terça-feira, 15 de abril de 2008

Um olhar sobre a imprensa oficial chinesa e a questão tibetana, Em busca do nirvana

Um olhar sobre a imprensa oficial chinesa e a questão tibetana

O mundo tem duas verdades

Pode ser lida como uma mega-acção de propaganda, ao estilo dos regimes condenados em praça pública internacional, ou então como uma tentativa de reposição de uma certa verdade desvirtuada por quem olha só para um lado da questão. Qualquer que seja a perspectiva da análise, certo é que está lá, existe, e surge da necessidade de contrariar uma tendência marcadamente vinda do Ocidente: a imprensa estatal chinesa não tem poupado esforços para pôr água na fervura tibetana.
Há precisamente um mês, aconteceu o que Pequim mais queria evitar, em vésperas de Olimpíadas e com a tocha olímpica prestes a correr o mundo. As confusões em torno do Tibete e os acontecimentos destes últimos trinta dias fazem quase esquecer os últimos 49 anos, excepção feita a alguns raciocínios mais claros e menos radicais que se encontram em ambos os lados da barricada e que jogam cartadas históricas para sustentar teses divergentes.
A violência despontou e seguiram-se as tradicionais contagens de mortos e feridos com números díspares, consoante as fontes. Seguiram-se os protestos em torno da tocha olímpica, condenados por quem entende que a chama se deve manter sagrada – ou não fosse a paz a essência do espírito olímpico –, sendo que há também quem defenda que as oportunidades da causa tibetana são escassas, pelo que é necessário aproveitar a onda e não deixar morrer o assunto.
Uma pesquisa rápida em qualquer motor de busca conduz a uma China que é só quase Tibete. O encontro entre Hu Jintao e o vice-presidente eleito de Taiwan, Vincent Siew, veio introduzir alguma diversidade a um sem-número de notícias de carácter essencialmente político que, no último mês, se distinguem essencialmente pela diferença que vai sendo apresentada em termos de números e de protagonistas. De um modo geral, excepção feita às afirmações públicas das autoridades chinesas - nas reacções às acusações e nas tomadas de posição em relação ao Dalai Lama, o líder tibetano no exílio – as notícias sobre a China fazem dela o papão da história. As condenações em torno dos direitos humanos não são novas: o que é novo é o contexto.
Como reage Pequim a tudo isto? Antes de mais, pelos métodos mais ou menos diplomáticos, políticos por certo, que passam ao lado da opinião pública. Depois, pela assunção da posição oficial que tradicionalmente assume quando se fala em independência, quer de Taiwan, quer do Tibete. São matérias de soberania, de carácter interno, de hegemonia do Estado. E há ainda a tal tentativa de mostrar a sua verdade, o Tibete real, a região autónoma onde agora se vive melhor do que até 1959.
Uma pesquisa com a palavra “China”, em qualquer banco de imagens internacional, mostra inúmeras manifestações em torno da causa tibetana, que se multiplicam por diferentes continentes. Já a agência noticiosa oficial chinesa, a Xinhua, mostrava ontem um outro protesto, na secção de desporto. A fotografia exibia um considerável número de pessoas, com cartazes coloridos, “chineses ultramarinos a viver no Canadá, durante um protesto de apoio aos Jogos Olímpicos e contra as forças separatistas que querem a independência do Tibete”.
Estas são as mensagens de conteúdo mais imediato, mais político. Não é difícil encontrar outras, de maior subtileza. Nos dias que se seguiram aos violentos protestos de meados de Março, a Xinhua publicou centenas de fotografias sobre o regresso à vida normal. Crianças a brincar nas ruas de Lhasa, estabelecimentos comerciais de portas abertas. Como que a dizer que a história não é tão má como se pinta.
Nas secções de cultura e sociedade, surgem quase todos os dias novos textos sobre o que são os hábitos de quotidiano dos tibetanos. Sobre a cultura tibetana e a forma como esta não foi esmagada pelo peso da estrutura Han. Alguns artigos são mais informais, quase como se estivessem ali por acaso, no meio de tantos outros. Mas há textos também assumidamente a pensar no contraditório, como a história de Saijor Zhoigar, o antigo vice-reitor da Universidade do Tibete, que começou por ser servo.
"Só aqueles que passaram por um Inverno rigoroso sabem dar valor ao calor do Sol”, começa por dizer o entrevistado da Agência Xinhua, que compara assim a sua vida “antes e depois da reforma democrática do Tibete, em 1951”. Zhoigar tornou-se servo com apenas sete anos, não tendo o que comer ou vestir. “Em plena primeira metade do século XX, o Tibete permanecia uma sociedade teocrática de servidão feudal”, contextualiza a agência.
No final da passada semana, um outro trabalho da agência de notícias dava a conhecer a obra de Soinam Cering, dramaturgo tibetano comparado a Shakespeare (pelo autor do artigo), sendo que ainda se encontra vivo e de saúde, a perpetuar as tradições orais tibetanas, através da sua transformação em peças de teatro. Um sinal de que não só a cultura local existe e não foi destruída - como alegam os que se encontram do outro lado da barricada - , mas que Pequim aprecia e incentiva a preservação de hábitos e costumes, fazendo deles notícia em língua inglesa. Para que o mundo os conheça. Para se fazer ouvir entre os coros de protestos, inevitavelmente dominantes.
Isabel Castro

UCTM analisou evolução da procura de casas em regime económico e social

Projecto de habitação pública é suficiente, diz estudo

O projecto do Governo para a habitação pública é suficiente para as actuais necessidades dos residentes de Macau. Esta foi a conclusão principal do estudo sobre a evolução da procura de habitação pública, uma investigação adjudicada pelo Instituto de Habitação (IH) à Faculdade de Administração e Gestão da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (UCTM). Durante a sessão de apresentação dos resultados do inquérito, os investigadores alertaram que esta previsão só será efectiva se não se registarem alterações no número de pessoas com baixos rendimentos e nos preços das casas.
“Este estudo não é dinâmico, é estático”, sublinhou aos jornalistas Michael Pang, professor da Faculdade de Administração e Gestão da UCTM. Isto é, os investigares analisaram a evolução da procura de habitação pública com base em dados actuais e sem ter em conta o futuro. Por isso, segundo o estudo, se a situação económica e os preços do mercado imobiliário do território se mantiverem como hoje os conhecemos, as 19 mil fracções de habitação pública prometidas pelo Executivo até 2012 vão colmatar a procura.
Neste momento, diz o relatório, “é necessário satisfazer a procura de habitação a 20 ou 30 por cento dos residentes, ou seja, entre 110 e 165 mil pessoas, (...) o que corresponde a 36.700 ou 55 mil fracções de habitação pública. Consideramos que este fornecimento consegue satisfazer basicamente a procura”.
No entanto, a equipa de investigadores do estabelecimento de ensino superior deixa duas propostas. Em primeiro lugar, o Governo deve centrar a sua política num mercado de “tipo assistência”. O que quer dizer que os primeiros destinatários da habitação pública devem ser as pessoas com baixos rendimentos. Só assim será possível “satisfazer a procura básica”.
Em segundo lugar, é preciso dizer à população que existe uma outra opção válida – o arrendamento de casas a preços mais reduzidos - que é o conceito que está por trás da habitação social. “Na cultura chinesa, as pessoas pensam que ter casa é ser-se proprietário. Através dos inquéritos, verificou-se que os cidadãos de Macau têm forte preferência na procura de habitação económica [sistema de compra de apartamentos]. Contudo nos outros países e regiões do mundo, a situação que se encontra é o oposto”, explicou Michael Pang.
Este estudo recolheu ainda as opiniões da população quanto à revisão actualmente em curso dos critérios de acesso à habitação pública. A maior parte dos residentes concorda com as propostas de alteração.
Recorde-se que os moldes do processo de candidatura a apartamentos em regime social ou económico estão a ser analisados pelo Governo, ainda sem data definida para a conclusão dos trabalhos. A intenção é tornar mais rígidas as condições para obter fracções de habitação pública. Por exemplo, pretende-se que um residente só se possa candidatar se não tiver em seu nome mais nenhuma propriedade.
A habitação pública tem sido várias vezes apontada como uma solução para o controlo da especulação do mercado imobiliário. São muitos os sectores da sociedade que defendem a aceleração do processo de construção das 19 mil fracções prometidas pelo Executivo num prazo de cinco anos. Algo que poderá, segundo os defensores da medida, aliviar o fardo que os aumentos constantes da inflação têm causado à população.
De acordo com os últimos dados lançados pelo IH, que se referem a Abril do ano passado, existiam 6636 famílias em lista de espera para habitação social. Entretanto, foi construído um novo edifício de habitação social na Ilha Verde, com um total de 210 fracções.
A página de Internet do IH informa ainda que existem no território cerca de 6300 apartamentos de habitação social. A estes, somam-se mais 28 mil fracções de habitação económica, localizadas em Macau e na Taipa.
A habitação social é construída pelo Governo ou por empreiteiros que doam as fracções ao Executivo em troca de contrapartidas. A Administração aluga as habitações sociais com rendas baixas a agregados familiares de parcos rendimentos ou problemáticos. Já a habitação económica é construída por privados que estabelecem acordos com o Governo em que, em troca de contrapartidas, se comprometem a construir habitações de baixo custo para vender aos residentes segundo um preço acordado com o Executivo.
Alexandra Lages

Cristina Lobo conta como nasceu o spa

Em busca do nirvana

Gota a gota, ouve-se o barulho da água a pingar. Sente-se o cheiro a limão. Sensações que antecipam um prazer maior: o corpo a relaxar, libertando-se das agruras do dia-a-dia. Pelas salas do Nirvana, um dos mais conceituados spas de Macau e o único detido por uma portuguesa, a atmosfera de tranquilidade é o cartão de visita.
Cristina Lobo era secretária assistente do administrador da Companhia do Aeroporto de Macau (CAM), proprietária de uma loja de antiguidades no hotel Westin e instrutora de aeróbica em Macau, quando um dia partiu para as Filipinas. O objectivo era acompanhar o marido, que ali iria construir um resort de luxo. Depois de assistir a um seminário, cuja oradora era uma norte-americana especialista em aromaterapia, Cristina Lobo começou a interessar-se pela arte das massagens. “Passei a estudar muito e a frequentar cursos com bastante interesse”, conta.
Três anos depois, o marido partiu para Lisboa com a intenção de abrir mais um hotel de luxo, mas Cristina, desta vez, não o acompanhou. Optou por regressar à terra da mãe e do marido, Macau. Acompanhada de dois filhos, começou a pensar no que “iria fazer”. Inicialmente, retomou as aulas de aeróbica. Mas a ideia de aprender mais na área das massagens nunca a largou. “Comecei a ir a Hong Kong, à Índia e à Tailândia para tirar vários cursos, inclusivamente o de gerente nos Estados Unidos”, conta.
Começou por fazer o chamado “home service” em Macau. Munida da sua cama portátil, deslocava-se de casa em casa para dar uso às técnicas aprendidas no estrangeiro. Mais tarde, viria a abrir um pequeno estúdio no NAPE, já denominado Nirvana, local onde “ganhou clientela”. E se, no início, eram as amigas e a família que procuravam os seus serviços, que “passaram de boca em boca a mensagem”, rapidamente a clientela se diversificou. Surgiu então a oportunidade de abrir um espaço em plena Avenida da Praia Grande.
No budismo, nirvana é o culminar da busca pela libertação. É a superação da existência, a superação dos sentidos para um estado de desprendimento absoluto. E a escolha do nome do spa gerido por Cristina Lobo não foi aleatória.
O spa, perfumado com um aroma de limão, desde a recepção até às salas de massagem, tem em cada pormenor o dedo de Cristina Lobo. “As especialidades são as massagens orientais de base holística [práticas que encaram um ser humano como um todo – um corpo físico a que se aliam as emoções, sensações e sentimentos], não são massagens técnicas. Tinha de ser um ambiente ecléctico, oriental e exótico”, diz. Por isso, assim que se entra na recepção, é essa a percepção que se tem. Cuidadosamente decorado, entre várias malas para senhora e peças de vestuário concebidas por residentes locais que estão à venda, os detalhes e as referências visuais às terras por onde passou estão à vista.
O espaço é composto por seis quartos onde são efectuados os tratamentos, com nomes alusivos a cidades da Ásia: Thai, China, Bali, Índia, Yin e Yang e M (referindo-se a Macau e ao Homem, em inglês). São quartos individuais, exceptuando o Yin e Yang que se destinam a duas pessoas, tendencialmente casais. Em cada um, o ambiente de relaxamento é proporcionado pelo som da água a cair, gota a gota. Um detalhe para reforçar o efeito de relaxamento dos tratamentos.
A especialidade da casa é a massagem Ayurvédica e a Shirodara, ambas inspiradas em técnicas milenares indianas. “Shirodara é uma oleação, uma terapia com um fio de óleo quente especial que escorre no corpo, havendo posteriormente uma massagem nos ombros, no pescoço e no crâneo. A Ayurvédica recorre a uma técnica totalmente diferente das outras, em que o óleo, à base de especiarias, é aquecido, sendo o próprio óleo a causar o efeito de relaxamento”, explica. Mas, espreitando a lista de preços, rapidamente se percebe que, desde a massagem tradicional tailandesa passando pela depilação, manicure, pedicure até aos tratamentos faciais, o leque de serviços prestados é bastante abrangente.
Da clientela do spa Nirvana fazem parte macaenses, portugueses e restantes ocidentais. “Fui ganhando as gerências dos casinos, já que os serviços dos spas dos próprios locais de trabalho são muito caros”, explica. Também os filipinos de classe média e alta, que passam por Macau, acabam por ali parar, juntamente com os residentes de Hong Kong. Assíduos frequentadores dos spas são também os “os artistas do Venetian, os gondoleiros, os músicos de rua, além de todos os elementos do Cirque du Soleil”.
Tendo sido modelo durante vários anos, a ligação ao cuidado com o corpo sempre esteve presente na vida de Cristina Lobo. Foi assim que, naturalmente, se tornou a única portuguesa a deter um spa em Macau. Tendo, ao longo dos anos, conquistado uma reputação no seio da comunidade de Macau, a verdade é que ainda hoje continua a ter clientes menos informados a bater à sua porta. Clientes em busca de um outro tipo de serviço, comum em várias casas de massagem espalhadas por Macau. Cristina Lobo esclarece. Eles não regressam.

Os quartos

THAI: Espaço para manicures e pedicures. Se o cliente quiser uma massagem tradicional tailandesa, “sem óleo e à base de estiramentos”, coloca-se um colchão no chão. Sem duche.
YIN e YANG: O quarto duplo onde qualquer massagem se pode realizar. Com duche.
CHINA: O espaço destinado a máscaras faciais e depilação. Sem duche.
BALI: O quarto maior com espaço para qualquer tratamento. Com duche.
ÍNDIA: O quarto decorado com as cores da Índia. As massagens Shirodara e Ayurvédica são realizadas aqui. Com duche.
M: Podendo significar Macau ou homem (em inglês), é o espaço ideal para os vários homens que se deslocam ao Nirvana. Um quarto onde qualquer tratamento pode ser realizado. Com duche.
Luciana Leitão
Fotografia: António Falcão/ bloomland.cn

Hong Kong lança novo plano de reforma da assistência médica

As mil e uma tentativas para curar a Saúde

Uma população envelhecida, carente de cuidados, e um sistema de saúde que, frequentemente, é objecto de críticas, tanto por médicos como pelos pacientes. É este o quadro geral da assistência médica de Hong Kong. A piorar a situação, há as longas listas de espera em clínicas e hospitais públicos e o fardo financeiro que daí resulta para o Governo. Uma realidade que já é conhecida dos residentes do território vizinho desde 1990. O Executivo da RAEHK tem feito uma longa caminhada à procura de soluções. Finalmente, no mês passado, surgiu uma luz ao fundo do túnel.
São seis os planos que deverão ser responsáveis pela melhoria do sector. Em cada um, há uma percentagem de participação das carteiras dos residentes e dos cofres da Administração. A região deverá chegar a um consenso sobre a proposta do Executivo no espaço de três meses. O projecto intitula-se “Ser Mais Forte”; no entanto, o caminho no sentido de conseguir uma melhor infra-estrutura de saúde pode levar muitos anos a alcançar.
Quando foi lançado para consulta, o novo plano foi ensombrado pelo surto de gripe entre crianças em idade escolar. A divulgação dos detalhes das reformas, feita pelo secretário para a Alimentação e Saúde, York Chow Yat-ngok, foi acompanhada de vários protestos, principalmente da parte dos pais e encarregados de educação. Até o jornal Oriental Daily acusou o Governo de tentar “tapar o sol com a peneira”, lançando o documento para consulta exactamente na mesma altura em que se temia um caso de epidemia.
Esta não foi a primeira tentativa de avançar com uma revisão do sistema de saúde de Hong Kong. Hoje em dia, 95 por cento do sector da assistência médica é suportado pelo Governo e há um longo historial de tentativas para mudar esta situação.
O primeiro grande passo no sentido de encontrar uma alternativa de financiamento para aliviar a despesa do Executivo chamava-se “Em Direcção a Uma Saúde Melhor”. O plano foi lançado em 1993 e sugeria dois tipos de regime: um obrigatório, com base nos impostos pagos pelos residentes, e um opcional, de carácter privado através de apólices de seguro.
Seis anos depois, uma equipa de investigação da Universidade de Harvard responsável pelo estudo “Melhorar o Sistema de Saúde de Hong Kong: Porquê e Para Quem?” recomendou um método tripartido. A proposta incluía uma combinação de seguro com um sistema de poupança.
Mais tarde, com base neste relatório, surgiu uma nova alternativa. Desta vez a reforma dava pelo nome de “Investimentos Vitalícios na Saúde”. A reforma foi alvo de consulta pública mas teve o mesmo destino das anteriores. Ficou pelo caminho e não foi implementada.
O diploma abordava as deficiências no actual sector da saúde em Hong Kong e fazia várias recomendações. Entre elas, um maior ênfase nos cuidados primários de prevenção, um sistema mais abrangente para as famílias com baixos rendimentos e as camadas da sociedade mais necessitadas, melhor colaboração entre os grupos prestadores de serviços privados e públicos, bem como um registo electrónico que serviria como plataforma para a classe médica partilhar mais facilmente informação sobre o historial dos pacientes.
Medidas que pouco importavam tanto aos críticos como aos meios de comunicação social. No fim de contas, a cura para os males do sector de saúde de Hong Kong chama-se modelo de financiamento. Uma fórmula que tem levado anos a ser determinada e que tem motivado discussões intermináveis.
O impasse pode acabar com as novas seis opções. Segundo o documento actualmente em consulta pública, o plano pretende suplantar o surgimento de custos em despesas de saúde. Isto é, as alternativas vão desde taxas mais simples que evoluem para um sistema de seguros, muito semelhante ao utilizado nos Estados Unidos.
A par do sistema privado de saúde praticado nas terras do Tio Sam, a reforma tomou como exemplo os casos de Singapura e da Alemanha. No meio dos planos de saúde de carácter público e privado, há ainda um regime combinado especificado para um grupo de residentes.
Contudo, o Governo da RAEHK ressalvou que a população poderá beneficiar no futuro com o aumento do leque de escolhas. York Chow já admitiu que existe o risco de não surgirem conclusões da primeira fase da consulta pública. Neste caso, está agendada para o próximo ano uma segunda fase de auscultação e os trabalhos poderão passar para o seu sucessor.
As opiniões dividem-se. E isso pôde ser observado quando rebentou a possibilidade de uma epidemia. Num inquérito realizado pela organização “Força da Classe Média”, até ao final de Março, mais de 57 por cento dos 723 moradores de bairros da classe média de Hong Kong e de Kowloon disseram preferir regimes opcionais de assistência médica por seguro, apesar da longa listas de desvantagens. As restantes opções, como um seguro obrigatório ou aumentos nas despesas da saúde, foram rejeitadas por uma maioria esmagadora.
As preferências da classe média são reiteradas por Lam Pun-Lee, professor de Finanças e Contabilidade no Instituto Politécnico de Hong Kong. De acordo com o docente, qualquer sistema de financiamento por parte do Governo dificilmente vai ganhar o apoio da população. Em particular, no caso da classe média, que faz questão em planear a sua saúde.
“Porque é que aqueles que não se preocupam com a sua própria saúde ou em preparar-se para o futuro têm o direito aos subsídios que partem dos contribuintes e gozar de serviços médicos gratuitos?”, questionou Lam Pun-Lee. O docente apontou ainda que os hospitais públicos devem triplicar as actuais tarifas para cobrir até 30 por cento dos custos e despesas.
Como incentivar os residentes de Hong Kong a escolher um seguro de saúde é a questão que se levanta. Acontece que as seguradoras da região vizinha não estão a fazer o melhor dos trabalhos e isso dificulta a situação.
Em 2006, estas entidades privadas foram abertamente criticadas pelo Conselho Médico da RAEHK. À semelhança do que vemos no documentário de Michael Moore, “Sicko”, alguns profissionais recusaram dar tratamento a doentes, por questões de lucro.
O certo é que o panorama no sistema público de saúde, os pacientes vítimas de doenças avançadas também não têm a vida facilitada. Mesmo quando todos os custos são subsidiados pelo Governo, mostrou um estudo realizado pela Sociedade de Reabilitação de Hong Kong. O problema chama-se lista de espera.
Kahon Chan, em Hong Kong,
com Alexandra Lages

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