Futebol de Macau em vias de crescimento
Não podiam ser melhores as notícias para o futuro do futebol em Macau. Imagine-se uma liga profissional, sem limite para jogadores estrangeiros por cada equipa. Este é um sonho antigo dos amantes do desporto-rei sem trono na RAEM que vai ser concretizado já no próximo ano. O anúncio foi feito pelo presidente da Associação de Futebol da RAEM (AFM), Chong Coc Veng, ao jornal de Hong Kong Ta Kung Pao. O Tai Chung Pou entrou em contacto com a associação, mas nenhum responsável se demonstrou disponível para declarações sobre o assunto.
A AFM está a planear criar uma divisão profissional de futebol que pode contar com quatro ou seis formações. Chong Coc Veng afirmou que até já existe uma designação provisória para a nova iniciativa: Super Liga de Futebol de Macau. Ao contrário das actuais divisões amadoras, afirmou o dirigente associativo, a profissional não terá limite de jogadores estrangeiros por equipa. Neste sentido, a AFM irá receber de braços abertos futebolistas de Hong Kong, do Sudeste Asiático e de África.
O passo de gigante que irá acontecer na modalidade desportiva na região deve-se ao desenvolvimento económico da RAEM. “A situação da economia de Macau está cada vez melhor e há muitas empresas privadas interessadas em investir no futebol”, explicou Chong Coc Veng.
Algumas operadoras de casinos confirmaram já o seu interesse em patrocinar as equipas, acrescentou o mesmo responsável. Segundo os cálculos da AFM, espera-se que a nova liga de profissionais implique despesas superiores a cinco milhões de patacas.
O percurso do actual campeonato de futebol de 11 de Macau pode caracterizar-se como um relvado esburacado. Há três divisões em disputa com um calendário que funciona aos altos e baixos. Um desses exemplos é o andamento da principal competição do território, isto é, a primeira liga.
São oito as equipas que disputam o mais importante título futebolístico da RAEM. Ao longo da época realizam-se 42 partidas, sem contar com a Taça de Macau. Todas no mesmo campo, o Estádio da Universidade de Ciência de Ciência e Tecnologia de Macau.
Este ano, o futebol local voltou a surpreender pela negativa. Em primeiro lugar, o campeonato foi suspenso até Maio para dar espaço aos jogos da Taça. Entretanto, todas as competições foram suspensas devido à saturação do relvado por excesso de utilização. Os jogadores foram obrigados a pendurar temporariamente as chuteiras e esperar que a relva cresça.
A par do amadorismo, o desporto-rei no território é influenciado pela falta de espaço. São poucas as formações que organizam treinos regulares devido aos problemas de aluguer de campos. Algo que prejudica bastante a prestação dos atletas e o espectáculo do futebol. O resultado? Bancadas praticamente vazias.
Desde o ano passado, a vida das equipas da RAEM tornou-se ainda mais difícil. Primeiro surgiu a aplicação das restrições à emissão de vistos individuais em várias províncias do Continente. Esta situação causou algumas mossas nas estratégias dos clubes cujas formações são reforçadas por futebolistas que chegam do outro lado da fronteira, nomeadamente da província de Guangdong.
Pouco tempo depois, a AFM anunciou a aplicação de uma nova regra imposta pela FIFA e pela Confederação Asiática de Futebol. Os jogadores de futebol titulares de BIR de residente não permanente deixaram de ser considerados locais e passam a integrar o grupo de estrangeiros aos olhos da organização.
Tal obrigou novamente as equipas a uma reestruturação para poderem participar no campeonato. Tudo porque a AFM limita o número de estrangeiros a oito por formação e a quatro por partida. Actualmente, são cerca de 25 os atletas que alinham na primeira divisão do campeonato de futebol de Macau.
Alexandra Lages
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn
Cunhada de Ao Man Long e coordenadora-adjunta do GDI trocam acusações
Quem faltava mais ao trabalho?
Quem faltava mais ao trabalho?
Ambas trabalhavam na Lei Pou Fat, uma empresa de capitais maioritariamente públicos. A cunhada de Ao Man Long, Ao Chan Wai Choi, exercia as funções de empregada de limpeza e estafeta, enquanto a coordenadora-adjunta do Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-Estruturas (GDI), Pun Pou Leng, era uma das representantes do Governo. Uma troca de acusações sobre a assiduidade no trabalho foi o que se ouviu ontem no decorrer de mais uma audiência de julgamento do caso conexo ao de Ao Man Long no Tribunal Judicial de Base (TJB). Quem lançou a farpa foi Pun Pou Leng. Ao Chan Wai Choi ripostou.
Na empresa em que também o antigo coordenador do GDI, Castanheira Lourenço, detinha funções, Pun Pou Leng afirmou que o antigo secretário para as Obras Públicas e Transportes “deu o nome de uma pessoa a Lourenço e disse que arranjasse um posto para ela”. Essa pessoa, de acordo com a testemunha, era Ao Chan Wai Choi. “Sei que ela tinha funções simples – entrega de documentos e limpeza”, disse perante o colectivo de juízas. E realçou ainda o salário “acima da média” da funcionária.
Apesar de assumir que apenas comparecia na empresa Lei Pou Fat “em média, uma vez por semana”, foi rápida em afirmar que a cunhada do antigo governante “não era muito pontual” e “faltava muitas vezes”. Tudo porque tinha ouvido comentários de outros trabalhadores. Em resposta ao advogado Pedro Leal, a coordenadora-adjunta afirmou que “trabalhava na empresa apenas em tempo parcial”. E, garante, “das vezes que lá ia não via a arguida”. Declarações que repetiu várias vezes. E que motivaram um pedido de uso da palavra por parte da arguida Ao Chan Wai Choi.
“Falou de faltas. Mas quando não estava disponível eu avisava sempre a secretária e combinávamos as horas para trabalhar”, afirmou. E realçou que, em algumas das ocasiões em que a representante do GDI se deslocava às instalações da empresa Lei Pou Fat, a cunhada de Ao Man Long “estava dentro do quarto”, não tendo, por isso, sido avistada. O que, destaca, “não quer dizer que não esteja em serviço”. Não deixou, contudo, de vincar que Pun Pou Leng comparecia “uma vez por mês” e não uma vez por semana.
Uma acusação que mereceu um contra-ataque por parte da coordenadora-adjunta do GDI. “Estou a referir-me a um período que começa em 2001. Desde o ingresso dela, o desempenho foi sempre assim”, reforçou. Um desempenho marcado por “muitas faltas”, reiterou.
Recorde-se que a referência à empresa Lei Pou Fat foi uma novidade em relação ao que já tinha sido referido no depoimento prestado pela testemunha no Tribunal de Última Instância (TUI) e que tal não consta da matéria de acusação. Inquirida pelos delegados do Ministério Público, pelo colectivo de juízes e por dois advogados durante quase quatro horas, a sessão de ontem acabou por se arrastar, resultando no adiamento do depoimento do antigo coordenador do GDI, Castanheira Lourenço, para a próxima segunda-feira.
Chutar para cima
Foi a testemunha mais importante do dia de ontem. Pun Pou Leng respondeu sobre os projectos que surgem associados a Frederico Nolasco e à CSR e repetiu o que já tinha afirmado perante o Tribunal de Última Instância. Em destaque esteve a Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos e Perigosos e o aumento de 60 para 90 milhões do contrato atribuído à CSR, dispensando um novo concurso público. Aumento que, garante a coordenadora-adjunta do GDI, surgiu por indicação do secretário.
Pun Pou Leng pedia opiniões a Ao Man Long principalmente no que toca aos resíduos sólidos e tratamento de águas residuais. Opiniões meramente técnicas. E, garante, nunca recebeu instruções para alterar as pontuações de concursos públicos. No que toca à adjudicação à CSR da Estação de Tratamento de Resíduos Especiais e Perigosos, Pun Pou Leng assegurou que não pediu a opinião do antigo secretário para as Obras Públicas e Transportes. Apenas afirmou que o antigo governante veio a indicar um aumento do volume de resíduos a tratar de 12 para 24 toneladas, resultando no aumento de 60 para 90 milhões de patacas. A alteração do contrato não resultou num novo concurso público. A testemunha afirmou ainda que tal deve-se a empresas como a CEM que apenas tomaram conhecimento do estudo realizado pelo Governo depois de lançado o concurso público.
“Não teve a ver com instruções emitidas pelo engenheiro Lourenço, mas por necessidades sentidas quando as empresas afirmaram que tinham lixo para ser tratado só depois do concurso”, assegura. Destaque para um pormenor revelado pelo causídico Luís Pinto - o de que existe uma norma que figura no contrato que permite ao dono da obra concordar com alterações sem lançar um novo concurso público. A testemunha acabou por afirmar que “não se recorda” da existência de tal norma.
Quanto à renovação do contrato de “quase exclusividade” de recolha de resíduos sólidos que liga o Governo e a CSR, Pun afirmou que não seria necessário um novo concurso público, já que, depois de sete anos de contrato, seria “aceitável” uma renovação automática, tal como aconteceu em 1999. Até porque, depois de falar com o secretário, chegou-se à conclusão de que “uma empresa concessionária com uma equipa fixa no que toca a esta prestação de serviços, é melhor manter do que lançar um novo concurso”.
No que toca à atribuição à CSR do projecto-piloto de recolha automática, de acordo com Pun, faria sentido que coubesse à empresa habituada a lidar com os resíduos sólidos de Macau. Tanto que tal foi incluído na renovação do contrato entre a CSR e o Executivo.
A coordenadora-adjunta do GDI afirmou, por diversas vezes, que consultou o antigo governante apenas porque este tinha conhecimentos na área. E vincou que não foram dadas quaisquer indicações para alterar os resultados dos concursos.
Numa sessão marcada pela inquirição da testemunha Pun Pou Lei, foi ainda ouvido um assessor do GDI que participou no concurso para o pavilhão desportivo do Instituto Politécnico de Macau e nos arruamentos junto ao Jardim das Artes. Em nenhum dos casos houve grelhas provisórias ou foram dadas indicações por parte do superior hierárquico no sentido de alterar pontuações, de acordo com a testemunha.
Luciana Leitão
Vai falar-se em rima hoje no pequeno auditório do Instituto Ricci de Macau (IRM). Christopher (Kit) Kelen é o orador do fórum mensal da instituição local. Ao longo da sessão, o professor de escrita criativa da Universidade de Macau vai apresentar alguns dos poemas que farão parte da primeira antologia de poesia “made in” Macau publicada em língua inglesa no território. Uma obra cujo lançamento está agendado para o final deste ano e que tem a missão de “mostrar ao mundo que a RAEM não é apenas um local onde se passa meio dia e se pode gastar dinheiro”. As quadras e os sonetos são o ponto de partida da tese defendida por Kit Kelen. Tudo poderá ser conhecido “in loco” ali perto da Praça do Tap Seac, pelas 18h30.
“Macau não é uma cidade que se esgota nos casinos ou no turismo. Há todo um património cultural para mostrar ao mundo. Este território tem grandes oportunidades ao nível das artes, principalmente do ponto de vista da poesia”, sustentou Kit Kelen em declarações ao Tai Chung Pou.
Ao longo da sessão do fórum mensal do IRM, o docente de origem australiana vai apresentar os dois novos projectos da Associação de Estórias de Macau (AEM), uma organização da qual é um dos principais dinamizadores. O primeiro é uma antologia de poesia de autores locais portugueses, chineses e ingleses. A obra será publicada em língua inglesa e já conta com 36 poemas. Contudo, o objectivo é lançar uma compilação de cerca de 60 textos.
“Estou surpreendido com a quantidade de bons poetas que existem no território. Como tal, acho que se pode dizer que Macau é uma cidade de poetas e que é mais um ponto de cultura do que um destino de casinos”, sublinhou.
A par da antologia, a associação está ainda a preparar um segundo livro. Esta publicação servirá de apoio à compilação de poemas, na medida em que pretende explicar o contexto dos trabalhos. Isto é, quem são os poetas, de onde vêm, o que fazem e o que representa Macau para o seu sujeito lírico.
Os títulos dos livros ainda não estão definidos, mas já se sabe que o segundo volume estará disponível nas montras das livrarias no próximo ano. É preciso trabalhar rapidamente e com afinco, porque estas duas obras são “essenciais” para a cultura literária da RAEM. E porquê?
“Uma grande quantidade de excelente poesia está a ser produzida hoje em dia em Macau e é preciso torná-la acessível ao público internacional”, explica Kit Kelen. Por um lado, o mundo precisa de novos poemas, por outro, as vozes do território necessitam de ser ouvidas. É esta a convicção do também poeta e autor de várias obras literárias.
Para lá das mesas de apostas, efeitos visuais dos néons e aglomerados de visitantes, a RAEM tem uma necessidade que já se tornou “aguda”. A cidade “precisa de se apresentar ao exterior como um lugar onde existe produção cultural séria”, frisou.
Para os poetas locais conquistarem um lugar ao sol no cenário internacional basta pouco, diz Kit Kelen. A poesia de Macau prima por possuir características próprias, algo que surge por transferência da essência desta terra.
Por poesia local entende-se versos escritos por residentes ou por outros autores que escrevem sobre o território. “‘Sobre Macau’ é algo que abrange toda uma gama de elementos, porque a região pode ser encarada como um estado de espírito. Este conceito sugere muitas coisas. Por exemplo, o facto de ter sido durante muito tempo um portal entre a China e o Ocidente, a sede do Império Português no Oriente. Foi também a antiga cidade do nome de Deus ou dos deuses”, exemplificou.
O território é um local de boa sorte. Um lugar de ociosidade tropical. Uma cidade à beira do rio com aspirações litorais. Um sítio de desconfiança e dissimulação. Miscigenação e interacção cultural. Tudo isto é Macau e a sua poesia, conclui.
No fórum mensal do IRM, que hoje terá Kit Kelen como personagem principal, haverá ainda lugar para promover o novo jornal on-line de poesia da RAEM – o Poetry Macao. A publicação virtual de cariz internacional pretende ser um espaço partilhado por poetas locais e estrangeiros.
A mais recente aposta da Associação de Estórias de Macau concede ainda a oportunidade dos autores discutirem cada poema, além de oferecer traduções de textos originalmente produzidos em chinês ou noutras línguas que não a inglesa. De acordo com o coordenador do projecto, Kit Kelen, o próximo trabalho que será disponibilizado na página de Internet será uma colecção de poemas sobre o Ano do Rato. “A intenção é publicar suplementos anuais baseados em cada ano do calendário lunar chinês”, avançou o mesmo responsável.
De escudo e espada pela poesia de Macau
Antero de Quental, poeta português, defendia a poesia enquanto arma social. Em Macau, há também um guerreiro que utiliza as rimas como instrumento de combate. O propósito é, no entanto, bem diferente. As batalhas de Christopher (Kit) Kelen pretendem conquistar visibilidade e importância para os poetas da terra, tanto ao nível local como internacional.
Desde os anos 1970, que o professor de Escrita Criativa e Literatura da Universidade de Macau publica poemas e obras literárias no contexto internacional. O trabalho mais recente do autor de origem australiana foi lançado no ano passado pela editora Cinnamon Press no Reino Unido.
Na RAEM, Kit Kelen reside há cerca de sete anos. Os projectos desenvolvidos são inúmeros e diversificados. Além de ser editor do jornal on-line Poetry Macau, o professor universitário é responsável pela secção de poesia da revista mensal cultural “Macao Closer”.
O departamento da Universidade de Oxford de Literatura Australiana define Kelen como um autor dotado de uma típica argúcia inovativa e intelectual. O australiano licenciou-se em Literatura e Linguística na Universidade de Sydney, possuindo ainda um curso de grau de doutoramento sobre o ensino do processo da escrita.
Kit Kelen colecciona também vários prémios. A primeira distinção surgiu em 1992, pelo seu primeiro livro de poesia intitulado “The Naming of the Harbor and the Trees”. O território é uma das suas temáticas de eleição. O seu longo poema intitulado “Macau” foi nomeado para o prestigiado prémio Newcastle Poetry.
Alexandra Lages
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