sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A educação sexual que falta;Ho depois de Ho, Alves depois de Chou; constrAction para aprender; Henan e Guizhou em Macau

Escândalo de Hong Kong recupera debate sobre educação sexual na RAEM

Um tabu difícil de quebrar

Sexo e todas as questões associadas à sexualidade circulam quase a toda a hora nos meios de comunicação social, sobretudo nos novos media. Adeptos ferrenhos das novas tecnologias, os jovens de Macau estão expostos e atentos a estes conteúdos. A descoberta da sexualidade é típica desta fase da vida e os sentidos estão ultra despertos a tudo o que esteja relacionado com a temática sexo.
Muita informação não é, contudo, significado de conhecimento e, muito menos, de esclarecimento. Esta é uma ideia que tem sido constantemente debatida pelos educadores e especialistas junto das autoridades da RAEM. No calor do lar e principalmente nas escolas, defendem vários quadrantes da sociedade, as barreiras devem ser derrubadas e o tabus quebrados: é preciso falar sobre sexo com os mais jovens.
Mais. A própria comunidade precisa de encarar a questão de frente, sustenta Gertina van Schalkwyk, professora assistente de psicologia da Universidade de Macau. “O nível de existência de tabus revela-se até pela falta de informação disponível sobre casos de gravidez entre adolescentes ou de contracção do vírus HIV”, exemplifica a académica, em declarações ao Tai Chung Pou.
O primeiro passo, nota a especialista, é a promoção da educação sexual nos estabelecimentos de ensino. Uma medida defendida por várias personalidades atentas à situação da juventude de Macau e que, recorrentemente, salta para as páginas dos jornais locais.
A discussão sobre a educação sexual dos mais jovens nas escolas regressou à opinião pública na sequência da polémica divulgação na Internet de fotos de conteúdo sexual envolvendo celebridades de Hong Kong. De acordo com um diário do território vizinho, 40 por cento dos estudantes do ensino primário e secundário da RAEHK tiveram acesso a estas imagens.
Entretanto, aumentam os receios das autoridades da ex-colónia britânica de que o escândalo provoque uma crise moral entre a juventude. Apesar de reportar ao outro extremo do Delta do Rio das Pérolas, a controvérsia teve também um “impacto negativo” em Macau, defendeu em declarações ao Ou Mun o presidente da Associação de Educação de Macau, Ho Sio Kam. As celebridades de Hong Kong são largamente cultivadas entre a população mas nova do território.
A exposição dos adolescentes a estes conteúdos é apenas um dos lados do problema, alertou o dirigente associativo. “A educação social não só é inexistente nas escolas ou em casa, como em toda a comunidade e nos meios de comunicação”, destaca. Na actual sociedade de informação em que vivemos, acrescenta Ho Sio Kam, se os jovens não conseguem esclarecer as suas dúvidas, tal dificultará a formação de um conceito correcto sobre o que é o sexo.
A mesma visão é partilhada por Gertina van Schalkwyk. “A falta de actividades de educação sexual é um assunto sério que deve ser considerado pelas autoridades. Os jovens não têm conhecimentos suficientes para estabelecer uma relação amorosa saudável, bem como impor fronteiras face ao companheiro”, sustenta.
Nas palavras da académica, há uma indefinição dos papéis de género, ou seja os conceitos de controlo e igualdade. “A juventude de hoje enfrenta problemas de segurança emocional e, muitas vezes, o sexo torna-se uma maneira de manter a relação amorosa”, explica.
Neste sentido, o programa de educação sexual deveria não só explorar a parte da sexualidade, prevenção da gravidez indesejada e doenças, mas também o lado da auto-estima e de como desenvolver relações pessoais de uma forma saudável. É este o caminho apontado por Gertina van Schalkwyk.
Entre as oito mil chamadas recebidas pela linha de apoio da Caritas, apenas cerca de 100 são realizadas por jovens e adolescentes, informa Paul Pun. Problemas relacionados com a sexualidade são alguns dos motivos que levam estes residentes a procurar a ajuda da instituição local.
Embora considere que a falta de esclarecimento sexual não é um dos problemas fundamentais da juventude da RAEM, Paul Pun concorda que os mais novos ainda não sabem lidar com esta questão. “Os jovens estão cada vez mais abertos relativamente à sexualidade, mas não sabem nada sobre sexo”, sublinha o responsável.
O Governo e os estabelecimentos de ensino devem, segundo Paul Pun, apostar em programas de educação sexual não só para ensinar, mas também para ouvir. “Os mais jovens precisam de alguém que oiça as suas dúvidas, os tente compreender e orientar”, aponta.
A propagação de doenças sexualmente transmissíveis é outra questão que pode ser minimizada através da educação sexual. É uma convicção geral entre especialistas e educadores. O último alerta foi lançado no final do ano pela associação “Teen Aids”, que realizou um estudo em Macau e Hong Kong sobre os hábitos sexuais dos jovens.
A principal preocupação verificada entre os inquiridos diz respeito à gravidez, sendo descurados os riscos de infecção do vírus HIV. A utilização do preservativo enquanto método contraceptivo ainda não está enraizada na mentalidade das comunidades mais jovens.
Segundo o relatório do estudo, muitos adolescentes optaram por praticar sexo oral ou anal como forma de impedir a gravidez. Por outro lado, alguns entrevistados afirmaram evitar trazer consigo preservativos para evitar que as namoradas pensassem que são “pervertidos”, enquanto outros achavam que é preciso atingir a maioridade para comprar preservativos.
Os dados existentes sobre casos de residentes seropositivos não especifica a faixa etária. No entanto, de acordo com os números divulgados pela Comissão de Luta contra a Sida de Macau, sabe-se que, até Setembro do ano passado, tinham sido registados 382 casos de infecção por HIV, dos quais 121 são residentes da RAEM. No capítulo das pessoas infectadas localmente, 39 por cento contraíram o vírus por via sexual.
Alexandra Lages
Fotografia: António Falcão/bloomland.cn

Va Kio lança debate sobre futuros líderes da RAEM

Ho depois de Ho, Alves depois de Chou

Continua a ser um mistério e, por isso, um mero exercício de especulação. Quando falta pouco mais de um ano para as eleições para o Chefe do Executivo, continua a não haver ideia, entre a opinião pública de Macau, de quem poderá ser o sucessor de Edmund Ho. Ninguém avançou publicamente com uma intenção de candidatura. O que Pequim poderá estar a pensar sobre a matéria a Pequim pertence. Para já.
Curiosamente, há quatro anos, quando se começou a pensar que o actual Chefe do Executivo não poderia cumprir um terceiro mandato, havia uma lista maior de prováveis sucessores. O caso Ao Man Long veio não só eliminar um dos potenciais candidatos – ele próprio – como terá fragilizado os restantes membros do Executivo que eram apontados, nas últimas eleições, como candidatos com fortes hipóteses: Francis Tam e Chui Sai On.
Nos últimos dois dias, a questão da sucessão foi relançada pelo Va Kio. Ng Chan, provavelmente a única colunista de Macau com influência efectiva junto das esferas de poder, publicou na passada quarta-feira um artigo em que analisa o futuro da Assembleia Legislativa. Ontem, foi a vez de tocar num assunto que parece ser mais complicado de perspectivar do que a escolha do próximo presidente do órgão legislativo.
De modo resumido, diz Ng Chan que o empresário Ho Iat Seng e o procurador da RAEM, Ho Chio Meng, são as duas personalidades da RAEM que apresentam características para poderem vir a ser titulares do mais alto cargo político de Macau. No entanto, têm ambas condicionalismos que poderão ser difíceis de contornar.
Há muito que o empresário Ho Iat Seng é falado como sendo uma provável escolha de Pequim para os destinos da RAEM. Ng Chan lembra que as suas funções políticas antes da transferência de administração eram escassas, mas que a sua estreia enquanto membro do colégio eleitoral que escolheu Edmund Ho correu bem. Membro do Comité Permanente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, o irmão da deputada e também empresária Tina Ho tem feito um bom trabalho no organismo chinês, mas peca pela falta de visibilidade junto da população de Macau. Algo que, ainda assim, não é incontornável, aponta Ng Chan.
Ho Chio Meng é uma hipótese que só recentemente se começou a desenhar. Se o caso Ao Man Long prejudicou o próprio, parece, contudo, ter beneficiado, do ponto de vista político, o procurador da RAEM. Visto como homem sem ligações nem interesses, é tido entre a população local como sendo capaz de fazer valer a lei. O senão? A sua falta de experiência em termos administrativos.
Conclusão da história: “As perspectivas não são claras mas servem para se criar uma discussão em torno do assunto. Quem quer que seja o próximo líder, terá que ser dotado de capacidade de visão e, sobretudo, ser capaz de reformular a forma de governação.” Ng Chan entende que o próximo Governo não pode estar “nas mãos de um homem só”, que é como quem diz, um Chefe do Executivo forte e secretários que nem por isso.
Quanto à Assembleia Legislativa, que conhecerá nova legislatura também no próximo ano, Ng Chan explica que Leonel Alves, deputado e membro do Conselho Executivo, é tido, neste momento, como o mais forte candidato à presidência do órgão legislativo. Susana Chou não se deverá recandidatar, Lau Cheok Va, o actual vice-presidente, seria um bom sucessor, dada a sua experiência, se não fosse a idade (63 anos) e os seus problemas de saúde.
A par de Leonel Alves, que tem 51 anos e está na Assembleia desde 1984, surge José Chui Sai Peng. Neste “duelo”, Alves sai a ganhar, pelo factor experiência. Ng Chan detecta no advogado um obstáculo – o facto de não dominar a escrita chinesa – mas entende que, em menos de dois anos, esse problema poderá ser ultrapassado. “Muito pode ainda acontecer”, conclui Ng Chan, “mas é tempo de começarmos a olhar para os movimentos subtis”. E mais não diz.
Isabel Castro

Centro de Indústrias Criativas apresenta workshop “constrAction”

A democratização do design de Macau

Não é preciso ter experiência na matéria nem dominar lápis e esquadro. Pode nunca ter tido qualquer contacto com o design. Aliás, a ideia é mesmo essa – ultrapassar a esfera dos criativos e dar ferramentas a pessoas de diferentes contextos, para que passem a ser criadores. Basta imaginação e interesse pela questão. Disponibilidade durante as tardes de seis sábados e vontade de aprender.
Começa amanhã, no Centro de Indústrias Criativas, o workshop “constrAction”. O responsável pelo ateliê é o arquitecto Nuno Soares, que concebeu o conceito de mobiliário que dá pelo mesmo nome do workshop. “O objectivo principal é transformar ideias num objecto”, explica o arquitecto. Não é preciso ter presente ou passado artísticos. “É destinado a pessoas que nunca tenham tido contacto com esta área. Vamos procurar desmistificar o processo do design e da construção.”
O “constrAction” assenta num conceito simples. Trata-se de um “sistema de design e construção de peças essenciais de uma habitação, utilizando materiais de construção de Macau e um sistema métrico modular que organiza cada peça e permite múltiplas associações e interacções entre os vários objectos, formando um conjunto diversificado mas coerente”.
Cada objecto pode ser montado de forma diferente, de acordo com a vontade do utilizador que participa criativamente no acto de construção, fazendo os seus próprios objectos. É a aposta na versatilidade, em que um sofá pode ser virado ao contrário e transformado numa mesa, por exemplo.
“É um sistema flexível e aberto, sem limite de peças, que dialoga com o contexto incorporando elementos da cultura urbana da cidade de Macau, na concepção de suportes de comportamentos quotidianos”, acrescenta o autor deste conceito de mobiliário, que aproveita materiais de construção típicos do território.
Com este ateliê, pretende-se promover o design contemporâneo, recorrendo a uma ideia que nasceu em Macau e que em Macau faz sentido. Durante as seis aulas do workshop, dividas em partes teóricas e práticas, “de oficina”, Nuno Soares vai explicar como se desenvolve todo este processo, da parte do desenho até se chegar à fase do protótipo. No final do trabalho, o resultado vai ser um conjunto de peças, todas elas dentro do mesmo sistema de construção, mas com diferentes aspectos, resultantes da criatividade de cada participante.
O sistema “constrAction” foi concebido por Nuno Soares mas “mais duas ou três pessoas” já exploraram o conceito. Agora, avança-se para a divulgação pública do método de concepção, algo que não é comum no mundo do design, que só se torna próximo do público no momento da aquisição das peças, não no da sua construção. O arquitecto explica que “não há truques escondidos” neste sistema modelar. “Quem observar bem as peças pode construí-las. No workshop vou dar a parte pedagógica.”
Esta partilha de um projecto da sua autoria é um estímulo, um desafio. “É muito estimulante ver como outras pessoas podem pegar nestas bases e desenvolvê-las. Será muito interessante ver como uma coisa que eu concebi vai ser transformada por outros”, perspectiva o arquitecto. Contribui-se, assim, para uma certa desmistificação do design que, afinal, pode estar ao alcance de todos. Joga-se ainda com os elementos de Macau, com a sua identidade.
O workshop termina no dia 29 de Março. Os melhores trabalhos serão seleccionados e farão parte de uma exposição composta por duas vertentes: as obras de Nuno Soares e as peças dos participantes. “Será uma oportunidade para que as pessoas tenham um feedback dos seus trabalhos”, rematou o responsável pelo ateliê.
Isabel Castro

Exposição no Jardim Lou Lim Ieoc

Festival da Primavera de Henan e Guizhou em Macau

Fotos, figuras em barro e farinha, bonecos trajados a rigor. Eis o que se vê quando se entra na Casa Cultural de Chá de Macau ou no Pavilhão do Jardim Lou Lim Ieoc, os dois espaços por onde se reparte uma exposição sobre Encontro de Costumes Exóticos. Imagens coloridas que se reportam às festividades de Ano Novo Chinês nas províncias de Henan e Ghuizhou. E permitem espreitar momentos tão característicos como a dança Lusheng – quando os rapazes da minoria Miao tentam impressionar as raparigas oferecendo colares de flores.
O espaço que acolhe a exposição já é, por si só, especial. Percorrendo as pontes e observando as árvores, estatuetas de pedra e flores do Jardim Lou Lim Ieoc, chega-se à Casa Cultural de Chá. Logo à entrada, estão dois bonecos em tamanho real que representam elementos dos Miao, da província de Guizhou, trajando vestidos bordados coloridos que são usados durante o Festival da Primavera. Virando à esquerda, os visitantes podem entrar no mundo colorido de Henan e observar figuras coloridas em vidro que são usadas no teatro de sombras de Loshan – uma das mais características expressões artísticas de Jianghuai que remonta ao período do imperador Jiajing da dinastia Ming. Ou brinquedos em madeira cuja função principal é divertir as crianças. Pela parede repartem-se várias lanças, que normalmente são distribuídas aos populares durante as festividades. Nos mostradores encontram-se imagens em barro que simbolizam os 12 signos chineses.
Continuando a caminhar pela Casa Cultural de Chá, está também exposta uma grande figura que representa um unicórnio, normalmente usado em Henan para uma dança que decorre no período das festividades do Ano Novo. Espalhadas pelas paredes vêem-se várias fotos alusivas a costumes e hábitos da minoria Miao. Ainda se podem ver alguns tambores de bronze, instrumentos frequentemente utilizados numa série de rituais. Aliás, em Guizhou, o tambor, além de ser um instrumento musical, é um símbolo de autoridade e estatuto popular no seio dos povos Miao, Buyi, Shui, Yao, sendo por isso utilizado numa dança.
No centro da Casa Cultural do Chá está uma árvore falsa cujos ramos erguem os chamados lai si, envelopes que escondem ofertas dos casados ou mais velhos aos jovens solteiros. Sinal de felicidade e harmonia para o ano que agora começa.
Mas a exposição não termina ali. Saindo do espaço que é designado de Casa Cultural do Chá, caminha-se um pouco e chega-se ao Pavilhão do Jardim Lou Lim Ieoc. Assim que se entra, virando à direita, entra-se no mundo de festividades da Província de Henan. Expostos nas paredes estão trajes usados principalmente nas sessões de ópera chinesa. Nos mostradores vêem-se ainda várias imagens em papel de arroz alusivas ao Ano Novo Chinês. Não podiam faltar também as réplicas dos 12 signos do zodíaco chinês em pano. A destacar ainda as simpáticas figuras humanas de barro que, apesar da forma e aparência primitiva e simples, encerram metáforas profundas sobre a vida humana – as legendas que acompanham as figuras são disso ilustrativas. Oferendas ao Deus da Cozinha, Limpar a Casa para o Festival da Primavera e Confecção de Sonhos são apenas algumas das legendas.
Continuando a percorrer o espaço em volta, encontra-se uma réplica do unicórnio, fotos e adereços usados durante uma dança onde esta personagem mítica desempenha o papel principal. Nos mostradores podem ver-se as figuras de barro de Huaiyang, ou Ninigou, objectos que estão associados aos cultos de veneração ancestrais, representando personagens espirituais antigas. Todavia, hoje em dia, já se popularizaram e passaram a ser considerados objectos do quotidiano. Continuando o percurso, chega-se então ao universo do Festival do Ano Novo Chinês em Guizhou. Um universo onde a minoria Miao é o elemento dominante. Seja através de fatos típicos coloridos, ou através de fotos.
A exposição estará patente até dia 9 de Março, das 9h00 às 19h00, encerrando apenas às segundas-feiras, e foi organizada por ocasião do Festival da Primavera, pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais em cooperação com entidades das províncias de Henan e Guizhou. No dia 22 deste mês terá ainda lugar uma conferência sobre as tradições nas respectivas províncias.
Luciana Leitão

Livro de Moisés Fernandes sobre relações luso-chinesas

Macau continua no centro

Analisar o papel de Macau no desenrolar das relações comerciais e diplomáticas entre Portugal e a China é a proposta do sinólogo Moisés Fernandes com o livro “Confluência de Interesses: Macau nas Relações Luso-Chinesas Contemporâneas, 1945-2005”. Uma publicação que será lançada no próximo dia 21 e que contém “documentos históricos inéditos”, além de aprofundar vários episódios tensos das relações entre os dois países. Relações que “sempre tiveram - e irão continuar a ter durante muito tempo - Macau como pedra angular”.
Analisando especificamente o período entre 1945 e 2005, mas não esquecendo o peso dos anos anteriores a este período, o também director do Instituto Confúcio da Universidade de Lisboa conclui, no final do livro, que “Macau continua a ser o centro das relações entre Portugal e China”. Os motivos apontados são vários: “Macau tem um estatuto especial na China, além de ter vindo a assumir um papel mais importante no que toca ao comércio externo com Angola e Brasil, já que as relações comerciais de Portugal com a China ainda são incipientes.” Uma das principais conclusões no fim de um livro que recorda alguns episódios muito importantes da História no que toca às relações entre Portugal e China.
Tratando-se de uma compilação de alguns textos que já foram publicados, mas que contém também artigos inéditos, Moisés Fernandes descreve e analisa momentos como os do período pós-guerra. “Os portugueses e todos os cidadãos tinham direitos especiais na China e depois acabou”, conta. Algo que teve repercussões, principalmente para as comunidades macaenses que se encontravam espalhadas pela costa chinesa. Outro ponto importante focado no livro passa pela pressão que foi feita ao então Presidente do Conselho de Ministros, António Salazar, para reconhecer a República Popular da China aquando da ascensão ao poder do Partido Comunista Chinês. “Salazar recusou por duas vezes”, disse.
O conflito nas Portas do Cerco que opôs Portugal e a China em 1952 também foi alvo de desenvolvimento por Moisés Fernandes. “Portugal estava a ser pressionado pelo Ocidente para limitar as exportações para a China”, conta. Depois de ter cedido à pressão, desenrolou-se o conflito.
A primeira vez em que o Governo Chinês “se pronunciou sobre Macau” mereceu também grande desenvolvimento no livro. Em 1955, numa declaração oficial, o Executivo afirmou que se tratava de “território chinês ocupado por Portugal, uma situação que mais tarde seria definida”.
O conflito sino-soviético foi um dos períodos mais assinalados. Na altura, diz Moisés Fernandes, a então União Soviética dizia que havia uma “contradição” quando a China apoiava os movimentos de libertação da África lusófona e “nada fazia quanto a Macau e a Hong Kong”. Ainda na senda deste conflito, Moisés Fernandes publica também uma carta escrita pelo primeiro-ministro chinês a Salazar, convidando-o a “denunciar um acordo de proliferação nuclear da Rússia e dos EUA”, já que “a China se opunha por também estar interessada”.
Um livro que surge depois de “Macau na Política Externa Chinesa – 1949-1979”, também da autoria de Moisés Fernandes. Além de adicionar a digitalização de documentos importantes, inclui mais desenvolvimentos sobre conflitos que só muito superficialmente foram referidos no primeiro livro.
Luciana Leitão

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