segunda-feira, 7 de abril de 2008

Moisés Silva Fernandes em entrevista, China suspende vistos de entradas múltiplas, Visita ao mausoléu do primeiro soberano

Estatuto especial do território preso pelo fio das relações luso-chinesas

Macau em continuidade

“Macau continua a encontrar em Portugal e nos países de língua portuguesa o grande factor que justifica o seu estatuto especial na China”. Quem o diz é Moisés Silva Fernandes, autor do livro “Confluência de interesses: Macau nas Relações Luso-Chinesas Contemporâneas 1945-2005”. Para o académico, o estatuto especial que a RAEM tem dentro da China possivelmente cessaria, caso o papel que desempenha entre os países lusófonos e a República Popular da China (RPC) desaparecesse.
Moisés Silva Fernandes salientou que é ao servir de intermediário entre os países lusófonos e a RPC que o território compete com Hong Kong. “O território vizinho tem uma grande praça financeira mundial, ao contrário da RAEM, que não tem tanto peso a nível internacional como a ex-colónia britânica. É apenas um grande centro de jogo”. Por isso, e de acordo com o investigador, “a Administração chinesa de Macau coloca grande ênfase em tudo o que é português”. A RAEM quer “transmitir a ideia de que é parte da China mas que, ao mesmo tempo, tem um papel único”.
Segundo o académico, o território tem beneficiado de um papel “altamente relevante na política externa” chinesa, sendo que a RPC tem interesses económicos em países como Angola e o Brasil. Moisés Silva Fernandes explicou que “algumas das antigas colónias portuguesas são extremamente ricas e a China, atendendo ao seu rápido desenvolvimento económico, precisa de recursos naturais”. Neste ponto, o investigador lembrou que o maior fornecedor do mundo de petróleo à China é já Angola. O académico acrescentou que, no futuro, “talvez vejamos uma certa disputa entre a Austrália e a China” por causa do petróleo de Timor, uma vez que “para se chegar a Angola é preciso dar uma grande volta”.
Moisés Silva Fernandes não tem dúvidas de que a Administração de Macau vai continuar a apostar no património português. “Essa apetência vai continuar a existir enquanto as taxas de alto progresso económico da RPC estiverem em curso, pois a China tem de alimentar o seu crescimento, recorrendo a recursos energéticos”. No livro, pode ler-se que “o Governo da RAEM, constituído e dirigido pela elite comercial chinesa, (…) encara a continuação da presença cultural portuguesa, mesmo que mitigada, como uma forma de legitimação interna”. A protecção do património português é, para Moisés Silva Fernandes, um dos exemplos da vontade do Governo da RAEM em preservar a herança portuguesa. Mesmo a calçada portuguesa tem crescido em dimensão. “A RAEM tem talvez melhores calceteiros que Portugal”, disse. Macau é então “continuidade, e é isso que lhe permite sobreviver”. “Não pela força mas pela confluência de interesses”, como indica o título do livro. Para o académico, a influência que a Administração de Macau tem em Pequim também não deve ser negligenciada.
Sendo assim, Moisés Silva Fernandes pôde constatar que “há mais continuidade que rupturas” depois da transferência de administração, em 1999. De facto, com o livro, que exibe uma fotografia de Deng Xiaoping e do actual Presidente da República português, Cavaco Silva, na capa, o autor constatou que “99 não foi o fim” para as relações luso-chinesas.
“Ainda existe uma comunidade portuguesa e macaense no território e uma imprensa em português que continua em Macau”, afirmou o investigador, explicando que estas características projectam “a ideia de que há uma presença portuguesa ou lusófona, como o Governo de Macau gosta de acentuar”.
No entanto, Moisés Silva Fernandes aponta um problema para o futuro – “a forte presença dos grandes grupos americanos na área do jogo”. “Com a liberalização do jogo, a entrada de grupos americanos vindos de Las Vegas está a alterar a fisionomia do território e até a forma de conduta das pessoas”, explicou o investigador. Segundo o académico, “os casinos americanos são uma séria concorrência que está a trazer um novo estilo de vida para a comunidade chinesa”. “Vê-se hoje em Macau coisas de uma dimensão e volumetria que descaracterizam muito o território”, sublinhou. Embora reafirme que “o património será protegido”, acredita que a “pouco e pouco as comunidades lusófonas sentir-se-ão um bocadinho menos de Macau”. A liberalização do jogo e a crescente influência americana no território “alteram significativamente os equilíbrios entre as várias comunidades”. Quanto ao sector do jogo, Moisés Silva Fernandes alertou para o facto da dependência da economia da RAEM em relação a este sector ter aumentado com a sua liberalização.
Por outro lado, o académico analisou também o interesse de Portugal na RAEM. Para o investigador, “o investimento português em Macau tem sido feito sobretudo pelas estruturas do Estado português”. As relações entre Portugal e a China são actualmente “extremamente exíguas”, uma dura realidade que será difícil ultrapassar, “contribuindo para que os decisores políticos portugueses continuem a afirmar em público o empenho do país na presença histórico-cultural em Macau, a componente menos dispendiosa de qualquer programa de política externa”, sublinhou. Moisés Silva Fernandes acredita que o “Estado português tem feito bastante” neste sentido.
O académico considerou que as trocas comerciais entre Portugal e a China necessitam de ser mais firmes para que as suas instituições comunitárias no território também o sejam. “As trocas comerciais devem ser mais intensas tendo em conta que Portugal esteve durante tantos séculos em Macau”. Apesar disso, Moisés Silva Fernandes acredita que Macau não irá desvanecer do imaginário português. “A China será incontornável, assim como a Índia”. Curioso é que “por incrível que pareça, Portugal esteve nestes dois países durante séculos”, concluiu.

A história “mais desconhecida que havia”

Moisés Silva Fernandes não tem qualquer ligação familiar com o território, nem sequer com a China. No entanto, é sobre a RAEM que incide grande parte do seu trabalho, tendo já publicado as obras “Macau na Política Externa Chinesa, 1949-1979”, “Sinopse de Macau nas Relações Luso-Chinesas, 1945-1995” e, recentemente, “Confluência de interesses: Macau nas Relações Luso-Chinesas Contemporâneas, 1945-2005”.
O investigador tropeçou na história de Macau enquanto leccionava, como professor assistente na década de 1990, uma cadeira dedicada à Ásia numa universidade do Canadá, onde realizou a maior parte dos seus estudos.
Moisés Silva Fernandes ensinava não só alunos canadianos, mas também chineses, oriundos da China Continental, de Hong Kong, Taiwan e de Macau. Durante as aulas, o professor pôde constatar que os alunos de Macau viviam completamente desligados da Administração portuguesa do território. “Perguntei quem era o governador de Macau e não me souberam responder, só falavam do jogo”, contou. A partir daí, o professor começou a pesquisar sobre o território, símbolo da história do país que “se mantivera mais tempo na China – Portugal”.
De acordo com Moisés Silva Fernandes, Macau “era a coisa mais desconhecida que havia”, sendo praticamente relegado a uma nota de rodapé nas publicações de língua inglesa sobre a temática da China. Não obstante, a longevidade das relações luso-chinesas chamou-lhe a atenção.
Mais tarde, partiu para Portugal para pesquisar sobre Macau contemporâneo através da Fundação Oriente, acabando por ficar em Lisboa e concluir um doutoramento em Ciência Política numa universidade da capital portuguesa. Foi nessa altura que aprofundou o estudo das razões pelas quais Portugal permaneceu em Macau, mesmo durante períodos conturbados da história chinesa, como a Revolução Cultural. Segundo o investigador, a sua maior interrogação era como é que “um pequeno país como Portugal consegue permanecer tanto tempo na China”, principalmente, nos 50 anos em que Macau continuou território português depois da implantação da República Popular da China (RPC). O académico lembrou que, durante a Revolução Cultural, “as autoridades portuguesas perderam o poder e a RPC restituiu-o três vezes”. Na verdade, Moisés Silva Fernandes descobriu que o território se manteve administrativamente português devido à confluência de interesses de que fala no seu mais recente livro. O fenómeno decorre de inúmeras razões “económicas, financeiras, comerciais e políticas”.
No período entre 1949 e 1979, “passava por Macau tudo o que a RPC necessitava em termos de produtos”, pois a China “tinha pouco contacto com o exterior”. Além disso, “as balanças comerciais de Hong Kong e Macau eram altamente favoráveis à RPC, nomeadamente na aquisição de moeda que tinha aceitação internacional”. Por outro lado, “atendendo ao embargo comercial, a China não podia exportar para muitos países do Ocidente”, por isso, “enviava os produtos para Macau e passava tudo para o exterior como ‘made in Macau’”. Outro dos factores era que “através do território, a China conseguia colocar estrategicamente agentes secretos no exterior. A actual RAEM era o lugar ideal para fazer isso”. Mais, “a China enviava para Macau pessoas para aprenderem português e conviver com a comunidade que mais tarde se tornavam os instrutores político-militares dos movimentos de libertação em Angola”.
Em termos políticos, a grande vantagem de Hong Kong e Macau era o acesso ao exterior. Neste ponto, Macau era mais preponderante. “A presença britânica tinha um poder efectivo em Hong Kong, mas os portugueses eram mais maleáveis”, afirmou Moisés Silva Fernandes, referindo que “durante o período salazarista em Portugal, podiam-se comprar todas as obras do Partido Comunista chinês em língua portuguesa”.
Estes e outros aspectos da história da RAEM estão retratados no livro “Confluência de Interesses: Macau nas Relações Luso-Chinesas Contemporâneas 1945-2005”. Segundo o escritor, a obra engloba alguns estudos que nunca foram publicados ou que foram apenas editados em inglês ou na língua chinesa. Moisés Silva Fernandes acrescentou ainda que, neste livro, tentou analisar os “marcos importantes da vida política de Macau e das relações entre Portugal e a China”.
Para o futuro, o investigador prevê mais estudos e publicações sobre a actual RAEM e o seu papel no mundo chinês, mas por enquanto concentra-se na conclusão da sua próxima obra que abordará a história de Timor-Leste no período 1960 – 1975. O livro “terá dados novos que as pessoas nem imaginam, como as negociações secretas que tiveram lugar para que Timor fosse parar às mãos da Indonésia, onze anos antes do 25 de Abril”, adiantou.
Laura Bastos, em Lisboa

China suspende vistos de entradas múltiplas

Pequim deixou de emitir vistos de entradas múltiplas, o que vai trazer grandes inconvenientes para as pessoas que viajam com regularidade para a China Continental, noticiou ontem o Sunday Morning Post (SMP). De acordo com o jornal em língua inglesa, que cita agências de viagens de Hong Kong, a medida vai estar em vigor até ao final dos Jogos Olímpicos.
Os turistas estão agora condicionados aos vistos com uma ou duas entradas, válidas durante trinta dias. Quem tem visto de entradas múltiplas não tem razão para se preocupar, uma vez que a China decidiu abrir uma excepção para os portadores do documento, não cancelando a sua validade.
O SMP citava ontem o director executivo da Câmara do Comércio Canadiano, Andrew Work, que encontra nesta decisão do Governo Central sérios inconvenientes para os estrangeiros que vivem e trabalham em Hong Kong. “Isto é muito chato para os pequenos e médios empresários estrangeiros. Provocará uma desaceleração do ritmo dos negócios, pelo que esperamos que o normal acesso ao Continente seja retomado em breve”, disse.
Um agente de viagens que preferiu não ser identificado contou ao jornal que “as pessoas têm pedido para renovar os seus vistos de entradas múltiplas, mas não conseguem mais do que um com duas entradas”. “Foi-nos dito que esta medida tem a ver com os Jogos Olímpicos e que em Setembro deixará de ser válida, depois de terminados os Jogos.”
Um outro agente, Daryl Bending, explicou que nem mesmo os residentes permanentes de Hong Kong a quem foram atribuídos, no passado, vistos com duração de três anos escapam a esta imposição de Pequim. Findo o prazo do documento, “não conseguem mais do que uma entrada dupla”. Em Macau, apurou o Tai Chung Pou, passa-se exactamente a mesma situação. O visto com duração de um ano que normalmente era atribuído aos residentes está a ser substituído por um que permite apenas dois acessos ao país, no espaço de três meses.
Ainda segundo o Sunday Morning Post, as agências de viagens foram informadas da alteração no passado dia 27 de Março. A Forever Bright, uma agência através da qual é possível pedir vistos para a China, indica no seu site que a suspensão das múltiplas entradas é válida até 17 de Outubro.
Os vistos de entrada única ou dupla são também agora mais caros. A maioria dos europeus, bem como australianos e canadianos, terão que pagar 500 dólares de Hong Kong para um visto de uma só entrada e 600 para um documento que lhes permite entrar duas vezes no país. Para estes residentes, contextualiza o SMP, um visto de entradas múltiplas válido por meio ano implicava, até agora, uma despesa de 450 dólares de Hong Kong.
Contactado pelo matutino, o comissário da representação diplomática da China na antiga colónia britânica não fez qualquer comentário sobre a questão.

Os falsos problemas

Dar um carácter político aos problemas decorrentes da competição na área dos negócios e transformá-los em questões ideológicas em nada beneficia o desenvolvimento de Macau enquanto cidade internacional. A afirmação foi feita este fim-de-semana pela articulista mais influente do jornal Va Kio, Ng Chan, a propósito do que foi dito, na passada semana, sobre a influência dos investidores estrangeiros no território.
Ng Chan começa por contextualizar a questão, explicando que, no debate realizado sobre a Lei Básica da RAEM, um académico do Continente (que não identifica) apontou uma “preocupação a longo prazo” do Governo de Macau. “Se as empresas estrangeiras dominarem totalmente a indústria do jogo, que é o cerne da vida económica da cidade, a administração da RAEM estará sob uma forte ameaça”, citou a articulista. “A influência política das empresas estrangeiras deve ser limitada”, disse ainda o mesmo académico, que sugeriu alterações à Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa (AL), com vista a evitar “colisões entre os responsáveis pelo Governo e os interesses empresariais”. Uma das modificações propostas consiste na criação de lugares (em número limitado), no sufrágio indirecto, para os representantes da indústria do jogo. Para o académico citado (e contestado) por Ng Chan, esta seria uma forma de garantir assentos a “organizações tradicionais patrióticas” na AL.
A autora do artigo refere que as afirmações geraram alguns comentários refutando a validade do argumento. “As pessoas acham que este tipo de pensamento é problemático e acreditam que o académico não estará familiarizado com a situação de Macau.” Explica ainda que a questão do maior ou menor controlo das empresas estrangeiras (principalmente as dos Estados Unidos) não é nova nem para Macau, nem para a China. “São assuntos que se têm repetido ao longo dos últimos anos e, quanto mais neles se fala, mais sérios se tornam. São tão empolados que parece que vai haver uma transformação em Macau. Este tipo de comentário é comum em Pequim e na RAEM.” Quando se fala disto na capital chinesa, acrescenta, é porque o Governo Central está atento à estabilidade de Macau, mais a mais tendo em conta os problemas de Hong Kong e “certas intervenções de forças estrangeiras”. Já em Macau, estes comentários são originados pela competição que existe na área do jogo. “Os seus intervenientes elevam o assunto ao nível político. O objectivo é pressionar o Governo e obterem mais interesses e benefícios, por diferentes vias.”
Ng Chan conclui assim que não é nada benéfico conferir um carácter político a questões que se devem cingir aos negócios. “Deve-se ter em mente que Macau, enquanto cidade que quer ser internacional, tem que estar aberta e acolher bem a competição. Além disso, a entrada de capitais estrangeiros na RAEM permitiu o seu desenvolvimento e deu a Macau uma imagem mais positiva a nível internacional. Em vez da discriminação, devemos encarar positivamente a sua contribuição. Devemos considerar natural e razoável que as empresas estrangeiras também tenham os seus interesses. Se não, porque viriam para cá investir?”, lança, concluindo que “antes de nos preocuparmos com a sua intervenção na política, deveríamos saber tomar conta de nós”.
Qingming e Huang Di

Visita ao mausoléu do primeiro soberano

Qingming, um dos 24 termos em que está dividido o ano no calendário solar do agricultor, é um dos dois termos que é celebrado com uma grande festa.
No dia de Qingming, o espírito da terra, contendo a alma terrestre dos que já passaram esta vida, é reflectido pelas pessoas e por isso, parte deste dia é passado nos cemitérios para, em convívio, as famílias se encontrarem mais perto dos seus antepassados.
As pessoas costumam colocar um ramo de uma espécie de chorão nas portas de entrada das casas. Costume que vem da visita do duque Wen, do reino Jin, quando, passado um ano voltou ao monte Jie para honrar o fiel oficial dos tempos do seu exílio. A árvore queimada, onde encostados tinham morrido Jie Zitui e a sua mãe, tinha renascido. Fora num buraco desse tronco, protegido do fogo pelas costas de ambos, que tinha sido encontrado um ano antes o último ensinamento do ex-oficial para o duque. A mensagem, em poema, escrita com sangue num pedaço da manga da túnica, dizia: “Cortei e dei-te a comer da minha carne para te mostrar o meu coração e espero que o possas sentir. Prefiro ter passado desta vida a ter-te encontrado, já que penso ser isso melhor para ti, do que eu te acompanhar. Se realmente me levares no teu coração, quando te lembrares de mim, pensas por ti mesmo. Sinto-me orgulhoso do que fiz, mesmo neste outro mundo, já que agi correctamente contigo. Espero que trabalhes arduamente em favor do teu povo e te tornes puro e brilhante para sempre.” Então, o duque Wen, pegando num ramo desse chorão, entrelaçando-o fez uma coroa e colocou-a na cabeça.
Tornou-se também costume o povo chinês, assim como os seus governantes, irem ao mausoléu do primeiro soberano da história da China para lhe prestarem homenagem. De ano para ano tem vindo a ganhar maior peso esta visita a Huangdi, o primeiro dos cinco soberanos, que vêm a seguir aos três ancestrais.
Conhecido como o imperador Amarelo, Huang Di (Huang Ti) terá vivido entre 2704 e 2595 a.C. e nasceu no monte Xuanyuan, onde hoje é o concelho de Xinzheng, na província de Henan. Tinha o apelido de Ji, que era o nome da sua tribo, também chamada Xuanyuan. Nos Registos Históricos escritos por Sima Qian (145-95 a.C.) afirma que o grupo de estrelas Xuan Yuan, que formam uma figura de tartaruga, controla os tronos e as chuvas. Também se refere a Huang Di como tendo um corpo de dragão amarelo.
Huang Di foi chefe da tribo Ji que vivia nómada onde hoje é o concelho de Zhuoxian, na província de Hebei. Antes dele, a tribo chamava-se Tian Yuan e era matriarcal. Em Banquan, hoje a sudeste do concelho de Zhuolu, na província de Hebei, os Ji derrotam os Jiang e as duas tribos fazem uma aliança e por isso, Zhoulu passou a ser a cidade do imperador Huangdi.
Consta que Huang Di teve mais de cem filhos e, com uma grande experiência, fez inúmeras invenções usadas ainda na vida quotidiana como a construção de casas, carroças e barcos, tal como a confecção de roupas. Uma das suas esposas, Leizu, foi a primeira pessoa a desemaranhar um casulo do bicho da seda, em 2640 a.C., e do fio tecer um vestido.
No monte Jing, hoje no concelho de Lingbao, em Henan, o imperador Amarelo deixou a vida terrena e foi levado por um dragão divino.
Enterraram-no em Qiaoshan, conhecida como “Montanha da Ponte”, mas o seu túmulo foi encontrado também noutras províncias como Gansu, Hebei e Henan.
Nos Anais da “Primavera e Outono” encontra-se um diagrama onde Huang Di ou Imperador Amarelo é considerado um Deus e encontra-se na posição do Meio, tendo a virtude da Terra. Na Tabela dos Cinco Elementos e suas correspondências está associado ao número 5, ao planeta Saturno, ao Ser Humano e ao coração, tecidos e boca.
Na província de Shaanxi, partindo de Xian, na estrada que vai para Norte (a estrada recta da dinastia Qin), a meio caminho de Yan’an encontra-se Huangling. A Norte dessa cidade está a montanha da Ponte (Qiaoshan) onde se encontra o mausoléu de Huangdi mas, nesse dia é mesmo impossível fazer uma visita, tal é a quantidade de pessoas e o número de governantes que aí se deslocam para prestar homenagem ao construtor do Império.
Quando longe das sepulturas dos familiares, as pessoas optam por fazer um passeio pelo campo, ou ir até um parque, ou andarem pela montanha para assim se encontrarem mais próximas do espírito dos seus antepassados.
José Simões Morais,
Artista plástico, estudioso de Questões Civilizacionais
Fotografia: GCS

Universidade de Lisboa inaugura Instituto Confúcio

A Universidade de Lisboa alberga a partir de amanhã o Instituto Confúcio (IC). Nascido em Janeiro do ano passado, quando o reitor da Universidade de Lisboa (UL), António Sampaio da Nóvoa, se deslocou à China Continental integrado na delegação portuguesa encabeçada por José Sócrates, o Instituto Confúcio da UL pretende aprofundar os estudos sobre a cultura chinesa em Portugal, explicou ao Tai Chung Pou o director da instituição, Moisés Silva Fernandes.
De acordo com o académico, o IC nasceu da iniciativa do Governo chinês em apoiar as parcerias das universidades chinesas com instituições estrangeiras. A universidade geminada com a de Lisboa é a Universidade de Estudos Estrangeiros de Tianjin. Este não é o primeiro Instituto Confúcio em Portugal, uma vez que a instituição já se encontra representada na Universidade do Minho.
O director do IC da Universidade de Lisboa adiantou que um dos maiores atractivos da instituição serão os cursos de língua e cultura chinesas. No início, os cursos serão livres e vão abranger também a época de férias de Verão. Quando começar o próximo ano lectivo, o Instituto Confúcio será também responsável por outros cursos, desta vez de feição académica, assim como um curso de língua chinesa relacionado com a área comercial. Estes cursos vão ser creditados pelo ETCS, o que lhes atribui reconhecimento europeu.
O IC irá ainda prestar apoio ao Comité Olímpico de Portugal na preparação dos atletas portugueses para a participação nos Jogos Olímpicos de Pequim, nomeadamente no que respeita à língua e aos costumes chineses, acrescentou o director do instituto.
As palestras e as conferências vão igualmente fazer parte da agenda do Instituto, sendo que incidirão sobre a cultura chinesa, o confucionismo, as minorias étnicas na China, o desenvolvimento económico chinês e as relações chinesas e lusófonas, mostrando “às pessoas que Portugal já não é o actor principal” nesta matéria.
De facto, o IC tem como principais objectivos fomentar o intercâmbio entre Portugal e a China, a divulgação da cultura chinesa entre os portugueses, a promoção de bolsas com ligação à China e a colaboração com outras universidades em Lisboa. Neste ponto, Moisés Silva Fernandes sublinhou que “em Portugal, há uma pluralização de tudo o que tem a ver com Macau e com a China mas a sua dimensão é pequena”. “Não faz sentido estar tudo disperso, é preciso congregar um pouco as coisas”, afirmou o director, salientando a necessidade de “consolidar os estudos sobre a China e a Índia”, dois “gigantes” incontornáveis.
Laura Bastos

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