O homem e as causas
Clube dos Rotários, Cruz Vermelha, Associação dos Arquitectos de Macau, Organização das Famílias da Ásia e Pacífico (OFAP), Federação Internacional de Organizações Não Governamentais para a Prevenção da Droga e Abuso de Substâncias (IFNGO), Associação dos Profissionais de Turismo. Uma longa lista de organizações que têm, pelo menos, um denominador comum. Nuno Jorge pertence a todas elas e preside a algumas. Arquitecto de profissão, é amante das causas sociais nos tempos livres. “O bicho apanhou-me com os Rotários”, confidenciou o presidente da Associação dos Arquitectos de Macau ao Tai Chung Pou numa longa entrevista. Avesso a questões de foro privado, Nuno Jorge optou por apenas comentar aquilo que é público. Fica por conhecer o homem por detrás do associativista.
Fruto de uma certa tradição familiar, já que o pai também foi presidente da Cruz Vermelha em Macau, Nuno Jorge deixou-se cativar desde cedo pelas causas sociais. E descobriu que “as coisas não se deixam de fazer por causa de dinheiro, o dinheiro aparece sempre. As coisas deixam de se fazer, muitas vezes, por má organização, ou porque os objectivos não são claros”. O que acaba, muitas vezes, por resultar em “nepotismo e corrupção”. É por ser contra “aproveitamentos pessoais” que tem optado por manter a discrição nas suas intervenções públicas.
No caso dos Rotários – grandes desencadeadores do “bichinho” associativista e solidário -, trata-se de uma “organização de voluntários que pagam e tem um custo pessoal de tempo e dinheiro”. Por isso, apenas se faz o que “vale a pena fazer”. Dado o contacto transversal com a sociedade, torna-se “estimulante em termos intelectuais e dá uma compreensão muito maior do mundo em que vivemos”. Surgem então outros interesses, outras questões e outra perspectiva do mundo em que se vive. “Se tivermos uma oportunidade de fazer o bem sem grande custo porque é que não vamos fazer?”, interroga. Daí a dedicação à causa da “solidariedade humana”. “Temos na nossa sociedade dois pecados – um que é fazer mal e outro que é, tendo oportunidade de fazer bem, não o fazer”, declara. “Mais tarde ou mais cedo, qualquer benefício que haja também se reflecte em nós próprios”, acrescenta.
Depois, foi a vez de se dedicar à Cruz Vermelha e à “questão da dignidade da pessoa humana”. Deparando-se com o problema dos refugiados e da separação do núcleo familiar, apercebeu-se de que “família é um elo fundamental da sociedade”. Até porque, recordando as palavras de um antigo governante da China do qual não se lembra o nome, “não há melhor segurança social do que a família”. Um facto que confirmou quando integrou a equipa da Cruz Vermelha, tanto quando foi vice-presidente da organização em Portugal, como quando fez parte da direcção na China.
Surgiu então a presidência da Organização das Famílias da Ásia e Pacífico (OFAP). Um projecto que tem sido proveitoso para ter “experiências fabulosas”. Por exemplo, em Xangai, lançou-se um projecto-piloto que passa por “a mesma carrinha que faz a recolha das crianças, recolhe os idosos. Os idosos vão ajudar a tomar conta das crianças com um interesse completamente diferente, descontraído, com tempo, contam estórias, ensinam os caracteres”. Uma experiência que “permite reduzir o número de assistentes sociais, melhorar a qualidade do tempo que as crianças passam nas creches e criar o elo entre gerações”, declara convicto.
Com cargos em várias associações, além da sua actividade profissional, Nuno Jorge não se queixa de falta de tempo. “Costumo dizer que se quer qualquer coisa feita arranje uma pessoa muito ocupada ou um preguiçoso - o preguiçoso não quer fazer duas vezes e a pessoa muito ocupada também não tem tempo disponível, tem de aprender a lidar com as coisas e despachá-las”, afirma. Qual deles é? Não sabe. Talvez um pouco dos dois, declara.
Entre todas as associações, a Cruz Vermelha, assume prontamente, é a que mais o estimula. “É aquilo que entra no sangue, morde o bicho e nunca mais nos conseguimos desligar”, diz. Porque é uma ideologia e um modo de ver a vida sem “juízos de valores”. “Não há guerras boas, todas as guerras são más. Não há vítimas más, todas as vítimas são boas”, cita uma frase que muito se ouve a propósito do Direito Humanitário Internacional. Uma frase que, na sua opinião, é o cerne da questão.
Um defensor acérrimo do associativismo, Nuno Jorge defende a “importância”, até para “o próprio desenvolvimento pessoal”. Uma pessoa sozinha não funciona da mesma maneira que integrada num grupo. “Aprendemos uns com os outros”, vinca. Dada a era da Internet, e as facilidades que daí advêm, Nuno Jorge teme que se perca o contacto humano. “É muito diferente fazermos esta entrevista cara a cara do que fazermos por telefone. Nunca seria a mesma coisa”, exemplificou.
Um extenso currículo
Natural do território, educado no seio de uma tradicional família macaense, Nuno Jorge é o presidente da IFNGO, tendo ainda assumido a representação na Organização das Nações Unidas (Nova Iorque) e no Departamento de Drogas e Crime (Viena), além de ter assento como observador no Conselho Económico e Social das Nações Unidas (ECOSOC).
O arquitecto licenciou-se na Escola Superior de Belas Artes em Lisboa. Foi também na capital que estudou Gestão e Organização Empresarial com um “major” em Marketing no Instituto Superior de Novas Profissões. Desenvolveu estudos no campo da Matemática, Informática, bem como Preservação de Património, sendo ainda ex-aluno da Universidade de Hawai, em Honolulu.
É membro da Sociedade Geográfica de Lisboa, da Sociedade de Belas Artes e do Círculo Literário de Lisboa. Dedicado a trabalho voluntário, muitos dos seus esforços concentraram-se na Cruz Vermelha. Foi presidente do organismo em Macau e é presidente honorário desde então, além de ter pertencido à direcção da Cruz Vermelha Chinesa e de ter sido vice-presidente da Cruz Vermelha Portuguesa. Há já 33 anos que é membro do Clube dos Rotários – tendo sido inclusivamente governador -, participando e presidindo a inúmeros comités internacionais.
Foi-lhe atribuído um prémio pelo seu trabalho de preservação no Forte e Pousada de São Tiago pela Associação de Viagens da Região Ásia Pacífico (PATA), além de ter recebido uma medalha por mérito profissional e de valor, ambas concedidas por Macau, bem como várias honras da Coreia, Rússia e Portugal, incluindo um título de honra da Cruz Vermelha de Portugal.
Presidindo à Organização das Famílias da Ásia e Pacífico (OFAP), Nuno Jorge é também membro do Comité Internacional do Fórum Mundial de Abu Dhabi do Comité Internacional e é, de momento, presidente da Associação de Macau dos Profissionais de Turismo. Numa longa lista, destaque ainda para um cargo: é o actual presidente da Associação dos Arquitectos de Macau.
Plano urbanístico não será a “receita imediata”
Mais importante do que a existência de um plano de urbanização e de regulamentos de construção urbana é que “sejam bem feitos”, alertou o presidente da Associação dos Arquitectos de Macau, Nuno Jorge. E o desenvolvimento do território “foi muito mais rápido do que a possibilidade de elaboração de tais diplomas”.
Na opinião de Nuno Jorge, é mais importante “pensar em objectivo de desenvolvimento e alterar algumas normas”. A ser uma realidade, um plano de urbanização “nunca estaria pronto em menos de dois anos”.
Quanto ao desenvolvimento urbanístico de Macau, está longe de ser considerado “um caos”, já que, apesar de tudo, ainda há uma zona da UNESCO “bem protegida”. Contudo, há que ter em atenção certas questões. “O aumento da densidade tem de ser acompanhado de mais espaços verdes e de uma nova imagem dos transportes públicos”, exemplifica. Aspectos que “poderão ser contemplados num plano de pormenor”. Até porque, Macau vive uma conjuntura “tão acelerada que não se compadece com um tratamento mais profundo”.
Sobre o que tem vindo a ser construído, Nuno Jorge defende que tem “qualidade”. Referindo-se essencialmente aos casinos, afirma que “os mais emblemáticos são peças de arquitectura”. E, acrescenta, “aquilo que se fez na generalidade está certo - pode não estar bem feito em termos puristas de arquitectura ou de urbanismo, mas as medidas tomadas estão certas”. Foi feito com a “rapidez suficiente” para o “investimento surgir”.
Há já um ano à frente da Associação dos Arquitectos, Nuno Jorge afirma que uma das principais batalhas é a acreditação profissional. Mas, na sua opinião, muitos dos objectivos que tinha proposto, conseguiu realizar. “Avançámos com grupos de interesse e seminários. Tentámos, face à realidade social, dar um benefício que é tentar providenciar um seguro de grupo da classe profissional”, garantiu. No próximo dia 12 de Abril, por exemplo, a associação junta-se a outros organismos para “começar uma jornada de debates e seminários sobre a ruptura climática”.
Luciana Leitão
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn
Wen Jiabao acusou ontem o Dalai Lama e a sua "camarilha" de terem organizado as revoltas em Lhasa, a capital tibetana, e qualificou-os de "hipócritas" por defenderem o diálogo pacífico e, ao mesmo tempo, fomentarem actos violentos.
Na única conferência de imprensa que concede anualmente, no final da sessão anual da Assembleia Popular Nacional (APN), o primeiro-ministro assegurou que as acusações de "genocídio cultural", que o Dalai Lama lançou após a repressão da revolta, "não são mais do que mentiras".
Wen Jiabao, num tom mais severo do que é o habitual, assegurou que a região do Tibete, desde a sua "libertação pacífica" (em 1950) e especialmente desde as reformas económicas, avançou e desenvolveu-se.
Não obstante os conflitos que se têm vindo a registar, o primeiro-ministro chinês assegurou que a “porta do diálogo” continua aberta para o Dalai Lama, desde que este desista da posição independentista em relação ao Tibete e reconheça que a região autónoma e Taiwan são partes inalienáveis do território chinês.
“Podemos ver perfeitamente, através destas duas questões, o quão hipócrita é o Dalai Lama”, disse Wen. “Gostaria de perguntar se os incidentes em Lhasa, os distúrbios noutras partes da China e os ataques às representações diplomáticas pelo mundo fora terão alguma relação com o Dalai Lama”, lançou o principal responsável pelo Conselho de Estado. Contudo, vincou, a posição da China mantém-se. “Nós dizemos aquilo que pensamos. É preciso ver o que o Dalai Lama faz. Está tudo dependente das suas acções.”
Treze "civis inocentes", segundo Pequim (mais de cem, de acordo com os tibetanos no exílio), perderam a vida nos distúrbios da passada sexta-feira, em que os independentistas atacaram lojas e habitações e foram reprimidos pela polícia.
Ontem de madrugada terminou o ultimato dado pelas autoridades aos instigadores das revoltas para que se entregassem, pelo que agora a polícia procura os revoltosos "casa por casa", segundo informaram grupos críticos a Pequim com sede no estrangeiro.
As manifestações de Lhasa tinham também por objectivo boicotar o maior evento mulitidesportivo alguma vez organizado na República Popular da China, afirmou ainda o primeiro-ministro. "Eles queriam sabotar os Jogos Olímpicos de Pequim», afirmou.
A cinco meses do evento multidesportivo, a crise no Tibete acentuou a pressão sobre Pequim, mesmo tendo em conta que os apelos ao boicote aos Jogos Olímpicos tenham sido raros.
As forças por detrás dos conflitos “tentaram cumprir a sua agenda ao incitar tais incidentes”, referiu Wen Jiabao. O primeiro-ministro lembrou os princípios constantes da Carta Olímpica, defendendo que devem ser cumpridos. “Devemos respeitar os princípios da Carta Olímpica que ditam que os Jogos não devem ser politizados.”
Admitindo que a China não se encontra no grupo de países desenvolvidos e pode encontrar problemas deste e de outros géneros nos trabalhos de preparação dos Jogos, o responsável assegurou, durante a conferência de imprensa, que “a população chinesa é muito sincera no seu desejo de organizar uns Jogos Olímpicos bem-sucedidos”.
Wen frisou que a China é um país com cinco mil anos de história e que ser o anfitrião de umas Olimpíadas é um sonho partilhado por muitas pessoas de várias gerações. “Acho que os Jogos Olímpicos de Pequim serão um grande encontro de pessoas de todo o mundo”, sublinhou.
Ainda em relação ao evento multidesportivo que se realiza na capital entre os dias 8 e 24 de Agosto, o primeiro-ministro disse que a China quer “aprofundar os laços de amizade e a cooperação com pessoas de todo o mundo” e que a população espera que os Jogos sejam decorram com sucesso.
O líder político deixou ainda a garantia de que os atletas e os restantes participantes no evento sairão satisfeitos da experiência desportiva em Pequim. “Acredito que os sorrisos de 1,3 mil milhões de chineses receberão os sorrisos das pessoas de todo o mundo.”
Presidente apela a governação com transparência
O momento crítico da China
O momento crítico da China
Hu Jintao apelou ontem aos políticos da China que governem de forma transparente e que usem o poder de maneira apropriada, de modo a que possa servir efectivamente a população. O Presidente falava no encerramento da Assembleia Popular Nacional (APN), que desde o início do mês esteve reunida em Pequim.
“Vou servir as pessoas e contribuir com o meu trabalho para o país... Sejam bons funcionários públicos e procurem, com sinceridade, proporcionar benefícios à população”, exortou Hu Jintao, no encontro que pôs fim à primeira sessão da 11ª APN.
De acordo com a Agência Xinhua, o Presidente chinês expressou ainda os seus agradecimentos aos deputados do órgão legislativo, acrescentando que a nova liderança está empenhada numa governação “limpa” e espera poder contar com a supervisão da população. “Vamos exercer uma autodisciplina rigorosa, com devoção pelas pessoas, e servir o país com cuidado, consciência e transparência”, reiterou. “Farei o meu maior esforço para não vos desiludir”, disse ainda.
Para Hu Jintao, a nova liderança do país – nomeada e aprovada, nos últimos dias, pela Assembleia Popular Nacional - vai contribuir para o avanço da democracia e o primado da lei, trabalhando para a uniformidade e autoridade do sistema legal de características socialistas, promovendo a equidade social e a justiça, bem como salvaguardar a harmonia e a estabilidade da sociedade.
“Vamos manter o princípio de ‘colocar as pessoas em primeiro lugar’, respeitar o estatuto dos cidadãos, estimular as suas características empreendedoras e salvaguardar os seus interesses e direitos”, prometeu.
Hu Jintao explicou que a nova liderança irá trabalhar de forma pragmática, “abrir a mente, procurar a verdade nos factos e acompanhar as mudanças”. O Presidente quer que “se aproveitem todas as oportunidades, se enfrentem todos os desafios, se encare a reforma e a inovação de forma corajosa e se desenvolva tudo de forma criteriosa, de acordo com os objectivos definidos”.
O líder fez ainda um balanço muito positivo do que já foi alcançado no âmbito da reforma do país e destacou a abertura e a modernização que se verificaram nos últimos cinco anos, algo que atribuiu aos esforços da população.
“A China entrou num ponto crítico da reforma e do desenvolvimento”, considerou, fazendo referência às reformas em curso no país e às mudanças verificadas no mundo. Tendo em conta o actual cenário e as tarefas a que se propõem os novos líderes, Hu entende que a China deve manter a sua orientação de abertura ao mundo, promover o desenvolvimento científico, a harmonia social e construir uma sociedade próspera em “todos os sentidos”.
A rematar, o Presidente expressou confiança na capacidade do país em relação a novas vitórias, na revitalização da nação e na contribuição para a Humanidade, dependentes do “trabalho árduo para o progresso do socialismo de características chinesas, a manutenção da união e a preparação para os perigos em termos de segurança”.
Nascido em 1942, Hu Jintao foi reeleito Presidente da China no sábado passado, cargo que ocupará até 2013. O seu primeiro mandato teve início em Março de 2003.
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