Página 1

Uma luz ao fundo do túnel
Assim que se entra na comunidade terapêutica da Associação de Reabilitação de Toxicodependentes de Macau (ARTM), em Coloane, a primeira imagem que se tem é uma árvore de Natal. Percorrendo os olhos pelo espaço em volta, vêem-se paredes pintadas pelos residentes, uma mesa de refeições disposta num pátio ao ar livre que serve de entrada e dezenas de cães que saltam amistosamente. Aqui moram 11 toxicodependentes que procuram um rumo para a vida. E que partilham o espaço com uma equipa técnica composta por dois psicólogos, dois monitores, para além do corpo administrativo, e dois ex-toxicodependentes que deverão passar a colaborar.
As infra-estruturas “são velhas”, e o espaço interno “não é muito grande”, pelo menos no que toca ao edifício onde se situam os três quartos dos residentes e a sala de snooker e matraquilhos. Mas repartidos por vários pequenos espaços adjacentes encontram-se um ginásio, uma sala de computadores, uma cozinha e uma farmácia. Um dos refúgios mais procurados é uma sala equipada com vários instrumentos musicais, cujas paredes estão ilustradas com desenhos feitos pelos residentes.
Separado por um portão do pátio principal, encontra-se um quintal menor, onde os residentes convivem rodeados por dezenas de cães e gatos, que pertencem à Anima – Sociedade Protectora dos Animais de Macau. Um espaço onde também se encontra uma pequena horta, várias árvores de fruto, e um lago com uma ponte.
A comunidade terapêutica tem espaço para acolher 14 utentes, no máximo. Neste momento, “11 estão ainda em processo de recuperação, dois estão a trabalhar como monitores e um tem vindo apenas aos fins-de-semana”, conta o presidente da ARTM, Augusto Nogueira. O mais novo tem 15 anos, enquanto o mais velho tem 78 anos - um indivíduo que já “recaiu várias vezes”. São 11 utentes do sexo masculino. “Já chegámos a ter uma residente há uns anos, mas tivemos problemas porque envolveu-se sentimentalmente com os colegas”, conta.
O tratamento deverá durar no máximo um ano. Assim que dá entrada na comunidade, nos primeiros dez dias, o utente passa pelo processo de “desintoxicação” acompanhado de medicação prescrita. Nesse período, são acompanhados por duas pessoas “durante 24 horas”, e por um “guia de passeio, um residente mais velho”. Está autorizado a “passear perto da comunidade”. Passados três ou quatro dias, passa a integrar uma equipa de cozinha, sendo logo “introduzido no grupo de intervenção”. Segue-se, posteriormente, a integração no comité de controlo dinâmico, uma fase que dura três meses. Passam depois a ser considerados guias assim que completarem seis meses, “já assumindo deslocações à rua e idas a casa”, terminando o processo como guias-orientadores. Ao final de um ano, ainda podem permanecer durante mais tempo na comunidade, dependendo dos casos.
O dia-a-dia repete-se. Acordam às 8h00 e deitam-se às 23h00. Entre actividades terapêuticas, workshops, reuniões individuais e de grupo, aulas de inglês, informática e ginástica, têm espaço para jogar uma partida de snooker, ver televisão, usar o computador e tocar um instrumento musical. Se desrespeitarem determinadas regras podem ser expulsos. São elas, a proibição do consumo de álcool e de droga, o envolvimento em cenas de pancadaria ou a criação dos chamados “subgrupos”. “Já expulsámos um residente que, depois de uma ida a casa, veio completamente drogado”, declara.
Normalmente, “adaptam-se bem uns aos outros”, apenas ocorrendo conflitos muito esporadicamente. Caso aconteça, “têm de pedir desculpa ao colectivo ou serão expulsos”. Muitos acabam por ficar pelo caminho, desistindo do tratamento. Outros terminam, mas “recaem”. No final, pode dizer-se que existe “uma taxa de sucesso na ordem dos 40 por cento”. Muitos pedem para continuar a colaborar.
TV e consolas só com os pais
Num mundo em que as novas tecnologias estão a mudar os hábitos do quotidiano, as crianças também não escapam a este fenómeno. Não é nova a preocupação com o facto de os mais pequenos trocarem as pracetas e o ar livre pelo interior das casas. Os berlindes e os piões foram substituídos pelos “joysticks” das consolas de jogos, bem como pela televisão.
De acordo com a psicóloga Goretti Lima, há uma maneira de tornar esta situação mais vantajosa para a formação das crianças. “Não sou contra a televisão ou os jogos de consola, desde que os miúdos não o façam sozinhos. É muito importante que sejam acompanhados pelos pais, para falarem sobre aquilo que estão a ver, interpretando a história”, defendeu.
Nas palavras da especialista, é essencial que os adultos partilhem nem que seja 15 minutos por dia com os seus rebentos. “Os pais devem brincar com as crianças, lendo um livro ou contando uma história.”
Decisão do TUI sobre inexistência de recurso
O fim da linha?
A sugestão é feita pelo despacho ontem emitido pelo TUI, mas as hipóteses de se avançar para uma responsabilização internacional parecem ser escassas. O Pacto Internacional sobre os Direitos e Civis e Políticos prevê a possibilidade da apresentação de queixas de indivíduos contra o Estado, mas essa hipótese foi criada através de um protocolo adicional ao Pacto que não está em vigor em Macau, segundo entendem vários especialistas contactados pelo Tai Chung Pou sobre a matéria.
A República Popular da China notificou, em 2 de Dezembro de 1999, o Secretário Geral da Organização das Nações Unidas, na sua qualidade de depositário do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, sobre a continuação da aplicação na Região Administrativa Especial de Macau do referido Pacto. Não é conhecido, contudo, semelhante procedimento em relação ao protocolo adicional que Portugal ratificou em 1991, mas que não se inclui no conjunto de disposições que transitaram aquando da transferência de administração do território.
Os mesmos especialistas em Direito Internacional não vislumbram, assim, grandes hipóteses de a defesa – ou a acusação, após a leitura da sentença – poderem “reivindicar”, a nível internacional, o direito ao grau a recurso. Mesmo que o protocolo adicional do Pacto estivesse em vigor em Macau, da sua aplicação não resultaria qualquer efeito prático no desfecho do processo. No máximo, poder-se-ia suscitar um problema de responsabilidade internacional.
Recorde-se que esta questão tem sido amplamente debatida entre os círculos de juristas de Macau e também nos jornais, havendo um consenso em torno da inalienabilidade do direito ao recurso entre estes especialistas. Mas o problema vem de longe, tendo sido levantado logo aquando da discussão da Lei de Bases da Organização Judiciária, em 1999, pela Assembleia Legislativa (AL), com um sector do hemiciclo a chamar a atenção para o facto de não estarem definidas as formas de assegurar o recurso.
A posição destes deputados, pertencentes à 1ª Comissão de Trabalho, ficou expressa no parecer nº 3/1999, datado de 13 de Dezembro de 1999. O ponto 12º deste documento deixa também bem clara a vontade contrária, que acabaria por vingar. "Houve quem defendesse que às causas previstas nas alíneas 7), 8) e 10) do nº 2 do artigo 43º, seja aplicado o mecanismo previsto no nº 2 do artigo 44º, a fim de dotar os interessados do direito de recurso. Houve, porém, quem entendesse que, tratando-se de ‘Última Instância’, não deve haver recurso”, lê-se no parecer.
Este imbróglio, que parecia ser consequente de uma lacuna de ordem jurídica é, claramente, o resultado de uma decisão política: existe uma deliberação da Assembleia Legislativa, sob proposta do Governo, no sentido de não conceder o direito ao recurso aos titulares de altos cargos políticos da RAEM. Passados oito anos, e com um caso concreto em análise, o TUI avança precisamente no mesmo sentido, tratando-se agora não de uma decisão política mas de um despacho jurisdicional que invoca certos preceitos legais.
Vários juristas ouvidos pelo Tai Chung Pou no início desta semana não tiveram dúvidas em afirmar que a determinação política de 1999 carece do suporte jurídico concedido pela Lei Básica. A avaliar pelo despacho ontem emitido, o TUI tem um entendimento totalmente contrário.
O que ainda falta
Realçando como “ponto forte” as alterações aos comportamentos dos condutores, o chefe dos Serviços de Viação e Transportes do Instituto para Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), Luís Gageiro, não deixa de referir aquilo que considerou ser um “ponto fraco”: “a Lei do Trânsito Rodoviário não foi aprovada em conjunto com outros regulamentos”. E é por isso que, dois meses depois, ainda falta aprovar “perto de quarenta itens que serão distribuídos por quatro grandes regulamentos”.
Frustrando as expectativas das pessoas, que “estavam à espera de um conjunto de normas que devia sair em simultâneo”, os tais diplomas complementares deverão começar a ser apresentados ao público no próximo ano. “São assuntos que necessitam de mais investigação. A pouco e pouco serão introduzidas essas alterações”, explica.
Prevendo-se “quatro grandes diplomas”, que serão “o regulamento das sinalizações, o regulamento de homologação dos capacetes, o regulamento das escolas de condução e o regulamento dos táxis”, Luís Gageiro hesita em avançar com datas. Mas deixa no ar: “o que está mais avançado é o dos táxis, que será introduzido em breve”. Para o próximo ano está prevista a apresentação do regulamento dos capacetes. “Quanto aos outros, deverão aparecer apenas numa fase posterior”, acrescenta.
Contudo, adverte, não existe qualquer lacuna. Apenas uma “desactualização da legislação”. No que toca aos assuntos que deverão constar dos “diplomas complementares”, todos estão “regulamentados, mas não tão actualizados”. Citando um exemplo, Luís Gageiro nomeou os capacetes cujo diploma em vigor data dos anos 90. E face à evolução tecnológica no fabrico dos automóveis, há que introduzir “novos parâmetros”. Recordando o caso de alguns sinais de trânsito, amplamente utilizados em vários países, mas que ainda não são usados em Macau, realçou que há que mudar este panorama. “Por exemplo, pretendemos criar sinais de reboque de veículos que ainda não existem na RAEM”, exemplificou. Quanto a novidades destes diplomas, não quis adiantar. “Ainda está em estudo. Vai ser criado um grupo de trabalho de pessoas ligadas à matéria”, explicou.
E a anunciada Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT)? Um organismo que teria a seu cargo a gestão dos assuntos inerentes ao trânsito rodoviário, sob a tutela do secretário para os Transportes e Obras Públicas, que já estava previsto nas Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2005, tendo sido novamente referido nas LAG para 2008. “Ao certo, não sei para quando. A população está à espera. Vejo vantagens em criar essa nova direcção, dado que actualmente as competências estão repartidas por vários serviços, concentrando-se ali todas as matérias”, afirmou. Não avançando quem poderá integrar este organismo, apenas declarou que “o IACM foi consultado para o integrar, bem como o departamento das Obras Públicas”. Mas salientou que os trabalhos “já se encontram numa fase bastante avançada”.
Recorde-se que, em Maio do ano passado, o Governo abriu as propostas do concurso para a construção do edifício da DSAT, que ficará situada em frente à sede da CEM - Companhia de Electricidade de Macau. O prédio terá 22 andares, compreendendo nos primeiros três um parque de estacionamento público, com capacidade para 100 carros e 200 motociclos. No segredo dos deuses está o nome de quem ocupará esse edifício.
Um ponto não foi explorado por esta Lei do Trânsito Rodoviário. Em média, um examinando tem de esperar dez meses para realizar o exame prático de condução. “O maior factor que agravou o período de espera é o aumento do número de candidatos. Já solicitámos autorização para ter mais inspectores, mas tendo em conta que o nosso centro de exames é pequeno – e também é de aprendizagem – vai levar tempo até encurtar essa espera”, alerta. Uma questão que ficou de fora da Lei do Trânsito Rodoviário, e que não deverá também constar dos diplomas complementares.
Apoiar jovens em início de carreira
Conhecer uma cultura diferente, oferecer a possibilidade de uma carreira profissional internacional e contactar com a realidade empresarial nacional. São estes os principais objectivos do programa INOV Contacto. Uma iniciativa que promove a realização de estágios internacionais para jovens portugueses, que conta com o apoio da União Europeia, sendo gerido e coordenando pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP).
Este projecto está inserido nas medidas contempladas pelo Plano Tecnológico do Governo de Portugal. Por isso, é financiado pelo Ministério português da Economia e da Inovação. Os candidatos devem responder a uma série de requisitos e têm que ultrapassar no mínimo duas fases.
O programa está dividido em três fileiras, que correspondem às diversas áreas profissionais. A primeira, a Tecnológica, corresponde às novas tecnologias, informática, engenharia, matemáticas aplicadas, economia, gestão e comunicação social. É nesta fileira que estão incluídos os estagiários de Macau, Marta Órfão, João Roque e Pedro Campos.
A fileira Sectorial diz respeito à indústria têxtil, vestuário, calçado e turismo. Já a Técnica é a mais abrangente, incluindo as áreas de hotelaria, gestão de operadores turísticos, telecomunicações, novas tecnologias e informação, técnicas comerciais/distribuição, gestão ambiental, administração, recursos florestais, ambiente, sistemas agrícolas, equinicultura, gestão de transportes e recursos marítimos.
Pode participar no INOV Contacto quem tiver uma idade inferior a 35 anos, com o curso de licenciatura completo. Além disso, os jovens devem ser fluentes em português, inglês e numa terceira língua.
Ainda em Portugal, todos devem frequentar um curso de Gestão Internacional, com duração de duas semanas. Depois, e antes da aventura internacional, os participantes podem ainda estagiar numa empresa em terras lusitanas, não sendo obrigatório para todas as fileiras sectoriais. A designação do local para onde se devem deslocar os candidatos é apenas conhecida no final do curso de Gestão Internacional.
Durante o período de estágio no estrangeiro, os participantes têm direito a uma bolsa mensal, subsídio de alojamento e alimentação, viagem de ida e volta, bem como uma série de seguros de acidentes de trabalho, saúde, actos de guerra, terrorismo e perturbação da ordem pública.
O conjunto de apartamentos Tin Heng e o complexo vizinho Grandeur Terrace foram construídos ao abrigo do plano de casas económicas da Autoridade da Habitação. Este projecto de apoio social começou a ser desenvolvido em 1978 e tem, como objectivo, ajudar famílias carenciadas a adquirirem habitação própria a preços acessíveis. Este tipo de apartamentos seguem, por norma, padrões simples, tanto no exterior como no interior, que permitem diminuir os custos de construção.
O número de habitações económicas conheceu um momento de grande crescimento em 1997, quando o então Chefe do Executivo Tung Chee-Hua definiu que o plano deveria possibilitar a aquisição de 85 mil novos apartamentos por ano. No entanto, as intenções do Governo coincidiram, infelizmente, com a crise asiática, e em 1998 deixou de se ouvir falar na habitação económica. Em 2001, alguns destes apartamentos foram transferidos para o plano de habitação social, destinado ao arrendamento, sendo que os complexos Tin Heng e Grandeur Terrace se enquadram neste reaproveitamento de recursos imobiliários.
As unidades destinadas à habitação económica apresentam, por norma, melhores características de construção do que as habitações sociais, uma vez que se destinam à comercialização. No entanto, por serem concebidas para famílias com posses mais elevadas do que as que ocupam as habitações sociais, não estão dotadas com equipamentos e infra-estruturas de apoio social. Os agregados familiares com rendimentos baixos, incluindo um grande número de migrantes da China, deparam-se frequentemente com dificuldades, depois de ocuparem casas em locais remotos onde não têm qualquer ajuda para resolver problemas de índole doméstica.
Judy Pang explica que, embora o centro social de apoio às famílias que dirige esteja integrado no complexo Tin Heng, a maioria dos residentes não se apercebe da sua existência. Além disso, os que têm necessidades especiais não se encontram motivados, por norma, para pedir apoio.
Os quartos de pequenas dimensões ocupados pelo Hong Kong Christian Service não foram feitos propositadamente para acolher um centro – na realidade, não havia nenhum serviço deste género até 2005. Por outro lado, os dois andares destinados ao parqueamento automóvel encontram-se abandonados, pelo que foi anunciada recentemente a intenção de reconversão do espaço para que possa ser instalado um centro de apostas do Hong Kong Jockey Club, o que trará mais oportunidades de emprego aos residentes da área.
A população desta cidade satélite queixa-se do isolamento a que está votada, devido ao elevado custo de transportes para as zonas centrais de Hong Kong. A falta de infra-estruturas básicas, como creches e um hospital, esteve na origem de um protesto na rua levado a cabo no mês passado.