Os planos de Baxter
Internacionalização é a palavra-chave da lista de trabalhos da nova direcção do departamento de Português da Universidade de Macau (UM). Há quatro meses a ocupar o lugar de director, Alan Baxter não tem tido mãos a medir. Os projectos multiplicam-se: as licenciaturas e os mestrados estão em fase de revisão e há programas de mobilidade para estudantes em preparação, entre tantas outras iniciativas. Os primeiros resultados vão surgir já no próximo ano lectivo.
Aumentar o leque de opções em Portugal e partir à descoberta do Brasil e de África. São estes os objectivos do departamento de Português no que toca aos novos projectos de mobilidade de estudantes.
Actualmente, os alunos do terceiro ano da licenciatura de Língua e Cultura Portuguesas têm oportunidade de efectuar um semestre na Universidade Clássica, em Lisboa. No entanto, a partir de Setembro, os estudantes poderão conhecer os métodos de ensino das Universidades de Coimbra e do Minho.
Relativamente ao Brasil, os custos de deslocação dificultam a concretização deste projecto, mas há a possibilidade de enviar o primeiro grupo para terras de Vera Cruz ainda no próximo ano. “Estão em progresso algumas conversas preliminares com a Universidade de Campinas, no Brasil. O problema é a distância, mas é importante fazer um esforço neste sentido”, frisou o mesmo responsável.
As ambições de chegar ao continente africano são as únicas que ainda não possuem calendário. Contudo, Moçambique é uma das hipóteses, visto que estão já em andamento conversações com a Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo.
A par disso, o departamento de Português pretende ainda criar um programa de estágios. “No quarto ano da licenciatura, queremos desenvolver um esquema de estágios, por enquanto apenas a nível local”, informou Alan Baxter.
Nas palavras do académico, as principais vias profissionalizantes do curso da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UM são as relações internacionais e comerciais, trabalhos de interface, assim como serviços de interpretação e tradução. Ora, numa altura em que os contactos entre a China e os países de expressão portuguesa são cada vez mais fortes, torna-se fundamental que os alunos conheçam o contexto social, histórico e cultural de cada uma destas nações.
É este um dos sentidos segundo os quais está a ser realizada a revisão do programa de licenciatura. Um trabalho que coincidiu com a nomeação de Alan Baxter. “Temos em mente tratar de dois assuntos essenciais. Um deles é a questão da língua, queremos apostar bastante na qualidade em termos das melhores práticas a nível internacional, e outro são as disciplinas de conteúdo”, explicou.
Com cerca de 240 estudantes de um total de 1400, divididos pelas várias opções oferecidas pelo departamento de Português, o curso de licenciatura tem uma duração de quatro anos. A primeira metade é mais dedicada aos estudos linguísticos intensivos, enquanto a segunda se debruça nas disciplinas de tipo tradicional, como a História e a Literatura.
“A minha intenção é, além de estender para o terceiro e quarto anos o ensino da língua propriamente dita, trabalhar ao mesmo tempo os aspectos sócio-económico e cultural relativamente ao mundo lusófono inteiro. Isto tendo em conta os contactos entre a China, África, Portugal, Brasil e União Europeia”, apontou.
O objectivo deste projecto é, segundo Alan Baxter, fazer um trabalho mais actual em termos da realidade lusófona, manter as disciplinas tradicionais, mas complementando com matérias mais pertinentes no que diz respeito aos contactos internacionais que envolvem a língua portuguesa. Neste conjunto, incluem-se, por exemplo, a história contemporânea e as questões de política actual.
O plano de estudos do grau de mestrado está também em processo de revisão. Quanto ao curso mais recente, lançado no ano passado, em Interpretação e Tradução, “está a ter êxito”, mas Alan Baxter não se dá por satisfeito. “Quero consolidar e desenvolver mais esta formação, principalmente ao nível da pós-graduação na área de tradução”, defendeu.
Relativamente ao mestrado em Língua e Cultura Portuguesas, pode esperar-se também uma alteração substancial. Actualmente, o curso de dois anos está dividido em três vertentes: Linguística, História e Literatura. “O que estamos a planear na revisão actual é criar um mestrado único com opções disciplinares, em vez de três mestrados”, explicou o responsável.
“Seria muito positivo que um estudante de Linguística pudesse estudar algumas disciplinas de História. Há toda uma série de conjugações possíveis com muitos benefícios. Por exemplo, para compreender a questão do patuá é necessário conhecer a História de Macau”, acrescentou.
As actividades do departamento de Português da UM desenvolvem-se a dois níveis. O primeiro diz respeito à licenciatura. Além do curso em Língua e Cultura Portuguesas, existe um conjunto de cursos com uma duração mais curta pensados para todos os estudantes de outras faculdades da UM - o “minor” em Estudos Portugueses e o curso de Língua Portuguesa. Na área do Direito, há duas formações em língua portuguesa para alunos chineses e lusófonos.
No que diz respeito ao nível de pós-graduação, além do mestrado em Língua e Cultura Portuguesas e em Tradução e Interpretação, o departamento de Português oferece um plano de estudos de doutoramento em Linguística Aplicada, nomeadamente nas áreas de aquisição de língua e técnicas de aprendizagem, e em Sociolinguística.
Criar um corpo docente virado para a investigação
As estratégias do novo director do departamento de Português da Universidade de Macau (UM) não se resumem somente à organização dos currículos. Alan Baxter tem planos bem definidos quanto ao seu corpo docente. Sempre com os olhos postos na qualidade das práticas de ensino e do trabalho de investigação. Duas vias que, segundo o responsável, servem para elevar o reconhecimento da UM no estrangeiro, bem como atrair estudantes de outros cantos do mundo.
“Quero que o departamento seja bem conhecido pela sua especialização, isto é, docência e investigação actualizada”, defendeu. O plano do também director do Centro de Investigação de Estudos Luso-Asiáticos do mesmo estabelecimento de ensino é desenvolver um quadro bem forte na área do ensino do português como segunda língua formado por docentes com interesse pela investigação.
“Hoje em dia não se pode ensinar uma língua sem estar dentro dos desenvolvimentos e tendências actuais, bem como os produtos das investigações mais recentes. Quem ensina um idioma estrangeiro tem que estar actualizado”, sustentou o mesmo responsável.
Actualmente com um corpo docente de 24 profissionais, Alan Baxter pretende fazer aumentar este número para 26, ainda durante este ano lectivo. Por outro lado, dentro de 18 meses o departamento vai poder contar com mais três professores doutores, docentes que já pertencem ao quadro.
Além disso, o responsável pretende criar quadros especializados em áreas específicas. A primeira diz respeito aos assuntos de português para Direito. Um trabalho que está já em fase de andamento. Em segundo lugar, será criado um sector do corpo docente mais dedicado à área de Tradução e Interpretação. “Haverá mais espaço para estas disciplinas”, salientou.
Este ano, a UM atribuiu uma bolsa ao Centro de Investigação de Estudos Luso-Asiáticos. Isto quer dizer que, durante cinco anos, o grupo de investigadores na área da linguística do departamento de Português vai receber financiamento para desenvolver os seus trabalhos.
A equipa formada por 11 académicos é comandada por Alan Baxter. Além de projectos de Linguística Aplicada, há ainda a vertente de Sociolinguística. É aqui que entram os projectos associados ao patuá e ao pápia kristang, o crioulo de Malaca, cujo objectivo é dar apoio às comunidades em questão para ajudar à manutenção e preservação destas manifestações linguísticas.
Uma nomeação polémica
A nomeação de Alan Baxter para os comandos do departamento de Português da UM e do Centro de Investigação de Estudos Luso-Asiáticos gerou polémica entre a comunidade portuguesa da RAEM. Acontece que o licenciado em Filosofia e Mestre e Doutor em Linguística é australiano.
Nas palavras do académico, as principais preocupações estão ligadas ao facto de este usar a norma do português do Brasil, enquanto que as regras vigentes da língua lusitana em Macau são as de Portugal. Alan Baxter garante que este vínculo não será violado; no entanto, num espaço com as características de Macau, é preciso dar espaço à lusofonia.
“É evidente que uma universidade que ensina o português, neste século, localizada na China, tem que ter em atenção que o país ao lado é o maior parceiro económico dos países de língua portuguesa”, sustentou. Tal deverá, segundo Alan Baxter, processar-se desde o nível dos quadros de professores até aos conteúdos dos currículos.
“A minha visão é que temos que trabalhar mais a temática lusófona, sem esquecer que o vínculo com Portugal é realmente central e muito importante. Por isso, além de portugueses e brasileiros, eu gostaria de ter um corpo docente formado também por africanos. Isto não quer dizer, de jeito nenhum, que vamos privilegiar uma determinada variante do português.”
Alexandra Lages
Fotografia: António Falcão
Fotografia: António Falcão
Eleitos os delegados de Macau à 11ª Assembleia Popular Nacional
Vai Tac Leong e Lau Ngai Leung consensuais
Vai Tac Leong e Lau Ngai Leung consensuais
Estão escolhidos os representantes de Macau junto da 11ª Assembleia Popular Nacional (APN). Doze pessoas de diferentes quadrantes da RAEM foram ontem escolhidas num processo eleitoral que decorreu na Torre de Macau. Os empresários Lionel Vai Tac Leong e Lau Ngai Leung reuniram o maior número de votos: 304 nomeações num total de 319. O colégio eleitoral é constituído por 325 membros; ao sufrágio apresentaram-se 17 candidatos.
Os cinco actuais delegados de Macau renovaram os seus mandatos. Além de Lionel Vai Tac Leong, são seis as caras novas da RAEM junto da APN.
Dos resultados de ontem, destaque ainda para o facto de o empresário Ho Iat Seng, que tinha reunido o maior número de cartas de nomeação, não ter conseguido mais do que o quinto lugar na classificação geral. Três das quatro mulheres candidatas alcançaram um lugar na Assembleia Popular Nacional.
O vice-presidente e secretário-geral do Comité Permanente da APN, Sheng Huaren, esteve presente neste segundo plenário, que culminou com a eleição dos delegados, e que foi presidido pelo Chefe do Executivo da RAEM, Edmund Ho. No discurso que proferiu depois das eleições, Sheng congratulou os recém-eleitos representantes da RAEM, tendo ainda realçado que o processo eleitoral para a 11ª APN em Macau decorreu de acordo com a lei e de forma democrática.
“É uma eleição aberta e justa”, disse. “Acredito que o processo merecerá o reconhecimento dos diferentes sectores da sociedade de Macau”, acrescentou Sheng Huaren.
Em relação aos actuais delegados à 10ª APN, o responsável elogiou a sua efectiva contribuição para o desenvolvimento da economia do país, a implementação do princípio “Um País, Dois Sistemas” e a manutenção da prosperidade e da estabilidade em Macau.
Os doze delegados eleitos serão formalmente empossados depois de um processo de auditoria detalhado levado a cabo pelo Comité Permanente da 10ª Assembleia Popular Nacional, segundo informa a Xinhua.
Lionel Vai Tac Leong, empresário natural de Macau, tem 46 anos e era o candidato local mais novo à APN. Candidatou-se pela primeira vez e o resultado que conquistou foi a maior surpresa desta eleição para a Assembleia Popular Nacional. Membro do Conselho Executivo, é tido como sendo um político de formação liberal. Quanto a Lau Ngai Leung, o empresário é natural de Fujian e a sua reeleição para a APN era dada como certa.
À Rádio Macau, Leonel Alves, membro do colégio eleitoral, considerou estar aberto um ciclo de renovação, tendo sublinhado o significado da votação alcançada por Lionel Vai Tac Leong. “A China entrou num ciclo em que pessoas novas, de sangue novo, começam a estar em todos os aparelhos de Estado. Macau também acompanhou este passo, com pessoas novas, com grande vontade de contribuir para a nação, o que é positivo”, disse.
Quanto às características de Lionel Vai Tac Leong, Alves disse tratar-se de “uma personalidade local com muito prestígio, que tem vindo a desenvolver um trabalho importante ao nível do Conselho Executivo e também de outras vertentes da sociedade”, entendo que o número de cartas de nomeação que conquistou significa que “pode contar com largos sectores da sociedade de Macau para grandes tarefas que se avizinham”.
Também em declarações à Rádio Macau, e ainda sobre o valor de Lionel Vai Tac Leong, o arquitecto Carlos Marreiros, que integra o colégio eleitoral, o novo delegado à APN tem trabalhado para a modernização da economia e do progresso da RAEM. “É um jovem formado no estrangeiro, domina mais de duas línguas, é um empresário dinâmico e, nos últimos anos, tem vindo a destacar-se pelo seu trabalho em prol da sociedade. Teve uma votação muito expressiva”, vincou.
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