Japão compensa Taiwan
David Fei prefere falar em “impacto positivo”, ao invés de negativo. Ciente de que a eventual criação de uma rota directa entre Taiwan e o Continente poderá representar uma diminuição dos lucros da Air Macau, o director executivo afirma que as declarações de Ma Ying-jeou não foram uma surpresa, já que essa possibilidade esteve sempre em cima da mesa. Aliás, tendo isso em conta, “desde 2004 – com a inauguração de rotas para a Coreia - que a Air Macau se está a preparar”.
Antevendo que, mais tarde ou mais cedo, tal viesse a acontecer, foi assinado um acordo bilateral entre as autoridades aeronáuticas da RAEM e do Japão, em Fevereiro último, eliminando todas as restrições à capacidade e aumentando o número de cidades japonesas para as quais é possível voar. Por isso, a Air Macau deverá lançar, ainda este ano, voos regulares para Hokkaido, Nagoya, Okinawa e Fukuoka, tornando a rota para Osaka diária a partir de Maio.
Em 2010, a transportadora pretende estender este serviço a Tóquio. Este aumento do tráfego entre Macau e o Japão deverá, na opinião do responsável, “compensar a perda de voos para Taiwan”. Além disso, tendo em conta que “os japoneses gastam dinheiro e recursos” quando vêm ao território, também desta ligação aérea resultará um “impulso para o desenvolvimento económico de Macau”. Assim, remata David Fei, caso se concretize a criação de ligações directas entre Taiwan e o Continente, a Air Macau nada tem a temer, dado o aumento do número de voos e a aposta no mercado nipónico.
A licença administrativa que permitiu operar voos regulares entre Macau e o Japão foi atribuída à Air Macau pelo Ministério do Território, das Infra-estruturas e dos Transportes do Japão e teve o apoio do Governo Central e do Executivo da RAEM em Junho do ano passado. Uma autorização que surgiu na sequência de uma deslocação ao Japão de uma delegação constituída por representantes do Governo da RAEM, Air Macau e individualidades ligadas à aviação, para contactos informais com o Gabinete para a Aviação Civil daquele país. Foi o abrir de uma porta de entrada no mercado japonês.
Recorde-se que uma grande percentagem dos lucros da Air Macau resulta do transporte aéreo de passageiros de Taiwan para a República Popular da China via Macau, dada a inexistência de voos directos entre a ilha e o Continente. Nas palavras de David Fei, a Air Macau e o Aeroporto Internacional do território têm servido de plataforma de ligação entre o Continente, Taipé e Kaohsiung. Algo que deverá mudar, pelo menos se Ma Ying-jeou cumprir a sua promessa. Uma proposta que surge da vontade de uma aproximação a Pequim e do fim das relações conflituosas.
Luciana Leitão
Eleições de Taiwan servem de “lição”, dizem académicos de Macau
Das eleições de Taiwan, a RAEM poderá, quanto muito, extrair uma lição. É essa a opinião do professor da Universidade de Macau, Eilo Yu. O académico declarou ao Tai Chung Pou que a disputa de dois partidos às eleições presidenciais da ilha separatista poderá servir de exemplo a Macau que, realçou, está longe de ser um regime democrático.
Recordando as anteriores eleições de Taiwan, o académico de Macau afirma que envolveram “dinheiro e interesses”. Mas as eleições que tiveram lugar no sábado foram “transparentes”, o que, na sua opinião, poderá servir de indicador às pessoas do território de que têm de lutar contra a corrupção. O verdadeiro impacto de tais resultados será, principalmente, “económico”, já que o recém-eleito Presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, reiterou a intenção de criar ligações aéreas directas entre a ilha e o Continente. “O Aeroporto Internacional poderá sofrer algumas consequências”, diz. Mesmo assim, “não será um verdadeiro problema”.
Comentando os efeitos políticos dos resultados eleitorais, Eilo Yu afirmou ainda que Ma Ying-jeou não defende directamente a independência de Taiwan, tendo sempre incentivado a interacção entre a ilha e o Continente. Fugindo sempre à questão da reunificação com Pequim, Ma Ying-jeou tem procurado mostrar que se trata de “outro assunto”, que não deverá nortear a sua intervenção política.
Por seu turno, a académica da Universidade de Macau, Agnes Lam, afirmou que o único impacto negativo em Macau resultante da vitória de Ma Ying-jeou será económico. Mas, em termos culturais e sociais, a RAEM continuará a servir “de plataforma entre o Continente e Taiwan”, sublinhou, em declarações ao Tai Chung Pou.
Em entrevista ao jornal Va Kio, a académica tinha sustentado ainda que a paz e a estabilidade das eleições presidenciais de Taiwan revelam que a participação pública e a democracia levam tempo a amadurecer e a desenvolverem-se. Se alguma lição Macau pode tirar é que se a democracia é o último objectivo, os residentes devem ter acesso a deveres relevantes para minimizar os danos infligidos à sociedade no decurso do desenvolvimento. Por isso, a participação da sociedade na vida política deverá aumentar, através da promoção da educação cívica e da monitorização dos meios de comunicação social imparciais.
Para Agnes Lam, uma pequena emenda às leis eleitorais pode resultar em avanços na democratização, mas as propostas recentes do Governo não surtirão esse efeito. A académica sugere, ao invés, que os deputados escolhidos por sufrágio universal nas próximas eleições coloquem na agenda política a questão da extensão do sufrágio universal aos colegas do hemiciclo.
Recorde-se que o recém-eleito Presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, eleito no sábado com perto de 60 por cento dos votos, repetiu que vai promover melhores relações com a China, mas que não tem a intenção de visitar o país “num futuro próximo”.
Conservando um tom de desafio relativamente ao regime comunista, o inimigo histórico de Taiwan, o candidato do Kuomintang (KMT) assentou a sua campanha na contenção relativamente a Pequim. Ma Ying-jeou deseja um “acordo de paz” com a China para acabar com um conflito armado que nunca teve um final oficial desde 1949. O novo presidente declarou-se ainda favorável ao restabelecimento de ligações directas e à criação de um mercado comum com o vizinho comunista.
Ma Ying-jeou acabou por fugir cuidadosamente à espinhosa questão da reunificação, “grande objectivo” da China, que ameaça intervir militarmente caso exista uma declaração formal de independência da ilha.
Pequim, que possui um milhar de mísseis apontados contra a ilha, considera Taiwan como uma província rebelde, apesar de uma independência de facto que data da criação da República da China há cerca de 60 anos.
Nasceu da vontade conjunta de oito pessoas e, em menos de dois anos, passou a ser o responsável por mais de 300 cães e gatos. O Centro de Acolhimento de Animais Abandonados (RCAP, na sigla em inglês) lida actualmente com um problema comum em Hong Kong: a utilização de terrenos cedidos pelo Governo.
Criado em Outubro de 2006 por um grupo de amigos dos animais, que alimentavam cães abandonados nas ruas da antiga colónia britânica, o RCAP tem, como objectivo principal, proporcionar-lhes melhores condições de tratamento e evitar que sejam maltratados. O centro fica localizado nos Novos Territórios, com vista para os arranha-céus de Shenzhen, que ficam do outro lado das águas lamacentas. Com espaço para os animais correrem, o RCAP dispõe ainda de área suficiente para que os visitantes possam brincar com os cães que “adoptam”. No início, eram apenas 40 cães, mas o número não tardou a aumentar: o centro acolhe, neste momento, 289 cães e 34 gatos, sendo que os felinos se encontram separados num espaço com ar condicionado.
Atento aos visitantes, o sociável “golden retriever” Mo-mo reúne todas as características da sua raça. Cão bonito e com o qual se estabelece rapidamente um laço de afectividade, Mo-mo não tem a orelha esquerda. O facto de ter um “chip” incorporado revela que teve, em tempos, um dono, mas o contacto perdeu-se. Foi encontrado na rua pelo proprietário de uma armazém, com graves ferimentos. O estado da sua ferida era tão avançado que o veterinário não teve outra hipótese que não tirar a orelha esquerda.
Mo-mo é uma excepção no RCAP: por norma, os cães de raça pura são aqueles que estão menos sujeitos ao abandono. Nos casos em que são encontrados a vaguear pelas ruas, facilmente encontram um novo dono. Assim, “a maioria dos animais são arraçados ou rafeiros”, sintetiza Fiona Fung, a administradora do centro. “No entanto, cada vez mais animais de estimação têm vindo parar ao centro e recebemos três ou quatro telefonemas diários de pessoas que precisam da nossa ajuda”, explica. “A primeira coisa que dizem é que estão a mudar de casa e, no novo prédio, não são permitidos animais.”
O RCAP não ajuda todos os donos de animais de estimação. Para começar, os cães e gatos têm que estar esterilizados. Depois, são sujeitos a um check-up completo antes de serem admitidos. Em situações de aflição, o centro apoia financeiramente os proprietários de animais que necessitam de tratamento médico urgente, quando os donos comprovadamente não têm possibilidades para tal.
A maioria dos cães vem, deste modo, das ruas, trazidos por voluntários ou recolhidos após terem sido recebidas denúncias de residentes. Dor-dor, de apenas um ano de idade, não partilha o espaço de recreio dos restantes cães e parece muito tímido. A fita vermelha da coleira indica que morde – ao contrário da maioria dos cães que ocupam o centro, Dor-dor não gosta do contacto humano.
Encontrado por um residente numa estação de autocarros na cidade satélite de Tsuen Mun, quando era ainda um cachorrinho, Dor-dor encontrava-se deitado numa suspeita poça de sangue antes de ser levado para tratamento. Na clínica, revelou ser um animal pouco amigável: mordeu o veterinário, que teve dificuldade em lidar com ele. Embora a causa das feridas de Dor-dor tenha ficado por esclarecer, o cão tem nítidos problemas com seres humanos. Com os outros animais, relaciona-se sem problemas.
Os cães podem ser adoptados e levados para casa, ou então permanecerem no centro, sendo que a maioria reconhece os seus pais adoptivos e reage com entusiasmo às visitas, sinónimo de maior atenção e de brincadeiras na relva. V.V. é uma excepção. “Assim que os pais adoptivos chegam, esconde-se ou foge.” A explicação pode estar, mais uma vez, naquilo que a cadela passou antes de chegar ao centro. “Quando foi ‘adoptada’, estava a fazer tratamento a uma ferida. Mal viu os ‘pais’ começou a correr em círculos e magoou-os nas pernas”, recorda Fiona Fung. “É possível que tenha sido maltratada ou sujeita a isolamento, o que a faz reagir mal à presença de pessoas estranhas.”
O percurso do RCAP tem sido complicado e não parece que vá melhorar. Os problemas começaram logo no início: um outro centro de recolha de animais abandonados queixou-se ao jornal Ming Pao que o RCAP tinha levado a cabo, de forma ilegal, uma campanha de recolha de donativos. A estrutura administrada por Fiona Fung foi multada. “Não sabíamos que tínhamos que pedir autorização prévia ao Departamento de Segurança Social”, justifica a responsável.
Pouco tempo depois, os órgãos de comunicação social noticiavam que o centro estava envolvido numa disputa de terrenos, um problema que Fiona Fung diz jamais ter pensado que poderia acontecer. Entretanto, continuaram a chegar animais ao RCAP. “Temos muita vontade de ajudar, mas chegam aqui pessoas que vêm indicadas por outros centros. Parece-me que não deviam apenas trabalhar na recolha de verbas, sem assumirem as suas responsabilidades”, atira, em tom crítico.
O maior problema é, no entanto, o terreno onde o centro está instalado, um dilema que continua por resolver. Em Novembro passado, o Departamento de Terras acusou o RCAP de estar a usar o espaço de forma abusiva em relação à finalidade inscrita na concessão, tendo definido uma data para a organização sair do local, que acabou, contudo, por ser adiada duas vezes. Fiona Fung conta que o centro anda à procura de um novo terreno, aguardando a aprovação das autoridades.
Difíceis relações de vizinhança
O maior problema com o qual o Centro de Acolhimento de Animais Abandonados se depara é o espaço, mas a vizinhança também não ajuda. Fiona Fung, a administradora da estrutura, acredita que, na origem da questão do terreno, estão as queixas feitas pelos moradores da aldeia dos Novos Territórios onde o RCAP está instalado.
Admitindo que os cães fazem barulho a meio da noite, “quando precisam de ajuda”, a responsável assegura que o problema foi ultrapassado em grande parte com a contratação de uma pessoa que fica no centro no período nocturno. “Com alguém a fazer-lhes companhia, deixaram de ladrar. Quando o fazem, voltam a estar sossegados em dois segundos.” Embora os vizinhos também se queixem do cheiro, à entrada no espaço, limpo com regularidade, não se sente qualquer odor que incomode.
Há mais cães na vizinhança, pertencentes a alguns dos vizinhos, que contribuem para o barulho durante a noite, argumenta ainda Fiona Fung. “Passam-se coisas complicadas nesta zona depois da meia-noite. Os cães dos vizinhos ladram quando sentem pessoas na rua ou quando alguém, por exemplo, fecha a porta de um carro.” Em épocas festivas, os panchões e foguetes que a vizinhança queima deixam os animais do centro irrequietos. “Já tivemos que chamar a polícia para nos ajudar”, conta a responsável.
À saída do centro, não é difícil sentir o ambiente de tensão e os vizinhos que se encontram nas imediações não se mostram disponíveis para conversar e, muito menos, para serem fotografados. Teresa Wong, uma das fundadoras do RCAP, explica que vários visitantes do centro foram ameaçados pelos moradores da zona. “Já tentámos conversar com a vizinhança, mas com este clima de ameaças é complicado chegarmos a um entendimento.”
Para Teresa Wong, o barulho não é o problema real, mas sim o facto de serem “estranhos” naquela zona. Durante um teste ao ruído feito pelo Departamento do Ambiente, a pedido dos moradores, “os vizinhos tentaram, de todos os modos, provocar os animais, para que estes fizessem efectivamente muito barulho”. As autoridades acabaram por não o considerar válido. “Já recebemos várias ameaças, mas não temos nada a temer. Estamos aqui apenas porque queremos tomar conta de animais abandonados, somos uma associação sem fins lucrativos,” remata a fundadora da organização.
Kahon Chan, em Hong Kong,
com Isabel Castro
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