sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

No mundo da ARTM, Crianças com agendas cheias, As árvores de Hong Kong

Vidas roubadas pelo vício

Alucinações, medo da recaída, vozes que lhe dizem para se revoltar. É o dia-a-dia de Choi. Natural de Macau, aos 27 anos, está há seis meses à procura de tratamento na comunidade terapêutica da Associação de Reabilitação de Toxicodependentes (ARTM). Chegou a tentar abandonar o projecto. Desistiu. Mas as tais vozes que ouve diariamente continuam a persegui-lo.
Aos 12 anos consumiu, pela primeira vez, uns comprimidos que nem sabe bem identificar. Instigado pelos amigos, acabou por experimentar. “Senti-me muito bem, feliz, estimulado”, conta. E porque a sensação era “boa”, continuava a comprar, regularmente, numa loja em Macau. Aos 14 anos, deixou.
Quatro anos depois, começou a consumir regularmente – um consumo muito mais “pesado” e numa base diária. Desde ecstasy, passando pela ketamina, anfetaminas, chegando mesmo à cocaína. E, claro, nunca deixando de lado os comprimidos para dormir.
No início, pensava que “não estava viciado”. Só há dois anos começou a perceber que a droga era indispensável para a sua sobrevivência. Sentiu-se dependente. “Acordava e a primeira coisa que fazia era tomar os comprimidos para dormir”, conta. As outras drogas, lentamente, deixou de tomar. “Senti medo quando comecei a ter alucinações”, explica.
Quanto aos pais e irmão, no início ninguém sequer desconfiava. Mas um dia, quando Choi tinha 18 anos, descobriram ketamina no seu quarto. Nada fizeram. Sem trabalhar e sem estudar, chegou a pedir dinheiro à mãe para sustentar o vício. Pedia aos jogadores dos casinos. Ou traficava. Tudo servia.
O seu círculo de amigos também consumia drogas. E namoradas, só teve uma, que o abandonou assim que se apercebeu do vício.
Contudo, os contornos do seu passado ainda estão “confusos”. O que fez, e o que deixou de fazer. Lembra-se de ter “roubado um motociclo” e pouco mais. “Psicologicamente estava muito instável”, declara.
Há seis meses, a família incentivou-o a entrar na comunidade da ARTM. Mas tem sido “difícil”, confessa. Ouve vozes. Tem alucinações. Sente-se muito dividido. E continua a ter vontade de consumir drogas. Repartir um espaço pequeno com os colegas é o “menor dos seus problemas”. O maior passa pelas “vozes”. O futuro é uma incógnita. Já chegou a abandonar o projecto, mas voltou cinco dias depois. Tem medo de uma recaída.
Um medo também partilhado por Chi Wa. Aos 44 anos, este ex-toxicodependente colabora agora com a comunidade terapêutica da ARTM. Terminado o tratamento, acabou por permanecer no local onde se sentiu bem acolhido. “Tenho medo de não aguentar lá fora e recair”, explica.
Começou a “consumir heroína na penitenciária”, quando tinha apenas 26 anos. “Os meus amigos incentivaram-me, e o tempo passava mais rapidamente”, conta. Sete meses depois foi libertado. Deixou de consumir. Recaiu ao tentar ajudar um amigo que travava a mesma luta.
Seguiram-se 15 anos de total dependência. “Cheguei a trabalhar num casino, pedia também dinheiro aos turistas, roubei a outras pessoas”, conta. Morava com os pais que ignoraram durante nove anos o pesadelo que vivia Chi Wa. Aliás, o pai nunca soube. Apenas a mãe e o irmão descobriram. Lentamente, deixou de ter amigos. E de relacionamentos amorosos estáveis passou a ter encontros esporádicos com “amigas que também consumiam”.
Há três anos apercebeu-se que tinha um problema. “Não trabalhava, sentia-me mal”, explica. Um período difícil que também contou com cinco incursões pela prisão. “Primeiro, um ano. Depois, sete meses. Seguiu-se um período de oito dias. Posteriormente, foi um ano e meio. E finalmente estive dois meses preso”, conta. Sempre por questões relacionadas com consumo ou tráfico de droga.
Da primeira vez que entrou na ARTM, apenas permaneceu por quatro meses. Desistiu. Mas retrocedeu. E pediu para ser novamente aceite. Desde então, nunca mais abandonou a comunidade terapêutica. Depois de um ano de tratamento, acabou por ficar durante mais dois anos a colaborar com a comunidade. “Fisicamente é fácil abandonar as drogas, mas é mais difícil em termos psicológicos”, explica. Mas acabou por se adaptar às regras impostas, ao convívio com os colegas. E hoje dá-lhes orientações. Quanto a sair da ARTM é impensável, porque teme “ter demasiado tempo livre para pensar”. E arranjar outro emprego, enquanto ex-toxicodependente, será “difícil”.

Uma luz ao fundo do túnel

Assim que se entra na comunidade terapêutica da Associação de Reabilitação de Toxicodependentes de Macau (ARTM), em Coloane, a primeira imagem que se tem é uma árvore de Natal. Percorrendo os olhos pelo espaço em volta, vêem-se paredes pintadas pelos residentes, uma mesa de refeições disposta num pátio ao ar livre que serve de entrada e dezenas de cães que saltam amistosamente. Aqui moram 11 toxicodependentes que procuram um rumo para a vida. E que partilham o espaço com uma equipa técnica composta por dois psicólogos, dois monitores, para além do corpo administrativo, e dois ex-toxicodependentes que deverão passar a colaborar.
As infra-estruturas “são velhas”, e o espaço interno “não é muito grande”, pelo menos no que toca ao edifício onde se situam os três quartos dos residentes e a sala de snooker e matraquilhos. Mas repartidos por vários pequenos espaços adjacentes encontram-se um ginásio, uma sala de computadores, uma cozinha e uma farmácia. Um dos refúgios mais procurados é uma sala equipada com vários instrumentos musicais, cujas paredes estão ilustradas com desenhos feitos pelos residentes.
Separado por um portão do pátio principal, encontra-se um quintal menor, onde os residentes convivem rodeados por dezenas de cães e gatos, que pertencem à Anima – Sociedade Protectora dos Animais de Macau. Um espaço onde também se encontra uma pequena horta, várias árvores de fruto, e um lago com uma ponte.
A comunidade terapêutica tem espaço para acolher 14 utentes, no máximo. Neste momento, “11 estão ainda em processo de recuperação, dois estão a trabalhar como monitores e um tem vindo apenas aos fins-de-semana”, conta o presidente da ARTM, Augusto Nogueira. O mais novo tem 15 anos, enquanto o mais velho tem 78 anos - um indivíduo que já “recaiu várias vezes”. São 11 utentes do sexo masculino. “Já chegámos a ter uma residente há uns anos, mas tivemos problemas porque envolveu-se sentimentalmente com os colegas”, conta.
O tratamento deverá durar no máximo um ano. Assim que dá entrada na comunidade, nos primeiros dez dias, o utente passa pelo processo de “desintoxicação” acompanhado de medicação prescrita. Nesse período, são acompanhados por duas pessoas “durante 24 horas”, e por um “guia de passeio, um residente mais velho”. Está autorizado a “passear perto da comunidade”. Passados três ou quatro dias, passa a integrar uma equipa de cozinha, sendo logo “introduzido no grupo de intervenção”. Segue-se, posteriormente, a integração no comité de controlo dinâmico, uma fase que dura três meses. Passam depois a ser considerados guias assim que completarem seis meses, “já assumindo deslocações à rua e idas a casa”, terminando o processo como guias-orientadores. Ao final de um ano, ainda podem permanecer durante mais tempo na comunidade, dependendo dos casos.
O dia-a-dia repete-se. Acordam às 8h00 e deitam-se às 23h00. Entre actividades terapêuticas, workshops, reuniões individuais e de grupo, aulas de inglês, informática e ginástica, têm espaço para jogar uma partida de snooker, ver televisão, usar o computador e tocar um instrumento musical. Se desrespeitarem determinadas regras podem ser expulsos. São elas, a proibição do consumo de álcool e de droga, o envolvimento em cenas de pancadaria ou a criação dos chamados “subgrupos”. “Já expulsámos um residente que, depois de uma ida a casa, veio completamente drogado”, declara.
Normalmente, “adaptam-se bem uns aos outros”, apenas ocorrendo conflitos muito esporadicamente. Caso aconteça, “têm de pedir desculpa ao colectivo ou serão expulsos”. Muitos acabam por ficar pelo caminho, desistindo do tratamento. Outros terminam, mas “recaem”. No final, pode dizer-se que existe “uma taxa de sucesso na ordem dos 40 por cento”. Muitos pedem para continuar a colaborar.
Luciana Leitão
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn

Vantagens e desvantagens das actividades extracurriculares

Quem corre por gosto...

Se os dias fossem mais longos e as aulas não começassem tão cedo, Marta Oliveira, 11 anos de idade, “se calhar” ainda se inscrevia em mais actividades extracurriculares. Nesta matéria, a aluna do 6º ano da Escola Portuguesa de Macau (EPM) é quase uma recordista.
Formas para ocupar os tempos livres das crianças é algo que não falta no território. “A cidade é pequena, chega-se a todo o lado e é fácil os miúdos conseguirem frequentar todas as actividades durante a semana”, explica a psicóloga Goretti Lima.
Neste sentido, os estabelecimentos de ensino procuram oferecer aos seus alunos um leque de opções o mais diversificado possível. Um projecto completo de actividades extracurriculares é também uma boa estratégia para atrair mais crianças.
Todas estas características fazem de Macau um caso especial no que toca à ocupação dos tempos livres. Tantas ofertas, com tamanhas facilidades logísticas, podem representar, porém, um pau de dois bicos.
“Não sei se é mesmo verdade, mas oiço histórias de crianças que estão ocupadas até às 20h30 de segunda a sexta-feira, chegam a casa e ainda têm que fazer os trabalhos da escola. Além disso, durante o fim-de-semana, também algo na agenda”, observou a psicóloga. Se, por um lado, é salutar manter os mais pequenos ocupados, por outro, uma situação exagerada pode implicar um reverso da medalha.
“As crianças precisam de brincar. É muito importante o desenvolvimento da capacidade de fantasiar, só assim poderão ser adultos felizes”, defendeu. Segundo Goretti Lima, pode ser preocupante se, devido a uma carga exagerada de actividades extracurriculares, os mais pequenos não tiverem tempo para se dedicar às bonecas, aos carrinhos e às brincadeiras típicas da infância.
“Se passarem demasiado tempo entre quatro paredes podem perder a oportunidade de fazer as suas próprias experiências, sem que estejam a ser comandados por alguém”, vincou. Entre as possíveis consequências desta situação pode figurar a falta de criatividade.
Música, ballet, pintura em porcelana, natação, expressão dramática e ginástica são as matérias com que Marta preenche as suas horas livres. A jovem vence de longe todos os companheiros de turma. “Na minha sala, o máximo que os meus colegas têm são três ou quatro actividades”, explica. No fim de cada ano lectivo, a dinâmica estudante também não se deixa ficar atrás de ninguém.
“No ano passado, fiquei na comissão de excelência, que são os quatro melhores alunos da turma”, conta. Talvez com uma agenda mais preenchida do que muitos adultos, não é a falta de tempo que afecta o rendimento escolar da estudante, mas sim as férias grandes de Verão.
“Durante as férias esqueço-me sempre de tudo. Por isso no primeiro período de aulas recupero a matéria e no segundo e terceiro, que são os que realmente interessam, começo a subir”, aponta. Mesmo assim, antes da paragem de Natal, Marta já está a contar com “duas ou três” notas 5, quase tudo 4 e está à espera de um 3, embora não saiba ainda bem em qual disciplina.
Ao longo dos sete dias da semana, a quinta-feira é o seu “único dia livre”. A manhã é apenas ocupada com algumas aulas das 12 disciplinas que formam o programa curricular do 6º ano de escolaridade. De resto, nos outros dias úteis, a estudante, que pondera ser arquitecta quando for crescida, sai de casa para, às 8h00, estar sentada na sua carteira da escola. Depois, só volta ao calor do lar entre as 17h00 e as 20h00, dependendo dos dias. Aos sábados e domingos, passa sempre uma hora a interpretar as músicas clássicas através das técnicas do ballet.
Para Goretti Lima, as actividades são positivas, visto que desenvolvem outro tipo de capacidades cujas matérias do currículo escolar não preenche totalmente. “Tudo o que está ligado à Arte e ao Desporto é de ressalvar”, sustentou. É sempre bom ter as crianças ocupadas, quando elas gostam e estão ali porque o escolheram por eles próprios”, alertou. “Não me parece correcto que encham os horários dos miúdos por obrigação”, acrescentou.
No entanto, quando é a criança que opta por manter um horário bem preenchido o que devem fazer os pais? “É importante que alertem os filhos. Devem perguntar-lhes se é isso que realmente querem, confrontando-os com a situação e explicar que não vão ter tanto tempo para brincar”, aconselhou.
No caso de Marta, é ela gere o seu programa de tempos livres consoante as suas próprias necessidades. No ano passado, era ainda mais extensa a lista de actividades extracurriculares.
Ao todo eram uma dezena, teve que deixar algumas pelo caminho, como o folclore, cujo horário estava sobreposto com outro passatempo. “Como entrei para o 6º ano, tornou-se mais difícil, porque preciso de mais tempo para estudar e desisti de algumas”, contou.
Administrar tantas actividades com os afazeres escolares pode parecer impossível para uma jovem de 11 anos mas, segundo a aluna da EPM, é apenas uma questão de hábito e de vontade. Quem corre por gosto não cansa.

TV e consolas só com os pais

Num mundo em que as novas tecnologias estão a mudar os hábitos do quotidiano, as crianças também não escapam a este fenómeno. Não é nova a preocupação com o facto de os mais pequenos trocarem as pracetas e o ar livre pelo interior das casas. Os berlindes e os piões foram substituídos pelos “joysticks” das consolas de jogos, bem como pela televisão.
De acordo com a psicóloga Goretti Lima, há uma maneira de tornar esta situação mais vantajosa para a formação das crianças. “Não sou contra a televisão ou os jogos de consola, desde que os miúdos não o façam sozinhos. É muito importante que sejam acompanhados pelos pais, para falarem sobre aquilo que estão a ver, interpretando a história”, defendeu.
Nas palavras da especialista, é essencial que os adultos partilhem nem que seja 15 minutos por dia com os seus rebentos. “Os pais devem brincar com as crianças, lendo um livro ou contando uma história.”
Alexandra Lages
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn

Sociedade civil em Hong Kong atenta aos espaços verdes

Os guardiões das árvores

Desde que um dos ramos principais da icónica “Árvore dos Desejos” de Hong Kong se partiu há dois anos, os residentes da selva de cimento começaram a perceber que até mesmo as árvores de grandes dimensões podem ser de uma enorme fragilidade. Enquanto o Governo continua relutante em criar novos dispositivos legais para proteger as árvores, os ambientalistas decidiram criar bases de dados para que a população possa ajudar a preservar o tesouro verde de uma das cidades mais densamente povoadas do mundo.
As reivindicações por uma lei de protecção abrangente em relação a esta matéria subiram de tom quando uma figueira-de-bengala de duzentos anos no Parque de Kowloon ficou com o tronco parcialmente danificado durante uma forte ventania em Agosto passado. C.Y. Jim, professor de Geografia da Universidade de Hong Kong e especialista em árvores, entende que a construção de um campo de futebol nas imediações, há cerca de uma década, danificou as raízes da figueira-de-bengala, que deixaram de ter acesso à água, o que foi prejudicando lentamente a saúde da árvore.
O Departamento de Serviços Culturais e de Entretenimento (LCSD, na sigla inglesa) gere, em simultâneo, o espaço de lazer e a árvore moribunda. Os responsáveis recusaram a hipótese de uma intervenção no campo de futebol e insistiram que desde o início deste ano que começaram a prestar uma atenção especial à figueira-de-bengala, depois de uma anormal queda de folhas, argumentando não ser da sua responsabilidade se esta não resiste a uma tempestade tropical.
Depois deste episódio, foi criado um grupo de especialistas para tentar salvar as árvores moribundas, mas os estragos parecem ser irreversíveis, não obstante todos os esforços que possam ser feitos.
O LCSD é responsável pela maioria das árvores que se encontram nos espaços públicos de Hong Kong. Neste momento, existem nove equipas de conservação que reúnem, na totalidade, 110 membros, e que têm como tarefa ajudar à preservação de 720 mil árvores espalhadas pelo território. Em 2001, foi criada um base de dados relativa às árvores ao cuidado do departamento público, onde se incluem informações como as espécies, peso, diâmetro do tronco, características e condições de desenvolvimento.
Depois da queda da árvore do Parque de Kowloon, e não obstante o LCSD ter negado qualquer responsabilidade em relação ao incidente, chegou-se à conclusão de que as mais de 700 mil árvores requerem um número maior de recursos humanos que possam ajudar nos trabalhos de preservação.
Enquanto o departamento público continua a trabalhar numa proposta detalhada em relação à possibilidade de entregar a manutenção das árvores a outras entidades, as organizações ambientalistas começaram já a desenvolver projectos de voluntariado com vista a sensibilizar a população para a necessidade de preservação dos espaços verdes, acções que têm como objectivo final criar uma enorme de rede de monitorização das árvores do espaço urbano.
Criada em Abril do ano passado, a Associação “Tree Lovers” esteve entre as primeiras organizações a lançar campanhas de conservação das árvores, na tentativa de conquistar a participação activa dos residentes. Desde então, tem organizado palestras em que são dadas pistas para que a população possa ajudar a identificar problemas nas árvores e lançou uma iniciativa anual, o Dia dos Amantes da Árvores, realizada no mês de Dezembro, de modo a passar a mensagem a um maior número e pessoas.
As pessoas que participam nas conferências passam a fazer parte do grupo de “Tree Lovers” e entrarem em contacto com o escritório da associação se detectarem problemas em árvores, qualquer que seja a sua localização. A organização entra imediatamente em acção: se o caso for urgente, é de imediato comunicado ao LCSD e, se se considerar necessário, denuncia-se o problema junto dos órgãos de comunicação social. Entretanto, os membros da associação de conservação vão inserindo os detalhes relativos às árvores numa base de dados, que será tornada pública, dizem, quando houver um conjunto de informações razoável.
No final do mês passado, mais de 400 residentes tinham já aderido ao grupo. Para Ken So, um dos responsáveis da direcção, a resposta é muito positiva. “Os problemas nas árvores centenárias de Hong Kong são muito recentes. Esperamos conseguir recolher o maior número de informações para que possam ser comparadas com os dados do LCSD, complementando o trabalho que está a ser feito pelo departamento”, explica.
A associação está também a trabalhar no sentido de se criar uma legislação uniformizada sobre a protecção das árvores. “Embora muitas delas sejam espécies protegidas, muitas outras não têm qualquer protecção”, alerta. “Nos terrenos privados, as árvores centenárias podem ser derrubadas sem que ninguém possa actuar. Esperamos que este quadro possa ser alterado em breve.”
Com um trabalho diferente da associação de conservação, uma outra organização, a “HK.Loves.Tree” opta por enfatizar a interacção entre as pessoas e as árvores, usando uma estratégia diferente. Resultante do esforço conjunto entre a fundação de beneficência da NWS Holdings (a empresa mãe da NWFF de Macau e operadora local de autocarros públicos) e a Green Power, este programa pretende captar a atenção da população mais jovem, logo a partir da infância, tendo ainda criado também uma base de dados que se pode ser consultada pelos residentes.
O facto de ser financiado pelo sector privado permite aos impulsionadores do programa desenvolver outro tipo de actividades e chegar a um maior número de pessoas. Para o primeiro ano de actividade, a “HK.Loves.Tree” vai enfatizar as árvores mais características do território – a figueira-de-bengala – através de uma série de concursos e programas educativos junto das escolas primárias e secundárias de Hong Kong, sendo que está ainda planeada a eleição da figueira-de-bengala preferida da população local. Uma equipa de voluntários constituída por trabalhadores da NWS deslocou-se aos principais parques da cidade para aprender mais sobre as árvores e os cuidados de que necessitam.
Mancy Chan, gestora de Relações Públicas da Green Power, explica que a figueira-de-bengala se tornou um ícone de Hone Kong devido ao seu porte imponente e à relação que as pessoas desenvolvera com a árvore. “Quase que podemos chamar às figueiras-de-bengala a árvore da cidade. É muito comum na ruas e é um ponto de encontro para os grupos de pessoas mais idosas. Estão ainda ligadas à vitalidade e são um símbolo da capacidade de adaptação dos residentes de Hong Kong.”
Depois do caso da “Árvore dos Desejos”, conta Mancy Chan, as pessoas tornaram-se muito mais sensíveis às questões relacionadas com os espaços verdes da cidade. “Durante os festivais, em que é pendurada iluminação nas árvores, recebemos telefonemas de pessoas preocupadas com os possíveis estragos que as luzes podem provocar”. A base de dados que está a ser criada inclui informações apenas sobre as figueiras-de-bengala, sendo que o alargamento a outras espécies deverá ser feito dentro de dois ou três anos.
O departamento governamental responsável pela questão diz acolher bem as intenções das associações ambientalistas em relação à criação de bases de dados e garante estar disposto a trabalhar em conjunto para que os padrões de conservação das árvores seja elevados. Ainda não se conseguiu perceber se as bases de dados não oficiais são uma ajuda efectiva, sendo certo, por outro lado, que muitos dos problemas que afectam as árvores centenárias não são visíveis a olho nu.
A equipa de peritos do LCSD utiliza uma série de equipamentos para inspeccionar as condições de saúde das árvores. Uma vez que todos os nutrientes se encontram nas camadas mais profundas, uma árvore pode parecer perfeitamente saudável e ter uma cavidade interior a ocupar 90 por cento do tronco. Um destes exemplos é uma nogueira de iguape localizada junto a um mercado em Kennedy Town. Noutros casos semelhantes, o LCSD colocaria uma estrutura em madeira para apoiar a árvore mas, neste caso, um outro departamento governamental, que gere o mercado, rejeitou a ideia argumentando que iria bloquear o acesso ao espaço de venda de produtos. “Estamos a avaliar a situação”, comentou, sem mais pormenores, um porta-voz do LCSD.
Kahon Chan, em Hong Kong,
com Isabel Castro

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