promove “o trabalho dos novos mas também da nata”, frisa Lúcia Lemos. Da lista de muitas exposições agendadas para este ano fazem parte talentos novos em idade e carreira, mas também nomes conceituados como Guilherme Ung Vai Meng, um dos pintores e designers locais com reconhecimento a nível internacional, director do Museu de Arte de Macau.
Isabel Castro
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn

O concurso Miss Macau visto pelas irmãs Pedruco

Beleza a quanto obrigas

Quebraram um recorde. Afortunadas pela beleza, quatro irmãs, de apelido Pedruco, venceram, em ocasiões diferentes, o concurso Miss Macau, concorrendo depois ao Miss Chinese International e ao Miss Mundo. Incentivada pela mãe, foi Guilhermina a primeira a concorrer. Mas foi a última, Guiomar, a que mais hesitou. Por medo de não conseguir alcançar os mesmos resultados das irmãs. Lembrando um episódio memorável da história de Macau, o Tai Chung Pou procurou saber, vários anos depois, o que é feito das irmãs Pedruco.
Foi Guilhermina quem desbravou caminho. No distante ano de 1989, tinha 19 anos. A mãe perguntou-lhe: “Porque não concorres ao concurso Miss Macau? Seria uma forma de ganhares mais confiança em ti própria.” Guilhermina recusou. Mas a persistência da mãe era ilimitada e a jovem Pedruco deixou-se convencer.
Participou tranquilamente. Nem sonhava que seria a contemplada com o título Miss Macau. Mas o que mais a “surpreendeu” foi mesmo ter alcançado também o título Miss Fotogenia. “Nunca imaginei que fosse fotogénica”, pensou.
Seguiu-se naturalmente o concurso Miss Mundo, em Hong Kong. “Não podia dizer que não, era obrigada a ir”, conta. Ganhar seria muito difícil, mas, mesmo assim, avançou. Se não venceu o título, ganhou outras coisas. “Muitas amigas, gostei do convívio com as raparigas e tive a oportunidade de promover Macau”, diz. Um balanço que considera extremamente positivo.
Depois foi a vez da sua última participação num concurso de beleza. O objectivo seria alcançar o título de Miss Chinese International. Aí sim foi vitoriosa, tornando-se segunda dama de honor. “Fiquei muito surpreendida”, declara.
Fez dieta? Exercício físico? Mas, afinal, o que é preciso para vencer este tipo de concursos? Guilhermina garante que nada fez. “Naquela altura já era muito magra, nem tive de me preocupar”, diz rindo. Quanto às irmãs, que viriam logo de seguida, uma por uma, a seguir as suas pisadas, Guilhermina não fica espantada com o sucesso que também alcançaram. “Estas coisas têm sempre um júri”, diz convicta.
Concorreu sem qualquer ponta de ansiedade. “Fui a primeira”, declara simplesmente. Já da parte das irmãs, Guilhermina acredita que estariam mais nervosas pelo peso da responsabilidade. “A seguir a mim, foi a vez da minha terceira irmã, por iniciativa dela, e já ia mais nervosa, a segunda pensou o mesmo e a quarta foi pior ainda”, conta. A mais nova do grupo, Guiomar Pedruco, estava preocupada tendo em conta que todas as irmãs tinham vencido. “Se não ganhasse como é que iria ser?”, disse-lhes na altura. Mas acabou por avançar, dada a insistência da mãe e irmãs.
Hoje em dia, Guilhermina não quer revelar a idade. “Tenho 30 e tal anos”, desvenda. O Tai Chung Pou também não o irá fazer. Trabalha para o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais e quase nem se lembra desse ano em que foi Miss. E as pessoas também já não se recordam. De vez em quando, alguém se apercebe e comenta, “mas nunca como dantes”, garante.
Geraldina Pedruco foi a terceira irmã a concorrer, mas é a segunda mais velha. Hoje tem 37 anos, trabalha no Consulado de Portugal e, se não fosse o telefonema do Tai Chung Pou, dificilmente se iria lembrar daquela época.
Naquele longínquo ano de 1995, Geraldina tinha 24 anos. “A minha mãe disse para experimentar. Fui a última a entregar a ficha de inscrição”, conta. Quando lhe disseram que iria concorrer a Miss Macau, nem estava à espera. “Como tinha sido a última a inscrever-me, achei que já nem seria aceite”, lembra.
No dia do concurso, a ansiedade era muita. “Estava com muito stress, nada preparada”, declara. Venceu o título e mais surpreendida ficou. Seguiu-se o Miss Mundo e, posteriormente, o Miss Chinese International. Mas foi o concurso Miss Mundo, na África do Sul, que a marcou especialmente. “Tive oportunidade de conhecer pessoas diferentes – de Israel, Rússia, Médio Oriente, sítios que pouca gente pensaria em visitar”, conta. Vencer já seria difícil. “Toda a gente sabe que em concursos internacionais quando se é de um território pequeno não se ganha”, conta com alguma pena.
O que mais se recorda daquele concurso internacional, não é da África do Sul, porque quase nem teve oportunidade de passear e conhecer o país. Mas do desconhecimento por parte das colegas relativamente a Macau. “Nem a Miss Portugal conhecia, tive de explicar onde era”, diz incrédula. Aliás, nem mesmo a Miss Filipinas sabia onde era o território.
O seu papel passou, por isso, por promover Macau. “Levei por minha iniciativa brochuras de turismo e fotos”, conta. Foi mostrando às colegas. “Eu, a Miss Eslováquia e a Miss Israel éramos mais amigas, andávamos sempre juntas. Parecia um grupo de estudantes num passeio especial”, recorda com saudade.
E se mal podia sair do hotel para conhecer a paisagem que a rodeava, ainda assim teve a oportunidade de uma vida. Conheceu Nelson Mandela. “Ele sabia perfeitamente onde era Macau”, diz rindo.
Entrando para o Livro dos Recordes do Guinness como uma das quatro irmãs que, ganhando o concurso Miss Macau, participaram no Miss Mundo e no Miss Chinese International, é caso para perguntar como se dá tamanha coincidência. “Os membros do júri eram sempre os mesmos – o director dos serviços de Turismo, a mulher do Stanley Ho”, diz Geraldina. “Todas nós tínhamos um ar mais ou menos parecido”, acrescenta. Era o padrão de beleza que mais agradava aos olhos do júri.
Do sucesso colectivo, que viria a marcar a família, nasceu o restaurante com o sugestivo nome “Miss Macau”. Viria a fechar mais tarde. Seria talvez um dos poucos vestígios de tal época vitoriosa, já que as fotos estão longe da vista, algures fechadas num armazém, confidenciou Guilhermina.
Um recorde

O concurso de Miss Macau foi sempre alvo de grande atenção por parte da comunidade macaense, principalmente por ter sido batido um recorde. Tal como noutros países do mundo, as vencedoras tiveram sempre direito a participar nos concursos Miss Chinese International e Miss Mundo. O território foi o único a alguma vez conseguir enviar três ou mais irmãs àquelas duas competições. Neste caso, foram quatro: Guilhermina Madeira da Silva Pedruco, Geraldina Madeira da Silva Pedruco, Isabela Madeira da Silva Pedruco e Guiomar Madeira da Silva Pedruco.
Guilhermina, a mais velha, competiu no Miss Chinese International em 1989 e no Miss Mundo no mesmo ano. Aos 19 anos, foi segunda dama de honor no Miss Chinese International. Foi a única Miss Macau alguma vez premiada naquele concurso.
O concurso Miss Macau realizou-se pela primeira vez em 1972, patrocinado pela Sociedade de Turismo e Diversões de Macau. Entre 1985 e 1998, o concurso Miss Macau foi organizado pela Teledifusão de Macau, tendo decorrido no auditório do Fórum de Macau. Dez anos após a última edição, o Miss Macau terá lugar no Venetian no final do ano, será organizado pelo G&L Group e a gala produzida pela TVB de Hong Kong. O concurso não tem tido muita continuidade porque os patrocinadores mudam frequentemente, com o conceito a ser consequentemente alterado.
Luciana Leitão
Fotografias gentilmente cedidas pelo GCS

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