Pai de Ao Man Long em cela hospitalar
Ao Veng Kong, o pai do ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas, está em prisão preventiva, numa cela hospitalar que, segundo o seu defensor, não apresenta as condições mínimas, tendo em conta o seu estado de saúde. A aplicação da medida de coacção mais gravosa ao arguido de 81 anos resultou de um despacho do Tribunal Judicial de Base (TJB), que revogou uma decisão tomada em Setembro passado, em que havia sido determinada a suspensão da medida de prisão preventiva.
Até há pouco mais de 24 horas, o arguido – acusado de branqueamento de capitais por ter aberto contas bancárias em Hong Kong onde o filho terá depositado capitais provenientes de actos ilícitos – aguardava julgamento no Centro Hospitalar Conde de São Januário. Na passada segunda-feira, ao final da terceira audiência do julgamento em que é arguido, Ao Veng Kong foi dispensado da obrigatoriedade de comparência em todas as sessões, depois de vários apelos do seu advogado, que alegou o estado de saúde frágil do arguido, transportado em cadeira de rodas.
Ontem, visivelmente indignado com a decisão do TJB em relação ao seu cliente, o advogado Pedro Leal pediu a imediata suspensão da medida, por considerar que não foi atendido o disposto no Artigo 196.º do Código de Processo Penal de Macau. “O arguido não foi ouvido antes desta alteração”, alegou o defensor. “A cela onde se encontra neste momento é exígua, sem ventilação nem luz natural”, descreveu Pedro Leal.
O advogado foi notificado ao início da tarde de ontem, tendo ido de imediato visitar o seu cliente. De acordo com a sua descrição, as condições em que se encontra o octogenário fazem com que tenha que estar “totalmente acamado, impedido de receber visitas dos familiares e sem poder apanhar ar”. Pedro Leal alegou ainda que a cela hospitalar – num edifício contíguo ao hospital, mas dependente do Estabelecimento Prisional de Macau – não tem condições para que Ao Veng Kong possa receber o tratamento que o seu debilitado estado de saúde exige. “O local onde está acamado é um buraco sem condições”, vincou o defensor.
No requerimento que apresentou no final da audiência de ontem – sendo que pediu para falar algumas horas antes, mas a sua pretensão foi negada pela presidente do colectivo, Alice Costa – Pedro Leal requereu a nulidade do despacho emitido pelo TJB.
O Ministério Público (MP) pediu tempo para avaliar a situação, alegando não ter sido notificado da decisão judicial e desconhecer as condições em que o arguido se encontra. Perante a resposta da acusação, Alice Costa disse ao advogado ser preciso, em primeiro lugar, notificar o MP, para depois o tribunal poder decidir sobre a questão. O defensor ainda pediu para que fosse suspensa a medida, lembrando que a próxima audiência só se realiza para a semana, na segunda-feira. “Agora não”, respondeu a presidente do colectivo, dando por encerrada a sessão.
De notar um pormenor sonoro que aconteceu logo no início da leitura do requerimento e que foi ouvido por várias pessoas presentes na sala de audiências. Quando Pedro Leal começou a ditar a sua pretensão, ouviu-se com nitidez um trautear, de apenas alguns segundos, cuja origem não se conseguiu determinar.
Coordenador do GDI ouvido no processo de familiares de Ao Man Long
Os esquecimentos de “um mero mensageiro”
Os esquecimentos de “um mero mensageiro”
O coordenador do Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI), Chan Hon Kit, admitiu ontem em tribunal não ter agido da melhor forma ao seguir as “orientações” dos seus superiores relativas à alteração das classificações em concursos públicos, quando ainda trabalhava na Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes.
Segundo o responsável - que em Novembro passado substituiu Castanheira Lourenço na coordenação do GDI -, cumpriu as ordens que recebeu por depositar “confiança” nos seus superiores, e nunca questionou as instruções que recebia. Chan Hon Kit, que se descreveu como sendo “um mero mensageiro”, reiterou ontem que era Ao Man Long quem decidia quais as empresas vencedoras dos concursos públicos, após receber as grelhas provisórias das classificações, elaboradas pela DSSOPT.
O papel do actual coordenador do GDI, na altura subdirector das Obras Públicas, limitava-se, segundo disse, a receber as grelhas e a entregá-las ao seu superior, sendo que, após a decisão do ex-secretário, recebia instruções que transmitia, de imediato, aos seus subordinados. O responsável, que compareceu no Tribunal Judicial de Base na qualidade de testemunha arrolada pela acusação do processo que tem como arguidos os familiares de Ao Man Long e três empresários de Macau, disse pensar que as “orientações” do governante se prendiam com o interesse público e a necessidade de garantir uma distribuição equilibrada das obras públicas do território.
Questionado pelos advogados da defesa sobre a possibilidade de ter cometido uma ilegalidade, Chan Hon Kit utilizou, por várias vezes, o argumento da confiança nos seus superiores. O colectivo do TJB não pareceu convencido com a resposta da testemunha, tendo insistido neste ponto da inquirição. Uma das juízas lembrou ao responsável que, de acordo com a lei, as obras superiores a determinado valor têm que ser por concurso público. Ora, se era Ao Man Long que escolhia a empresa vencedora, o concurso público deixava de o ser. Respondendo que “não tinha pensado nisso na altura”, Chan acabou por admitir que a juíza tinha razão.
Algumas das declarações prestadas ontem pelo coordenador do GDI não coincidiram com aquilo que disse durante a fase de investigação do processo, tendo a testemunha sido confrontada com o facto. Chan confirmou as declarações feitas ao Ministério Público (há cerca de um ano) e utilizou como subterfúgio a sua memória que, disse, estava melhor aquando da inquirição pelo MP do que agora. Recorde-se que, durante o julgamento de Ao Man Long, o Tribunal de Última Instância entendeu existirem discrepâncias nas afirmações de Chan Hon Kit, tendo pedido que parte da acta fosse extraída e entregue ao Ministério Público, pelo que corre o risco de ter que responder por falsas declarações (ver texto nesta página).
Vários defensores decidiram avivar a memória à testemunha. Durante a sessão, o coordenador do GDI tinha afirmado não se lembrar se havia coincidência entre o resultado do vencedor determinado na grelha provisória, elaborada pela DSSOPT, e a indicação do ex-secretário, no caso da obra de construção da Nave Desportiva dos Jogos da Ásia Oriental, cuja adjudicatária foi a Sam Meng Fai. Pedro Redinha, o advogado do empresário Ho Meng Fai, recordou a Chan que, perante o MP, tinha dito não se recordar de qual a sociedade que ficou em primeiro lugar, mas lembrar-se que a adjudicatária tinha sido aquela com a melhor classificação.
A testemunha tinha dito também que Ao Man Long decidia o vencedor entre as cinco empresas com melhores classificações, sendo que estas estavam separadas por diferenças muito pequenas. O advogado de Chan Tong Sang mostrou à testemunha o resultado de um concurso em que a Chong Tit, adjudicatária da construção do parque subterrâneo da Ponte Flor de Lótus, tinha uma vantagem de seis pontos em relação ao segundo classificado. O antigo responsável pelo departamento que gere as obras públicas dentro da DSSOPT não soube justificar porque é que, já depois de atribuída a empreitada, houve necessidade de aumentar o valor e a extensão da obra.
De um modo geral, a testemunha não se conseguiu lembrar das indicações que recebeu em relação às adjudicações, nem se as orientações de Ao Man Long coincidiam com as empresas que obtinham melhores classificações.
O telefonema da polémica
Foi uma questão polémica aquando da ida de Chan Hon Kit ao Tribunal de Última Instância, mas que ontem não suscitou qualquer dúvida ao coordenador do GDI, na sua inquirição na sessão de julgamento do processo conexo ao de Ao Man Long. Afinal, o antigo subdirector das Obras Públicas recebeu, segundo diz, um telefonema do ex-secretário, durante o qual este lhe deu a indicação da empresa que deveria ganhar determinado concurso público.
Não só Chan Hon Kit se lembrou do telefonema como foi capaz de recordar qual a obra e a construtora civil em questão. De acordo com o seu depoimento perante o Tribunal Judicial de Base, Ao Man Long disse ao então subdirector que o concurso público referente à construção do silo de veículos pesados da Ponte Flor de Lótus deveria ser ganho pela Chong Tit.
Recorde-se que, no passado dia 14 de Novembro, durante a inquirição no TUI, o responsável começou por dizer - quando questionado sobre a origem das orientações para a alteração das pontuações - que não sabia se tinha havido alguma indicação directa do antigo secretário, alegando que a sua memória “não estava muito clara”. Acontece que, segundo os autos lidos então pelo colectivo, Chan tinha dito, durante a investigação, que Ao Man Long lhe tinha “falado que foi por motivos políticos e equilíbrio de interesses sociais”.
O juiz do TUI ainda insistiu com a testemunha, pedindo-lhe para se lembrar se alguma vez tinha trocado ideias com o ex-secretário sobre a escolha das empresas às quais adjudicar obras públicas. Chan Hon Kit disse que não mas, poucos minutos mais tarde, confrontado por outro juiz, afirmou que já não se lembrava.
Não sem antes vincar à testemunha que não deve prestar falsas declarações em tribunal, uma vez que fez um juramento e é a liberdade do arguido que está em causa, o juiz do TUI pediu para que parte da acta fosse extraída e entregue ao Ministério Público. Desconhece-se qual a decisão do MP em relação à existência de matéria para a abertura de um inquérito sobre as alegadas falsas declarações.
Isabel Castro
Qual é o grande objectivo da prática do Yoga? Sunil Kumar tem resposta pronta. “Diria que é a união com as energias cósmicas”. Em Macau desde Dezembro, Sunil pretende transmitir os mesmos ensinamentos que garantiram à escola por si fundada, em Varanasi, Índia, uma referência no conhecido guia turístico Lonely Planet. E mostrar um pouco dos vários “tipos” de Yoga que conhece, garantindo maior saúde espiritual aos residentes da RAEM.
A leccionar várias modalidades de Yoga, que incluem Kundalini, Ashtanga, Hatha, técnicas de relaxamento e respiração, além do Yoga Integrado, Sunil Kumar, natural da Índia, cedo descobriu a vocação. Aos 11 anos, “uma voz interior” mostrou-lhe o caminho. “Apercebi-me que tinha de ensinar Yoga”, conta. Houve quem lhe tivesse perguntado se estava “doente”. A esses, Sunil respondeu: “o Yoga é tão profundo, que não consigo deixar de sentir uma grande ligação a tudo”. Foi por sentir essa “união com as energias”, que “mudou” e resolveu abrir caminho para o Yoga na sua vida.
Sentiu-se invadido por “harmonia, equilíbrio e felicidade”. Apostou na formação na área. Aos 15 anos, começou a ensinar Yoga aos atletas de um ginásio, tendo prosseguido a profissão quando foi convocado para o exército. Completou também um bacharelato em Psicologia, na Universidade Hindu de Banaras. “Psicologia é o estudo do comportamento humano e resulta bem com o Yoga – ajuda a compreender o que o estudante quer e a ensinar melhor”, explica.
Quem pode aprender? Sunil quebra “preconceitos”. Todos podem praticar – ocidentais, orientais, novos, velhos, católicos, budistas ou hindus. O que interessa é “sentir a profundidade e atingir os objectivos”, resultando, no final, num “melhor” ser humano. “Os meus alunos ocidentais são muito profundos - procuram saúde, beleza, graça, vitalidade – cada um tem o seu próprio objectivo”, diz.
Uma prática intensiva tem repercussões físicas e psicológicas. “Quando se faz Yoga, está-se a influenciar directamente o sistema nervoso e as glândulas. É para o corpo e mente”, declara sem quaisquer dúvidas.
Sobre as diferenças entre Yoga e Yôga, Sunil não se pronuncia. Apenas afirma que também ele criou a sua própria modalidade, intitulada “Yoga Integrado”, e que, aliás, é a que “prefere” ensinar. Porquê? Adequado a “todos os níveis ao mesmo tempo, integra vários tipos de Yoga” - é o mais “adequado” para aprender a não “trabalhar em excesso”. Até porque “cada aluno só aguenta um determinado ritmo”. “Quando vejo que um iniciado está a tentar passar para o avançado, aconselho calma e moderação”, explica. Mas, acima de tudo, aponta como “favorito” o Yoga Integrado porque “tem liberdade para decidir tudo”. Uma aula normal pode começar com uma “saudação ao sol ou à lua” ou com “técnicas de respiração” – depende do desejo dos alunos que a frequentam.
Quanto ao Kundalini Yoga, “também gosta de ensinar”, porque se “aprende a melhorar todos os sentidos – seja o tacto, o olfacto ou o paladar”. É o método melhor para ganhar “uma hiper-consciência” de tudo, conseguindo dominar os próprios sentidos. Já o Ashtanga “resulta bem na pele”, tornando-a mais brilhante, mas, adverte, “não é para iniciados”. Quanto às técnicas de respiração e relaxamento, “adequadas a todos os níveis”, ajudam a “controlar a mente”. Mas será o próprio aluno a determinar o seu próprio tipo de Yoga. “Depende dos temperamentos e do trabalho efectuado nas vidas passadas”, diz.
Agora em Macau a trabalhar no ginásio Yoga World, Sunil Kumar, está contente com a oportunidade. Em primeiro lugar, porque “não há violência” na cidade. Em segundo lugar, porque “não sofre interferência da [sua própria] família”, que permanece na Índia.
Defendendo que o Yoga torna o corpo e a mente mais saudáveis, Sunil Kumar afirma que se trata de um “processo que leva o seu tempo”. Depende de vários factores. Depende, sobretudo, da prática e do trabalho efectuado na “vida passada”. O tipo de Yoga que mais se adequa depende também dos “comportamentos” e das “vidas passadas”. Importante também para o sucesso da prática é a meditação - “fica-se com a mente e o corpo mais fortes e flexíveis – e isso tem repercussões também ao nível dos comportamentos sociais”.
O percurso
Sunil Kumar Jhingan, natural da Índia, nasceu há 42 anos, mas ensina Yoga há mais de 26. Fundador, presidente e professor no Centro de Treino de Yoga, em Varanasi, Índia, começou a estudar Yoga nos anos 70, aos cinco anos de idade. Detentor de vários diplomas na área, emitidos pela Federação Indiana de Yoga, a Universidade Hindu de Banaras, o Instituto Bhartiya para a Educação do Yoga, o Instituto Central de Yoga, completou também um bacharelato em Psicologia na Universidade Hindu de Banaras.
Ioga, Yoga e Yôga
Ioga é a forma aportuguesada usada pelo dicionário. As outras grafias propostas são Yoga e Yôga, que contêm sentidos, objectivos, metodologias e práticas diferentes. No caso do Yôga, é muitas vezes associado ao Swásthya Yôga que tem como seu principal expoente o brasileiro De Rose. Para esta escola, "Yôga é qualquer metodologia estritamente prática que conduza ao samádhi".
Já o Yoga abrange a maioria das demais modalidades, como Hatha Yoga, Ashtanga Vinyasa Yoga ou Iyengar Yoga. A definição mais utilizada é a encontrada nos Yoga Sutras de Pátañjali, podendo ser considerada a “cessação da agitação mental.” Derivando da palavra “Yog”, em sânscrito, que significa “união”, é descrita em termos espirituais como a união de Shakti (energia) com Shiva (a consciência suprema).
Há dezenas de linhas diferentes de Yoga no mundo, que propõem diversos caminhos para alcançar os mesmos objectivos. Algumas delas são: Ashtanga Vinyasa Yoga, Bhakti Yoga, Hatha Yoga, Iyengar Yoga, Jñana Yoga, Karma Yoga, Kriya Yoga, Raja Yoga, Raja Vidya Yoga, Siddha Yoga, Swásthya Yoga entre outras.
Luciana Leitão
Fotografia: António Falcão
Fotografia: António Falcão
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